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Capítulo 2

Nicole ouvia o som do choro abafado, abraçou o esposo que desmoronava em lágrimas. O impulso e o desejo de ajudar a aliviar a dor queimavam em seu coração.

— Estou aqui, Alexander! 

Segurou o rosto dele e olhou-o nos olhos.

— Passaremos por isso juntos! — Deu um abraço afetuoso.

— Eu não tenho mais serventia — lamentou.

— Nunca mais diga isso! — Ficou agarrada ao pescoço dele. — Eu senti sua falta todos os dias. Teve horas que pensei que ia enlouquecer sem você.

Os dedos magros correram pela maçã saliente do rosto viçoso de Nicole. Alexander segurou-lhe a mão e a puxou-a para dentro dos braços, encorajou Nicole a deitar ao seu lado na cama e beijou-lhe o topo da cabeça após sentir o aroma delicioso que exalava dos cabelos macios. Os dedos se perderam nos cabelos de Nicole.

— Por que você demorou? Lembrei do que aconteceu ontem e fiquei desesperado.

Nicole elevou o torso e fitou o rosto combalido.

— Isso aconteceu há sete meses. — Sibilou.

— O que houve com a Josephine? — A mandíbula tencionou.

Alexander se remexeu na cama e colocou uma das mãos na testa, tentava encontrar a cicatriz por onde a bala atravessou, se inquietou.

― Ela foi presa! A família dela veio ao Brasil e contratou bons advogados. Alegaram que Josephine sofria de distúrbios psiquiátricos. Ela está sob um intenso tratamento médico em um hospício.

Por mais estranho que pareça, a notícia não o satisfez, os olhos claros perderam o foco depois de olhar para a luz que pendia acima deles, queria ajudar Josephine, mas não a ponto de sacrificar a vida da sua família. Envolveu o corpo de Nicole e a pressionou contra o peito, de alguma forma o coração parecia mais tranquilo por saber que ela e seus filhos estavam em segurança, não que a prisão de Josephine o deixasse satisfeito, mas porque nunca mais ninguém poderia machucá-los. 

Alexander se remexeu na cama e colocou uma das mãos tentando achar a cicatriz por onde a bala atravessou, se inquietou.

— Eu soube que você está se esforçando à frente dos negócios — desviou a conversa. — Meu pai comentou que você se revelou uma imponente diretora-executiva.

— Doutor Ricardo te contou todas as novidades? 

— Não!

Passou os dedos na minúscula cicatriz e negou com a cabeça.

— Depois que ele falou que a amante dele está grávida de gêmeos, eu dei a conversa por encerrada. 

— Alexander, o seu pai tem direito de ser feliz. Além disso, a Danielle não é amante, é esposa do doutor Ricardo.

— Nicky, eu não quero falar disso. Meu pai já tinha um caso com Danielle quando comecei a administrar a empresa.

— E sua mãe vendeu a mansão e está fazendo um tour pela Europa com o instrutor de Pilates dela. — Os olhos amendoados mergulhavam nele. — Eles estavam infelizes no casamento de aparências. Você passou por isso com a Josephiné e sabe como é horrível. 

Nicole respirou fundo e atravessou os dedos pelos fios descabelados de Alexander.

— Os médicos conversaram com você?

— Recebi a visita de cinco especialistas e fiz alguns exames.

Levou a mão à testa como se estivesse forçando para lembrar. 

— Conversei com fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo e neurologista, que me levou para tomografia. Duas enfermeiras queriam me dar banho.

— Não brinca com isso!

Ela tentou se afastar, mas ele a prendeu. Tocou o canto dos lábios de Nicole. O olhar ciumento provava que ela ainda o amava.

— Todos estão impressionados com a minha recuperação. Dizem que sou um desses raros milagres. Só tem um problema! — Alexander assumiu a máscara desagradável. — Talvez eu não consiga te satisfazer — disse com uma carranca de dissabor. — Se você não quiser mais…

— Hey, não diga besteiras! — silenciou os lábios dele com o indicador. — Amo tanto você!

Os lábios carnudos de Alexander puxaram a parte inferior e sugava os lábios de Nicole com leveza. Escorregou a língua para dentro da boca úmida e macia. As mãos se enrolaram nos cabelos da nuca, inclinava a cabeça dela para trás dando maior intensidade ao beijo. Deu um beijo leve e esperou até que Nicole abrisse os olhos.

— Eu não sei se conseguirei ser tão ativo como antes. 

Ajeitou a cabeça nos braços. Puxou-a para debaixo do lençol branco.

— Você ainda não sabe! Podemos dar um jeito.

— Eu quero voltar para casa! — resmungou no intuito de cortar a conversa.

Não estava preparado para tocar naquele assunto delicado, o receio de perder a esposa ainda assolava Alexander.

— Tenha paciência! — pediu a voz suave. — Em poucos dias você receberá alta, em breve vamos para casa.

Alguns desenhos e rabiscos em papel-cartão enfeitavam a parede do quarto, além das flores na cômoda branca, tinha um pequeno cartaz com mensagens dos filhos.

— Estou com saudades dos meus filhos.

— Daqui a pouco eles vão entrar para te ver.

— E quanto a Marcelly? 

— Adotei ela!

Nicole botou uma mecha atrás da orelha e olhou nos olhos claros, na esperança de encontrar aprovação. Os avós maternos abriram mão da guarda dela e o meu pai já tem muito trabalho com a Heloísa, então me pediu para cuidar da minha sobrinha como se fosse minha filha.

— Você tem um coração bom! — Roçou o nariz contra o dela.

Ele a perscrutou com uma sobrancelha levantada e um sorriso torto, parecia não acreditar no que ouviu. Aquela mulher era como um anjo enviado dos céus para a sua vida.

— Quero ver os meus filhos.

— Eles já vêm, estão na sala de espera com seu pai.

Nicole acariciou a covinha no meio do queixo de Alexander.

— Eu acho que a Jullie será médica, ela adora ficar na ala pediátrica com o doutor Kim.

— Por que a minha filha está passeando com o David? — Cerrou os olhos e lutou contra a ira.

— Por favor, Alexander! A Jullie sempre vinha te visitar e pedia para você acordar. — Nicole o confrontou. — A nossa filha tem sopro no coração, mas felizmente ela está saudável, graças aos cuidados do doutor Kim.

— Só espero que ele não esteja se aproveitando disso para encantar você — reclamou, a voz grave.

— Não tem motivos para ter ciúmes dele.

— E quanto ao Alex e o Rodolpho? — Ele ignorou o que ela disse sobre o pediatra.

— Estão tão altos e espertos quanto você aos oito anos. — Nicole esboçou um sorriso. — Eles ajudaram a Marcelly a se adaptar à nossa família e cuidam da irmã na escola.

— Quero ver os meus filhos!

Nicole colocou a mão sobre os ombros dele com ternura.

— Pedirei para chamá-los.

Logo que Nicole firmou os pés no chão, ela andou até a porta e pediu que a enfermeira procurasse Ricardo. Não demorou muito até que as crianças apareceram no quarto.

Copyright © 2.021 por Ana Paula P. Silva

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