Capítulo 9
—Entendemos que seu nome é a porra da Camilla. - eu respondo bruscamente.
Mas será possível que a paz não possa existir por mais de um minuto?
Davide sorri nervosamente e morde o lábio. - Esta é... A garota com quem Shar a traiu. —explica virando-se para Paige que não entende nada.
Delina descobriu que a garota estava a caminho após receber uma ligação de Luca. Este último contou-lhe que a mulher aqui presente apareceu em sua casa à procura de Davide e depois de ligar para ele foi até este local. Como perdemos o menino de vista e não conseguimos impedi-lo de deixar Camilla vir aqui, Delina correu até mim dizendo que tínhamos que levar Fex e me explicou a situação. Estávamos prestes a inventar uma desculpa e dizer a ela que queríamos ir para casa, mas infelizmente a loira chegou antes de nós e a encontrou na nossa frente.
—Diga que você está brincando. — Paige responde. —É mesmo ela? -
- Você é um idiota. —Delina desabafa. —E você é uma vadia nojenta. Mas como você pode vir aqui sorrindo e esperando que eu aperte sua mão como se não fosse nada? Que porra você tem em mente, Davide? - Repita novamente. Delina fica vermelha de raiva e o empurra de volta. Enquanto fala, ela aponta o dedo para a cabeça e olha para Davide de uma forma que nunca a vi fazer antes. — Você me pegou na noite errada Davide, já estou chateado. Você se junta a quem faz coisas estúpidas e pronto. Enganar. -
O olhar do menino fica duro e frio. Sem responder, ele sai seguido por Camilla.
A situação não é nada agradável. Paige e eu trocamos um olhar e seguimos os dois garotos junto com Delina. Enquanto isso, em minha mente, rezo para encontrar minha namorada também. Antes que isso acontecesse, Fex se perdeu em uma de suas memórias. Era como se ela estivesse em um estado trans do qual eu não conseguisse acordá-la, imersa em um mundo paralelo para evitar a realidade. Talvez porque a sua realidade, no fundo, não seja como deveria ser e ele prefere navegar pelas memórias, em vez de tomar consciência de que aos poucos ela vai murchando e deixando de brilhar. É um diamante que perdeu a razão de continuar brilhando e o busca na imaginação. Ela está sempre em busca de algo que perfure seu coração e o faça bater novamente, e espero que mais cedo ou mais tarde ela encontre essa âncora em meus olhos, em meu olhar surpreso e amoroso enquanto a observo.
Volto ao presente e observo silenciosamente a cena diante dos meus olhos.
— Já se passaram anos, Delina, anos. Eu poderia fazer um esforço, não poderia? Achei que ele tinha superado, agora ele tem a Nata. - aponta para o irmão.
Balanço a cabeça e mordo o lábio para não atacá-lo e estrangulá-lo com as próprias mãos. —Você é estúpido por acaso? Como você pode pensar uma coisa dessas? Até já se passaram três anos desde que meu pai morreu, mas ainda não superei isso, apesar de Matt estar sempre ao meu lado, junto com Paige, e apesar da presença de Fex. Mas que tipo de raciocínio você está fazendo, Davide? Desde quando existe um tempo pré-estabelecido que apaga a dor de perder uma pessoa? Talvez houvesse, se realmente houvesse um tempo definido para eliminar uma pessoa tudo seria mais simples mas a vida de todos seria um conto de fadas sem moral. - digo a ele bastante irritado.
— Ele deveria aceitar seu passado e viver para seu presente, que é você e não aquele maldito Shar que morreu. Nata está morta e ela deveria encarar isso. - Solto. "Eu não sei como diabos ele pode se sentir tão mal com isso." Ninguém gostou daquele menino, ele sempre foi uma pessoa superficial e vazia. Basta olhar como ele tratou Fex e ela sofrerá como uma idiota. -
Agora posso ver a semelhança com a irmã dela, até no caráter e na personalidade. Quando ficam cegos pela raiva, pela dor e pela decepção, começam a falar e a dizer coisas que na verdade não querem dizer.
—Mas você se escuta quando fala? —Paige pergunta a ele. Ele não costuma intervir nas discussões, é claro que a pegou na noite errada. —Temos que enfrentar a morte de uma pessoa? De que porra você está falando David?! E então você não pode saber como era realmente o relacionamento deles, os dois simplesmente sabem. -
—Mas eu sei como eles eram juntos. Morei com eles por quase três anos. E quer saber como era o relacionamento deles? Quer saber O QUE foi? —continua olhando para meu primo.
