Chapter 5
Algemas frias e nada confortáveis são colocadas em mim. Em seguida, sou praticamente puxada até um carro que estava atrás do meu e forçada a sentar no banco traseiro.
Me mexo desconfortável, enquanto o policial no banco do motorista, mexe no celular.
- Vai. Atende - murmura, enquanto do outro lado da linha, chamava quase infinitamente.
Olho ao redor, tentando encontrar um meio de sair dali, algo impossível naquele momento, graças as algemas.
Pensa. Pensa. Pensa, me obrigo em pensamento. Apelação, era algo que sempre dava certo na maioria das vezes.
- Ele não era meu pai - Ele me olha pelo retrovisor - Ricardo. Era meu pai adotivo.
- E por ser seu pai adotivo, quis matá-lo?
Sorrio levemente sem mostrar os dentes, desviando o olhar.
- É minha palavra contra de um pai e um juiz exemplar - digo com a voz firme - Mas ninguém sabe, além da mulher dele, o quê acontecia nos bastidores - Ele baixa a cabeça para o celular, voltando a ligar para quem quer que fosse - Ele me espancava toda vez que achava necessário. Por saber que não era filha dele, parecia ter prazer nisso - Me inclino para frente - Quer ouvir minha versão, parece que temos tempo.
- Não quero ouvir sua versão - diz me olhando novamente pelo retrovisor.
- Cresci sendo enganada, acreditando que só não correspondia todas as expectativas que meus colocavam sobre mim, quando na verdade, meu pai, não me aceitava, principalmente pela minha cor - digo mesmo ele não querendo ouvir - E sabe o quê aconteceu depois? Claro que não sabe. Descobri que era adotada! Que estava apenas ali, porque alguém tinha morrido. O quê você faria se fosse você? - Ele sustenta meu olhar - Continuaria fingindo que estava tudo bem, enquanto era agredido tanto verbalmente quanto psicologicamente? - Ele engole em seco, tencionando o maxilar - Encontrei a arma no cofre dele e agi na emoção. Não foi premeditado - murmuro - Depois disso, minha vida foi ladeira abaixo. Me apaixonei por um traficante, descobri que ele me traía com a minha melhor amiga e ele quase que consegue me matar - Sorrio sem mostrar os dentes.
Ele solta o ar dos pulmões, erguendo as sobrancelhas.
- Deixa eu ver se entendi - diz se virando para mim - Está tentando me convencer de que não quis matar Ricardo Matarazo?
- Queria me vingar de alguma forma - murmuro - ... só apertei aquele gatilho no calor do momento - Ele volta a se virar para frente, voltando a mexer no celular - Não posso ser presa.
Ele me olha pelo retrovisor.
- E por quê não?
- Estou grávida. Minha filha logo vai nascer...
- O conselho tutelar vai cuidar disso.
Não conseguia nem pensar em ter minha filha tirada de mim, dada para outras pessoas, quase da mesma forma que fizeram comigo.
- Me dá um tempo - Peço, conseguindo atrair seu olhar - Você já me encontrou. Sabe onde estou. Só preciso de um tempo, para garantir que ela vai ficar bem.
- Ou para conseguir fugir - Ele concluí.
- Fugir para onde? - pergunto com um sorriso forçado - Meu rosto está por toda parte. Boa parte dos brasileiros sabem o quê fiz. Não tenho para onde correr.
- Diga isto pros traficantes que conseguem sair livremente do Brasil.
- Só que eu não sou traficante - digo séria - Nunca me envolvi com o tráfico, mesmo tendo namorado com um traficante.
- Gael - diz de repente - Ele que escondeu você aqui no Alemão.
- É. Foi.
- Onde ele está?
Dou de ombros.
- Também quero saber. Tenho umas contas para acertar com ele, então, se caso descobrir onde ele está, me diz - digo com deboche.
Ele encara o vazio a frente, com os lábios franzido e o semblante pensativo.
- Quero prender ele. E você vai me ajudar nisso.
Franzo o cenho, arregalando um pouco os olhos.
- Oi?
Ele se vira para mim.
