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NADA DE DOCES, SÓ TRAVESSURAS. - parte 1
Lili
— Lilian, acorda! — A voz de Alice me desperta baixinho na sala de aula. Sinto a cabeça pesar e os olhos queimam com a luz do dia que invade a ampla sala. Droga, estou super cansada! Observo a professora Lisy Gregory sair da sua cadeira acolchoada e pegar alguns envelopes pardos em seus braços. Ela caminha para o centro da sala, no entanto, ela me avalia com seu ar de superioridade.
— Meninas, teremos uma prova surpresa hoje e quando acabarem encerraremos a nossa aula — avisa enquanto passa de cadeira em cadeira com passos lentos e decisivos, deixando em cada mesa um envelope lacrado. Incomodada, eu me ajeito em minha cadeira e levo as mãos aos meus olhos, esfregando-os para despertar melhor. Não posso me dar ao luxo de perder pontuação nessa prova, essa escola é muito rigorosa com os nossos boletins e se tiramos uma nota vermelha isso implica a presença do nosso tutor, no meu caso, Julie minha madrasta. Não a tenho visto desde que me jogou nesse lugar e não pretendo vê-la tão cedo. Os meus poucos períodos de férias ou aniversários tenho passado com os meus avós e não pensem que foi escolha minha, a mulher vive viajando pelo mundo. Quando chega a minha mesa, Lisy põe o envelope virado para baixo e me olha nos olhos. Engulo em seco. Ela parece querer desvendar os meus segredos mais obscuros.
— Você não me parece bem hoje, Lilian, não dormiu bem durante a noite? — Me remexo na cadeira e sem tirar os meus olhos dos seus avaliativos, me forço a falar:
— Ah, não muito, senhorita Gregory, tive um pouco de insônia na noite passada — minto. Ela arqueia as sobrancelhas.
— Oh, espero que isso não a atrapalhe durante a avaliação — diz com o seu tom profissional. Contudo, forço um sorriso para ela.
— Não se preocupe, não vai me atrapalhar em nada. — Ela assente bem devagar, passa uma olhada rápida na minha amiga ao lado e depois vai para a próxima mesa. Automaticamente solto a respiração que estava presa fazendo um som sutil. Olho para Alice sentada na cadeira ao meu lado, mas ela só dá de ombros.
E falando na minha amiga travessa, ainda não tivemos a oportunidade de falar sobre o que aconteceu na noite passada e eu não sei o porquê, mas sinto que não vou gostar muito do que ela tem para me dizer. Os minutos passam e esses se tornam horas longas e exaustivas de provas, atividades, exercícios, trabalhos e mais exercícios, algo bem corriqueiro no nosso cotidiano, mas hoje eu daria a vida por uma cama macia e quentinha! Uma hora após o almoço mergulhamos em algumas atividades esportivas, aulas de teatro e de música também e no final da tarde o merecido descanso. Me sento em um dos bancos de madeira no meio do imenso jardim florido e encaro as lindas borboletas coloridas sobrevoando as delicadas flores, que se balançam com o seu peso. Abro uma pequena cesta de vinil quadrada que está ao meu lado e tiro de lá uma deliciosa fatia de bolo de baunilha. Eu já falei que amo bolo de baunilha? Esse lanche me lembra um pouco da minha infância ao lado do meu pai. Alice se senta ao meu lado e apesar do cansaço por não dormirmos bem durante a noite, a criatura ainda esbanja um sorriso largo e sonhador.
— Aff, pensei que não ficaríamos sozinhas nunca! — Ela resmunga soltando um ar audível. Em silêncio pego mais uma fatia do bolo e lhe entrego.
— Você me deixou preocupada ontem à noite — comento, mas ela apenas sorri. E acredite, não é qualquer sorriso, é aquele maldito sorriso sonhador de novo. Um sorriso como ela nunca deu antes. — O que deu em você para me deixar sozinha naquele lugar e sumir daquele jeito dentro da casa de um desconhecido? Alice aqueles jovens pareciam animais que nunca tiveram liberdade na vida e olha que eu sei o que é não ter liberdade.
— Me desculpa, Lili! — Ela sibila docemente. — É que... eu me empolguei. Poxa, era uma festa e você sabe que sou louca por festas! — Puxo a respiração e volto a olhar para o balé das borboletas batendo as suas asas de forma lenta e elegante.
— Onde você estava realmente? Porque eu andei aquela casa inteira a sua procura e não te vi em lugar nenhum — insisto na pergunta.
— Eu vou te contar tudo, tudinho. — Ela se ajeita no banco dobrando as pernas para debaixo do seu corpo e fica de frente para mim. Uma narração inusitada começa a sair da sua boca e eu não consigo evitar de ficar perplexa com cada palavra. — Assim que pus os pés naquela casa e vi toda aquela gente gritando animada e dançando me misturei a elas. Eu dancei como nunca havia feito na vida. O ritmo era tão empolgante e tão envolvente. Então eu conheci a July Anderson uma garota maravilhosa. Nós conversamos em meio a dança e teve um momento que ela me ofereceu a sua bebida.
— Me diga que não aceitou, Alice?
— É claro que eu aceitei! — Ela sota um gritinho empolgado e eu rolo os olhos.
— Ficou maluca, criatura?! — A repreendo.
— Lili, era só diversão, relaxa! — pede tão descontraída que chega a me incomodar. — Agora deixa eu te contar todo o resto. — A encaro com o devido espanto.
— Ainda tem mais?! — Ela faz um gesto de mão e continua.
— Dançamos umas três músicas e depois que nos cansamos fomos para uma varanda no segundo andar da casa que digo de passagem, tinha uma bela vista do parque central. Havia um grupinho animado lá em cima e foi lá que conheci o Dante Travel. Ai amiga, o Dante é um pedaço de mal caminho literalmente falando! Um ruivo lindo de pele clara, com os cabelos cor de cobre escuro e cheios. Do tipo que dá vontade de pegar e acariciar, sabe? Eu sei, porque eu peguei e eles são tão cheirosos, e tão macios! Então, minutos depois ficamos de bate papo um pouco, mas afastado dos outros e enquanto conversávamos eu tomei um tipo de coquetel vermelho com uma espuma macia e cremosa, que pairava na borda da taça. Uma delícia!
— Está me dizendo que tomou mais de um copo e que ainda misturou as bebidas? É isso que está me dizendo? — Volto a repreendê-la e dessa vez ela revira os olhos para mim.