Capítulo 6

Gustavo Assis

Acordei e vasculhei a cama com os braços em busca dela e tudo que eu encontrei foi um vazio, me levantei, tomei uma ducha e encontrei minhas roupas na poltrona ao lado da cama. Ontem eu não havia observado nada mas olhando bem o quarto dela me faz conhecer uma Melissa diferente, seu quarto era todo em tons claros e havia uma penteadeira e uma escrivaninha amarrotada de coisas ao lado da cama a mesa de cabeceira com fotos dela e do filho e uma outra mulher que chutando pela idade seria sua mãe.Sai de lá em busca dela, mas tudo que encontrei foi o bebê gorducho brincando com a babá.

- Bom dia - falei pra jovem que me observava

- Bom dia - respondeu e voltou a atenção para a criança

- Melissa ainda.. - nem me deixou terminar e negou

- Está na faculdade já - respondeu-me.

- Oi garotão - falei pegando o pequeno dos seus braços que se animou instantaneamente - Você parece ser sapeca demais - brinquei e beijei sua bochecha.

- Senhor… - me olhou como se perguntasse meu nome

-Gustavo - disse

- Senhor Gustavo, será que poderia me devolvê-lo? - Referiu-se a criança - Mel nunca traz ninguém em casa e ela me avisou que você sairia quando acordasse - disse me olhando - então será que o senhor…

- Entendido - disse devolvendo o pequeno e saindo do apartamento

Como hoje teria o casamento de Christian e Renata, Giovana me fez prometer que não iria trabalhar hoje eu fui direto pra casa, teria que pegar o avião às 13h se quisesse chegar na hora do casamento e adivinhar quem comeria meu fígado se eu me atrasasse? exatamente minha irmã caçula. Ela sabia ter pulso firme quando necessário e sempre usava ele comigo e com Pedro quando precisava.

- Tô te ligando desde as 8 gustavo por que não me atendeu? - Questionou assim que atendi o telefone

- Calma acabei de entrar em casa chego aí já - avisei

- Sua mala pelo menos está pronta? - Questionou e eu respondi sim em um sussurro - não mente pra mim Gustavo.

-Tchau - desliguei antes que ela começasse a brigar.

Arrumei minhas coisas e fui direto para Recife, mais um soldado sendo abatido e tudo o que eu pensava era em Melissa ali ao meu lado naquele momento. Eu não queria um relacionamento com ela ou algo do tipo, mas talvez transar novamente após a festa e só de pensar nela meu amiguinho deu sinal de vida.

Encontrei uma das primas de Renata, já havíamos nos divertido muito no passado e quem sabe agora novamente, a levei para o meu quarto de hotel e tudo estava indo bem até que a morena de cabelos negros e corpo escultural entrou nos meus pensamentos e meu amigo instantaneamente broxou com os gemidos estridentes da garota.

-É melhor você ir - falei pegando o roupão

- O que? - perguntou sem acreditar - vai me dispensar assim Gustavo? - questiona levando minha mão a sua intimidade se fosse em outro momento essa mulher não sairia desse quarto até eu deixá-la de pernas bambas mas nem sinal de vida meu amigo deu.

- Você me decepcionou - disse pra mim mesmo assim que ela saiu e me joguei na cama e imediatamente peguei meu celular buscando pelo seu número dela e para minha surpresa eu estava bloqueado, fui pro instagram e estava bloqueado, liguei e bloqueado também, isso era uma maravilha. - Parabéns Gustavo!

Como havia marcado com meus amigos e Giovana de ficar mais uns dias por aqui, não poderia pegar o primeiro voo de volta e resolver minha vida, essa mulher me deixaria louco.

-Gi me empresta o celular - pedi assim que ela chegou a mesa de café

-Bom dia Gustavo - respondeu mal humorada e desbloqueando o aparelho - Meu instagram não Gustavo - implorou

- Prometo não mexer em nada além de uma busca rápida - falei buscando o user da Mel

- Ela é bonita! - exclamou - quem é? - pergunta curiosa.

- Uma amiga - respondi visualizando os stories e o último era um do gabriel sorrindo - O problema foi comigo - sussurrei pra mim mesmo esquecendo os demais na mesa

- Que problema? - Pergunta Leoni

- Nenhum - respondi ainda olhando seu perfil havia postado uma foto e como sempre um bando de filhos da puta a elogiando.

- Me dá - diz Giovanna tentando pegar o aparelho

- Espera preciso fazer uma ligação - busquei em meu aparelho o número dela e liguei, no segundo toque ela atendeu e automaticamente perguntou quem era - Sou eu Gustavo, não desligue - Avisei

- O que você quer Gustavo? - questionou

- Por que eu tô bloqueado em tudo? - Questionei e ouvi um vai se fuder e a linha ficou muda - Toma - entreguei o celular de volta pra Giovana.

