Capítulo 7 - Uma boa amiga
Parte 3...
Lyanne apertou os lábios, olhando para ela com vontade de chorar devido o nervosismo. Precisava muito desabafar. Seu coração estava apertado pelo estresse de todo esse tempo suportando tudo sozinha.
_ Greta, preciso que você seja minha amiga agora - apertou sua mão _ Posso confiar mesmo?
_ Claro, sempre pôde. Me diga o que te aflige.
Lyanne agradeceu mentalmente, olhando para a imagem de Jesus na cruz que ficava no altar. Respirou fundo e começou a contar uma versão resumida do que tinha feito. Ela também se sentia como aquela imagem. Paralisada e presa em uma cruz. Precisava de liberdade.
Pelo menos, se Greta não pudesse ajduar em nada, só de ouvir o que ela tinha a falar e deixar que revelasse seus medos e tristezas, já era de grande ajuda sim. Muitas vezes apenas ouvir a outra pessoa e entender o que ela estava passando, já era uma bondade.
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_ Meu Deus, mas e agora?
Greta estava admirada com a coragem de Lyanne e entendia seus motivos. Ela também não achava que o velho Joseph seria capaz de ser um bom marido. Só pela cara dele e o modo como falava com os empregados já mostrava que era uma pessoa ruim, que separava os outros por sua posição.
_ O que vamos fazer? - questionou agitada.
Lyanne a olhou franzindo a testa.
_ O que eu vou fazer. Sou eu que tenho que dar um jeito de mudar isso.
_ Não... - pegou sua mão _ Nós... - sorriu de leve _ Eu estou do seu lado e vou te ajudar.
_ Mas Greta, você não...
_ Não vou deixar que sofra - abaixou a cabeça _ Sempre foi muito boa comigo, desde que cheguei em sua casa quando ainda era pequena. Tenho muito carinho pela senhorita. Posso ser apenas mais uma empregada em sua casa, mas eu sou grata a quem me trata com atenção e respeito e você sempre foi assim comigo.
_ Oh, Greta... - segurou a lágrima _ Eu também. Sinto muito como meus pais a tratam. Eu não posso fazer nada contra isso. Se eu pudesse ninguém seria tratado de um modo tão feio como esse. Todo mundo tem que ser respeitado.
_ Eu sei... Não se preocupe. Percebo a diferença em você - suspirou _ Precisa ir, não pode se casar com aquele homem horrível. Será infeliz. Tem que sair daqui.
_ Nem me fale. Me sinto mal só de pensar - ela mordeu o lábio _ Só de imaginar o que pode acontecer estando presa aquele homem, eu começo a me sentir doente de novo.
_ Onde fica essa agência?
_ Em uma salinha no fundo do prédio dos correios. É aqui perto.
_ Então vamos lá agora - levantou _ Não podemos perder tempo ou sua mãe irá desconfiar.
As duas saíram da igreja e seguiram para encontrar Jordana, mas antes voltaram à loja de tecidos e compraram fitas coloridas sem nem mesmo escolher. Isso não interessava mesmo. Não tinham tempo para tal coisa, apenas pegaram algumas para servir de desculpa pela demora.
Assim que entraram ela foi contando a Jordana seu plano.
_ Meu Deus, querida, sua situação está muito complicada - Jordana levantou e se aproximou de Lyanna _ É muito raro que eu envie uma noiva sem antes ter tido a resposta do pretendente. E você nem mesmo chegou a enviar sua carta para ele. É bem estranho essa pressa.
_ Eu sei, dona Jordana... Mas não posso continuar aqui ou serei obrigada a me casar com esse...
Abaixou a cabeça, nervosa demais para falar e Greta continuou.
_ Ela não pode ir na frente e a senhora envia a carta junto? A carta já pode ir explicando a situação.
_ Bem... Eu posso até enviar a carta amanhã, mas talvez ela chegue antes do que a própria carta. Ele não vai saber que você está lá - fez uma cara de desolada _ Eu me sinto até mal em ver que você está em uma situação angustiante, mas não tenho muito mais o que fazer.
_ Mas ela pode procurar direto por ele, não pode? Dizer quem é - gesticulou nervosa _ Por favor, senhora, se ela ficar, em cinco dias estará casada com um homem péssimo. Não vai ter como escapar depois.
Lyanne fungou segurando o choro. Não queria chorar de novo e tinha que mostrar que poderia ser forte e cuidar de si mesma. Mostraria determinação. Apesar de por dentro estar muito nervosa.
_ Eu posso sair daqui e já comprar minha passagem de trem para amanhã de manhã logo cedo - disse levantando a cabeça _ Saio de casa antes mesmo que meus pais percebam minha falta.
_ E eu posso ajudá-la - Greta afirmou.
Jordana sabia que não era o passo correto a dar, mas entendia o desespero da garota.
_ É, nessas circunstâncias horríveis, é o que se pode fazer - andou pensativa pela pequena sala.
_ Eu posso ir atrás dele.
_ Não! - se virou _ A cidade não é grande, mas não deve ficar andando sozinha por um lugar desconhecido, pode ser perigoso. Eu vou ficar muito preocupada com você.
