Capítulo 1
( Hoje em dia)
SARA:
Estou batendo a ponta da caneta em minha mesa de trabalho para tentar aliviar o nervosismo. Tenho certeza que Paul está tramando algo, pois ele está agitado ultimamente e me evitando.
O telefone toca e sou chamada até o escritório presidencial, tenho certeza que qualquer dúvida que tenho, será esclarecida agora.
— Bom dia, Paul! — Digo assim que entro em seu escritório em passos rápidos.
— Muito bom, muito bom dia! — Paul está radiante.
— Posso saber o motivo de tanta animação? — Pergunto desconfiada, algo me diz que não é uma coisa boa.
— Sente-se, por favor, minha querida. — Pede animado, mas ele mesmo se mantém em pé.
— Obrigada. — Sento-me na cadeira de frente a ele. — Agora pode me dizer o que está acontecendo?
Paul me fitou por alguns segundos e então se virou de costas, olhou a bela vista da cidade que a enorme janela de vidro proporciona e se virou para mim novamente.
— Estou me aposentando, Sara, está tudo certo, Maicon herdará a empresa na sexta-feira.
Será que eu ouvi direito? Calma coração! Deve ter sido o diabinho do mau que sussurrou coisas absurdas e horripilantes em meu ouvido.
Começo a gargalhar perdidamente enquanto Paul me encara com curiosidade.
— É uma piada, certo? — Questiono quando finalmente recupero o fôlego.
— Há tempos eu não falo algo tão sério em toda a minha vida. — Afirma com um olhar que confirma a sua seriedade.
— Mas ainda é muito cedo! — Soltei essas palavras com dificuldades, acabei de tomar um banho de água fria.
Sério. Isso não pode acontecer.
— Vou embarcar em umas grande férias, vou ficar seis meses viajando pelo mundo curtindo minha fortuna, já estou velho e não preciso mais trabalhar, quer vir comigo, Sara?
Caí na risada novamente, estou histérica demais à essa altura. Nunca imaginei que Paul fosse se aposentar tão cedo, e que eu iria ter que conviver com Maicon tão cedo. Não posso! Isso é um castigo para mim! Mas, ok, recapitulando a minha vida: isso algum dia iria acontecer.
— Suponho que eu posso ficar tranquila, a minha minúscula parte está garantida na empresa. — Comento convicta de que realmente estou certa.
Desde que conheço o Paul ele me deixa claro de que uma pequena porcentagem das ações será dada à mim, e isso será o suficiente pra eu não precisar me preocupar com minha vida financeira. Eu me sinto filha dele, por isso estou completamente confortável com isso.
— Quanto à isso, Sara, fique tranquila, os documentos estão todos assinados e em segurança, quando você completar os seus vinte e sete anos, irá receber a sua parte. — Paul explica sem pestanejar, com suas mãos enfiadas no bolso da calça.
— Eu não acredito. — Murmuro incrédula.
— Você é muito jovem, precisa de mais experiência. Você sabe que eu sou um homem completamente profissional, não misturo sentimentos e é isso que nos fez chegar onde estamos. — Explica-se um pouco desconcertado dessa vez.
— Compreendo. — Tenro soar tão profissional quanto ele.
Mas, pra mim é bem mais difícil, realmente tenho uma questão pessoal com isso.
— Paul, eu quero um contrato de trabalho ainda hoje. — Digo decidida, e Paul olha para mim incrédulo. — Paul, você sabe que Maicon é impiedoso comigo e o primeiro papel que Maicon vai assinar, será minha demissão. — Explico, com total certeza.
— Já falei tantas vezes pra você, Sara, Maicon é um homem difícil, entretanto é uma pessoa honrosa, ele jamais iria te demitir sem razão alguma, além do mais, acho que ele nem se lembra dessas desavenças entre vocês. — Paul é muito inocente mesmo em relação ao Maicon.
Não estou à fim de falar mal daquele idiota para o pai dele. Se bem que estou com uma vontade de confessar daquela vez quando eu ainda era pequena, tinha uns doze anos e, Maicon tinha dezoito, o idiota quebrou o relógio de parede preferido do Paul e jogou a culpa em minhas costas... Não neguei porque eu era otária, sonsa e songa monga. Lembro-me que Paul ficou triste, mas não brigou comigo, acho que no fundo ele sabia que não havia sido eu. Ou talvez não tenha brigado comigo porque ele não é briguento. Enfim, não vou contar a ele que o desgraçado fez de propósito apenas para me culpar, Paul não merece saber que tem um monstro como filho.
— Ele se lembra sim, garanto, e eu me lembro também, Paul, eu serei como um gatinho indefeso nas mãos dele se eu não tiver um contrato! Pode fazer isso por mim, Paul? Você sabe que batalhei muito para chegar onde estou e ser demitida do nada, eu ficarei até os vinte e sete anos à mercê da vida? Eu exijo um contrato de trabalho! — Empino o nariz decidida.
