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Estou a horas trancado em meu escritório perdido em meus próprios pensamentos. Eles estão preenchidos com uma única imagem… Jasmine, quando deveria estar atento a reunião com os sócios executivos da minha empresa. Penso em como ela estaria agora, ou no que estaria fazendo, e enquanto eles falam, e falam, e falam, eu pego o meu celular largado em cima da minha mesa e começo a digitar sem parar. Simplesmente deixo o meu coração falar mais alto.
… Como pode ser tão difícil esquecer o primeiro amor? Juro que essa é a minha luta de todos os dias, princesa. Não, aqueles dois tiros não me mataram, mas você conseguiu me matar por dentro. Entendo que não me ame e entendo que nunca será minha, e aceito isso. Quero que seja feliz com as suas escolhas, Jasmine, e eu tentarei ser feliz com as minhas. Eu te amo, isso é um fato e com certeza jamais deixarei de te amar. Isso quer dizer que não haverá lugar para outra mulher dentro de mim. Eu te amei, e pode não ter sido da maneira certa, mas como você mesma viu, sou capaz de dar a minha própria vida em troca da sua. Não se preocupe, esta será a minha última mensagem para você. Não sou perfeito, Jasmine. Talvez eu seja só um delinquente mesmo, porém, no meio do meu mundo obscuro, conheci o sentimento mais puro e ele é tão forte, que duas balas não foram capazes de me matar. Contudo, esse sentimento sim, matou o melhor de mim.
Amo você!
A. C.
Olho para a mensagem por longos minutos. O nome Jasmine no cantinho da tela parece brilhar intensamente. Esse será o meu último contato com ela. Penso e meu indicador inicia uma guerra entre apertar ou não o maldito botão do enter. Com uma respiração profundo o aperto. Pronto, lá foi o meu adeus para ela. Suspiro e em seguida ligo o meu modo empresário foda.
— Senhores, o meu nome é Alex Fox e sou o novo sócio majoritário e atual presidente dessa empresa. Andei estudando os progressos e as vendas, e notei que os números estão muito baixo. O senhor, Walter, não é? — Aponto para o homem loiro e alto sentado do meu lado direito.
— Sim, senhor.
— Sim, senhor Fox — exijo. — Ele franze a testa e se ajeita em cima da cadeira.
— Desculpe! Sim, senhor Fox!
— Vejo que é chefe da contabilidade da empresa há alguns anos. — Ele confirma com a cabeça. — Pode me explicar, porque os números nunca subiram nesses gráficos, senhor Walter? — Ele engole em seco.
— A crise no país, senhor. Alguns fatores de vendas, eu acho. — Arqueio as sobrancelhas. O homem me parece um tanto nervoso.
— Eu acho, senhor Walter? — questiono duramente. — Definitivamente não era essa a resposta que eu queria ouvir de um profissional — rebato implacável. O homem se ajeita outra vez e mexe na sua gravata.
— Senhor Fox…
— Está demitido, senhor Walter! — rosno impetuoso, o encarando firmemente e sem hesitar.
— O que disse?
— Eu disse que o senhor está demitido. Eu quero pessoas determinadas a alavancar a minha empresa e não pessoas conformadas com a situação dela e do país. Infelizmente o senhor não se encaixa no novo perfil da Car Whash. O senhor já pode se retirar dessa reunião. — Todos olham surpresos de mim para o funcionário. O homem endurece a sua face, se levanta da cadeira, ajeita o seu terno em seu corpo e sai pisando firme, saindo da sala logo em seguida.
Implacável. Foi isso que aprendi ao longo dos meus anos de vida no mercado negro r praticamente metade dos funcionários, foram demitidos nesta manhã por sua incompetência e respostas dadas sem o menor sentido. Solange, uma garota que nomeei minha secretária na empresa, ficou encarregada de me trazer novos currículos para preencher os novos cargos.
O dia passou rápido demais e confesso que estou adorando o meu novo emprego… Mega CEO das empresas Car Whash. O manda chuva, o dono da porra toda, e o melhor… sem me sentir mal por isso e sem praticar o mal a ninguém.
A noite, organizo alguns papéis dentro de uma pasta e saio da minha sala. Lá em baixo encontro Jordan me aguardando e o caminho para casa é feito em silêncio. No entanto, não gostei disso, porque a minha mente ficou povoada de pensamentos que eu não queria ter.
