Capítulo 2
Marina.
O pastor derramou o óleo ungido na minha cabeça, na verdade ele apenas pingou duas gotinhas, duas gotinhas? Será que isso seria o suficiente? Por via das duvidas agarrei o jarro da sua mão.
__ Desculpa Pastor, mas acredito que deveria derramar mais um pouquinho não acha? Dá ultima vez fez a mesma coisa, e veja bem, ainda estou solteira. - Ele abriu um sorriso confortante e retirou o jarro da minha mão com força.
__Marina, isso é mais do que suficiente, lembre-se que te disse, o azeite é apenas um ponto de contato, o milagre quem vai opera-lo é Deus, mas para isso acontecer, não pode haver ansiedade ou dúvidas compreendeu? - Acenei a cabeça envergonhada.
Sabia que o Pastor tinha razão, lembrei de ter lido a historia de marta e maria, foco marina, não fique ansiosa.
O culto continuou normalmente, e foquei toda minha atenção em obedecer e procurar entender a palavra de Deus, bom, pelo que tinha entendido do Pastor, esperar em Deus não é ficar de braços cruzados, se Moises não vai a montanha a montanha vai até Moises.
Logo depois da reunião, vi Alex com seus pais cumprimentando algumas pessoas. Agarrei o braço da minha mãe imediatamente.
__Deveríamos cumprimentar os pais do Alex. Eles são nossos irmãos de igreja. - Dou meu melhor sorriso e minha mãe me fitou desconfiada.
__Ainda está com essa paixão platônica pelo Alex filha? Ele te vê apenas como uma irmãzinha, vocês brincavam juntos na escolinha, se ele nunca teve sentimentos por você até hoje, não acho que ira mudar.
- Ela tentou me convencer, continuo olhando para frente sorrindo amigavelmente para todos.
__Mãe, nada é impossível para Deus. Olha para cá! vamos Alex, em nome de jesus. - como magica seu pescoço girou na minha direção e levantou a mão nos chamando.
__ Viu só? Deus está ouvindo minhas orações. - Falei para minha mãe convencida a arrastando na direção deles.
__Marina, que bom que está aqui, hoje foi um dia e tanto não acha? Você conseguiu me deixar de bom humor o dia inteiro. - Ele analisou minha expressão e depois sorrio. Talvez seja pelo suspiro dramático que dei.
__Que bom que seu humor melhorou depois da minha ruina. Estou imensamente feliz. - Seu sorriso ampliou.
__Não se chateia furacão Marina, estou dizendo que sua presença me faz feliz. - bagunça meu cabelo e cruzei os braços fazendo bico.
__Não me chame assim. - Retruquei emburrada e ele ri. Alex tinha colocado meu apelido, o qual eu detesto de furacão Marina. Depois de descobrir que existe um furacão com meu nome? Vê se pode isso ? A terra é tão injusta.
__ Tia, a Marina contou a senhora o que ela aprontou hoje no restaurante? Era a forma carinhosa como Alex chamava minha mãe.
__Sim querido, posso imaginar, já disse para ela tomar cuidado e ser mais atenta no trabalho. - Me dá bronca.
__ Pode deixar.
__Alex, temos que ir querido, seu irmão deve estar nos esperando para comemorar seu noivado. - Seu pai disse educadamente. Ergui meus olhos surpresa
__O chato do Seu irmão mais velho está aqui? Seu pai me lançou um olhar confuso.
__Quero dizer, o seu não tão agradável irmão, está aqui na nossa cidade? - Reformulei a pergunta.
O irmão mais velho do Alex é alguém que não tenho muitas lembranças agradáveis, me lembro que quando Alex e eu brincávamos na escolinha, esse irmão dele sempre acabava me dando bronca e me xingando quando eu derrubava alguma coisa sem querer, ele era realmente assustador, uma vez ele me irritou tanto, fazendo um desenho na lousa zombando de mim, que quando a minha mãe não estava na sala, para quem não sabe, ela foi tia da escolinha por muitos anos, peguei o apagador de madeira e atirei contra ele acertando bem na sua testa, foi a única vez na vida que acertei um alvo e valeu a pena, porque Alex disse que ele tem a cicatriz até hoje. Contudo, não me interpretem mal, eu já o perdoei.
