Capítulo 4
SARA
Entro extremamente calma pela porta do escritório, não posso deixar Maicon perceber que me deixou perturbada. Eu o encontro sério e muito diferente de quando o deixei, agora ele me olha como antigamente, com ar de superior, com cara de quem não está nem me vendo. Ótimo, assim eu não preciso agradecer pela "gentileza" de ter se preocupado comigo.
Sentei-me em minha mesa e trabalhamos desconfortavelmente quietos e fingindo que o outro não estava presente.
- Vá almoçar Sara, não quero ser acusado de te explorar. - Nem se indignou de me olhar.
- Com licença... - Me levanto quase tropeçando e saio bem devagarzinho, não sei se exagerei nos passos lentos mas eu queria aparentar calma.
Olho no meu celular e vejo três ligações perdidas de Lukas, deve estar querendo saber o porquê de eu ainda não ter saído para almoçar. Retorno a ligação e ele me encontram no mesmo restaurante de sempre.
MAICON
Depois de cinco minutos que minha secretária saiu para almoçar, descobri que também estou faminto. Desci para almoçar, em volta do edifício da empresa só tem um restaurante, nada do qual eu estou acostumado a freqüentar, mas estou cheio de coisas para fazer e não tenho muitas opções.
Entro no local e logo sou reconhecido, pois dois garçons se aproximam e até o proprietário do estabelecimento resolveu me atender, sei que ele é o proprietário, pois já vim aqui antes.
- Senhor Maicon, seja bem vindo! - Pega em minha mão e abaixa a cabeça, fico irritado com tanta reverência, reparo o local, tudo aqui ainda é simples, porém tranqüilo e agradável. - Sinta-se à vontade.
- Obrigado, por hoje quero apenas um almoço, mas um dia desses vamos tratar de negócios. - Ele me acomoda em uma mesa no melhor local disponível e fica pensativo.
- Não sei que tipo de negócio poderíamos fazer. - Isso me soou como "jamais venderei meu restaurante".
É normal que ele pense que eu quero comprar, mas não é bem isso. Eu jamais iria querer comprar pra mim algo que é importante pra alguém.
- Creio que seria vantajoso para o Tapuer... - Nome do restaurante. - Se o senhor... Como o Senhor se chama mesmo?
- Felipe. - Responde atento.
- Se o Senhor Felipe se associar a mim. - Concluo.
- E o que é que o senhor ganharia com isso, senhor Maicon? - Pergunta interessado.
- Além de 28% dos lucros? Eu teria um local mais luxuoso para o meu almoço, sem ofensas! Sem falar que haveria mais segurança, músicos e todos sairíamos ganhando, o senhor é um homem inteligente, tomará a decisão certa. - Sorrio.
Eu faço isso, consigo parcerias nas quais eu só tenho que investir e dar "uma ajudinha", depois desfruto dos lucros e do que podem oferecer, eu tenho me saído muito bem com isso, eu não passo por cima de ninguém, muito pelo contrário, os ajudo. Isso é algo pessoal, não tem nada haver com a empresa, é algo que faço com meu próprio dinheiro.
Estou pensando em minha vida enquanto almoço, e olhando para o nada de repente vejo um vulto conhecido, firmo a visão e me deparo com Sara, eu deveria imaginar que a encontraria aqui. Sara parece não me notar, ela conversa animadamente com um sujeito e está sorrindo, deve ser o tal Lukas com quem ela falava mais cedo, parece um cara sossegado, sossegado demais até, meio estilo nerd, não combina com a Sara, não parece ser o estilo dela.
Porque estou pensando nisso? Não é problema meu.
Se ela quer ficar perdendo tempo com um sujeito desses, problema é dela.
SARA
Ta legal, estou sorrindo sem motivos, igual à uma retardada, apenas quero parecer feliz, não quero que meu adorável chefe pense que estou deprimida ou algo assim, o que é o caso!
- Sara, eu estava pensando, deveríamos... Quero dizer...
- Sim?
- Faz tempo que estamos em um relacionamento e está na hora de darmos um passo mais sério.
- Está me pedindo em casamento Lukas? - Arqueio as sobrancelhas dobro meus braços, numa pose séria.
- Já está na hora não concorda?
- Bem...
- Pense bem, não precisa me dizer agora, mas saiba que já comprei um apartamento em um bairro bem localizado especialmente para nós.
Ok, para tudo, estou mesmo sendo pedida em casamento? Sempre gostei de Lukas pela sensibilidade dele, dele não querer avançar na nossa relação e nem tentar nada que eu não queira, é claro que eu já pensei em casamento mais isso seria bem para a frente, tipo daqui à uns cinco anos.
E... Eu gostaria de sentir com o Lukas aquela sensação que eu senti mais cedo com o Maicon.
- Vou pensar Lukas, te ligo amanhã ok? Fique bem. - Me levanto apressadamente, Lukas realmente me assustou.
