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Capítulo seis

GREGO

__ Acabei.--- Falou a morena terminando de dar os pontos na minha irmã, no local da bala que ela precisou alargar para procurar onde a mesma tinha se alojado e se tinha fragmentos.

Ai, mandando a real. Que minha braba, porra irmão. Não tinha a menor noção de onde estava a bala, quase não tinha equipamento e mesmo assim o maluco do Coringa não queria deixar tirar a irmã daqui.

Em uma parte até entendo ele. Nessa vida que nos tem, não se pode confiar em ninguém. Até na hora de dormir tem que ser um olho fechado e outro aberto, imagina deixar alguém da nossa família, que está entre a vida e a morte, nas mãos de uma desconhecida. Tinha a oportunidade dela ter sido mandada pelos canas pra fuder com a gente, ou então por facção rival.

Mas a mina, mesmo irritada com isso, não largou o osso não. Até as nossas câmeras ela usou, pegando o flash e dando um zoom sem fim, mas que valeu a pena quando conseguiu ter noção de por onde tinha que ir.

Foram horas que não parecia passar. No cu não passava nem wifi, filho. O barulho dos tiros lá fora só piorava tudo. Mesmo assim, a Geo está viva, sem bala dentro dela. Como a doutora falou, as próximas vinte e quatro horas são fundamentais, mas ao que tudo indica, o pior já passou.

Graças aquele la de cima, porque porra. Sou bandido caralho, sempre achei que ia morrer em confronto, com uma bala na cabeça e vapo. Mas nessas últimas horas, achei que ia morrer de um ataque cardíaco. Que nervoso da porra.

Ai, a guria pode ser baixinha, mas é mandona pra caralho. Chegou na gente como? Dando ordens. Preciso ser sujeito homem e confessar se não fosse ela, nós tava fudido, porque ou iam pegar o Coringa ou então nós dois juntos, ai o bagulho ia fuder de vez.

Tamo devendo ela? Pra caralho, quase a nossa vida real. Mas nós deixa isso baixo, quando aparecer a oportunidade, pagamos a dívida. Agora falar um bagulho desses em voz alta não é bom não, ela pode achar que estamos nas mãos dela e sair pintando o sete. Nos é bandido filho, não fantoche de mulher pra elas pisar na nossa e achar que manda em nós.

__ Demorou pra caralho.--- Resmungou o Coringa.

A morena, que ainda não sei o nome, olhou pra ele com uma cara que eu só fiz segurar a risada. Ele que aguente os b.o dele, vou me meter não, porque ela já está estressada pelo local e as condições que fez essa cirurgia.

__ Tenta tirar uma bala, de um órgão vital, sem os equipamentos necessários ou ao menos uma ajuda digna.--- Argumentou.

__ Tinha nos aqui.--- O cabeça dura deu de ombros.

__ Ah claro.--- Debochou ela.--- Você fez faculdade, ou um curso de enfermagem por quanto tempo?

__ A vida já serve pra tudo isso, fala ai Grego.--- Buscou apoio em mim.

__ Ela ta certa.--- Apontei pra baixinha que sorriu em deboche.--- Nos atrapalhou mais do que ajudou. Não sei como não fudemos com a porra toda.

__ Vê se aprende alguma coisa com o seu amigo e para de encher a minha paciência.--- Falou, extremamente nervosa.

__ Ai, qual é o teu nome?--- Perguntei.

__ Qual o teu?--- Rebateu enquanto tirava a sua luva.

__ Grego, po.--- Dei de ombros, é óbvio.

__ Esse é o teu vulgo, estou falando o nome.--- Argumentou.

__ Ai ce quer demais.--- Falei e ela respirou fundo.

__ Me chama de morena, já está de bom tamanho.--- Tirou a blusa e devolveu ao Coringa.--- Quando eu souber o seu nome, você sabe o meu.

Concordei com a cabeça, encarando os seus seios, totalmente hipnotizado. Não são grandes e nem pequenos, mas sim do tamanho perfeito. Acredito que caiba inteiramente na minha mão, o que logo faz a mesma formigar com vontade de encostar e o guiar até a minha boca.

Será que são macios? Será que sai leite? Oh porra, que merda tá acontecendo comigo? Leite dela eu quero só o da buceta, caralho.

Essa marra toda, pose de braba e até mesmo de dona da porra toda me deixa louco e com vontade de fuder ela. Quero só vê-la manter essa marra toda na cama, apesar de que talvez seja bom deixar uma vadia como ela no controle por um tempo. Ou, melhor ainda, nos brigando pelo controle.

Já sei que ela gosta de dar ordens, isso está mais do que claro. Eu não fico por baixo, ficar fora do comando da situação me dá uma agonia desgraçado. O único que consegui tirar isso de minhas mãos, por um tempo que fosse, foi um caso secreto que tenho por aí. Mas pra ela eu não daria de bandeja assim não, a diaba teria que conquistar.

__ Para de olhar, caralho.--- Impliquei com o Coringa, dando um pescotapa nele quando a diaba se virou e começou a andar na nossa frente.