— Até que seria uma ótima ideia! — Sério? Tão fácil? Paul com certeza teve alguma ideia, eu conheço esse olhar.
Desde que eu tenha o meu contrato, tenha a ideia que quiser!
Paul parece um adolescente quando fica animado, sorri muito, faz uns movimentos esquisitos com as mãos, Paul é maravilhoso. E eu não consigo ficar brava com ele.
MAICON:
Eu estava bem tranqüilo em meu escritório quando Amanda, minha secretária, avisa que meu pai está ao telefone.
O que será que ele quer, me ligando à essa hora do dia ?
— Bom dia Pai. — Eu digo sério, segurando o telefone com os ombros enquanto assino alguns papéis.
— Maicon, chegou a hora. — Falou sem rodeios, animado.
Não, não pode ser.
— Pode ser mais claro, por favor? — Eu tenho uma pequena suspeita do que ele quis dizer, mas não posso acreditar que seja isso, meu coração vai de dez a mil.
— Vou me aposentar, chegou a sua vez, meu filho.
Merda! Está bom aqui!
— Mas você ainda é novo, espera mais uns cinco anos, não vai lhe fazer bem ficar sem trabalhar depois de tantos anos. — Tento argumentar.
— Maicon, quero viver o resto da minha vida em paz, além do mais, já sou o sexto homem mais rico da face da terra!
Verdade.
Droga. Droga mil vezes.
— Tenho negócios inacabados aqui. — Vai que ele entende?
— Seu irmão materno tem capacidade de cuidar do que é dele. — Droga isso também é verdade.
— 38% daqui é meu. — Também tenho que cuidar, já que é assim.
— 80% daqui são seus. — Droga de novo, ele venceu.
— Me dê duas semanas, preciso deixar tudo em ordem por aqui. — E criar coragem.
— Na sexta-feira acontecerá.
O quê?
— Mas, pai, já estamos na terça! Não pode ser assim do nada!
— Maicon, não tem porque adiar o que é o seu destino, sexta-feira eu e toda minha equipe estaremos te esperando.
Minha tranquilidade se foi depois dessa ligação, tive que acelerar meus projetos, assinar muitos papéis entre outras coisas.
Eu sempre soube que esse dia chegaria, mas nunca me preparei. Eu não estou mesmo preparado para conviver com o lado paterno da minha vida.
(...)
Hoje já é sexta-feira, estou vestindo o terno mais caro e luxuoso que Amanda conseguiu encontrar especialmente para essa ocasião, quero causar boa impressão. Minha casa até a empresa de meu pai dá exatamente uma hora, nesse meio tempo estou imaginando como tudo e todos devem estar, faz tempo que não entro lá, e Sara? Será que ela ainda trabalha por lá? Com certeza que sim.
Não vai ser nada fácil.
SARA:
Estou ansiosamente aguardando o horário da reunião, paciência nunca foi o meu forte.
Faltando dez minutos para "a grande sucessão" desço até o andar de baixo, quero tomar uma xícara de chá, pois me ajuda a acalmar os nervos. Escuto duas funcionárias, Kate a ruiva, e, Fernanda, loira de Chanel:
— Ele é lindo demais, mal vejo a hora de receber ordens do novo chefinho gato. — Quase me engasgo com o chá ao ouvir essa baboseira, a coitada não deve estar falando sério.
— Mas não é para o seu bico. — Kate zomba. — Ele só namora com modelos e atrizes.
Infelizmente ela tem razão, aquele narcisista se acha o presidente da República.
— Seria como nas histórias de amor... — A coitada da Fernanda parece sonhar acordada. — O chefe se apaixona pela simples empregada e eles vivem felizes para sempre. — Ah, já ouvi demais, vou acabar com essa palhaçada agora mesmo!
— Meninas, desculpem se eu vou decepcioná-las, mas Maicon é gay. — Interrompo com uma cara de quem está com pena. — Os namoricos dele nas revistas de fofocas, são fake news para ninguém desconfiar. — Tomo um gole de chá, tentando ser uma mentirosa fria.
E por dentro estou rindo.
— Você deve saber né Sara, é seu irmão. — Kate lamenta.
Fernanda parece abalada, foi correndo até o filtro tomar um copo de água.
— Não é meu irmão! — Ainda consigo dizer antes de Kate se afastar.
Finalmente entro na sala de reunião e já encontro Paul e outros, nos cumprimentamos, dou um olhar de cumplicidade para Paul e sento-me ao lugar que me pertence, minutos depois chega ele. Isso mesmo, o senhor idiota. O rei dos idiotas.
— Bom dia, senhores. — Maicon olha para todos, que honra, olhou até para a minha pessoa.
Quase um ano que eu não o via, da última vez foi na festa de aniversário do Paul. Não vou negar que ele parece melhor a cada vez que eu o vejo, e isso me faz odiá-lo ainda mais. Por quê, que além de poderoso, inteligente, bilionário, ele tem que ser lindo?
Dou uma risada bem falsa para cumprimentá-lo e ele ignora o meu cinismo.
In-su-por-tá-vel!