Capítulo 2.1
Ettore Ferrari
Corro eufórico para pegar meus sapatos e colocá-los.
Irei visitar a filha dos Petrov. Faz alguns meses que quero conhecê-la, preciso estar bem apresentável. Mamma dá os últimos ajustes em minha gravata, deixando-me elegante e bonito, como sempre cochicha ao meu ouvido. Todos entramos dentro do carro com os “soldados” logo atrás, escoltando-nos em carros separados. Eles sempre estão em alerta, prontos para proteger a família de qualquer perigo iminente.
Olho pela a janela e vejo a neve caindo, dando o início ao inverno rigoroso da cidade. Gosto dessa estação do ano, imaginando que em breve poderia brincar nela, como uma criança normal faria, esquecendo assim o fardo que carrego com meu sobrenome “Ferrari”.
Depois de alguns minutos finalmente o carro estaciona, e enfim, todos descemos. O sr. Petrov está na porta principal nos esperando, cumprimentando educadamente papà e mamma, com beijo no rosto e abraço apertado. Nossa famílias são muito unidas, e o carinho é enorme entre ambas.
— Como vai, pequeno Ettore? — O homem pergunta para mim, com um sorriso amigável nos lábios. Todos são tão maiores que eu que ele até se inclina um pouco para me ouvir melhor.
— Vou bem, sr. Petrov, e o senhor? — Retorno a pergunta.
— Melhor não tem como ficar, filho. — Ele diz, logo depois se volta para meus pais e comenta: — Vamos entrar, Ivana está no quarto esperando a todos.
Caminho ao lado do meu fratello Pietro, enquanto papà ficou logo atrás com seu velho amigo. Mammà vai à frente com minha sorellina Bianca em teus braços calorosos, batendo na porta assim que chegamos ao quarto. A empregada da casa abre e entramos.
Fico observando as duas mulheres conversarem coisas que eu não entendia, depois meus olhos avistam de longe o pacotinho dentro do berço. Volto a minha visão para mamma e a sra. Petrova.
— Posso chegar mais perto? — pergunto, enquanto apontava para o berço.
— Claro que pode.
Em passos largos, me aproximo ansioso para vê-la. Vejo-a brincar com as suas próprias perninhas, enquanto o sorriso banguela aparece para mim. Seus olhos são azuis... Um azul tão intenso e vivo, que fico hipnotizado por alguns instantes. São diferentes dos meus, escuros.
Ela para de brincar e nesse momento sem me preocupar com a possível bronca, pego-a nos braços, segurando-a com todo o cuidado do mundo. É leve e fofinha como um pão quente e cheiroso. Como uma coisa tão pequena pode estar viva e sorrindo daquele jeito para tudo? Acalento-a em meus braços, jurando para mim mesmo que a protegerei do mundo, e todos que ousarem fazê-la sofrer. Seremos melhores amigos para sempre e eu estaria lá para guardá-la com suas bochechas rosadas e sorriso inocente.
A sua pequenina mão vai de encontro ao meu rosto, tão delicada, mas já demonstra a força que possui. Sorrio, pego cheirando-a e sentindo o perfume doce, em seguida vou até o seu berço e apanho o seu ursinho de pelúcia, para brincar um pouco com ela antes de voltá-la para o seu lugar de antes.
Os tempo foi passando, e o minha ligação com a menina com olhos da cor do mar foi crescendo, porém não sei em qual momento tudo desandou.
Aurora foi sequestrada e nunca mais ouvimos falar sobre ela, nossa família entrou em guerra, pois os Petrov tinham convicção que os verdadeiros culpados fomos nós. Com tudo isso e a guerra que chegava à nossa porta, recebemos a terrível notícia que a sra. Ivana Petrova morrera de desgosto, depressiva amofinada dentro de um quarto pela perda de sua filhinha. Nunca me senti tão impotente mesmo sendo tão jovem, jurei proteger o bebê de olhos gentis e ela havia sido levada debaixo de nossos narizes! Eu nunca me perdoaria.
Dezoito anos se passaram, de vez enquanto me pego regressando àqueles dias. Claro que tudo foi uma grande armação para separar nossas famílias, éramos fortes demais quando aliados. Hoje, nosso maior e pior inimigo é o homem que já foi um grande amigo de minha família. Um Ferrari nunca faria mal a um Petrov, eu nunca faria mal a Aurora.
Com o decorrer do tempo, muitas coisas mudaram, dentre elas minha personalidade e temperamento. Como o novo chefe da famiglia, teria que tomar frente da nome sem questionamentos. Aurora, se estivesse aqui hoje, seria minha protegida com toda certeza. Ela foi e sempre será a única promessa que não consegui cumprir e que me corroía desde então.
Ouço batidas na porta tirando-me dos meus pensamentos. É Carlota, minha secretária.
— Senhor, chegou mais um currículo. — A mulher me entrega o envelope saindo logo em seguida.
Olho todos os requisitos da pretendente, mas o que me chama a atenção é a sua beleza inigualável, ela acabará de completar seus dezoito anos. Uma beleza genuína e inocente com um rosto esperto e olhos sagazes. Graduação simples, mas com notas altíssimas. Teria que dar para o gasto, pois não estava aguentando aquela porcaria de telefone tocando o tempo todo. Carlota já estava perdendo a cabeça, precisava de ajuda e eu de silêncio.
Faço uma ligação, encaminhando as informações ao meu “investigador”. Exijo um resumo a fundo sobre esse mulher. Quero saber tudo sobre ela, até o tipo de sua calcinha se for necessário, mas a quero aqui amanhã nessa sala e espero que não tenha nenhuma ligação com os malditos Petrov ou qualquer outro puto que queira ferrar meus negócios.
Depois de resolver alguns assuntos pendentes, volto para a “sede”. Minha casa, meu palácio repleto de guardas dispostos a dar suas vidas por mim e tirar outras. Por mais que quisesse beber e fumar na companhia de alguns deles e com meu irmão, eu precisava urgentemente de silêncio, porque até mesmo embaixo do chuveiro eu conseguia ouvir o maldito telefone tocando!