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Capítulo 1

Melissa

- Que tipo de faculdade de medicina você fez que nem olha na cara dos seus pacientes? - Gritei com o médico que atendeu Gabriel - Eu tô com uma criança doente em meus braços e você nem sequer olha pra ele e prescreve essa merda.

- Senhora - Ele levantou da cadeira e pegou meu pequeno em meu colo e levou até a maca que havia na sala, calçou suas luvas e colocou o dedo na boca de Gabriel que parou imediatamente de chorar - seu filho está com os dentes nascendo e esse medicamento é justamente pra ajudar com o incômodo que ele está sentindo.

-Obrigada - Peguei a criança de seus braços e sai da sala sem olhar para trás carregando a minha vergonha.

Quando Aline me ligou dizendo que Gabriel estava doentinho eu sai igual louca da aula de Anatomia e corri pra casa, estava cansada depois de um plantão agitado e meio período de aulas. Esperei que a febre cedesse, mas tudo o que aconteceu foi Gabriel ficar cada vez mais enjoadinho e sem querer o tetê dele.

Então minha única alternativa foi correr pro médico e dei de cara com aquele projeto de médico que nem olha na cara do paciente. Tudo bem que ele era um gatinho mais meu filho me faz esquecer disso e gritar com quem estiver na frente.

Uma semana depois

-Oi - diz Ana se aproximando - O plantão hoje é uma benção - Comentou sentando-se ao meu lado no vestiário.

-Médico novo? - Indaguei curiosa e já querendo saber o tamanho do caos que seria hoje.

-Sim e Não - disse me fazendo ficar confusa - Ele já trabalha aqui mas é o primeiro plantão dele nesse dia e os pacientes já gritaram 3 vezes com o coitado - comecei a rir lembrando do meu surto outro dia com um também.

- Então lá vou eu pra mais um dia de luta - disse fazendo drama e me levantando.

-Vai Mel - Disse me empurrando até a saída - Vou tomar banho e chego lá daqui a 20 minutos no máximo - Apenas concordei e fui.

Realmente o caos se instalava na sala de espera, estávamos sobrecarregados e o excelentíssimo do plantão não fazia um atendimento rápido, me fazendo levar esporro de alguns pacientes que estavam cansados de esperar. Trabalhar no serviço tem dessas, às vezes temos pacientes compreensivos e outros nem tanto assim.

-Já viu o Dr. Delícia de hoje Mel? - pergunta Letícia se aproximando

-Senti uma ironia ai - disse e ri

-O cara é um Deus Grego - comentou Ana

- Incompetente isso sim - falei e apontei pra sala de espera cheia - Se mais alguém vir gritar comigo pela demora dele eu vou lá quando o proximo paciente sair - avisei e um abençoado veio pelo terceira vez me questionar sobre quando seria atendido.

-Você não vai né? - Pergunta Ana ao me ver levantar

-Vou sim - Falei me dirigindo até a sala do médico - Qual nome dele mesmo? - Perguntei mesmo já tendo ouvido várias vezes e não tê-lo fixado, desde pacientes a enfermeiras estavam comentando sobre o quão lindo ele era e para o meu azar eu ainda não tinha visto.

- Gustavo Assis - Respondeu sorrindo.

-Dr. Gustavo - Falei tentando localizar na prescrição o medicamento que eu não havia entendido - Pode me esclarecer qual é esse medicamento aqui? - Falei indo em sua direção ainda olhando a receita pra me certificar em ser uma boa atriz nesse momento.

- Dipirona endovenoso, diluído em xxx… - Que voz era aquela meu deus, grave e suave ao mesmo tempo e então nossos olhares se encontraram - Você - Falamos no mesmo instante e sorrimos.

-Obrigada- Falei indo em direção a porta e o mesmo observava - Ah, pode agilizar o atendimento? Temos uma fila enorme lá fora e eu to levando esporro pela sua demora - Falei na lata e vi sua cara de surpresa e sai correndo da sala.

O plantão sem dúvidas foi cansativo e só de pensar em enfrentar o dia inteiro na faculdade me desanima, eu só queria correr pra minha cama e dormir o dia inteiro.Me despedi das meninas que estavam comigo e corri pra pegar o ônibus das 7:30hrs que passava ali na frente, porém um idiota que tentava sair com o carro começou a buzinar e parou ao meu lado.

- Oi - Disse Gustavo assim que abaixou o vidro

-Oi - respondi impaciente já reparando nos olhares que estava recebendo

-Topa tomar café comigo? - Disse me observando - Agora - completou.

- Desde que você não me faça receber mais olhares que os que estou recebendo - Concordei - Me espera na cafeteria que tem logo ali na frente - disse saindo

-Entra aqui nós vamos juntos- Disse e eu neguei e percebendo que eu não iria o vi sair e logo o pequeno engarrafamento atrás de nós se desfez.

