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— Deixe-me adivinhar — Gisele me corta irônica. — Você vai dormir o dia todo, vai acordar lá pelas cinco da tarde, depois jogar vídeo game, comer muitas besteiras e bagunçar todo o seu apartamento mais do já bagunçou e depois de tudo vem uma noitada com os amigos e muita bebida e por fim, terminar a sua noite com alguma vagabunda na sua cama. Acertei? — Da pra sentir o poder da ironia da mulher só no olhar dela, imagina na voz? Reviro mais uma vez os olhos para ela e nem chego a dar uma resposta à altura, porque a Amanda começa com as suas especulações logo em seguida.
— Papai, o que é uma vagabunda? — Ela pergunta abrindo um par de olhinhos curiosos, e faz uma cara inocente e os seus pais a olham completamente sem ação e com os olhos bem arregalados. Segurando uma boa gargalhada, eu olho para Guilherme e faço sinal para que ele explique a palavra para menina.
— É, como eu posso te explicar isso, filha? É, — Ele gagueja e eu me encosto na cadeira, segurando a gargalhada, fechando a mão em punho e levando a boca.
— É vaca em chinês, filha! — Gisele se antecipa e dessa vez eu não seguro a gargalhada alta que estava segurando na mesa. Os adultos me olham irritados.
— Mas a mamãe não quer que você repita esse nome, tá bom filha? — Gisele pede solicita. Mas a pirralha parece confusa.
— Na chácara do tio Otávio tem muita vagabunda, mamãe! — Amanda comenta inocentemente, abrindo um sorriso de criança. Eu solto outra gargalhada, essa ainda mais alta do que a primeira, deixando a Gisele vermelha. Ela olha para o marido e depois para a filha que olha para mãe com curiosidade. Porra, eu estou com a barriga doendo de tanto rir.
— Filha, coma a sua comida todinha, por favor! — Minha cunhada pede, encerrando o assunto e eu puxo a respiração, tentando me conter, mas juro que não está sendo nada fácil.
— Tá bom. — A menina diz toda inocente. — Mamãe, quando eu chegar lá chácara, posso mostrar todas as vagabundas pra minha amiga Priscila? — inquire e automaticamente eu explodo na mesa mais uma vez. Gisele parece em pânico.
— Não, filha! — responde exasperada e depois tenta contornar a situação. — Quer dizer... Você pode, mas não com esse nome querida, entendeu?
— Por que não? — pergunta perdida em confusão.
— Por... porque... é... — Gisele sem fala? Isso é hilário! Olho para minha cunhada, que parece aflita e esperando que a resposta caia do céu. Porra, eu nunca me diverti tanto no meio familiar. Segurando o riso eu aguardo a sua próxima resposta.
— Porque ela não é daqui do Brasil, filha. Você já mostrou para o titio sua nova coleção de chás? — Guilherme salva a pátria mudando de assunto outra vez. A garotinha sorri e me olha com uma animação contida.
— Ainda não. Titio você vai lá em casa pra gente brincar de chá? — Ela pergunta esquecendo totalmente a conversa anterior, mas eu sinto que isso ainda vai render muitas risadas futuras.
— Claro meu amor, a gente marca um dia ok? — digo para minha sobrinha e olho para Gisele que tem um olhar irritado para o marido, e Gui que parece que vai me matar apenas com o seu olhar. Dou de ombros e volto a comer. O jantar termina e Gisele como sempre é solícita e organiza a cozinha deixando tudo limpo e organizado. Amandinha volta a jogar no Xbox, enquanto eu e Guilherme conversamos no meu escritório.
— Como o Luís está? — Ele pergunta.
— Na verdade ele anda meio estranho — comento.
— Estranho como?
— Ele tem saído mais cedo da empresa ultimamente e semana passada levou a sua secretária para um jantar.
— A Ana? — indaga curioso, mas não parece nada surpreso com o meu comentário. Lanço lhe um olhar confuso. Como ele conhece a nova secretária do Luís?
— Como sabe o nome dela? — verbalizo o meu pensamento.
— Ele a levou lá em casa ontem — diz com desdém e eu quase me engasgo com a minha bebida. Agora sim eu estou completamente embasbacado.
— Sério? — inquiro totalmente surpreso, mas abrindo um sorriso que não cabe no meu rosto.
