Capítulo 5 - Érina
Engoli em seco, suspirei pesadamente sentindo o cheiro do sabonete que emanava de Dom. Que merda… Ele é mais jovem, teria ele a idade do Jhon? Quase não consegui me mexer quando baixei os olhos, vi ele colocar as mãos ao lado das minhas, segurar a pia com força e encostar a boca no meu ouvido. A respiração estava pesada, o ar de sua boca era quente e só não queria confundir solidão pra me foder com o cara errado… Já não era de hoje que tinha algo errado comigo.
— Gracinha — sussurrou —, tá molhada…?
— Cai fora, Dom. — evitei virar o rosto, respirei fundo e finquei os pés na realidade, mas ele riu. Meu nervosismo era real demais.
— Relaxa, gata… — falou baixinho, se forçou pra frente e eu tive que tirar as mãos da pia, colocar os braços entre eu e ele e virar o rosto, quase roçando os lábios do ruivo — “Cê” sabe que eu vou me fodder legal se sair comendo a gata da irmandade, não é?
— Para com essa graça. — minha voz estava mais que vacilante, não convencia nem a mim.
— Nem uma relaxadinha? — insistiu, maroto.
— Dom…
Quando menos esperei, levei uma merda de apertou no rosto. Dom segurou meu queixo, me fez levantar e eu fui obrigada a olhar em seus olhos, percebendo o quanto ele estava tenso e nervoso. Não me machucou, mas me pegou de surpresa.
— Sabe o quanto eu vou me foder se eu fazer isso? — segurei em seu pulso e senti a prensada apertar na minha barriga.
— Então não faz…
Ele me soltou, se afastou, colocou a mão na cintura e concordou, um tanto decepcionado. Ele não estava nem aí com a ponta da toalha pra frente, eu estava nervosa, não pensava direito, mas olhei pra ele quando ele resolveu quebrar o silêncio.
— Eu vou nessa, me liga se precisar de alguma coisa.
— Onde você vai? — perguntei sem entender.
— Você tem razão, é melhor não fazer. — respondeu sério — Vou só esfriar a cabeça, se é que me entende. Volto mais tarde, mais calmo e relaxado.
Eu suspirei, vi ele dar as costas, pegar suas roupas, entrar no banheiro e sair. Tão rápido quanto decidiu se afastar. Eu coloquei a mão no peito, senti as lágrimas querer aflorar e o maldito calor no meio das coxas. Se ele soubesse o quanto fiquei disposta a fazer, chegava a ser surreal. Só não valia a pena… O que eu ia fazer, gritar o nome do Iron quando ele estivesse lá dentro?
Quando me dei conta, caí no chão e gritei de raiva. Porque aquele filho da puta maldito não tinha o direito de morrer e agora eu estava aqui, aflorada, com a maldita sensação de culpa enquanto ele dormia a sete palmos do chão!
— Você não podia ter feito eu me apaixonar tanto, pra depois me deixar! — falei pra mim mesma.
[...]
Eu abri os olhos no meio da noite, me enrolava na cama e tinha a certeza que escutava alguma coisa. Achei que podia ser um blefe da minha cabeça, virei pro lado, abracei o travesseiro e pedi que não fosse mais um daqueles sonhos em que eu estava revivendo meus dias com ele… Quando eu relaxei as palpebras, ouvi um barulho de noivo, parecia-se com sexo e eu acabei por me sentar e olhar a parede do quarto, refletida pela luz da lua, vinda da janela aberta. O vizinho estava mais animado dessa vez.Que saco, todo mundo resolveu trepar hoje, justo hoje!
Massageei a cabeça, joguei a coberta de lado e me levantei. Dom dormia que nem uma pedra, nunca me via ir ao banheiro quando estava roncando na sala, mas abri a porta devagar, querendo evitar um novo confronto. A surpresa foi quando descobri que não era o vizinho de parede que estava animado.
O sofá ficava de costas para a porta do banheiro e de frente para a televisão, o que me fazia ver que Dom estava transando com alguma chica vadia, mas eu não via o desgraçado, já que ela estava montada nele. De olhos fechados, ela sequer notou que eu estava lá, enquanto eu só via que o sem vergonha tinha mãos grandes e se enfiava debaixo da blusa justa da morena, enquanto ela gemia baixo.
— Oh, papi…!
Papi? Cerrei os olhos e fiquei me perguntando que merda essa “chica” estava pensando enquanto montava no sem vergonha. Papi? Ele está longe de ser um sugar daddy, minha filha… Na verdade, é um mercenário idota que tentou passar o piinto em mim mais cedo e agora estava com uma vaca dentro de casa!