O problema desse rolê? Tivemos uma visão tão privilegiada da bunda dela. E que bunda meus irmãos, o mini grego logo deu um pequeno sinal de vida. A filha da puta é gostosa, o pior? Ela tem total conhecimento disso e usa ao seu favor.

__ Filho da puta.--- Reclamou passando a mão na sua nuca.--- Vem com essa pra cima de mim não, arrombado do caralho. Eu olhei pra bunda, tu secou o peito da mina na maior cara de pau antes de fazer o mesmo com o bundão dela.

__ Eu sou o dono da facção, posso fazer o que eu quiser.--- Dei de ombros.--- E eu quero ela na minha cama.

__ Nos queremos ela, meu amigo. Mas a mandada ta se fudendo pra quem nós é, só se importa se tamo longe dela.--- Falou.

__ Isso é teatro, caralho. Tá dando uma de difícil pra nós correr atrás dela, mas ta doidinha pra sentar pra bandido.--- Falei negando com a cabeça, já saquei a sua morena.

A maioria das minas dão logo na cara o que quer, maria fuzil assumidíssimas. Essa não, quer bancar uma de paty, mas nós tá ligado porque não é a primeira e nem será a última a usar essa tática. Mas deixa ela achar que tá por cima, quando menos esperar vai está debaixo de mim, gemendo como a puta que é.

__ Eu sei, mas deixa ela achar que não.--- Piscou pra mim.

__ Quer compartilhar essa?--- Perguntei.

Ás vezes nos faz isso, divide mulher em um delicioso sexo a três. Poucas novinhas tiveram essa honra, poucas chamaram a nossa atenção assim. Mas a morena vale um sexo a três.

__ Vapo nela, fi.--- Falou sorrindo, concordando com a cabeça.

Sorrir de ladinho, aproximando dele e fazendo um toque. Evito olhar na sua boca, caso contrário vou ceder a tentação que é esse branco e esse não é o melhor lugar para isso.

MAJU

Fechei o meu punho, apertando o mesmo em um soco. A raiva que me consome, perde apenas para o ódio que sinto. A pior coisa, para qualquer estudante de medicina, é você precisar realizar uma cirurgia de alto risco, como a que acabo de fazer, sem o mínimo de ajuda especializada ou os equipamentos que se fazem necessários.

Tive que ser anestesista, cirurgião, auxiliar, enfermeira e enfermeira chefe. Sem contar diversos outros profissionais que não estavam aqui para me ajudar, não me restando outra escolha, assim, do que ter que me requebrar toda e conseguir realizar essa cirurgia. Graças a Deus, que não me desamparou em nenhum momento, consegui salvar a vida dessa menina.

Embora esteja sentindo o peso do mundo em meus ombros, fico feliz também. Feliz por mim que ultrapassei todos os meus limites e consegui obter êxito naquilo que me propus a fazer. Preciso ser sincera, estou orgulhosa de mim mesma. Feliz, também, porque não perdi a minha paciente em meio a uma cirurgia, agora eu só posso orar e pedir que ela sobreviva a essas vinte e quatro horas. Se passar desse dia, de certo não será essa bala que irá tirar ela desse mundo.

__ E ai?--- A moça, que me permitiu cuidar da Giovanna, perguntou assim que me viu se aproximar.

Ela estava deitada no colo de um dos meninos, que também estava no mirante. Quando ela me viu, logo se levantou e se aproximou de mim com a feição totalmente preocupada.

__ A cirurgia foi um sucesso.--- Falei vendo a sua feição suavizar.--- Temos que esperar as próximas vinte e quatro horas para dar a certeza de como ela está, pois são as mais cruciais. Mas o pior já passou, agora só podemos orar e confiar em Deus.

__ Só por saber que o pior já passou, fico bem mais aliviada.--- Segurou nas minhas mãos.--- Sou a Ingrid, mãe dela e não sabe como eu agradeço por ter cuidado da minha filha. Graças a Deus você estava lá, caso contrário eu acho que ela não estaria mais entre a gente.

__ Não vamos ficar pensando no que poderia acontecer, mas sim no que já rolou.--- Tentei me manter o mais neutra possível, afinal faz parte do ofício.

__ Filha, não quer ir descansar? Você deve estar muito cansada.--- Minha vó falou docemente, segurando no meu ombro e me abraçando.

__ Vou sim, minha vó. Mau vejo a hora de chegar em casa, tomar o meu banho e poder dormir. Foi tudo muito estressante, só quero descansar um pouco porque amanhã eu tenho plantão de vinte e quatro horas.--- Confirmei com a cabeça, sentindo o meu corpo reclamar só de pensar em mais estresse.--- Antes eu só quero entender o porquê dos policiais irem direto para o mirante.

__ Foi missão de resgate, morena.--- O tal do coringa falou.--- Fugi da cadeia essa semana, então vieram tentar me resgatar.

__ Você é o bandido que fugiu de Bangu essa semana, na parte da noite e acabou rolando até uma perseguição pela avenida Brasil?--- Perguntei.