Jasmine… A garota que me destruiu por dentro. Lembranças da minha princesa saindo de casa toda arrumada e pronta para ir ao colégio me faz sorrir. Ela amava aquilo. Penso, mas o meu sorriso desaparece quando lembro dela entrando no carro do mauricinho, filhinho de papai todas as manhãs.
Suspiro. Ela nunca me amou e para piorar, eu nunca soube conquistá-la de verdade. Talvez eu não tenha nascido para isso, para amar ou para ser amado. Fui criado para ser sozinho, viver sozinho, totalmente sozinho. Bufo. Porém, vou confessar, eu daria tudo o que tenho agora, só para tê-la aqui comigo.
O carro para em frente a mansão de condomínio fechado, e imediatamente observo as luzes acesas, deixando a fachada da casa iluminada, por conta das paredes de vidros que a noite ficam transparentes. Puxo mais uma respiração profunda e dessa vez fecho os olhos brevemente, para apreciar a paz que me envolve agora. Saio do carro e adentrando a casa elegante e confortável em seguida, e sigo direto para as escadas. Preciso de um banho relaxante e de uma boa refeição, só então retomarei o meu trabalho aqui de casa mesmo. Abro a porta do quarto principal e encaro a garota estranha fuçando dentro do meu closet.
Mas o quê?
— QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FAZENDO?! — berro em um tom alto, que a faz dar um pulo assustado para fora do armário. A garota fica imediatamente pálida. Ela balbucia algo, mas nada sai da sua boca. Mantenho os meus olhos intimidantes o tempo todo sobre a garota curiosa e amedrontada e a merda do seu silêncio me incomoda. — FALA LOGO, CARALHO! — Volto a gritar, mas ao invés de respostas ela estremece inteira.
— Dis… desculpe, se… senhor A… Alex! — Ela gagueja as palavras. Dou dois passos firmes em sua direção, porém, ela recua. Continuo a dar os passos e ela continua a recuar, até as suas costas bater na porta do closet atrás dela.
— Eu quero saber o que você está fazendo aqui no meu quarto? — questiono, dessa vez baixo, porém, não menos irritado.
— Dona Anita — sibila, me deixando confuso. — Ela me pediu para organizar algumas coisas. — Atrevo-me a chegar ainda mais perto da menina. Seu cheiro… esse cheiro é envolvente demais. Engulo em seco e me perco na escuridão dos seus olhos assustados. Um bichinho acuado. Penso outra vez.
Sem conseguir frear os meus pensamentos, elevo uma mão calmamente e toco na ponta do seu queixo. Fabi volta a estremecer e começa a chorar baixinho. Confuso, franzo meu cenho. Não consigo entender porque tem tanto medo de mim assim? Aproximo meu rosto do seu lentamente e sinto um desejo insano de beijar-lhe a sua boca.
— Se afaste de mim! — pede áspera, no entanto, cheia de medo e eu pude sentir um leve tremular em sua voz. Engulo em seco mais uma vez e continuo com o meu ataque. — Não me toque, por favor! — suplica com um fio de voz.
Deus, há tanto desespero em sua voz. Eu me afasto um pouco, erguendo as minhas mãos e ela sai correndo feito uma desesperada para fora do meu quarto.
Que porra foi isso?
***
É quase meia-noite e ainda estou acordado em minha cama, olhando os meus e-mails e analisando alguns papéis para o dia seguinte. Estou começando a gostar dessa minha nova vida. Penso com um sorriso de lado. Estranhamente o meu antigo celular começa a tocar na gaveta do criado mudo e curioso, o pego e olho para o número desconhecido por algum tempo. Penso em não atender e deixar pra lá e confesso que não entendo porque ainda guardo esse maldito aparelho. A única coisa que restou do meu passado obscuro. Nesse minúsculo chip, tenho dezenas de nomes de provedores do melhor material do submundo e centenas de nomes de compradores também. Além daqueles que ficaram devendo milhões em dinheiro. O telefone volta a tocar e eu atendo sem pensar duas vezes.
— Alô?
— Marrento, eu sou DJ, e tenho um recado do Cicatriz para você. — Sinto um gelo tomar conta do meu corpo imediatamente e respiro fundo, sentindo o meu corpo inteiro estremecer.
A coleira… Ele quer me pôr na coleira outra vez.