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Prólogo 2.

Artêmis

Três anos antes...

... Para Athos! Para o carro, porra!

Grito completamente apavorado enquanto ele acelera como um louco no asfalto molhado.

... PARA! VOCÊ VAI NOS MATAR, CARALHO!

Berro dessa vez, mas é tarde demais e o controle da toda a situação escapa das minhas mãos sem que eu possa detê-lo.

...

— Oi, querido! — Escuto o som baixo da voz de Corina bem do meu lado e com uma respiração profunda abro os meus olhos, percebendo que estou em um leito de hospital.

— O que aconteceu? — pergunto aturdido, olhando para os fios colados no meu corpo e depois para as máquinas que não param de fazer barulho. — Onde estou? — inquiro apavorado, arrancando os fios e logo as máquinas começam a protestar.

— Calma, Artêmis, fique calmo por favor! Você sofreu um acidente e precisa ficar parado. — Ela pede segurando as minhas mãos que não param de se mexer. Entretanto, lembranças de algumas cenas de terror preenchem a minha mente. Vidros quebrados, pessoas se aproximando de todos os lados. A minha mãe desacordada no banco de trás e Athos com a cabeça apoiada no volante. Depois, tudo escurece.

— A minha mãe. Onde está a minha mãe? — Procuro saber, porém, os seus olhos vacilam. — Corina... o que aconteceu?

— E-eu... e-eu sinto, querido! — Fecho os meus olhos bem apertados tentando ingerir o que ela quer me dizer.

— Não! — Levo uma mão para o meu rosto. — Não! Não! Não! — Me desespero. Contudo, ofego em seguida. — E o Athos? Me diga que ele está bem? Corina, por favor me diga que o Athos está bem! — sibilo baixinho, porém, desesperado.

— Sim, ele está bem e por incrível que pareça, Athos foi o único que saiu ileso desse acidente. — Sinto um alívio abraçar o meu coração arrasado de dor.

— E onde ele está? — Corina balbucia. — Onde, Corina? — exijo.

— E-eu não sei, Artêmis. Eu juro que não faço ideia de onde ele esteja agora. Eu não vejo o seu irmão desde o... velório da sua mãe. — Franzo a testa.

— Desde o velório? Por Deus, do que você está falando? A quanto tempo estou aqui nessa cama?

— Cerca de uma semana e meia. — Arfo violentamente.

— Então... ela se foi e eu... eu não... pude me despedir dela? — sussurro amargurado e dessa vez não seguro as lágrimas. Contudo, não sei se elas são de raiva ou de desespero. Corina imediatamente me abraça e eu me agarro a esse gesto por alguns minutos. — Pelo menos eu tenho você do meu lado — sibilo baixinho, sentindo a minha voz embargada.

— Sobre isso... — Corina se afasta um pouco para me olhar nos olhos.

— O que? O que foi?

— É que... me desculpe, Artêmis! Eu realmente eu não posso. — Franzo o cenho em confusão.

— O que? O que você não pode, Corina? — A observo levar uma mão aos cabelos e agitar os fios longos.

— Eu pão posso lidar com essa situação, Artêmis. — Confuso, franzo a testa.

— Lidar com o que, Corina? Eu não estou entendo. — Ela aponta para mim e eu imediatamente me olho. — Pode esclarecer melhor? — peço.

Corina respira fundo e secar uma lágrima sutil que escorre no canto do seu rosto.

— Fala, Corina, que droga!

— O médico disse que parte do seu corpo está paralisado, Artêmis. — Prendo a respiração. — Ele acredita que talvez um dia você possa recuperar os seus movimentos, mas... não é certo. — Rio sem vontade, prendendo o meu lábio inferior com os dentes em seguida, meneando a cabeça negativamente. — Você sabe que eu tenho alguns para o meu futuro profissional e eu não pretendo adia-los por nada, nem mesmo por você.

— Não pode ser, meu Deus! — retruco com amargor. — NÃO PODE SER! — grito desesperado.

— Artêmis, querido eu preciso que me entenda. Eu... realmente tenho que seguir em frente.

— Não faz isso comigo, Corina — suplico com um sussurro. — Eu te amo muito. Tínhamos grandes planos e nós...

— Me desculpe. Artêmis! — Ela pede retirando a aliança de compromisso do seu dedo e larga o objeto em cima de uma mesinha ao lado da cama. — Eu tenho um voou me esperando em meia hora. Eu só... vim porque me disseram que você acordou e queria te dizer pessoalmente. — Engulo o choro.