— Relaxa o pai, relaxa… — a voz do meliante estava rouca, tensa e sem um pingo de vergonha da situação.
Por ele ter falado em inglês, a menina abriu os olhos e sorriu. Tesão gringo. Uma pena que eu estava lá e a dona arregalou os olhos, gritou e caiu pro lado na onda do susto, fazendo Dom gemer, enquanto eu já imaginava a saída brusca e o pau entortando. Me senti vingada, abri um sorriso, mas desfiz no momento em que o ruivo de barba feita apontou a cara pra cima, respirando com dificuldade e na maior cara de pau.
— O que você está fazendo, aí!?
— Eu ia fazer xixi, agora eu acho que vou vomitar… — resmunguei, lhe dando as costas enquanto a mulher começava a boquejar algo pra ele.
Eu não entendia o espanhol do jeito que tinha que entender ainda, mas entrei no banheiro, fechei a porta e grudei o ouvido na madeira da porta. O bate boca foi tenso, Dom enrolava bem a língua pra falar alguma coisa, a mulher parecia se sentir traída ou indignada, a discussão não parecia ter fim e eu já via a hora de algum vizinho vir reclamar do barulho. Resolvi sair, vi ela calar a boca, me olhar com raiva e sair batendo a porta, deixando de discutir qualquer que fosse o assunto com Dom.
Ele estava de peito nu, vestiu as calças correndo e se abaixou para mexer na barguilha, tomando cuidado para ficar de costas. Ouvi ele resmungar alguma coisa, mas eu apenas fingi que não estava nem aí pra situação e voltei pro quarto. Vi ele dar um passo largo, mas antes que pudesse se aproximar, fechei a porta.
— Espera, Érina, eu posso explicar! — sua voz atravessou a porta, chegando abafada em meus ouvidos.
— Não precisa, sua vida sexual é problema seu. A minha é problema meu. Eu só fui fazer xixi.
— Sua vida sexual é problema seu… quando foi que você teve tempo de transar? — ele parecia surpreso.
— Quem trabalha fora o dia inteiro é você. — revirei os olhos pra responder. Cretino!
— Você está grávida!
Que tipo de discussão tosca é essa que a gente estava tendo? Ele é um idiota, isso sim!
— Não era problema pra você mais cedo.
— É diferente…
— Não me faz abrir a porta pra te dar no meio cara. — suspirei, tentando entender porque ainda não fui deitar, tendo ignorado o assunto.
— Me desculpa, gracinha. — pediu, depois de um mísero silêncio — A gente não pode comer a irmandade, mas eu tô me acabando de estar aqui com você. Eu não consigo mais fazer nenhuma palhaçada pra amenizar o carallho da situação. Eu tô numa seca lazarenta e pensando demais no que não é meu. Sei lá, “cê” ficou sensível, precisou de mim e eu enfiei essa merda na cabeça…
Eu respirei fundo, tentei raciocinar e mordi os lábios.
— Esse é o problema Dom… — eu senti meu rosto queimar de novo, não consegui conter as lágrimas, mas fui firme pra não deixar ele perceber — Você tá aqui, estamos quebrados e fodiddos. Eu não vou dormir com você, nem que seja pra aliviar a droga da sua tensão, porque eu sei que a gente só tá assim, exatamente porque precisamos um do outro. Eu ainda vejo ele… Toda santa noite… Seria injusto, com nós dois.
— Eu sei. Eu também. — ficamos calados, acho que ele me ouviu chorar e esperou um pouco, até que finalmente cedeu — Boa noite, gracinha.
[...]
Eu colocava a água do café no fogo, já que aqui dispensamos o uso da cafeteira, nos adaptando a região. Quem usa isso por aqui é “chique”, eu já estava pegando o jeito de algumas coisas, tentava não pensar na noite passada e tinha ouvido o ronco de Dominic mais cedo. Nem percebi quando ele levantou, se não fosse pela sua voz repentina adentrar a cozinha.
— Estava pensando… — eu olhei para trás, segurava o coador na mão e o vi de shorts de dormir, peito nu e os cabelos lisos no topo da cabeça bagunçados de um jeito bonito — Eu vou embora.
Soltei o coador, imaginei eu nessa merda sozinha discutindo com os latinos, sem ninguém na casa, grávida e… Não! O choque daquelas palavras me pegaram como um raio repentino e eu não me senti nada bem com aquilo.
— Você não pode fazer isso… — murmurei sem piscar ou me mover.
