Lição 2 - O plano
O clima na Itália estava agradável o que contrastava com o clima em que o escritório do advogado da Helena Belinni estava. Helena encontrava-se sentada vestida de forma formal e elegante e sorria polidamente para o casal a sua frente. Ela já havia escolhido o seu sucessor, mas sabia que deveria controlá-lo de alguma forma depois que deixasse aquele mundo.
–O que acham? – ela perguntou ao ver a expressão de incredulidade no rosto deles. – querem aumentar o valor?
Antes que o homem respondesse, a sua esposa tomou a frente e indagou suavemente.
–Porque nós? Não lembro-me de conhecer a senhora e não me passa pela cabeça o motivo disto tudo.
–Eu entendo – sorriu ao fazer um sinal discreto para que o advogado saísse da sala deixando-a sozinha com o casal – Na verdade, eu conheci o Romeo quando era mais nova. Romeo foi um grande amigo. Ele me ajudou muito e eu apenas espero que vocês possam me ajudar em seu lugar.
–Romeo? Está falando de meu pai? – a mulher indagou pensativa. Ao ver Helena confirmar, ela suspirou – eu entendo que queira ajuda, mas não acha que está pedindo demais? Como posso entregar minha filha a alguém que não conheço apenas por uma divida de consciência que nem minha é? Percebes o quão ilógico é isto?
–Percebo e é por isso que lhe imploro. Não estou querendo pagar pela sua filha ou algo similar, apenas acredito que estaremos ajudando a ambos.
–Como esta loucura irá ajudar minha filha. Ela só tem 14 anos de idade.
–Eu sei, mas não quero que nada aconteça hoje ou amanha – sorriu sincera – só desejo que meu neto encontre alguém e seja feliz.
–E minha filha será isenta desta felicidade? Se ela se apaixonar amanhã, ficar noiva e querer se casar? Acha justo?
–Entendo a sua aflição e por isso gostaria de propor algo.
–Mais uma proposta? Saiba que só tenho uma filha. – tornou irônica. Ela ainda não conseguia entender o motivo de ter ido aquele escritório. Eles haviam recebido uma carta há uma semana convidando-os a comparecer ao escritório e por estarem precisando de dinheiro não haviam imaginado a ideia ruim, mas ela estava arrependida agora.
–A minha proposta é que saudarei as dividas que vocês possuem, pagarei os estudos de sua filha e o que mais precisarem. Ajudarei o seu marido a conseguir uma promoção na empresa que trabalha e só peço em troca o nome de sua filha. Apenas o nome dela caso o meu neto não se apaixone por ninguém ate a minha morte.
–Se eu fizer isso, vamos supor que ele não se apaixone por ninguém e continue casado. O que acontecerá?
–Nada – mentiu sorrindo – quero apenas que ele tenha medo e torne-se um homem de verdade.
–Isso não me soa bem – ela ponderou calmamente.
–Querida, não seja tola – o seu marido disse próximo ao seu ouvido – pense que todas as nossas preocupações irão embora. Só precisamos colocar o nome dela,não é nada demais. Pense que daqui a pouco tudo isto se tornará uma piada na nossa família.
A mulher olhou para ele sem saber o que pensar. As dividas deles apenas aumentavam, enquanto o dinheiro parecia sumir.
–Está me prometendo que minha filha não será obrigada a nada, correto?
–Com toda a certeza que não – disse sorrindo ao perceber que havia ganhado.
–Muito bem – disse após hesitar – nós aceitamos, mas deixando claro que não queremos que Emma seja obrigada a nada mais a frente.
–Tem a minha palavra.
Eles assentiram e não demorou para o advogado retornar para a sua sala e encontrar os três sorrindo. Ele mostrou o documento para o Sr e a Srª Sartorelli, explicou as clausulas e por fim olhou sorrindo levemente para Helena ao vê-los assinarem o papel.
–A partir de hoje, vocês são parte da família Belinni – Helena falou ao se levantar e estender a mão para eles.
***
Os pais de Emma saíram atônitos do escritório de advocacia. A mãe dela ainda não conseguia confiar em tudo que foi dito e muito menos na senhora que estava lá.
–Algo nesta historia não está bem – ela disse ao seu marido, o qual apenas sorriu. Para ele nada importava, pois suas dividas estariam pagas ainda naquela semana e logo teria um cargo melhor na empresa que trabalhava.