__Sim, ele está noivo e vai se casar em breve. Está fazendo um churrasco comemorando.
__Porque vocês não passam lá? Ele vai adorar rever vocês. - Seu pai nos convida carismático.
__Não obrigada , dessa vez eu passo, estou muito cansada e só quero cair na cama e dormir. - Abri a boca simulando sono. Minhas contas de tragédia já tinha passado dos limites, vai que ele não mudou nada, e continua sendo o mesmo garoto arrogante de sempre. Sem contar, que não quero estragar sua digníssima festa de noivado.
__Marina tem razão Francisco , fica para outra hora.
__É uma pena, ele iria amar te ver de novo. Aposto que não ira te reconhecer, ao ver como cresceu e está bonita. - Alex comentou e meu sorriso abriu imediatamente.
__Está exagerando! - Dou uma risadinha tampando a boca.__Acha mesmo que estou bonita? Levantei a sobrancelha duas vezes. Ele curva os lábios em um sorriso.
__Sim, é uma das meninas mais lindas que já vi. - Agarrei o braço da minha mãe escondendo o rosto envergonhada.
__ Você ouviu isso mãe.. Susurrei somente para ela ouvir, continuo rindo envergonhada
__Veja só essa menina, foi ouvir um elogio e se comporta toda estranha.
__Deixa ela Tia, Marina é pura como uma criança, por isso que farei questão de ficar de olho quando seu namorado aparecer. Afinal, sou como seu irmão mais velho. - Meu sorriso morreu imediatamente.
__Vamos embora Agora! Puxei o braço da minha mãe a arrastando para fora.
__Ei garota espera! Me deixa despedir de todos.
__Não, mãe você ouviu aquilo? Por acaso você pariu aquele moleque? Tem sangue dele correndo nas minhas veias para se nomear a meu irmão mais velho?! Era só o que me faltava!
__Eu te avisei, disse que ele não te vê da mesma forma, não disse? Fechei minha expressão.
__É talvez tenha razão. - Me forcei a concordar com ela, pelo menos por um momento.
O despertador toca as seis da manhã , com um louvor muito motivacional para começar o dia bem.
Me espreguicei, em seguida abri um olho seguido de outro, e percebo o celular no criado mudo ao lado, estico a mão ainda sonolenta e desligo o aparelho. Literalmente salto da cama, ainda descabelada, vou escovar os dentes enquanto analiso meu rosto no espelho, joguei uma agua para melhorar a cara de cansada, e retornei para o quarto para fazer minha oração, em seguida fui tomar um banho e me arrumei para chegar ao restaurante. Minha casa é pequena, tem dois quartos, uma sala, cozinha, corredor e o banheiro. Sou filha única, então como podem perceber a única responsável pela bagunça e destruição da casa sou eu mesmo. Nessas horas um irmão faz falta, sabe, para ter alguém em quem colocar a culpa. Tomei meu banho rapidamente, e fiz um coque no cabelo, não tive tempo de me maquiar, então tomara que meu futuro marido não resolva aparecer no restaurante justo hoje e me pegar desse jeito. Deus sou eu de novo! Não deixe meu futuro marido me pegar tão horrivel e despreparada hoje, Amém! Como tinha que pegar o ônibus que era dois quarteirões da minha casa, tomei o café da manha rapidamente.
__Bom dia Mãezinha querida! Já estou de saída. - Dou um beijo em seu rosto pegando a bolsa.
__Não vai comer nada? Vai acabar desmaiando de fome.
__Estou bem, vou comer alguma coisa no restaurante, fica tranquila. __ cadê o papai?
__ Está trabalhando no jardim do vizinho.
__Assim, manda um abraço para ele. E diz que vou tirar uma folga para ajudar com o jardim de casa. Se tinha algo que eu amava era flores, sou totalmente apaixonada por jardinagem, assim como meu pai. É um hobby para mim.
Andei pelas ruas checando minha bolsa, não queria esquecer nada, felizmente estava tudo certo, sentei-me no ponto de ônibus e o aguardei chegar, tomara que tenha um lugar vago para mim sentar, uma das coisas ruins em morar em área pobre é que geralmente é um dos ultimos lugares onde o ônibus passava, e geralmente estavam lotados. Minutos depois ele estacionou e subo com cuidado.
__Marina! O motorista me comprimentou. Então, eu sou famosa por aqui, e não queira saber o motivo. De longe avistei dois bancos vazios e um sorriso se abriu em meus labíos.