— Pelo visto até ele já caiu na real, Marcos, de colocar a cabeça no lugar e ter uma vida mais responsável. Quando você vai fazer o mesmo? — A pergunta faz o meu sorriso morrer imediatamente e revirar os olhos para o meu irmão caçula. Já estou de saco cheio desse assunto. Resmungo internamente. Chateado, eu tomo o resto da minha bebida em um só gole e largo o copo sobre o vidro do bar de canto.
— Quando vão colocar na cabeça de vocês que eu estou muito bem assim? — Deixo transparecer toda a minha irritação em minhas palavras. Guilherme puxa uma respiração alta, parece cansado do assunto também, mas ainda assim insiste.
— Ninguém fica bem sozinho, mano. — Começa a dizer.
— Eu fico! — O corto sem a menor paciência. — E quer saber? Eu já estou de saco cheio de vocês se meterem na minha maneira de viver! E tem mais uma coisa, se mamãe pegar no meu pé naquele jantar, eu me levanto da mesa sem nenhuma cerimônia e saio do restaurante sem olhar para trás. É bom que fiquem sabendo logo — digo ríspido e com o dedo em riste pra ele. O tom da minha voz o deixa sem ação. Gui abre e fecha a boca, mas não diz uma palavra e para a minha satisfação, ele não toca mais no assunto. E eu agradeço aos céus por isso.
***
As dez da noite eles vão embora e eu resolvo trocar de roupa para ir a um barzinho. Depois dessa, preciso relaxar um pouco. Me pergunto quando eles vão entender que eu não quero ninguém em minha vida? Que eu estou bem assim, do jeito que as coisas estão? Não tenho meu coração para negócios porra! E tem mulher demais no mundo para eu me prender a uma só, que saco! Na gaveta do criado mudo, pego uma tira de camisinhas e ponho no bolso do meu jeans e quando alcanço a sala, pego a carteira, as chaves e o meu celular. Homem prevenido é homem seguro. Penso satisfeito. Quando entro no bar, de cara já peço uma garrafa de uísque e um copo e me sento em uma mesa a parte. O som ambiente e as pessoas conversando me deixam mais calmo. Minutos depois, uma morena linda passa bem na minha frente e eu sorrio safado quando ela olha em minha direção e pisca um olho pra mim sedutoramente. Caralho! Eu não penso duas vezes. Levanto o meu copo em um brinde cheio de insinuações e ela me sorri sugestiva, indo para o balcão. Essa está no papo. Penso instigado. Viram o que eu quis dizer? Se tem várias gostosas assim me dando sopa e ao meu dispor, para que me prender a uma droga de casamento? Segundos depois, eu me levanto e vou até o balcão. Observo o banco vazio ao lado da garota e lanço a pergunta clássica, seguida de um sorriso safado.
— O lugar está ocupado? — A safada me lança um olhar travesso e cheio de luxúria que faz o meu membro saltar dentro das calças.
— Não, fique à vontade. — A neném, não manda relaxar que eu vou à forra. Penso cheio de más intenções.
— Me chamo Marcos — digo oferecendo a minha mão e ela a segura se apresentando.
— Letícia.
— Lindo nome! Posso te pagar uma bebida? — Ela ergue o seu copo ainda cheio.
— Estou a fim de curtir um pouco, tá a fim? — O convite sugestivo me faz pensar em mil e uma cenas libidinosas. Porra! Eu amo essa vida! Meu sorriso se alarga instantaneamente.
— Só se for agora princesa — digo fazendo sinal para o garçom e deixo o dinheiro sobre o balcão.
Saímos do barzinho direto para um motel mais próximo. A garota tem um estilo selvagem. E caralho, eu adoro isso em uma mulher! Vez ou outra, e ela me pedia para bater na sua bunda com força e soltava um som manhoso quando eu realizava o seu pedido. Segurar firme em seus cabelos e puxá-los com violência enquanto metia bruto dentro dela foi a parte mais foda do seu fetiche. Isso dá um tesão da porra! A garota é completamente maluca, gosta de um sexo bruto e de pancadaria e eu que não nego fogo vou à forra com ela até as duas da madrugada e só terminamos essa noite quando estamos acabados, suados, ofegantes e caídos na cama redonda.
— Adorei garotão! — Ela diz manhosa e ofegante. O dedo com uma unha longa e pintada de vermelho escuro se arrasta em meu peito. Definitivamente espero que ela não estrague tudo com um pedido de segundo encontro, porque definitivamente não costumo repetir a mesma refeição.