Capítulo 8 - Partida antecipada
Parte 1...
Quando a madrugada chegou, Greta entrou de fininho no quarto e retirou sua bagagem, levando para um ponto escondido no jardim.
Andava sem sapatos, sem fazer barulho, assim como um gatuno que invade uma casa para roubar. Estava bem nervosa e sua expressão mostrava isso. Seus olhos arregalados e sua respiração funda diziam que poderia até ter algum descontrole a qualquer instante.
Se fosse pega fazendo isso, só Deus sabe o que aconteceria com ela. De forma alguma seus patrões iriam deixar isso passar sem fazer nada contra ela. E tinha muito medo do pai de Lyanne, porque quando estava aborrecido ele era bem difícil, até mesmo com a esposa.
Encontrou Lyanne ainda acordada. Não conseguira dormir bem e teve pequenos cochilos durante a noite. Sua mente não relaxava do que ira fazer em breve. Já tinha pensado e repensado tantas vezes que não sabia mais quantas.
_ Tente dormir, eu venho acordá-la na hora certa, antes que os empregados despertem. Irei com você até perto da cidade - Greta disse baixinho, batendo de leve em sua perna.
_ Vou tentar, mas mesmo com sono eu estou tão nervosa por dentro que não consigo me demorar de olhos fechados. Desperto por qualqur coisa, até pelo vento lá fora.
_ Eu sei... Imagino que esteja com o coração apertado e bastante ansiosa... Mas vai precisar ter forças para a viagem e se continuar acordada assim, vai dormir no meio do caminho e não é bom.
Ela assentiu e fechou os olhos, tentando relaxar. Greta saiu tão lenta e silenciosa como entrou. Lyanne ajeitou o travesseiro pela décima vez, contou até trinta e o sono a pegou.
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Logo cedinho com o sol ainda fraco, chegando para acordar o mundo que dormia, Greta entrou de novo no quarto e ambas saíram de fininho pelo fundo da casa, dando a volta até o jardim, onde estava sua bagagem.
Tiveram bastante cuidado para evitar qualquer som e demoraram para sair. Pareciam tartarugas andando pela casa. Ficaram atentas para algum som que viesse do quarto dos pais dela, mas não houve mudança. Greta foi muito esperta e foi deixando as portas abertas e as fechava quando passavam. Já tinha deixado tudo no jardim só esperando.
Na esquina uma carroça as esperava. Era um amigo de Greta que iria ajudar em sua fuga. Colocaram as bolsas de viagem em cima e subindo em uma pedra ela conseguiu alcançar o degrau, dando um impulso para cima. Greta sentou do outro lado.
_ Este é Eduard, um amigo. Não se preocupe, ele é de confiança e nunca vai abrir a boca.
_ Obrigada por sua ajuda - disse olhando para trás _ É melhor irmos logo agora.
O rapaz foi gentil com ela e explicou que tinha duas irmãs que se casaram por imposição dos pais também e as duas não eram felizes. Uma delas já tinha filhos, mas estava até mais velha do que era devido o estresse de um casamento arranjado.
Ele bateu de leve na guia e o cavalo começou a andar. Logo sua casa já não era mais vista. Isso foi dando uma certa agonia nela, mas não poderia ficar e ser feita de refém em uma vida que não queria. Deus iria lhe dar o perdão por ter desobedecido aos pais.
Greta desceu ao chegarem na entrada do centro. Disse que ficaria ali e Eduard a pegaria na volta. Usaria a desculpa de ter ido comprar legumes logo cedo para preparar o jantar. Isso lhe daria um boa desculpa para não estar em casa pela manhã quando sua mãe lhe questionasse de sua ausência. Diria que saiu tão cedo que não viu onde ela teria ido.
_ Vá com Deus - a abraçou _ Estarei torcendo por você e com esperança de que não esqueça de mim.
_ Claro que não vou esquecer - segurou o choro _ Obrigada por tudo. Fique em contato com a senhora Jordana, ela poderá lhe informar e ajudar - disse um tanto entristecida.
_ Ficarei - sorriu meio triste por sua ida _ Tudo vai dar certo.
Eduard seguiu com a carroça até a estação. Na volta pegaria Greta. Ambos sabiam o que dizer quando fossem questionados depois.
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Na estação ela pensava na viagem longa que teria até chegar em Red River. Por sorte ela tinha pensado em levar sua água de colônica refrescante para quando precisasse.
Greta ainda tinha lhe enfiado pelos cantos alguns sabonetes e outras coisas de limpeza. Teria que cuidar bem disso. A viagem iria demorar cinco dias e dentro de um trem cheio, naquela época, logo estaria cheirando mal se não tivesse um bom asseio.
A cabine que Greta havia lhe comprado ficava perto de um banheiro, o que facilitaria para quando precisasse, mas evitaria o uso durante o dia. Quando saiu de casa era ainda tão cedo que tudo estava em silêncio, adormecido. Ali na estação era muito barulho.