__Anda senhor Gaspar! Bati o pé pedindo o troco. Ele entregou sorrindo e peguei guardando na bolsa, andei depressa até o banco vazio, mas alguém me empurrou para o lado se sentando.
__Aqui já tem gente. - Um garotinho abriu um sorriso zombeteiro para mim.
__É.. eu já vi. - Fiz uma careta e me virei olhando para o outro banco vazio. Vejo uma menina na fila e o garotinho gritando para ela.
__Corre! anda logo, tem um ali. - Dessa vez não garotinho. - usei todas minhas forças e corri rapidamente sentando no banco vazio.
__A Senhora já sentou, me deixa sentar com você . - Veio andando cabisbaixa e olho para ele triunfante.
__Está bem. - Suspira derrotado.
Espera? Senhora? Quem é senhora aqui? Só tenho vinte e poucos anos. Ainda estou na flor da idade, tempo de casar e ter filhos.
O ônibus seguiu lotando de gente a cada ponto que parava, quando uma senhora que aparentava ter um setenta e poucos anos entrou, se segurando na barra bem no começo do ônibus, esperei para ver se alguém iria lhe oferecer assento, e como ninguém tomava iniciativa . Me levantei com cuidado segurando para não cair.
__Senhora, tem um banco vazio ali. Pode ir se sentar, é desconfortável ficar em pé. - Ela observou meu rosto.
__Obrigada criança. - Abriu um sorriso grato e segurou meu rosto.
__Venha! eu te ajudo. - A ajudei ir até o assento e peguei minha bolsa para ela se sentar. Fiquei em pé segurando na barra de cima, enquanto uma alça da minha bolsa insistia em deslizar do ombro, volta e meia tinha que levanta-la.
Porém, não sei o que aconteceu ou como aconteceu, mas o ônibus passou em um buraco bem na hora que tirei a mão do ferro para arrumar minha bolsa, resultado? Acabei caindo sentada no colo de alguém. Fechei os olhos com força, que seja da senhorinha! que seja da senhorinha!..
__Psiu! Garota, o que pensa que está fazendo? - A voz grossa e assustadora de um homem surgiu, me levantei imediatamente.
__Me desculpa, mil perdoes senhor, eu me desiquilibrei, desculpa . - Juntei as mãos envergonhada enquanto ele me encarava de forma nada amigável, ele tinha cara de ter quase uns trinta anos, ou talvez seja mais velho que isso, tinha cabelos castanhos compridos amarrados num coque estranho, ombros largos , uma barba daquelas que Moises usava na novela, que antes eu não gostava, mas confesso que comecei a mudar de ideia, é realmente charmoso, também parecia ser forte e alto, pela forma como estáva vestido, parecia que trabalhava de encanador ou algo desse tipo.
Também avistei uma caixa de ferramentas no chão ao seu lado. Sua cara é bem assustadora. Porque homens bonitos tem que ter expressoês assustadoras?
__Mocinha, já terminou sua analise ou vai continuar parada na minha frente!? E ainda por cima pisando no meu pé? - Eu olhei para baixo e percebi que realmente estava pisando no seu pé.
__Por favor, me desculpe Senhor. Não foi minha intenção, eu juro. - Me afastei tomando distancia pegando minha bolsa. Ele assentiu com um meio sorriso, voltando a olhar para janela e colocando seu fone de ouvido, ignorando assim, totalmente minha existência.
Fiquei distraída olhando ao redor, quando o ônibus finalmente parou aonde eu tinha que descer, ajeitei minha bolsa e segui andando devagar até a porta, o ônibus fez um ótimo movimento desnecessarío e quase caiu para trás de novo, se não fosse uma mão forte apoiar minhas costas.
