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7

A gente quer dizer tanta coisa e acaba ficando calado.

Dionísio Mattiazzo

UNIVERSITY HOSPITAL MEYER | 02:00

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Acordei com a Valéria deitada na minha cama e tive a certeza que essa mulher vem no cheiro. A Dra. Diaz está encolhida no canto da cama como tenho o hábito de dormir e mesmo assim me encontrou.

Acabei perdendo o sono, como não tenho muito o que fazer, fiquei divagando enquanto embolo os cabelos ruivos e longos da Valeria.

Olhei meu telefone pela milésima vez e uma hora já tinha se passado.

— Meu corpo já estava doendo de tanto ficar deitado, vou dar uma olhada nos meus pacientes. — ia levantar quando o telefone da Diaz tocou.

Seu desespero me chamou a atenção e decidi ficar para saber o porquê.

— É sério isso, Diógenes? 3h da manhã? — não sei por que, mas saber que está falando com um homem me deixou bem incomodado, ainda mais com alguém que tem esse nome.

Permaneci observando sua agitação e fiquei escutando. Pelo tom de voz, pode ser o marido. — grunhi devido a essa hipótese.

Desconhecendo minha irritação, permaneço como ouvinte.

— Estou bem! — Alisou os cabelos ao falar isso — Quer falar comigo, me ligue de manhã, tarde ou de noite, mas de madrugada nunca mais, sabe o que estou passando, tem noção de como estou agora?

Fiquei tão intrigado com suas palavras que não pensei em fechar os olhos e quando me encarou sua feição mudou.

— Me desculpa. — nem tive tempo de dizer que já estava acordado, ela saiu e fui tomado pela curiosidade.

Me coloquei de pé, calcei meus sapatos e peguei meu casaco para sair do quarto, porém, parei abruptamente quando ouvi sua voz do outro lado da porta.

— Não se mete nisso, a gente mal se conheceu — creio que esteja falando de mim —, Se ficamos 2 minutos na presença um do outro foi muito.

Colei meu ouvido na porta para ouvir melhor, pois sei que nem de longe é marido dela, caso contrário não mencionaria isso tão abertamente — ou iria?

— E outra, eu não fiquei chateada com ele, Lorenzo é um fofoqueiro e ainda fala as coisas errado.

Pode até não ser marido, contudo, é alguém bem próximo, com certeza. Fechei minha mão em punhos e soquei o ar tentando aliviar meus ciúmes irracionais.

— Pode deixar que na hora certa falo com ele. Com relação a vir à Itália, assim que acabar o congresso jantará lá em casa, por enquanto só tenho uma cama bem grande… — ela soltou um risinho ao falar isso.

Acho que essa conversa não deveria estar sendo ouvida, de certo modo, saber que é tão íntima de outro homem está me incomodando muito.

— Que merda! — murmurei bem baixinho — O que está acontecendo comigo?

— Também estou com saudades, sabe que é o meu melhor amigo Diógenes — voltei a colar meu ouvido na porta —, Se não fosse você estava perdida quando tudo aconteceu.

— Porra! O que aconteceu? — murmurei para não ser percebido.

Me escorei na porta para ter mais detalhes e me peguei sorrindo por ter ouvido a palavra amigo. Não gosto desse nome, já bati em um filho da puta chamado Diógenes e acho que é por isso que estou tão incomodado.

— Para de reclamar, não conheço ninguém aqui e ainda estou tentando me enturmar, preciso fazer amigos.

— Penso que devo me aproximar dela. Bom, Lorenzo pediu isso, certo? — balbuciei — Farei para deixá-lo feliz.

— Tem! Aqui é um grande hospital escola, minhas novas residentes são bem tranquilas, já gostei muito de uma, não são como as que você me arrumava! — matei a charada é o antigo chefe dela — Outra coisa bem legal, Lorenzo tem como chefe de setores somente 3 homens, o resto é tudo mulher.

Ela ficou muda ouvindo o que sei lá quem está falando. — Odeio ficar no escuro.

— Sim, são separados dos residentes, então dar para dormir e não ficar ouvindo as fofocas das suas futuras médicas.

Pelo risinho, talvez ela tenha uma paixão por ele, só pode, ninguém grita com o chefe assim… — cobri a boca para abafar meu riso devido minha hipocrisia.

— No meu caso, Lorenzo não me enche os olhos e sempre que posso dou uns gritos com ele, já que tenho um segredinho seu guardado.

— Beijos, tenho que dar uma olhada nos meus pacientes e quando chegar em Florença me liga para marcarmos algo, faz tanto tempo que não bebo, preciso relaxar. — ficou em silêncio me deixando curioso — Talvez a sua vinda me dê um momento de lazer, já que estou tão próxima dele.

