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Capítulo 8

Minhas intenções para o dia eram tão nobres como sempre, porém, quando cheguei ao apartamento, descobri que Max e Kurt não estavam em lugar algum. Andei pelos quatro andares do prédio examinando todos os cantos e recantos, exceto os banheiros masculinos, mas não consegui encontrá-los. Então me resignei a mais um dia como estudante, como os milhares de outros que já havia passado: uma conversa com Elena, que havia mudado a cor do cabelo e estava usando um rosa pálido que a fazia parecer uma fada, as perguntas de sempre que eu fazia ao professor para provar que era o melhor aluno da classe, a fuga de sempre da tentativa de Giacomo de iniciar uma conversa.

Em tudo isso, nem um traço de Kurt. Ou, acima de tudo, de Max.

Até que...

Não foi bem algo que eu vi. Foi mais como uma sensação repentina, um tipo de bom humor que estalou atrás de mim.

Senti o instinto de me virar imediatamente, mas me forcei a levantar em silêncio, fingir que conversava com um colega que eu conhecia de vista e aproveitar a oportunidade para olhar por cima do ombro.

Tive um vislumbre fugaz de um flash, tão brilhante quanto um raio de sol.

Você conseguiu! pensei.

Despedi-me do rapaz com quem estava conversando, caminhei em direção às salas de estudo no andar térreo, peguei um corredor à direita e passei por ele, para dar meia-volta e retornar ao pátio central do apartamento, agora muito menos cheio, pois já era tarde.

Saí logo atrás do infeliz homem que estava tentando me seguir sem ser visto.

- Eu vi você! - gritei.

Kurt ficou tão assustado que literalmente pulou no ar, batendo em uma parede com medo.

Hum... Eu exagerei. Entendi quando vi os alunos se movimentarem pelo pátio e olharem para mim com espanto e, principalmente, quando olhei para a pele de Kurt, que tinha passado de pálida para quase pálida. Pelo menos ele não parecia correr o risco de ter um ataque cardíaco, pois não estava dobrado com uma mão no peito ou sem fôlego.

Mais do que qualquer outra coisa, parecia que ele havia parado de respirar completamente.

- Você está louco? - ele sibilou, tentando recuperar o controle, sua aura se transformou em um vórtice de energia cinética.

Embora Kurt fosse tão alto quanto um gigante, graças à sua aura luminosa, ele não me inspirava medo. - Fiz isso de propósito, para que você aprendesse a me seguir", respondi.

- Eu não estava seguindo você", ele resmungou com desgosto, esfregando o cotovelo, que deve ter batido contra a parede do pátio.

- Você está mesmo? Então por que sua aura estava se agarrando a mim como se estivesse se agarrando à minha alma? Olha, eu ouvi, você sabe. -

Os olhos de Kurt se arregalaram como se de repente ele pensasse que eu era uma bruxa. - Você está me ouvindo? - ele repetiu com o espanto de uma criança.

Eu ri, apreciando a expressão ainda mais espantada com que ele recebeu minha reação. - É verdade! Eu também sinto auras por trás de mim. E posso amaldiçoar as crianças que me irritam. -

Com essas palavras, Kurt se inclinou ainda mais contra a parede. - Você é mesmo? - ele murmurou com os olhos arregalados.

Pobre criatura. Percebi que eu o estava maltratando. - Não, estou brincando", admiti.

Não queria pressioná-lo muito e fiquei aliviado quando o vi balançar a cabeça em sinal de alívio.

- Por que você estava me seguindo? - insisti.

Antes de responder, Kurt olhou de soslaio para os alunos. Que, na verdade, estavam nos observando com certa curiosidade, sem dúvida se perguntando como era possível que uma garota tão alta quanto um esquilo pudesse ter encurralado alguém que, mesmo que apenas por causa de seu tamanho impressionante, se assemelhava em todos os aspectos ao deus Thor.

"Não posso dizer a você", respondeu Kurt. Sua aura estava agitada, um crepitar de fogos de artifício em tons acobreados. Mas ele estava... como posso dizer... limpo.

Uma pessoa com uma aura tão agradável como aquela não poderia ter um pingo de maldade.

Tomado por uma inspiração repentina, peguei-o pela mão e o arrastei atrás de mim, levando-o para um claustro interno com um pouco menos de tráfego. Sua mão me deu uma sensação diferente da de Max: nenhum choque elétrico, no máximo um leve formigamento de energia. E, o mais importante, nenhum calor. Como se não houvesse uma gota de sangue correndo em suas veias.

Fiquei intrigado, mas o rosto de Kurt, olhando para a mão que eu estava segurando como se ele fosse um cavalheiro dos velhos tempos, intrigado com a ideia de tocar uma dama de companhia, me fez rir.

- Agora me diga quem você é, o que faz, de onde vem e por que é tão estranho", perguntei a Kurt, forçando-me a ficar séria novamente e olhando para ele com um olhar severo.

E, contra todas as probabilidades, fiz com que ele se sentisse desconfortável. Kurt parecia pensar que eu era algum tipo de bruxa, devido aos estranhos poderes que eu havia demonstrado possuir.

Ele passou a mão pelo cabelo, que, apesar de ser cacheado, parecia mais sedoso do que o de uma influenciadora que passa os dias borrifando condicionador. - Não posso. Não posso mesmo. Não posso mesmo", sussurrou ela, encostando as costas na parede como se pudesse nocauteá-lo com um golpe de caratê.

- Por que vocês são agentes do governo dos EUA, membros da Cientologia, assassinos fugidos da Interpol? -

Um sorriso divertido curvou seus lábios; embora estivesse mortalmente pálido, ainda mais pálido do que Max, ele parecia muito mais propenso ao bom humor do que ele.

"Algo parecido com isso", respondeu ele.

- Olhe, eu posso torturar você para que fale. Você pode se deliciar com a caçarola de brócolis e couve da minha mãe. Você pode se estupidificar com o incenso balsâmico do meu pai. Hipnotizar você com uma sessão de meditação. -

Seu sorriso se transformou em uma risada cristalina, o que me deixou intrigado. - Você é um bom menino! - você é um bom menino! disse Kurt, tentando, com esforço evidente, não rir por uma hora inteira.

- Claro, e agora que você está nas minhas garras, nunca mais vou deixá-lo ir! - respondi, propositalmente elevando minha voz para que você parecesse ainda mais ameaçador.

E falhei o tempo todo, quando Kurt quase caiu na gargalhada.

Puxa vida. Se meu objetivo era explodi-lo por diversão, parecia que eu tinha conseguido. Impaciente, eu o agarrei pelo ombro.

Porra, minha avó teria dito. Eu nunca havia sentido músculos tão firmes. Esse garoto parecia ser feito de aço, sem dúvida alguma. - De onde você é? Por que nunca o vi no apartamento antes? - Retomei o interrogatório.

Kurt, subitamente sério, engoliu. - De Siena. Chegamos há três meses, capitulamos.

Isso me deixou sensível. Ele parecia ser o meu equivalente, um rapaz de bom coração incapaz de mentir.

- Quem é a pessoa que precisa ver Max? -

Kurt balançou a cabeça, como se estivesse acordando de um sonho. - Cristo, mulher, você é uma azarada? -

- Você é um azar? -

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