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Capítulo 9

"Uma bruxa", respondeu Kurt, torcendo os lábios à simples menção da palavra, que ele deve ter achado repugnante.

Balancei a cabeça, evitando cair na gargalhada diante de sua expressão distorcida.

- Não sou uma bruxa", assegurei a ele. - Por que você pensaria isso? -

- Porque você me hipnotizou. -

Uh, que termo estranho. Esse Kurt parecia um garoto qualquer hoje em dia, mas quando estava com raiva, usava acidentalmente termos ultrapassados. - Você quer dizer hipnotizado? - Você quer dizer hipnotizado? - Claro que não! Mas quando quero descobrir algo, posso ser muito convincente. -

Kurt soltou um suspiro, ou pelo menos algo parecido, pois tive a impressão de que ele não estava respirando: uma pergunta estranha para acrescentar à lista interminável de coisas estranhas que eu havia notado ultimamente. - Quem você precisa ver? - continuei.

Kurt permaneceu vago. - Uma pessoa da universidade. Mas é difícil. -

- Do que você precisa? Se for um professor, você marca um horário e vai até o escritório dele. Ou você espera na porta dele até que ele saia, aborda-o no corredor e faz todas as perguntas que precisar. - Como eu fiz com o professor De Lauris... uh... inúmeras vezes, quando eu tinha algumas dúvidas que precisava resolver a todo custo.

Kurt abriu a boca em choque. - Como você sabe que ele é um professor universitário? - perguntou ele.

- Não é óbvio? Estamos na área de engenharia. Certamente você quer uma opinião técnica sobre um assunto que considera de vital importância, dada a expressão sombria que você e Max têm quando estão aqui. Só que imagino que você precisará de uma tarde para falar com essa pessoa. Não entendo por que você fica perambulando pelo departamento sem se decidir a encontrá-lo. -

Kurt bufou, embora novamente eu tenha tido a impressão de que ele não estava respirando. Essa coisa estava começando a me assustar. - É complicado. O Max gostaria de encontrar uma maneira de falar com ele, mas sempre há muita gente por perto e..." Ele ficou em silêncio, olhando para mim com desconforto, como se temesse ter falado demais. - Oh, bem, não é tarde para você? Você deveria estudar ou algo assim. Vou levar você para casa agora, depois tenho que voltar para o Max.

- Você vai me levar para casa? - respondi sarcasticamente. - Olhe, eu não sou uma garota que precisa de proteção. E nem mesmo sou esquecida: sei perfeitamente onde fica minha casa e não preciso que ninguém me leve até lá. -

Dessa vez, Kurt parecia apavorado. - Mas você não pode ir sozinho! Max disse que eu tenho que garantir que nada de ruim aconteça com você", reclamou, abrindo os braços em um gesto desesperado.

Oh? Que notícia era essa? - Por que Max deveria se preocupar com minha segurança? E por que você está sempre tão perto dele? -

Confuso com a enxurrada de perguntas, Kurt fez uma pausa. Depois começou a rir, balançando a cabeça como se não pudesse acreditar que estava sendo submetido a um interrogatório por uma garota que, aos olhos dele, devia parecer uma donzela em perigo.

Ou uma pobre idiota.

- Naquela época? - eu insisti.

- Max precisa de minha ajuda. Tenho que protegê-lo em caso de perigo", respondeu Kurt, com uma solenidade que eu não esperava, até mesmo batendo no peito com o punho.

- Que absurdo, que perigo pode haver em uma cidade universitária? Que um grupo de estudantes se empolgue demais e tente roubar a carteira dele? -

Kurt me lançou um olhar exasperado. "O assunto é sério", respondeu ele.

Joguei meus braços para o alto, ficando sem paciência. - Tudo bem, tudo bem! Não vou incomodá-lo mais sobre por que você finge observar cada respiração de Max para ter certeza de que ele está bem. Mas você não respondeu à minha pergunta. -

Ele riu, daquele jeito natural e infantil que eu ainda achava desconcertante. - Qual delas você respondeu? Respondi a pelo menos cinquenta perguntas suas. -

- Não brinque - fingi ameaçá-lo com um dedo. - Você não explicou por que Max se preocupa com minha segurança. E de que tipo de perigo ele quer me proteger? -

Kurt deu mais uma de suas respirações vazias. Eu estava prestes a responder, mas de repente percebi um movimento ao lado e concentrei minha atenção à minha esquerda.