Alisei minha barba enquanto um ponto de interrogação do tamanho de Florença dá uma porrada na minha cabeça.

Quem será esse “Ele” que ela está falando?

— Você também, beijos. — ela se despediu.

Sai de perto da porta e fui para o banheiro, porque não queria ser pego ouvindo sua conversa.

— Bem, vou tentar me aproximar, assim ela não ficará sozinha. — falei para meu reflexo no espelho — Ainda não sei o porquê desse interesse nessa mulher, como ela mesmo disse… não ficamos nem dois minutos juntos.

Voltei a me deitar e quando estava cochilando tivemos um chamado. Uma briga de família resultou em um corte na cabeça, facada no peito e uma perna quebrada, dando trabalho para mim, Valéria e a Vega.

O meu atendimento foi rápido e nem precisou de cirurgia, já as duas sim e fiquei andando pelo hospital fazendo hora, visto que levarei a Val em casa.

Como estava tudo em ordem, meus pés me levaram até a sala cirúrgica da Vega e fiquei assistindo-a trabalhar.

— Ela tem pontos perfeitos. — declarei admirando-a dando os últimos no coração do rapaz — Deve estar bem cansada, quase 7h de cirurgia de emergência.

Me coloquei de pé e fui esperá-la na saída. Estava tão exausta que nem tive tempo de segurar seu corpo e a coitada foi direto de cara no chão.

— Caramba, Vega! — ignorei ela falando de si na terceira pessoa e me adiantei para suspender seu corpo do chão — Ai!

— Se machucou? — perguntei preocupado e disse que não.

Por estarmos bem perto, acredito que a deixei sem jeito, dado que sua face ficou corada.

— Vem, vamos tomar um café. — convidei e fiquei feliz por não recusar.

Chegamos no refeitório e me ofereci para buscar o que desejasse, já que seu cansaço é bem visível.

— Puro ou pingado?

— Puro e sem açúcar.

— Senta aí, vou pegar para gente.

— Obrigada. — ainda não sei o porquê dessa minha vontade de cuidar dela, entretanto, veremos no que dá.

Quando voltei, estava de olhos fechados e pude focar nos seus traços faciais.

Vega é linda, de expressão bem marcante. Lábios muito bem esculpidos, nariz fino e sobrancelhas grossas que deixam seus olhos castanhos ainda mais chamativos. Seus cabelos negros são longos e mal se aguentam em um coque que nem de longe está firme.

Senti uma leve excitação só por imaginá-la de quatro, comigo empurrando firme enquanto seguro seus lindos cabelos lisos em minha mão. — Merda! — grunhi e isso me anunciou.

— Obrigada. — agradeceu no momento em que lhe entreguei o copo.

Meu coração acelerou quando me deu um sorriso, que é tão cativante que ficaria horas admirando.

Assim que me sentei a convite dela, iniciamos uma conversa bem agradável, mas acho que meti os pés pelas mãos e quando dei por mim já estava sozinho.

Fiquei muito incomodado com isso e tentando achar o motivo pelo qual fui abandonado, refiz nossa breve conversa na cabeça uma ou duas vezes me tirando do ar que nem reparei Penélope se aproximando.

— Bom dia! Dr. Mattiazzo. — direcionei minha atenção para seu rosto.

— Bom dia, tem alguma novidade da Dolores? — se juntou a mim na pequena mesa, sentando-se quase ao meu lado e me mostrou o prontuário — Bom, pelo avanço, logo, logo irá para casa.

— Sim, você é magnífico. — me coloquei de pé — Espera, deixe-me lhe pagar um café.

— Acabei de tomar um, com licença, tenho que ir.

Decidido a fugir dessa mulher, segui as pressas para o dormitório e lá estava ela pegando suas coisas, quando se virou ficamos tão próximos que vi com nitidez o porquê da Val gostar tanto dessa boca.

— Com licença! — sorri para sua voz baixa, antes de deixá-la passar.

Ela fechou a porta e fiquei rindo feito um idiota.

— Prevejo que será algo incontrolável, não ficar perto dessa mulher, se for casada ou tiver alguém tomarei no cu com isso, já que nunca aceitei um não como resposta e para piorar tem 24h que nos conhecemos!

Fui para meu armário e comecei a separar minhas roupas. O sorriso não deixou meu rosto, pois minha mente vem trabalhando tanta safadeza envolvendo a Dra. Diaz que é impossível não sorrir.

— O que está acontecendo comigo? — murmurei quando comecei a trocar de roupa

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