Cap. 3
Quando Ivy voltou a sentar naquela mesa, o sorriso no rosto tinha aumentado.
As garotas a cercaram de perguntas sobre o menino que chegou logo depois com a mão no rosto e sustentando um olhar de deboche. Um olhar que Ivy conhecia bem, mas que não fazia questão alguma de ficar olhando. Delatou para todos da mesa que a rixa que tinha com Apollo não havia começado em dois dias, ou dois anos, ela vinha desde o jardim quando ele cortou metade do seu cabelo no meio da aula, destruindo a sua trança perfeita feita pelas mãos de sua adorada mãe.
Os garotos prestaram atenção em cada detalhe de Ivy e não deixou de comentar o quanto ela era bonita. Claro que se deram bem com Apollo e por serem homens já tinham compartilhado muitas coisas desde que ele chegou naquela manhã, inclusive reconheceram todas as características em Ivy da garota que o Kade detalhou gostar, mas era impossível não gostar de como ela falava dos seus sonhos e do que queria fazer quando a faculdade começasse, o brilho no olhar dela era perfeito.
Mas todas as vezes que ela encarava ou falava alguma coisa da escola, essas coisas sempre vinham com o final onde Apollo destruía e ele confirmava que todo mundo gostou. E todos gostaram mesmo, menos ela.
Assim que terminaram, Josh foi um dos primeiros com um sorriso no rosto a querer apresentar a cidade para Ivy que não contestou, mas talvez no outro dia, aproveitaram para voltar para casa.
Assim que Amber bateu a porta do carro, virou para Ivy no banco de trás com um sorriso de orelha a orelha.
— Me conta que historia é essa que você me diz que não é virgem e depois aquele cara fala ao contrário? Você não precisa mentir para ninguém, muito menos para mim. - Ivy desviou o olhar avistando ao longe os garotos adentrarem o carro empurrando um ao outro. — Eu não estou chateada, mas eu quero muito saber de cada detalhe dessa briga de vocês. Sério! Que loucura foi àquela? A tapa e depois ele vindo todo mansinho sentar-se à mesa com cara de quem vai te bater em algum momento, se ele te bater eu chamo a polícia. Eu adoro uma briga. Mas sou contra agressão a mulher.
— Não tem detalhe de briga nenhuma. A gente não se gosta, ou pelo menos, ele não gosta de mim, porque eu nunca dei motivos para ele fazer tudo que ele fez. Desde criança ele tem uma coisa na cabeça que nada está bom se não estiver acabando com alguma parte da minha vida. - Declarou já se jogando contra o banco e deitou escondendo seu rosto. — De todas as pessoas na minha vida, ele era a que eu mais queria longe. BEM LONGE. Eu soube que ele tinha viajado para passar uns tempos com o pai e a madrasta, mas não achei que tivesse que encontrar com ele aqui.
— Você vai morar com ele agora. - Ivy ela abriu os olhos tirando o braço do rosto. — Mas não se preocupe. Eu não vou deixar ele te machucar. Não gosto dessas coisas. E eu vou falar com os garotos. - Bradou Madison do outro lado mexendo no celular — Mas eu não vou deixar de lado o quanto ele é gostoso. E sem nenhuma tatuagem aparente. Eu nunca achei que ia me sentir atraída por um homem assim, porque os que eu vou para a cama, têm pelo menos umas quinze tatuagens. Animou-se passando as fotos do instagram, Ivy revirou os olhos voltando a deitar e cobrir seus olhos.
— Me deixa ver? - Amber tomou o celular e ambas analisaram cada foto falando do quanto ele era gostoso, e de fato, para quem tinha mais de quinze mil seguidores no instagram com tanta foto sem camisa ou montado numa moto grande, Apollo Kade era o sonho de toda garota. — Eu com certeza daria pra ele. Já estou vendo as garotas da faculdade virando nossas amigas apenas para se aproximarem do Apollo.
— Eu não ligo desde que eu possa usar e abusar disso. - As duas se olharam — Estou falando de trabalho grátis em troca de uma cueca do Apollo. - As duas bateram as mãos. — Aí Ivy, o que você espera enquanto estiver morando com o Apollo? Quer se vingar? Acabar com ele? Algo assim? Porque podemos te ajudar.
— O Apollo é impenetrável, não há nada nesse homem que eu consiga derrubar. Vocês não são as primeiras a tentar me ajudar a destruir aquele filho de uma bondosa mãe.
