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Três meses…
Acordo com um dia lindo lá fora e não acredito que dormi um dia inteiro! Isso nunca aconteceu comigo antes. Entro no banheiro da suíte e encaro o cômodo grande e sofisticado: banheira em formato quadrado e grande o bastante para quatro pessoas. No que Danilo estava pensando, em uma orgia? Sorri amplamente, mas logo o meu sorriso morreu, quando lembrei que não quero mais isso para mim. Quero me manter longe do submundo do crime, dos seus poderes atrativos, da sedução, dos seus falsos amores. Respiro fundo. Outro homem e uma segunda oportunidade. Serei um mega empresário, terei a vida de rei que os meus pais queriam para mim e não a que Cicatriz me ensinou a conquistar. Puxo mais uma respiração, me olhando do enorme espelho sobre a bancada de vidro temperado. Tiro o curativo do meu ombro e depois do meu peito e encaro os ferimentos através do reflexo, eles estão quase sarados. Os médicos fizeram um ótimo trabalho aqui.
Tomo um banho demorado e quando saio do banheiro ponho uma roupa de corrida e saio empolgado para o meu primeiro dia de recomeço. Sinto-me revigorado, um novo homem, com novos hábitos. Quero correr, praticar exercícios, ter um horário para ir às empresas, conhecer os meus funcionários e quem sabe encontrar um novo amo… Não! Não quero um novo amor. Amar machuca mais do que levar um tiro no peito. Ainda tenho as lembranças nítidas do seu abandono, lembro de suas palavras, dizendo que não me amava. Não preciso do amor, estou bem assim.
Abro as portas largas e abraço o lindo dia que começa a nascer. Sorrio para o céu claro e sem nuvens. Desço os três degraus na frente da enorme casa e corro pela passarela, parando quando um homem vestido em um terno preto e muito bem armado para a minha frente.
— Bom dia, senhor Fox! Está de saída? — Fito o rapaz com confusão e encaro a arma na lateral do seu corpo. — Ah, me desculpe! Eu sou Jordan e sou o seu segurança pessoal. Se eu soubesse que queria correr, teria me preparado para ir com o senhor.
Porra, seguranças? Sério, Danilo? Penso contrariado.
— Não precisa me acompanhar, Jordan. Não vejo risco algum em dar uma corrida por aí — digo tentando me afastar.
— Me desculpe, senhor Fox, mas o Danilo foi taxativo. Ele não quer o senhor desamparado. — Ele insiste e eu abro um sorriso debochado. Desamparado, que conversa é essa?
— Bom, eu vou correr, Jordan e você ficará bem aqui — falo com um tom firme, deixando o homem contrariado.
— Posso ser despedido por isso, senhor… — ralha me acompanhando. Eu paro e eu respiro fundo.
— Diga-me, rapaz, quem é o chefe dessa porra toda?
— É… o senhor, senhor.
— Então, fique tranquilo, porque não haverá demissões. Agora deixe-me ir! — Ele começa a tirar a arma da lateral e eu logo fico em alerta. Que merda ele pensa que vai fazer?
— Leve-a consigo, senhor. Pode precisar. — Encaro a arma por alguns instantes. Não. Prometi para mim mesmo nunca mais pegaria em uma arma outra vez. Engulo em seco e volto a olhá-lo nos olhos.
— Melhor não, Jordan.
— É isso, ou terá que esperar eu ficar pronto para segui-lo, senhor. — Engulo em seco e mesmo contra a minha vontade, eu seguro a Glock em minhas mãos e a levo a cintura. Contrariado, começo a correr pelas ruas de Gramados. Sim, escolhi esse lugar por sua beleza natural e, porque ele foge completamente da minha antiga realidade no Rio de Janeiro. Ainda é muito cedo e as ruas estão quase desertas. Enquanto corro, absorvo o perfume suave que vem das flores dos campos que há por aqui. Minutos depois, entro em uma trilha, em um parque de árvores longas e uma mata um tanto densa nas margens. O contato com a natureza é a melhor parte do meu prêmio de sobrevivência.