Passo por Maicon sem nem ao menos olhar-lo, não fiz de propósito, mas é que estou realmente mexida com o pedido de Lukas.
Espero que ele não tenha ficado triste comigo. Eu me perdi naquele momento.
(...)
A primeira semana passou tranquilamente, eu não liguei para o Lukas ainda, apenas mandei um SMS dizendo que precisava de um tempo para analisar a proposta dele.
Só não entendo o porquê de meu escritório ainda não estar pronto, não vejo a hora de estar protegida por quatro paredes, por mais que seja coladinho e que tenha até uma porta de comunicação com a sala presidencial, será muito melhor e menos constrangedor do que estar frente à frente com uma pessoa que tem antipatia por você e vice-versa.
MAICON
Durante essa minha primeira semana na empresa foi muito corrido, mas a partir de segunda-feira as coisas vão melhorar, espero que o escritório da minha secretária também fique pronto logo, entendo a vontade de meu pai de me aproximar de Sara, mas não se pode ter tudo na vida, portanto sinto muito pelo meu pai, mas é que eu e Sara estamos destinados a não nos darmos bem. Ainda não sei se eu acredito nesse negócio de destino, em minha opinião cada um faz o seu, mas no caso meu e de Sara não tem conversa. Tem alguma coisa nela que me tormenta, antigamente era mais, mas ainda assim me tormenta, entendeu? Então nosso destino é não nos darmos bem
Antes era pela minha mãe, ou eu culpava minha mãe, mas hoje eu estou começando a perceber que na verdade era eu o problema, o fato de Laura Branco ter sido amante do meu pai e ter se casado com ele me fez pensar mal de Sara, me fez transformar qualquer coisa boa que eu poderia sentir por ela em repulsa, com o tempo passou, e depois eu não sabia o porquê de eu não suportar-la.
O que eu estou querendo dizer é que não existem esperanças para mim e Sara, antes ela até tentava se aproximar de mim e tal, mas depois se cansou e parece que passou a me odiar do nada. Melhor assim.
(...)
- Que roupa é essa? - Digo entrando em minha Sala de trabalho, Sara está usando uma calça social amarela muito esquisita, um blazer cinza realmente estranho, um sapato preto fechado ridículo e pra melhorar a visão esta com o cabelo trançado, demorei a reconhecer-la, normalmente ela está mais apresentável.
Não que ela precise me agradar, mas ela tem que ter o senso de saber que a aparência influi muito nos negócios.
- Algum problema com minha roupa? - Pergunta sem me encarar.
- Você já é esquisita com aqueles conjuntos cinza que você usa, agora nesta roupa que esta eu realmente não posso te aceitar. - Falo convicto.
- Desculpe, mas eu não estou com ânimo para debater hoje, amanhã volto a usar meus conjuntos habituais. - Esse olhar que ela me olhou me pegou de surpresa, ela parece cansada e... Triste?
- O que ouve Sara? - Encaro-a com pesar.
Acho que não a odeio tanto assim afinal, para me preocupar com seu estado de espírito.
SARA
Meu fim de semana foi horrível, senti muita falta de Paul, ele não me ligou e não respondeu minhas mensagens, aquela casa é extremamente vazia sem ele, ele sempre foi minha companhia preferida no jantar, no café, nas noites, enfim, em tudo. Agora pra ajudar nem com Lukas eu posso contar, ele vai pensar que quero me casar e realmente estou me dando conta de que não quero mais nada com ele, infelizmente. Minhas poucas amigas são ocupadíssimas e quando estão livre elas saem festar, sempre me convidam, mas eu nunca estou a fim.
No próximo fim de semana vou conhecer minha casa nova, aquela que Paul me deu, por fora eu sei que ela é maravilhosa, estou completamente empolgada, a única coisa de interessante que tenho para fazer da minha vida agora é tratar de conhecer e curtir minha casa.
- Nada que tenha que se preocupar. - Eu sorri tentando ser irônica, mas pelo jeito que Maicon me olhou não consegui.
- Sara, vamos parar com isso? - Ele rodeia minha mesa e chega do meu lado, senta-se sobre a mesa, sua perna encosta na minha, eu arregalo os olhos assustada com esse contato e me afasto alguns centímetros.
- Do que está falando? - Realmente não sei do que ele está falando, e nem sei por que esta conversando comigo, a única coisa que ele deveria estar fazendo era me criticando e reclamando ou simplesmente me ignorando.
- Eu estou dizendo que não precisamos agir assim, você não precisa ser grossa comigo e nem me olhar com esse seu olhar que está me olhando bem agora. - Passa as mãos sobre meu rosto, sinto um breve intenso calor, breve mesmo porque eu me levantei da cadeira num pulo.
Ele está louco? Ou é apenas uma brincadeira de mau gosto?
- O que está querendo em Maicon? É alguma estratégia para alguma coisa?