— Querida… não somos suas colegas do fundamental. Temos uma fonte de poder feminino na faculdade tão grandiosa que fariam de tudo para te ajudar. Mas se você quiser outra coisa… - Amber voltou a falar e Ivy as olhou e depois revirou os olhos.
— Que tipo de coisa você acha que existe? - Amber e Madison se entreolharam antes de voltar a Ivy, será que ela não tinha percebido que havia sim um “sentimento” vindo da parte dele?
— Não sei, quem sabe quer paquerar, seduzir? - Ivy gargalhou, mas foi parando aos poucos pensando na possibilidade de se vingar de um jeito que ele jamais iria esquecer, porém, não iria se submeter a se aproximar de Apollo para isso. Ela não era esse tipo de mulher.
— Eu não sou o tipo de garota que se vinga das coisas. Não somos mais crianças. Só vou seguir a diante e reorganizar minha vida. Simples. - olhou para fora também mirando nos olhos de Apollo do outro lado do estacionamento.
E quando percebeu, se escondeu. Não queria ter que ficar olhando para seu rosto por muito tempo.
***
— Então é ela? - Jones perguntou pela terceira vez enquanto olhava o rosto do novo amigo no banco de trás. Abriu um sorriso passando o cinto pelo corpo e voltou a Apollo, poderia ver o rosto sem o brilho da manhã quando chegou cheio de esperança, e agora estava emburrado e estressado. — É sério, é a sua garota? - Olhou para fora vendo que as garotas também ainda não tinham saído do lugar.
— Ela não é a minha garota. - Murmurou descontente encarando ao longe os olhos verdes da menina que particularmente o irritava só de estar no mesmo espaço, o irritava porque ela era a única que não queria nada com ele. — Ela não é a minha garota. - Repetiu.
— Tá. Engraçado que você mencionou o nome dela quatro vezes desde que chegou e falou que sentiria falta da garotinha que deixou na sua cidade antiga porque gostava de irritar ela ao máximo e vê-la surtar ao seu lado. - Jones sorriu ligando o carro — A melhor parte é saber que você gosta dela, mas ela não sabe disso, o que te custa contar a verdade?
— Eu não gosto dela. — Bradou vendo o carro das garotas ir embora e aquela troca de olhares só terminar porque o carro sumiu da sua vista. Deitou no banco de trás respirando melhor. — Eu… Eu gosto, eu gosto sim - Confirmou enquanto os outros riram. — E ela me bateu, vocês viram aquilo? Ela nunca me bateu.
— Ela não é mais uma criança, Apollo, na verdade ela é uma mulher maravilhosa - Josh comentou animado levando uma tapa de Jones. — O que foi?
— A garota é do Apollo.
— Ela não é minha garota - Bradou novamente e os homens riram.
— Tá vendo? Ela não é a garota dele. - Josh tornou a falar — Uma pena a gente não poder pegar ninguém do nosso próprio apartamento. - Murmurou desgostoso — Ainda dar tempo de expulsar ela?
Desatou a rir junto de Jones confirmando em pensamentos enquanto iam embora.
Quando saiu da sua cidade natal, sabia que poderia não dar certo; arrumaria um emprego com sua madrasta, então não iria esperar muito, mas daria para se manter na faculdade sem ajuda da sua mãe e depois de se formar iria viajar pelo mundo e nunca mais voltar para ficar obedecendo a ordens de pessoas aleatórias que achavam que mandavam em sua pessoa maravilhosa.
Esse era o seu plano.
Claro que o plano não incluía Ivy Olivares. Ele não precisava de uma pessoa que o conheceu desde criança ali. Como iria agir como uma nova pessoa se ela sempre lhe olharia sabendo que isso e aquilo não eram verdade?
E o pior de tudo, era vê-la, porque com certeza ela era seu ponto fraco.
Seu plano de ser uma pessoa melhor tinha ido por água baixo, e agora?
Como driblar a menina?
Iria voltar a ser como era antes pra ela desistir?
Não, não podia porque eles não eram mais crianças para agir daquela forma. E também, não tinha necessidade de ser tão ruim com ela a aquele ponto.
Quando o carro estacionou, ele subiu ao redor dos garotos que falavam sobre um lugar para jogarem videogame, graças ao bom Deus os garotos daquele apartamento havia se tornado seus irmãos em poucas horas. Eram bagunceiros e debochados, particularmente bonitos, aquele tipo de grupo que podia andar junto sem queimar seu filme, um bonde perfeito para conhecer lugares novos e pegar garotas, sim, pegar garotas gostosas e se divertir um pouco.