Fiquei com a boca aberta de surpresa. Um homem na casa dos quarenta anos, alto e ameaçador como poucos, estava passando por mim, na diagonal do claustro.

Mas o que me surpreendeu não foi o fato de ele ter uma expressão aterrorizante, semelhante à de um serial killer.

Mas ele estava cercado por uma aura quase negra.

Kurt percebeu imediatamente que algo estava errado. Ele se enrijeceu como um gato quando percebeu um movimento suspeito e pegou minhas mãos, do tamanho de luvas de beisebol, com as suas. - O que aconteceu? -

Por alguns instantes, fiquei mudo demais para responder. Deixei que o homem desconhecido e sua aura, que parecia uma onda doentia de óleo grudada em minha pele, se afastassem, passassem pelo claustro e dobrassem a esquina do corredor, depois soltei a respiração de uma vez só.

Fiquei tão comovida que temi desabar nos braços de Kurt; ele também deve ter pensado assim, pois colocou o braço em volta de mim para me apoiar, embora eu tivesse a impressão de estar cercada por uma estátua, pois seu corpo era frio e seus músculos eram tão firmes como se fossem feitos de pedra. - O que aconteceu, por que você está tão doente? - ele perguntou, olhando para a esquerda e para a direita para identificar a origem do meu desconforto.

- N-nada... - gaguejei, embora meus dentes rangessem de terror.

Kurt me soltou tão repentinamente que tive certeza de que minhas pernas não aguentariam e eu cairia de cara no pátio, e então ele me agarrou pelos ombros e colocou um olhar de fúria dourada nos olhos. - Você está brincando comigo? Você está em choque! - gritou ele.

Todo aquele barulho me deu uma dor de cabeça terrível. E me deu uma pontada de satisfação; nunca pensei que um estranho, que primeiro me afastou e depois me perseguiu por meia universidade, fosse ser tão atencioso comigo.

- Não fique tão animado - tentei acalmá-lo enquanto massageava minhas têmporas para recuperar a compostura. - Eu apenas vi uma aura e fiquei assustado. Isso foi tudo. -

Tive a impressão de que Kurt havia parado de respirar de surpresa. Embora, para falar a verdade, eu já tivesse chegado à conclusão de que ele nunca respirava.

- Uma aura? Onde? Quando? - ele deixou escapar.

- Há pouco tempo. Aquele homem que quase esbarrou em nós quando atravessamos o pátio. -

- Quem era ele? Como era sua aparência? -

Ah, tantas perguntas. Se Kurt continuasse assim, com certeza faria minha cabeça explodir de agitação. Sem falar que eu ainda sentia calafrios ao entrar em contato com aquela aura maligna.

- Como posso saber quem ele é, esse é um cara que nunca vi na vida! - respondi. - Tudo o que sei é que ele tinha uma aura horrível. Cinza e maligna. -

Foi uma declaração tão estranha que merecia um soco na cabeça, mas Kurt não me deu o soco que eu esperava. Ficou claro que ele acreditava em mim, embora eu me considerasse um lunático declarado. Ele ficou pálido de medo e bagunçou os cachos freneticamente, como se não soubesse o que fazer.

Então pegou minha mão.

"Vamos", disse ele, arrastando-me para longe.

Com toda aquela conversa e a tentativa de tirar a mente de Kurt dos mistérios que envolviam ele e Max, a tarde inteira havia se passado.

Quando saímos do apartamento, já estava escuro.

Melhor, pois, pelo que entendi, Kurt odiava a luz direta do sol e sempre tentava se abrigar nas varandas ou corredores da universidade.

Pior, pois um possível perseguidor que estava completamente fora de si de tanta agitação corria pelas ruas secundárias da cidade, puxando-me atrás dele como uma carroça, sem nenhum sinal de diminuir a velocidade ou me dar qualquer explicação sobre o motivo de sua agitação.

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