— Foi uma história doentia! Um amor doentio que corroeu os dois! Eles nunca poderiam ter um futuro porque se consumiam. Nunca houve um momento em que pensei que eles eram bons juntos, porque o amor deles era infundado. Estavam juntos porque se amavam, mas se amavam demais para poder construir algo correto e fundamentado. Eles arruinaram um ao outro e ele está morto, ela está viva, mas parece morta. Quero minha irmã de volta, mas se ela nem tentar vir até nós, como podemos fazê-la renascer? -
— Você não sabe o que está dizendo. — uma voz familiar intervém atrás de nós. Luca se aproxima do melhor amigo e o segura pelos ombros. — Não vou te dar um soco na cara só porque você é meu melhor amigo e sua namorada está assistindo. Acredite, você não sabe do que está falando. -
Cansei de ficar sentado aqui sem fazer nada, estamos discutindo há uma hora e nem sabemos onde está o tema da discussão. —Você me cansou. Eu vou procurá-la. -
— Você é um verdadeiro idiota. —ouço Delina dizer antes de virar as costas e ir procurar Fex.
Depois de alguns minutos andando pela rua reta que levava ao bar, encontro-a sentada em um banco com Matt ao lado deles enquanto eles passam por um baseado e riem juntos. Aproximo-me deles com cuidado e fico na frente deles.
— Olá olhos gelados, meu irmão ainda está com aquela garota? —Pergunta a garota, olhando para mim com a cabeça inclinada e os lábios articulados. O isqueiro entre os dois dedos acende, mostrando-me sua chama alta, que lentamente se aproxima do pãozinho que Fex tem na boca.
Concordo com a cabeça e me viro para Matt. - O que você está fazendo aqui? -
Ele dá de ombros e olha para Fex. —Ele ligou para o Luca e o Luca me mandou. -
Levanto as sobrancelhas e sem dizer mais nada me sento ao lado delas. Observo-a dar uma longa tragada no baseado e observo a nuvem de fumaça que ele cria. Às vezes eu gostaria de poder entrar na cabeça dela, entender o que ela pensa quando se perde assim, ou mesmo apenas entendê-la. Ela é tão diferente das outras garotas que você nunca a conhecerá completamente.
— Achei que tinha superado, pensei que conseguiria. — Ele diz então. Olhe para o céu e observe o satélite. —Mas em vez disso, mais uma vez o poder das memórias me fez cair em seu abismo sem fundo. Eu realmente acho que nunca serei capaz de cortar o fio que me liga a Shar. É muito frequente. -
— Você vai conseguir Fex, basta desejar de todo o coração. — Matt diz a ele, dando um tapinha em seu ombro.
—O fato é que tentei de tudo, tentei de todas as maneiras cortá-lo, quebrá-lo, mas nunca consegui. Tentei odiá-lo, odiei-o durante muito tempo, mas agora que ele se foi tudo o que sinto é falta dele. Uma falta no intestino que ninguém jamais conseguirá suprir. Gostaria de falar com ele olhando nos olhos dele em vez de olhar para a lua, mas não posso e nunca farei. —ele diz com um suspiro.
Eu olho para ela enquanto sua voz treme e seus olhos brilham. Acho que posso ouvir seu coração batendo na velocidade da luz.
— Você sabe por que não pode? — Tiro uma mecha de cabelo do rosto dela e olho diretamente em seus olhos. Suas pupilas dilatam quando ele olha para mim e balança levemente a cabeça. — Porque você não o perdoou e não se perdoou. -
- Sinto muito por ele. — ele solta, me olhando nos olhos.
— Não amor, você não fez isso. Se fosse esse o caso agora você não teria nenhum problema em conversar com aquela garota, você a trataria com indiferença. No entanto, você não poderia. Isso não significa perdoar. —Respondo acariciando seu rosto.
—Por que a Nata foi embora? Por que ele foi tão covarde? Por que você me enviou aquela carta? É por causa dessa confusão de palavras que me sinto assim agora. Nata, você leu, o que sentiu quando fez isso? -
Fico surpresa com sua pergunta e meus olhos vão para Matt que, com uma expressão dura no rosto, nos observa sem dizer uma palavra. Ele balança a cabeça e me dá um leve sorriso.
—Muitas emoções me invadiram. Inicialmente odeio, odeio por como ele fez você se sentir, odeio pelo que ele fez com você e odeio pelo que ele escreveu. Então disse a mim mesmo que não conhecia e não conheço a sua história e, portanto, não posso saber por que ele fez esse gesto. Disse a mim mesmo que precisava absorver cada pequena faceta daquelas palavras, deixadas por uma pessoa que nunca conhecerei, e queria tentar entendê-las. Li pelo menos vinte vezes e no final me peguei chorando de uma dor que não me pertencia e da qual não sabia o motivo. -