Esse não é o ponto principal da faculdade?
— Segunda depois da faculdade podemos ir lá - Jones bradou ao adentrar o apartamento sendo seguido pelos outros. Apollo foi o último que entrou e fechou a porta procurando por Ivy e lhe encontrou na cozinha com as garotas, preparavam alguma coisa — É o melhor lugar que temos para jogar todo tipo de jogo e pagar pouco.
— É mesmo, até porque o nosso videogame não vai durar muito se continuar com esse deboche para todo lado. - Josh mirou no colega que sempre ria quando ganhava uma partida de qualquer coisa. — Chega um momento em nossa vida que precisamos deixar os amigos ganharem, sabia? - Josh parou com as garotas vendo que todas se juntaram para preparar um bolo. — A Madison ganha de você se for jogar.
— Mas é claro, a pessoa tem sessenta irmãos e vinte irmãs, aprendeu desde cedo como jogar e socar a cara de pessoas - Jones parou ao lado de Ivy com um sorriso galanteador, Madison apenas assentiu sem querer entrar em detalhes — E você, Ivy, tem irmãos?
— Tenho. Um na verdade. Ele nunca chega na hora certa para nada na vida, mas é uma pessoa legal. E viajaria sem pensar duas vezes para vir me salvar se souber que alguma coisa errada está acontecendo. Ele é um bom irmão. - Avisou para Jones que continuou a olhá-la, encantado.
Apollo disse que aquela não era sua garota, tudo bem então. Ivy era bonita, o cabelo curto chamava atenção para o pescoço fino com uma linda tatuagem ali. Além de aparentemente manter um corpo atlético, se não fosse líder de torcida na escola, fazia academia e por isso era claramente perfeita aos seus olhos.
— Eu não me preocuparia em conhecer outro colega. Gosto quando a casa está cheia, e falando nisso, quando vamos dar uma festa? - Josh questionou sentando no chão para ligar o famoso videogame.
As meninas se entreolharam e isso poderia até ser uma regra de não darem festas, mas como podiam colocar uma regra daquelas se elas também gostavam de festas? Não uma festa grande, mas quem sabe uma social divertida onde todo mundo poderia curtir e beber, pegar umas pessoas e depois todo mundo ir para sua casa porque ninguém precisava dormir ali.
— Temos a regra clara de que não podemos trazer ninguém para dormir, mas podemos fazer uma festa pequena. Se todo mundo concordar, começamos a planejar logo. - Amber foi uma das primeiras a bradar de onde estava.
— Vamos planejar, mas para daqui a alguns finais de semana. Esse primeiro final de semana terá a festa dos calouros, e vai ser épico porque estou na frente da organização - Jones se afastou correndo para sala juntos dos meninos — Apollo se alguém te escolher para o trote, sinto muito.
— Trote? - Ivy quase tem um infarto, o que chamou atenção de todo mundo. As garotas riram e Jones voltou-se a menina — Como assim trote? Que tipo de trote?
— Prometo que tiro seu nome de qualquer lugar que queiram colocar, você não parece o tipo de menina que levaria isso numa boa depois, e não queremos machucar ninguém. - Se compadeceu todo apaixonado.
— Ah, com certeza ela não aguenta - Apollo falou rindo. Jones abriu um sorriso e Ivy parou o seu desviando o olhar para o garoto na sala. — Se fizerem qualquer coisa, ela acaba chorando e gritando que nem um bebê na frente de todo mundo. - Fez bico antes de virar para encarar todos sorridentes, menos Ivy — Eu nem mexeria com ess-
— Quer saber, Jones, qualquer trote ridículo que queiram jogar nos calouros vai ser pouco comparado a ter que conviver debaixo do mesmo teto que o filho do demônio. - Todos riram menos Apollo que abaixou o controle de uma vez. — E temos que viver todas as experiências da faculdade, não é? Então, que venha o trote.
— É assim que se fala - Jones riu se jogando ao lado de Apollo, e o encarou — To apaixonado por ela - Voltou para tela.
Apollo permaneceu olhando para o colega por alguns segundos antes de encarar Ivy do outro lado e voltou para tela.
— Isso só pode ser brincadeira com a minha cara.