- Você queria um tempo, não é? Te dou, se me ajudar a encontrar ele - Ele estreita os olhos - Veja isso como uma prorrogação da sua prisão.
- Não faço ideia de onde ele está e se soubesse, ele já estava morto.
Ele inclina a cabeça para o lado, dando um meio sorriso.
- Ainda com raiva por que ele comeu sua amiga?
- Seu senso de humor é péssimo - digo revirando os olhos.
- Pode até ser péssimo, mas não sou eu que estou preso, podendo ser levado para a delegacia, correndo o risco de nunca mais ver minha filha.
Ele sabia qual era meu ponto fraco.
Claro que sabia.
Qual mãe não se importaria com o bem estar e a segurança do filho?
Até os animais se importavam, comigo não seria diferente.
- E então, como vai ser? - Ele pergunta, estendendo a mão para tocar meu queixo, me afasto rapidamente, virando o rosto - Quer que eu leve você pra delegacia ou vai descobrir onde é que o Monstro está?
Eu precisava de tempo e precisava da cabeça do Gael.
Por que não unir o útil com o agradável?
- Vou encontrar ele - murmuro.
Ele ergue o dedo indicador.
- Você tem quinze dias.
- Quinze dias?! - repito elevando a voz - Preciso mais do que isso.
- É o máximo que você vai ter e se no final destes quinze dias, não descobrir onde ele está, vou prender você grávida ou não.
Sustento o olhar dele, tendo a certeza de que ele cumpriria aquela ameaça.
- Vai me deixar algemada até quando?
Ele suspira.
- Gostei da sua companhia.
- Meus braços estão dormentes!
- Já já passa - diz voltando a mexer no celular, que começa a tocar neste momento. Me inclinando para frente, vejo duas palavras que me fazem bater as costas para o banco.
Delegado Samuel.
- A gente tem um acordo, não é? - pergunto, querendo ter a mesma certeza que tive sobre a ameaça.
- Oi - diz ao atender o celular.
- Sabe que horas são? Por que me ligou? - Engulo em seco quando ele me olha pelo retrovisor - Já cansei de dizer que só é pra me ligar em caso de vida ou morte - A voz de Samuel soa irritada do outro lado da linha, conseguindo trazer arrepios involuntários, quando noto que o timbre da voz dele se parecia com a de Ricardo e que na maioria das vezes, Ricardo usava aquele tom, para tentar mostrar que tinha tudo sob controle, inclusive sua tão adorada família de comercial de margarina - Ligou pra ficar em silêncio?!
- Acho que liguei sem querer.
- Sem querer, Guilherme?! Sem querer?! - grita novamente - Puta que pariu! Uma da manhã e você vem com esse papo!
- Desculpa aí.
- Desculpa o caraio. Presta mais atenção! - Samuel desliga de repente. Guilherme afasta o aparelho do ouvido, verificando se ele havia mesmo desligado.
- Será que a ignorância já vem de família? - comenta, guardando o celular no bolso.
- Ainda bem que não sou dessa família.
- Enquanto tiver com o sobrenome Matarazo, faz parte sim - Ele desce do carro, abrindo a porta traseira, para depois me puxar para fora sem muita cerimônia. Me virando de costas para ele, tira as algemas devagar - Se eu pressentir que está planejando fugir, mato você e é bom que saiba que é algo premeditado - Me viro para ele, inclinando a cabeça para o lado, erguendo uma sobrancelha, enquanto o olhava de cima a abaixo. Pegando uma caneta dentro do carro, escreve uma sequência de números no meu braço - Só me ligue quando tiver uma informação útil. Agora sai daqui, antes que eu mude de ideia.
Não espero ele dizer novamente, caminho para meu carro, sentindo seu olhar em minhas costas.
Antes de entrar no carro, o olho por cima do ombro, antes de entrar no veículo e manobrar o carro, saindo do Complexo de Alemão.
Vendo meu plano de matar Gael lentamente e dolorosamente, ruir bem diante dos meus olhos, sem ao menos eu tentar. Graças a um policial infiltrado.