Gente de um lado para outro, malas sendo carregadas em carrinhos, pessoas com crianças no colo ou puxando-as pela mão. Sem falar nos animais que passavam. O mais comum eram gatos, mas chegou a ver dois cavalos sendo levados para a área de carga.
E no meio disso havia o barulho de seu próprio coração que batia nervoso e descompassado. Esperava a hora de poder embarcar e deixar a cidade para trás antes que seus pais aparecessem para impedir.
A todo momento olhava na direção da entrada, pensando ter visto a figura de seu pai e até mesmo do velho Joseph, de tão nervosa que estava.
Respirou fundo e ajeitou a postura, assim ninguém perceberia que na verdade fugia de seu destino, assim como Jordana a ensinara.
Tinha receio de ser reconhecida, mas caso o fosse, não teriam tempo de avisar seu pai que partia em um trem para longe. Nem saberiam para onde. Ajeitou o capuz da capa que usava e se dirigiu até a plataforma onde um homem gritou a plenos pulmões para todos ouvirem.
“O trem já vai partir. Todos à bordo!”
Engolindo em seco ela seguiu o fluxo de passageiros em direção à entrada. O condutor que ficava ao lado da porta lhe pediu sua passagem. Ela entregou e ele arrancou um pedaço do papel, lhe devolvendo a passagem. Fez um gesto com a cabeça e a mandou seguir.
Lyanne entrou devagar, olhando pelo corredor até achar eu lugar para sentar, ao lado da janela.
Agarrando bem sua bolsa em cima do colo, ela respirou um pouco aliviada. Ali começava a jornada de sua nova vida, diante do desconhecido.
“O trem já vai partir. Todos á bordo, vamos fechar os vagões!”
Ouviu o grito do homem lá fora e olhou pela janela. Algumas pessoas corriam em direção ao trem, estavam atrasadas, mas não ela. Chegara cedo para seu caminho. Se ajeitou no banco, respirou fundo e fechou os olhos um instante, fazendo um agradecimento a Deus e pedindo por Greta.
O trem começou a se mover.
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“Informo que por uma decisão necessária, a senhorita Lyanne Carlton chega nesta terça.
Trem de chegada às cinco da tarde.
Viagem urgente. Buscar Lyanne na estação.
Ass. Agente Jordana M. Gilbert.
Agência de noivas de Sunnydale.”
_ Meu Deus... E agora? O que faço?
Hector lia o telegrama espantado. Tinha acabado de chegar e o avisava que em breve sua noiva estaria ali com ele.
Leu a nota em sua mão de novo. Leu em voz alta para a irmã.
_ Bem, aí está sua noiva - disse Anete.
_ Sim, mas eu nem mesmo tive tempo de falar sobre Ana e nunca recebi resposta à minha carta. Não sei nada dessa jovem.
Ele viu a irmã torcer a boca e balançar a cabeça em reprovação.
_ E o que queria? Que levasse mais um ano entre cartas? Sabe que o correio demora muito - gesticulou _ Apenas vá até lá e busque sua noiva. Agora já começou, não tem jeito.
_ Até parece fácil.
_ E é. Você precisa de alguém, irmão. Nossa situação pede rapidez de pensamento. Não dá pra ficar repensando a mesma coisa até chegar a uma ação.
Anete olhou em volta.
_ Se você demorasse para pensar no que fazer, teria esse trabalho? - mexeu a mão em volta mostrando a sala da delegacia _ Para ser um homem da lei, é preciso atitude e pensamento rápido. Por isso as pessoas confiam em você, meu irmão.
Ele puxou o ar fundo e soltou devagar, coçando a cabeça. Ela tinha razão. Mas sua vida pessoal era outra coisa, nada a ver com seu trabalho.
_ Entra logo, seu porco.
Os dois olharam para trás e viram Gray, um dos policiais, entrar empurrando um homem para o corredor de celas. Ele não os tinha visto.
_ Eu já vou agora, parece que você tem mais trabalho chegando - pegou a bolsa _ Por favor, se anime e siga com o plano. Você vai ter uma esposa agora.
Ele assentiu com a cabeça, olhando para o telegrama. Anete o abraçou e saiu com um sorriso.
_ É, parece que eu vou me casar de novo.
Guardou o telegrama no fundo da gaveta da mesa de trabalho e suspirando foi até o corredor onde Gray tinha levado o novo prisioneiro.
Agora o momento lhe pedia que usasse sua mente como o xerife da cidade de Red River e não como o futuro marido da senhorita Lyanne Carlton, da qual ele nada sabia.
E por que infernos a viagem tinha sido de emergência como citava a senhora da agência?
— Cala a boca, você está preso.
Ele ouviu a voz alta de Gray e balançou a cabeça para espantar o pensamento de sua futura esposa.
Autora Ninha Cardoso
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