Ela coçou a cabeça. Queria muito ajudar. Asituação dela era muito delicada e não gostaria que uma filha sua passasse por isso.
_ Já sei o que posso fazer - voltou até a mesa.
_ Eu posso ir com ela? - Greta perguntou.
_ Bem, eu creio que não - meneou a cabeça solidária _ Seria ótimo, assim teria uma acompanhante, mas além de ser uma viagem cara... Quem irá cobrir a fuga de Lyanne?
_ Ela tem razão, Greta - mordeu o lábio _ Eu prometo que assim que puder, mando buscar você. Não vou me esquecer de sua ajuda.
Greta assentiu com a cabeça, abaixando o olhar. Gostaria de poder ter essa chance.
_ Eu tenho uma ideia. Você pode me dar seus dados da passagem ainda hoje?
_ Se eu for depressa até a estação, acho que posso inventar algo em casa pela demora.
Greta levantou.
_ Não precisa. Eu vou até a estação e volto o mais rápido possível. Vou correndo - abriu a mão _ Me dê o dinheiro para a passagem.
Lyanne lhe deu um pequeno maço de notas e Jordana escreveu em um papel o nome do lugar.
_ Vou e volto no mesmo pé. Não vou parar por nada.
Quando ela saiu, Jordana elogiou seu esforço e bondade em ajudar, mesmo sendo arriscado.
_ Sim, eu gostaria de poder levá-la comigo. Ela merece ter uma vida feliz também.
_ Quem sabe isso seja possível em breve? Vou lhe passar algumas dicas para sua viagem. Preste bem atenção, pois estará sozinha e por sua conta.
Enquanto esperavam a volta de Greta, as duas começaram a falar sobre a viagem. Lyanne prestava muita atenção, pois esta seria sua primeira viagem sozinha, sem seus pais, para longe e em busca de uma vida nova, longe de seu destino cruel.
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Depois de um tempo Greta voltou e sentou respirando rápido. Tinha ido correndo até a estação.
_ Menina, você é esperta - Jordana riu e pegou a passagem _ Agora me deixe anotar tudo certinho aqui e já explico o que vai fazer.
Lyanne sorriu para Greta ao seu lado, ainda respirando fundo e segurando o decote do vestido. Ficaria com saudade dela.
_ Vou enviar um telegrama com um aviso de sua partida daqui. Ele vai receber isto antes mesmo de sua carta e saberá que aceitou seu pedido de união - escreveu em uma folha amarela _ Deve ter muito cuidado, Lyanne. Lembre-se de tudo o que lhe disse.
_ Sim, senhora - mordeu o dedo polegar.
Depois de mais dez minutos elas saíram do escritório de Jordana e voltaram para casa. No caminho criaram a versão para a demora em comprar fitas. Ao chegar sua mãe foi logo reclamar com as duas, mas aceitou a desculpa. Elas levaram várias fitas coloridas e usaram o pretexto de agradar ao velho Joseph, o que fez sua mãe ficar calma.
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Durante a noite Greta entrou no quarto dela levando roupas de cama limpas, como desculpa para demorar em seu quarto, mas na realidade a estava ajudando a separar as roupas que poderia levar.
Jordana havia explicado que levasse pouca coisa, apenas o suficiente para passar bem a viagem e não chamar a atenção de outros passageiros. Deveria se manter calma, como se fosse apenas mais uma passageira comum, não estava fugindo.
Como seria pouca coisa, Greta a ajudou a escolher vestidos mais fáceis de colocar sozinha, já que não teria ajuda para isso.
Em uma bolsa de viagem as duas colocaram três vestidos para o dia e dois para a noite. Peças íntimas, apenas dois pares de sapato e chinelos. Só o necessário.
_ Não pode carregar muita bagagem, Lyanne, vai ficar pesado para você e não vai ter quem a ajude.
_ Eu sei - apertou os lábios _ Estou tão nervosa... Mas estou segura de que devo ir.
_ Com certeza tudo vai dar certo - Greta tentou animá-la _ E enquanto for possível, encobrirei sua fuga.
_ Muito obrigada, Greta - sorriu preocupada.
Olhando em volta pelo quarto, ela sentiu um aperto no coração. Se pudesse nunca faria tal coisa, mas não poderia aceitar a imposição de seus pais. Ela sofreria estando casada com um homem como Joseph Rogan. Ninguém que tinha coragem de falar, dizia algo de bom a seu respeito.
Sabia que sua vida dali em diante seria muito diferente. O luxo que estava acostumada não estariam presentes. Como a própria Jordana havia lhe dito, ela tinha privilégios que poucas garotas em sua idade tinham.
Sua casa era grande, cheia de facilidades com a ajuda de muitos empregados e isso ela não teria para onde estava indo agora.
Porém teria sua liberdade. Poderia escolher o que fazer. Não estaria sujeita aos caprichos de um homem egoísta e sem respeito.
Sentiria falta de tudo o que tinha ali. Mais ainda de seus pais que não a compreendiam, mas sabia que a amavam, ao seu jeito.
Tudo lhe faria falta, mas sabia que precisava ir em busca de outra vida. Um novo caminho. Tinha medo, mas tinha coragem de seguir em frente.
Só não podia ficar parada e aceitar tudo.
Autora Ninha Cardoso
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