— Você não vai ficar sozinha. — ele se encostou no espaldar da porta, cruzou os braços e pareceu pensar — A pegada do trampo é a mesma, o lugar não vai mudar. Eu vou estar de olho aos redores e o meu acordo com o Espano permanece. Tá de boas, eu não preciso ficar aqui.
Maldita gravidez… só tem esse motivo pra eu encher o olho de água quando eu devia sentar a mão naquele palhaço ruivo!
— Vai me deixar sozinha? — perguntei, sem acreditar.
— Eu não vou…
— Eu não consigo falar meia duzia de palavras na porra desse idioma, mal consigo sair sem me dar mal e a única amizade que eu fiz você detonou ela por causa desse seu acordo com o Espano! — quando eu vi eu já estava gritando, deixando a droga do coador cair no chão e o olhando com mais medo do que raiva — Esse não era o plano, Dom! Não era o combinado!
Ele passou as mãos pelo cabelo de um jeito nervoso, fez uma negativa e foi direto.
— Não, a porra do plano era pra ele estar aqui. Era pro Kane estar aqui. Era pra esse filho nascer com o pai do lado! — ele estava puto e alterando a voz — Mas não é assim, Érina. Você tem razão, a gente só está nessa porque estamos quebrados. — eu fiquei em silêncio, com os olhos vermelhos e marejado, não acreditando na porrra da minha má sorte — Eu vou embora, não vou quebrar a minha palavra. Fiz uma ligação ainda de noite, só me dá um tempo.
— Isso é porque eu vi você e aquela mulher ontem? — tentei deduzir que apenas afetei a privacidade dele.
— Esquece aquela merda, isso não tem nada haver. — ele fez uma negativa impaciente, mas quem estava no limite era eu.
— Então você não tem motivo pra ir embora. — falei com a voz trêmula.
— Eu liguei pros caras, não vou colar lá hoje. Só me dá um tempo e a gente vai se ajeitando. Não vai demorar pra eu desocupar a sala.
Eu nem pensei quando fiz isso, só parti pra cima. Eu estava nervosa, sentida, chorona e, principalmente, com medo. Quando vi eu já o culpava e tentava acertá- lo de uma forma desnecessária e louca, mas lutando por algo que só a minha cabeça entendia. Nem foddendo que ele ia fazer isso comigo!
— Você não está cumprindo a droga do acordo, você não vai fazer isso comigo Dom, não pode! Seu idiota, cretino maldito! Não vai me deixar assim!
— Erina, se acalma! — pediu, tentando me segurar — Espera, Érina! Se acalma! — Ele segurou meus pulsos, me imobilizou e me prendeu contra a parede, conseguindo me apertar. Logo eu era só um posso chorão, de beiço frouxo e boca arreganhada. — Te acalma, mulher! — pediu nervoso.
— Não me deixa sozinha, Dom , Não vai! — pedi, quando ele finalmente afrouxou o aperto e eu olhei pra cima, não me importando com a minha boca de xana usada ou a cena vergonhosa que eu cumpria — Eu não posso ficar nesse lugar sozinha, eu não consigo ficar nessa droga de lugar sozinha, eu…
— Eu já disse, você não vai ficar sozinha. — ele segurava meus pulsos, enquanto me olhava nos olhos — Para de chorar, gracinha. A gente pode resolver isso com mais calma. Não é tão ruim do jeito que pensa.
No segundo seguinte ele encostou a testa na minha, enfiou a mão em minha nuca e eu soltei os braços. Ele conseguiu respirar fundo, beijou minha testa e finalmente eu o abracei encostando minha cabeça no peito largo, tenso e rígido. Ninguém estava mais calmo, mas a gente conseguiu ao menos se ouvir.
— Eu preciso de você… — Levantei o rosto, senti ele mover os dedos por trás da minha nunca e engolir com dificuldade, fazendo o pomo de adão grosso subir e descer pela musculatura da garganta, olhando em meus olhos e muito pensativo. — Por favor… — Insisti — Eu preciso de você.
O mundo pareceu que parou de girar, ele estava me olhando com cuidado, minha respiração elevou uma dose, então ele começou a abaixar o rosto bem devagar. Eu olhei pro lábio fino envolto da barba ruiva, foquei no traço entreaberto e no que estava para acontecer, com as borboletas em minha barriga fazendo uma grande festa.
— Domm… — soltei, mais como um alerta pra mim do que pra ele.
— Deixa, Érina. — sussurrou, muito perto — Eu quero e muito. Deixa…
Eu só movi a cabeça, engoli em seco e ele o fez. Dom me beijou.