Capítulo 6
Em silêncio e ainda sorrindo, Estela procurou a mão do rapaz e, quando a encontrou, apertou com gentileza, fazendo que sim com um aceno de cabeça. Encaminharam-se para a pista após a música seguinte ter sido anunciada. Dançaram a noite toda.
Ela não teve a oportunidade de conversar mais com Rebeca naquela ocasião. Sua mãe a manteve em linha dura, sem afastar-se dela nem para ir à casa de banho. Estela sentiu-se mal pela amiga, o que a fez divertir-se mas não do jeito que realmente almejava. Mesmo assim, conseguiu entusiasmar-se bastante por poder passar aquele tempo com Peter. Com certeza, ela pensou, todos estariam comentando no dia seguinte que Peter logo faria uma proposta de casamento à filha do escritor famoso, mas ela não se importava. Manteria suas expectativas baixas e se preocuparia apenas em viver o momento. Carpe diem, era o que os eruditos diziam, certo?
Na maior parte do tempo em que dançaram, foi ao som de músicas agitadas. Estela balançava seus quadris e rodopiava ao redor de Peter que não perdia a oportunidade de passar as mãos firmemente pela sua cintura. Ele era um exímio dançarino e sabia conduzir com maestria. Estela ficou encantada com os seus domínios.
Quando seus pés já estavam doendo, e ela não aguentava mais se manter em posição vertical sem se apoiar em seu par, pediu para darem uma pausa. Queria recuperar seu fôlego e estava louca para tirar aqueles sapatos, nem que fosse por cinco minutos. Mas sabia que não podia, pois não seria de bom-tom. Mesmo assim, suspirou feliz pela noite maravilhosa que estava tendo.
— Se estivéssemos em Paris agora, eu poderia muito bem tirar seus sapatos lindos e desconfortáveis, deslizar suas meias apertadas até que estivessem totalmente fora das suas pernas cansadas e fazer uma massagem na sua panturrilha esbelta em frangalhos.
Estela deu uma risada engasgada, roncando no final como um porquinho. Tinha bebido um pouco demais.
— Sério? Estaria tudo bem? — Ela arregalou os olhos de brincadeira, mas pensando no assunto com seriedade.
— Não — ele riu. — Seria um escândalo tanto quanto aqui. Estou só brincando.
Ela deu um soco na parte superior do braço dele, que não fez nada além de rir.
— Eu quase acreditei.
— Quem sabe no século XX.
Estela bufou.
— Quando tivermos 70 anos. A melhor época das nossas vidas.
— Não pense assim — Peter não deixou os ânimos se abaterem. — O cérebro humano não foi feito para pensar numa realidade tão longínqua. Vamos focar neste ano. Melhor, vamos pensar no agora. Já está melhor para voltarmos para a pista? Vão tocar uma romântica, estou sentindo.
Estela não conseguiu conter uma onda elétrica que percorreu seu corpo, fazendo seu coração acelerar.
— Meus pés doem. Paramos há…
— Dezoito minutos.
Ela ficou boquiaberta.
— Não é possível que tenha todo esse tempo!
— Mas tem. Acho que você realmente bebeu mais do que devia. — Ele observou, tentando conter a risada que começava a vir em ondas.
— Pare de zombar de mim, seu monstro!
Nesse momento, ele deixou-se rir livremente.
— Desculpe, desculpe… não quis ferir sua dignidade.
Estela suspirou, sentindo-se serena e um tanto sonolenta. Peter estava certo, uma melodia romântica começou a tocar, e casais logo se juntaram para dançá-la, sentindo os corpos uns dos outros por sobre as roupas finas e elegantes. Estela apoiou a cabeça no ombro do rapaz que exibia uma expressão contente ao observar as pessoas dançando à sua frente. E assim ficaram até às 23h55 quando finalmente levantaram-se a fim de procurar Honório e Cristina.
A moça também procurou Rebeca, mas esta encontrava-se presa ao braço da mãe e apenas acenou com a mão para a amiga, num desejo agridoce de feliz ano novo, ao notar Peter ao seu lado.
Às 23h58, achou seus pais e, puxando o inglês pela mão, avançou apressada até seus progenitores desejando feliz ano novo e dizendo palavras bonitas de renovação e prosperidade. Peter fez o mesmo e o casal sorriu, retribuindo a cordialidade com imensidão.
O ano prometia ser palco de grandes acontecimentos e experiências, e Estela não podia estar mais animada.