-Então - disse enquanto me sentava - Qual a urgência para esse café? - Indaguei olhando o relógio.

- Só queria saber como está seu filho - Gargalhei alto demais já que vi alguns rostos olhando para nós .

- Está bem, obrigada - respondi bebericando meu café - Só isso Dr.?

- Não, qual seu nome mesmo?- Perguntou-me olhando cínico e tudo o que passava em minha mente era o fato de me atrasar em um dia de prova.

- Melissa Fernandes, Técnica em enfermagem naquele hospital as Terças, Quintas e Sábado , 22 anos e atrasada para um compromisso - respondi checando pela última vez o relógio e corri pegando minha bolsa e correndo para o ponto tentar entrar no ônibus que havia chegado.

Passei o dia na faculdade pensando na má impressão que deixei no tal Gustavo, mas eu tinha prova aquele dia e não faria 2 chamada por nada na vida, muito menos por um homem bonito a minha frente. Minha cabeça estava cheia em duas semanas era aniversário de Gabriel e adivinha só, o pai inventou uma festa com a família dele pro menino que por sinal eram apaixonados por ele, na verdade era impossível não se apaixonar por aquela bolinha e só de pensar na viagem longa que faríamos já me desanima.

Depois que Gabriel nasceu Lucas e eu ainda tentamos ter um relacionamento, mas não fazia mais sentido. Na verdade não havia mais amor, eu o via apenas como um amigo e para não prejudicar ainda mais nossa relação eu coloquei um ponto final.

-Mel - Grita Sabrina me fazendo despertar dos meus devaneios - Como foi na prova?

- Acho que bem - Disse por fim - Estou tão distraída hoje.

-O que houve? - pergunta curiosa

- Gritei com um médico que não atendeu Gabriel direito umas semanas atrás e ontem estávamos no mesmo plantão - confessei omitindo a parte do café.

- Ficou um climão? - Questiona

- Ainda não sei definir o que ficou - suspirei - Ele é um gato - bati a testa de leve na mesa pra tentar me repreender.

- Aí - diz minha amiga dramática - Acho que você precisa me levar ao hospital então - Colocou a mão no peito gargalhando.

- Para - Ri - Então, você e o Nando como estão? - ela ficou vermelha e começou a tossir

-Você… - e eu apenas assenti - Como?

- Tô notando os olhares de vocês a semanas um pro outro - Confessei - Inclusive ele tá querendo vir te socorrer agora - fiz um gesto para que ele se aproximasse.

-Oi - Diz Fernando sentando ao meu lado - O que foi?

- A Sa quer ficar um pouquinho com você agora - disse deixando os dois surpresos - Ah, eu acho vocês um puta casal e ainda não entendi esse medo de se assumirem - Completei me levantando para dar privacidade aos dois.

A semana está correndo e a rotina às vezes é bem desgastante, dessa vez foi tranquilo sem esporro dos pacientes, sem médico gato a monotonia de sempre. Mas o sábado chegar com um plantão caótico, esse mês eu estava na emergência e não havia visto um acidente tão feio quanto aquele, dois carros com pessoas embriagadas se chocaram a um caminhão e nem preciso dizer o estrago que foi, já passava das 2 da manhã quando meus olhos encontram o de um Gustavo desesperado, com uma mulher atrás dele.

- Vê pra mim se Pedro… - Olhou para a mulher ao seu lado esperando uma resposta.

- Pedro Ferreira- Disse

- Leito 4, está sendo atendido agora - Falei e o vi ignorar minha resposta sobre o cara está sendo atendido.

Gato e mal educado, combinação perfeita Melissa não seja idiota de se deixar levar por esse tipinho - Me repreendi mentalmente e fui até o leito 4 onde Rafael estava me chamando.

- Mel, preciso que você injete agora uma ampola de adrenalina e traga uma máscara de oxigênio - Falou assinando o prontuário e me entregando, preparei tudo e administrei no tal Pedro e senti quatro pares de olhos sob minhas ações o que me incomodava muito e graças a deus que aquilo foi algo rápido de se fazer.

-Rafa eu preciso que você traduza a prescrição do paciente do leito 8 para mim - Disse chamando sua atenção e a atenção desnecessária de Gustavo também que sorriu. Rafael tinha se tornado um grande amigo, desde que comecei a trabalhar ele já estava aqui e entre um paciente e outro vivíamos conversando, o que deixava as marias Jaleco doidas.

-Dipirona diluída em 20 ml, infusão lenta e depois xxx intramuscular - Disse fazendo parecer simples - Um ano juntos e você ainda não entende minha letra - zombou e Gustavo fez um breve barulho com a garganta.

Minutos antes de serem liberados Gustavo passou por mim sem ao menos me olhar ou citar a situação constrangedora que o deixei naquele dia ao sair do café, mas o que realmente me incomodava era o fato de ficar pensando em motivos para querer sua atenção sobre mim, ele era apenas um cara bonito nada mais.

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