— Corina, eu não vou conseguir fazer isso sem você. — Ela pressiona os lábios.

— Adeus, Artêmis!

— Corina, não vai! Fica por favor! — peço, mesmo quando ela me dá as costas para sair do quarto. — CORINA? — grito como um condenado pelo seu nome. — CORINA, NÃO VAI?! — grito ainda mais alto e em um ato de espero tento sair da cama para ir atrás dela. Contudo, os meus membros não me obedecem e eu caio da cama batendo a cabeça com violência no chão, apagando em seguida.

***

Um mês depois...

— ATHOS!! — grito enfurecido, quebrando tudo dentro do meu quarto.

— Senhor Artêmis, por favor, o Senhor precisa tomar os seus remédios! — A enfermeira insiste mais uma vez tentando se aproximar de mim.

— SAI DAQUI!!! EU QUERO QUE CHAME O MEU IRMÃO AQUI E AGORA! — berro, jogando o abajur na sua direção. Ela solta um grito agudo, se esquivando do meu ataque e sai rapidamente, batendo a porta com força. Uma dor seguida de um choque se alastra pela minha coluna e segue me rasgando por dentro. No ato, pressiono o meu antebraço com força, fechando os olhos bem apertados contra a minha pele. — AAAAAH, QUE INFERNO! — berro enlouquecido, jogando tudo que está ao meu alcance.

— O que você pensa que está fazendo, Artêmis? — Ouço o seu tom rude, porém, baixo atrás de mim horas depois do meu surto.

— Onde você estava? — inquiro no mesmo tom, ainda de frente para janela, fitando a quietude do jardim. Athos respira fundo.

— Artêmis, você tomou os seus remédios?

— Onde estava, Athos? — exijo um tanto rude, girando a cadeira de rodas para encará-lo firmemente.

— Eu precisava esfriar um pouco a cabeça. — Ele solta uma respiração alta pela e eu rio debochadamente.

— É claro, dentro de uma boceta bem quentinha e viscosa — rosno ironicamente. — Enquanto isso eu fico aqui preso dentro dessa droga de quarto e nessa DROGA DE CADEIRA! — grito o final da frase e o observo respirar fundo.

— Você pensa que é fácil para mim, não é? — Meu sorriso debochado cresce e eu não seguro a acusação.

— Você a matou, Athos e me destruiu. Me confinou a essa droga de cadeira, mas a vive a vida como se nada tivesse acontecido.

— VOCÊ NÃO ENTENDE? ESSE SERÁ O MEU INFERNO PARA SEMPRE, ARTÊMIS! — Ele berra enfurecido e eu trinco o maxilar.

A verdade é que ambos somos prisioneiros do mesmo inferno e nenhum dos dois nunca conseguirá se libertar dele um dia.

— Saia do meu quarto! — peço baixinho lhe dando as costas outra vez.

— Você precisa tomar os remédios, irmão. — Ele insiste. Respiro fundo fechando os meus olhos com força. — Por favor, Artêmis! — Apenas concordo com um aceno de cabeça e recebo os comprimidos da sua mão, os jogando dentro da minha boca.

— Satisfeito? — rosno contrariado, porém, não demora para o meu corpo começar a adormecer e eu penso que terei algumas horas de paz.

— Obrigado, irmão!

— Sai daqui Athos! — peço baixo, porém, seco o suficiente para ele saber que não o quero por perto agora. Contudo, assim que a porta se fecha me deixo levar pelo choro. Maldita Estela! Ela roubou tudo de mim. A minha família e a minha vida, e agora estou condenado a viver em cima de uma droga de cadeira para sempre. Penso fazendo força para ir para a minha cama e após me acomodar, fito os destroços espalhados por todo o cômodo.

Sinto a sua falta, Corina! Sibilo mentalmente, secando as lágrimas em seguida.

— Essa será a última vez que derramarei as minhas lágrimas por você, meu amor — prometo fitando o céu escuro através da minha janela. — Você será apenas uma lembrança boa na minha vida e eu juro que te entendo. Um homem inválido jamais poderia fazer parte da sua vida. Seja feliz, Corina! — E com esse desejo sou levado para o mundo dos sonhos onde eu sou poderoso e posso fazer o que bem entender.

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