__ É ele mesmo.--- Concordou sua mãe.

__ Fala ai, o pai arrasou nessa fuga. Tão falando até hoje, foi o principal assunto dos jornais.--- Falou em um tom todo orgulhoso.

Lentamente eu me virei na sua direção, tentando mesmo acreditar que ele não estava tão feliz. Mas assim que eu vi o seu sorriso, eu vi por trás todas as famílias que foram destruídas por causa dessa fuga da qual ele tanto se orgulha.

__ Disso eu não sei, não tive tempo para ver os jornais. Sabe por quê? Estava cuidando dos pacientes que essa merda mandou ao hospital.--- Falei raivosa, vendo a sua cara ficar vermelha.

__ ESTÁ DEFENDENDO OS CU AZUL, PORRA?--- Veio vindo pra cima de mim, mas o Grego segurou ele.--- NÃO QUERO VIRA CASACA NO MEU MORRO NÃO.

__ Estou pouco me fudendo pra bandido ou policial, afinal vocês entraram nessa vida sabendo dos riscos. Estou falando do Antônio, pedreiro que a muito tempo estava sem fazer uma obra e justo naquele dia ele conseguiu um bico. O homem saiu feliz, iria conseguir comprar um bolo de aniversário para a sua filha. Mas adivinha só, ele estava em um dos ônibus que estavam na avenida brasil naquele dia. Chegou no hospital com uma bala alojada no seu coração por culpa dessa maldita FUGA QUE VOCÊ TANTO SE ORGULHA.--- Me exaltei no final, sentindo a minha vó me segurar, tentando me controlar um pouco.

__ Calma, Maju.--- Pediu Mari, minha melhor amiga.

__ Eu sei que não posso sentir nada, porque as perdas fazem parte da minha profissão. Mesmo assim, basta fechar os olhos que eu lembro da mulher desse homem, carregando mais um filho do casal, desmaiando em meio ao hospital com a notícia de que o seu parceiro de vida faleceu. Poderia passar horas falando das vítimas em casos graves, das pessoas que vieram a óbito ou das pessoas que só sofreram um arranhão por causa dessa maldita fulga.

Respirei fundo, me soltando das meninas. Respirei fundo, fechando os olhos e tentando me controlar. Levei as mãos até o cabelo, puxando os mesmo com força. Fui indo cada vez mais longe dos meninos, quero ficar bem longe dessas pessoas que colocam o seu bem estar a frente de qualquer coisa, até mesmo de uma vida.

__ E ainda estava rindo orgulhoso, feliz porque a sua grande fuga passou em rede nacional. Está pouco se fudendo para as vítimas que foram perdidas, afinal só a sua importa, EGOISTA.---Gritei no final, vendo que ele não gostou nem um pouco do adjetivo.--- Então fique aí sorrindo, coringa.--- Debochei do seu vulgo.--- Porque enquanto você o faz, pessoas estão chorando pelo que a sua fuga as custou. Espero mesmo que a sua consciência não pese um pouco que seja, porque eu jamais conseguiria dormir com tanto sangue inocente nas mãos.

Neguei com a cabeça, sabendo que nada daquilo valeria a pena. A única coisa para qual está servindo é me fazer mal, sinto-me sufocada.

__ Eu não sabia que isso iria acontecer.--- Falou Coringa, se encostando na parede e visivelmente abalado.

__ Ah, por favor. Achou mesmo que uma perseguição na maior avenida do rio não poderia resultar em acidentes de carro ou vítimas de bala perdida?--- Ironizei, vendo ele concordar com a cabeça.--- Não sei se você é um belo de um mentiroso ou muito ingênuo mesmo. De qualquer forma, eu só espero que se mantenha bem longe de mim. Eu prezo pela vida, já você tem o maior prazer de tirar a mesma de qualquer pessoa. Você é egoísta e egocêntrico, de pessoas assim eu quero distância.

Amarrei o meu cabelo em um coque, passando a mão pela minha nuca. Sinto o meu corpo quente, um mal estar e tristeza se apossaram de mim. Pergunto-me como as pessoas conseguem ser tão cruéis ao ponto de nem mesmo pensar na vida de outras pessoas, sendo grande parte de inocentes.

__ Coloca o seu número aqui, por favor.--- Entreguei o meu celular para Ingrid.--- Quero manter contato para supervisionar a sua filha, ter notícias também. Como disse, eu me preocupo com a vida das pessoas.

Ela concordou com a cabeça e fez como eu pedi, pediu desculpas por qualquer coisa. Apenas dei um sorriso fraco como resposta, me despedi e sai com as minhas meninas. Eles até queriam mandar alguém nos levar, mas o meu orgulho falou mais alto e eu não quero nada que venha deles. Dessas pessoas, como eu falei, quero a maior distância possível, sem precisar dever nada. Não falo nada da família, pois me parecem doces. Falo mesmo do tal Grego e Coringa.

Ao chegar em casa, só tomei um banho e caí na cama, conseguindo dormir dentro de pouco tempo. Como eu queria que nada disso tivesse acontecido, como eu queria esquecer desse dia, mas já que não posso, farei isso enquanto durmo.

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