__Tome cuidado. - Uma voz grave surgiu me assustando, demonstrando que a pessoa estava bem perto de mim.
__Desculpe. - Sussurrei sem olhar para trás.
Desci do ônibus com cuidado, continuei andando rumo ao restaurante, coloquei a mão na testa ao lembrar do mico que passei no ônibus, Marina porque você é assim? Não tem um único dia que você não vai passar vergonha? Continuei andando quando vejo uma garotinha passar com um cachorrinho peludinho fofo e meus olhos a seguem, é daqueles miniatura que parece de brinquedo, parei na calçada e girei o corpo acompanhando o cachorrinho com o olhar, quando meus olhos foram de encontro ao homem do ônibus, que estranhamente vinha andando atrás de mim, agora ele está com óculos escuro e boné. Ele está me seguindo? Meu deus! e se ele for um maníaco disfarçado? E não gostou de lhe ter pisado no pé e veio se vingar? Claro que não Marina da onde tirou isso? Está assistindo muito filme de terror. Mas o filme não é apenas uma demonstração da vida real? O que ele faz aqui? Engoli seco e comecei a andar depressa, fiquei dando algumas espiadas para ver se ele mudava sua rota de caminho, mas ele insistia em me seguir incansavelmente, ainda faltava duas ruas para chegar ao restaurante, então começo andar quase correndo, porém, como estava distraida demais olhando para trás apavorada, não percebi o bendito buraco na calçada, acabei por entortar meu pé caindo de joelho.
__Aii! Hoje de novo não. Meu Deus! o que eu fiz? - Coloquei a cabeça no meu joelho.
__Você está bem? A voz grave surgiu me fazendo saltar.
__Por favor, não me machuca! eu sei que pisei no seu pé e cai no seu colo, mas foi sem querer eu juro! Não me mata, eu tenho família e preciso realizar meu sonho de me casar e ter filhos. - Ele me encarou com uma expressão estranha.
__ Do que está falando? Me olhou enrugando a testa. Analisei seu rosto minunciosamente, é parece mesmo que não entendeu nada do que eu disse. Por via das duvídas vou perguntar.
__Você não é um louco maníaco? - Perguntei com receio, curvou os lábios em um sorriso de lado.
__Sou eu que deveria perguntar isso, não acha? Se for dar razão as circunstâcias. - Arqueia a sobrancelha com um sorriso. Percebi que estava caçoando de mim.
__Para de zombar de mim. Você não me conhece, porque estava vindo atrás de mim então? Anda me explica essa? porque estava me seguindo? - Juntei os olhos desconfiada. Ele se abaixou ficando na minha altura, por extinto, curvei o corpo para trás na medida que aproximava o dele, tirou o óculos lentamente revelando seus olhos castanhos .
__Não estou te seguindo, apenas tenho algo para fazer e por coincidência estamos indo na mesma direção, se não percebeu, estou vestido de encanador. - Me mirou de forma intensa. Desviei o olhar me sentindo intimidada.
__Tu.. Tu..tudo bem então. __Siga seu caminho senhor encanador.- Soltei um suspiro, o escutei abrir a maleta de ferramentas ao lado dele.
__O que vai fazer? Me bater com uma chave de fendas? - Arregalei os olhos e notei pegar uma caixinha e tirar um curativo.
__ Meu Deus garota! da onde você saiu? voltou a sorrir com o mesmo sorriso zombador de mim. _ Posso? Ele apontou para o meu joelho machucado e acenei. Colocou delicadamente no meu joelho e me encolhi por causa da dor, mas ele segurou minha perna firme assoprando com cuidado . Fiquei olhando para ele vislumbrada, dá onde esse homem saiu?
__Prontinho. - Desviou o olhar e me encarando sorrindo.
__Obrigada, desculpe por pensar o pior do Senhor. - Se levantou sorrindo colocando o óculos novamente. Confesso que fiquei meio desapontada. - Estendeu a mão me ajudando a levantar.
__Não foi nada, também com esse visual. Não é tão surpreendente alguém confundir com um homem mal, não é mesmo?
__ Me desculpe mesmo.
__Quantas vezes vai ficar me pedindo desculpas?
__ Me descul... quero dizer...
__ Você é mesmo peculiar, bom já que estamos conversando, pode me dizer qual é o seu nome? Preciso de uma informação sua, talvez saiba me dizer.
__ Claro, meu nome é Marina. E o seu? Estendi a mão sorrindo, e encolheu o braço ficando serio de repente.
__Marina - falou meu nome lentamente. __Por acaso pode me dizer onde fica o restaurante aqui perto? Tenho um pequeno trabalho para resolver naquele lugar. Apertei os olhos com força, não! isso não pode estar acontecendo comigo. Voltei a olha-lo sem graça.
__Claro que conheço. Deixe-me contar uma baita coincidência para o senhor, o senhor vai acreditar, se por acaso eu te disser, que.. bem, eu trabalho lá?