***
Emma abriu a porta de casa com um sorriso no rosto. Ela adorava ir às aulas de poesia a tarde onde podia divagar sobre sua paixão não correspondida e usar este sentimento a seu favor. Assim que avistou seus pais sentados na mesa percebeu haver algo errado. Ela colocou os livros sob o sofá e caminhou ate onde eles estavam.
–Papà, Mamma... – disse antes de beijar no rosto deles – aconteceu alguma coisa?
Giovanna, a mãe de Emma, tentou sorrir ao retirar um papel do envelope que estava em cima da mesa, sem sucesso. Ela ainda não se sentia segura. Algo lhe dizia que não deveria continuar com aquilo.
–Na verdade minha filha – Lorrenzo falou calmo ao pegar o papel das mãos de sua esposa – precisamos que assine isto aqui – colocou em frente a ela junto com uma caneta – não é nada demais, apenas... Uma formalidade para que... O nosso futuro seja garantido.
–O.. Nosso futuro? – Emma repetiu confusa – do que está falando Papà?
–Nada querida. Nada que precise se preocupar. Basta apenas assinar.
Emma olhou para o papel a sua frente, segurou a caneta e sorriu para o seu pai antes de colocar o seu nome no documento a sua frente sem saber o quanto aquilo mudaria a sua vida.
Giovanna engoliu em seco e clamou aos céus para que estivesse enganada e tudo ocorresse bem.
***
Na seguradora Felicità, o gerente geral encarregado da abertura de novas filiais no Brasil leu todos os relatórios sem acreditar nos problemas que o projeto estava encontrando. Ele releu todos, pontuando as questões mais relevantes de serem resolvidos e em seguida fez inúmeros telefonemas. Ele estava disposto a terminar aquilo ate o final do mês.
–Posso entrar? – uma voz masculina interrompeu a concentração de Raoul ao ler o segundo relatório.
Raoul ergueu a cabeça e deparou-se com o seu primo, Enzo.
–Algum problema no marketing? – Raoul perguntou sério ao ver Enzo entrar em sua sala e fechar a porta.
–Na verdade não –disse ao sentar-se em frente ao seu primo – quis vier apenas conversar. Sabe como é chato ficar em um escritório o dia todo, não é?
–Enzo, não tenho tempo para brincadeiras – Raoul tornou ao voltar a sua atenção para os relatórios – se está tão desocupado porque não vem me ajudar a ler estes relatórios?
–Sabes tão bem quanto eu que minha alma é de artista. Não sei porque fui fazer o desejo de nossa avó e trabalhar aqui – suspirou profundamente ao olhar em volta – esta empresa é ótima, mas não é para mim. Quero sentir o vento, quero ser livre.
–Então apenas saia da minha sala e deste edifício.
–Como se fosse fácil – resmungou – falando em fácil como vai a Raquel? Já resolveram assumir o romance?
Raoul parou o que estava lendo e olhou sem expressão para o homem sentado a sua frente. Ele sabia que havia muitos comentários sobre ele e Raquel, mas a ultima coisa que desejava era começar um relacionamento com ela.
–Creio que você está tão enganado quanto todos desta empresa. Sei que estão falando de mim, mas não tenho nenhuma intenção de namorar, casar ou qualquer coisa que não seja levá-la para a cama. Raquel é apenas mais uma com quem me divirto e nada alem disso.
–Como é frio – Enzo disse ao fazer uma careta – e ela sabe disso tão bem quanto você?
–Assim eu espero – comentou ao encará-lo por alguns segundos – não foi pra isso que veio, certo? O que houve?
Enzo fitou o seu primo sério durante instantes para rir em seguida.
–Não consigo esconder nada de você, não é?
–Ninguém consegue – disse calmo.
–Soube que a nossa avó já decidiu quem será o seu sucessor.
–E quem é? – Raoul indagou convencido de que ele seria o próximo na presidência da empresa.
–Ninguém sabe, parece que ela dirá apenas em seu testamento, o qual pode ser mudado a qualquer hora. Ela é mesmo uma mulher obstinada,não é?
–Eu diria que está mais para uma velha caduca.
Enzo deu de ombros ao escutar o comentário de seu primo, mas permaneceu na sala em silencio. “Ele está mesmo confiante” pensou.