Não tenho noção do tempo que corri, do quão longe estou de casa e quando os meus pulmões e pernas começam a protestar, eu finalmente paro e olho para trás, encontrando apenas uma trilha vazia, ladeada de matos e árvores. Puxo uma respiração pesada e ofegante, e penso em voltar, porém, um som diferente me chama a atenção. É um choro, seguidos de um gemido feminino. Penso que ela adentrou a mata e de alguma forma se machucou. Solto mais uma respiração profunda e resolvo entrar ainda mais na mata, afastando-me da trilha e sigo o som do seu choro. E quando me aproximo mais, escuto o som de alguém cavando o chão. Cauteloso, eu paro atrás de uma árvore grossa e vejo uma garota amordaçada e com as mãos atrás do seu corpo. Ela está de joelhos no chão de folhas secas e implora por sua vida. Mais afastado dali, tem um homem cavando um buraco e outro homem está ao lado dela, apontando uma arma para a sua cabeça. Meu coração bate forte demais, tão forte que é possível ouvir os seus escândalos dentro dos meus ouvidos. Engulo em seco.
Seria uma queima de arquivo, ou uma traição? Não importa, Alex, isso não tem nada a ver com você! Repreendo-me. Saia daqui como se nada tivesse acontecido, você não vive mais nesse mundo! Aconselho-me. Respiro fundo e dou meia volta para voltar a trilha, mas paro quando a escuto implorar por sua vida outra vez.
— Não! Não! Não! Não! Por favor! — O som sai abafado por conta da mordaça em sua boca. Agoniado, fecho os meus olhos e as minhas mãos em punho, e hesito. É só dá as costas e sair daqui, Alex. É bem fácil. — Meu subconsciente diz e eu dou mais um passo em direção da saída.
— Marrony mandou avisar que não é nada pessoal, Fabi. Mas, você viu muito e precisa dormir profundamente. — Uma voz áspera chega a me causar um arrepio. Lembro-me do meu pai, dos tiros, do seu sangue se derramando. Não posso deixar um inocente morrer. Penso e puto da vida comigo mesmo, volto na direção dos três, tiro a arma do cós da calça e encaro os homens alheios a minha presença.
— Bom dia, senhores! — falo, os alertando da minha presença. Assustados, um deles aponta a arma para mim.
Dois contra um é covardia. Penso, sentindo a costumeira adrenalina percorrer as minhas veias.
Ágil, atiro no cara que está segurando a pá e o tiro certeiro perfura o seu crânio. E ela cai na própria cova. O outro levanta as mãos e larga a arma quando me ver apontando a minha para ele.
— Quem é você? — Ele pergunta nervoso.
— O anjo salvador da Fabi e o demônio exterminador do Marrony — ralho e aperto o gatilho. Mais um tiro certeiro apaga o outro cara. Devolvo a arma ao cós da minha calça e desamarro a garota logo em seguida. Ela se levanta e sem eu esperar, ela me abraça e chora. Sem saber o que fazer, fico parado ali, apenas sentindo o seu corpo trêmulo junto ao meu. Não retribuo o seu gesto e ela percebe a minha indiferença.
— Está livre, garota, vá para casa — digo com frieza assim que se afasta. Seus olhos escuros e molhados não escondem o medo e pavor, e eles chegam a penetrar a minha alma. A garota faz não com a cabeça.
— Se eu voltar, ele vai me matar. — sussurra com voz embargada. Inquieto-me com o som da voz doce e arrastada.
— Olha, eu te libertei, o que mais você quer que eu faça?
— Não tenho onde me esconder, senhor. Não tenho para onde ir — suplica apavorada.
Aaaaah, drogaaaa! Rosno internamente.
— Tudo bem, eu te levo para minha casa. Mas… só enquanto encontramos um lugar para você ficar — rosno com impaciência e saímos dali quanto antes.