- Vai nos contar qual problema agora? - pergunta meu cunhado sorrindo

- Nenhum - respondi seco e coloquei meus óculos.

- Ah Gustavo tira essa cara de cú - diz Leoni rindo

- Você prometeu que iriamos nos divertir esses dias - Completou Giovana

Os dias passaram tão devagar, mas o sábado chegou e como ela estava de plantão resolvi descansar. No domingo, Giovana e meus pais decidiram que iríamos para a Orla, na verdade eu só queria ir até ela mas também não podia deixá-los na mão. Estava tudo bem até avistar Mel, Gabriel no carrinho e um cara ao seu lado, era como uma família feliz passeando pela orla eles passaram ao nosso lado e automaticamente meu humor não foi mais o mesmo.

Assim que deixei meus pais em casa, fui direto pro apartamento dela e tentei barganhar com o porteiro que deixou escapar que ela pediu pra avisar que não estava em casa e como ele não aceitou o suborno fiquei lá na frente até um motoboy chegar e pedir para interfonar pra “Dona Melissa” que saiu feliz assim que as portas do elevador se abriram até me encontrar e o sorriso desaparecer automaticamente. Quando segurei em seu braço a safada argumentou que estava a machucando e como um idiota cai no seu papinho e a vi fechar a porta assim que passou, voltei pra casa furioso e decidido a voltar lá novamente e entender o que caralho aconteceu.

Acordei mais cedo que o normal e fiquei esperando ela sair do prédio, a babá de Gabriel passou por mim na entrada e me cumprimentou com um leve meneio de cabeça e esperei longos minutos até ela descer e foi direto pro uber e só saiu de lá sob ameaças. Ainda emburrada entrou no meu carro e colocou o endereço da faculdade no meu GPS que por sinal era a mesma em que me formei à UPE. Estacionei em frente a universidade e travei as portas do carro e insisti por longos segundo até ela soltar “você se casou na semana passada e não me deixa em paz” e eu parei tentando entender de onde veio isso e como minha garota é esperta, jogou a bomba e fugiu me deixando igual idiota.

Fui direto pro hospital e só então entendi onde ela tinha ouvido tão absurdo, o lugar parecia uma redação de jornal com notícias quentes sobre tudo e todos. "Você está fudido Gustavo, como vai fazer ela acreditar em você?” pensei comigo mesmo e comecei meu dia, aproveitei que tinha reunião com o diretor do hospital e solicitei uma mudança na minha equipe da pediatria, eu queria Melissa nela, ninguém conseguiria lidar tão bem com crianças quanto ela e depois de insistir um pouco consegui convencê-lo.

Quando ela chegou ao plantão a deixei em paz, pois sabia que causei muitas mudanças em sua rotina e se ela tivesse estressada meu plano de me redimir pelas fofocas inventadas iria por água abaixo. Mas chegou um momento em que eu precisava dos dotes com criança que só ela tinha e depois de procurar por toda a pediatria resolvi ir em direção ao corredor dos vestiários e advinha quem estava por lá?

- Tudo bem? - Perguntei

- Sim, tudo bem - Respondeu sem nem me olhar

- Vai me dizer o que houve? - perguntei novamente a fazendo suspirar, me sentei ao meu lado e fiquei esperando uma resposta.

- Por que me trouxe pra pediatria? - Perguntou por fim

- Por que eu precisava de alguém que saiba lidar com as crianças e você faz isso bem! - respondi de forma sincera.

- Entendi - murmurou - mas pensou errado, eu não aguento isso - confessou - não consigo lidar tão bem com as crianças como você pensou - imagine que isso a atingiria de certa forma já que ela é mãe, mas não pensei que jogaria a toalha tão fácil assim.

- Se até o final do plantão você me disser que não dá certo eu te mando de volta - suspirei e me levantei, mas antes de sair contei a verdade- eu não me casei na semana passada, só fui ao casamento de um amigo.

- Oi? - perguntou surpresa- Eu ouvi comentários sobre…

- Acho que a informação chegou pela metade - gargalhei, peguei meu celular e busquei pelas fotos do casamento - eu sou amigo do noivo e minha irmã - apontei pra Giovana - é amiga da noiva e fomos padrinhos deles.

- Legal - falou levantando

- Vai me desbloquear agora? -perguntei e a vi negar

- Minha posição sobre você continua a mesma - falou e eu sorri, ô mulher difícil Deus.

- Não consegue admitir que errou? - perguntei brincando

- Eu sei que sim - rebateu - só não vai mudar nada - disse por fim e saiu rebolando pelo corredor.

- Você me deixou louco na cama e agora fora dela Melissa - sussurrei pra mim mesmo.