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Capítulo 6 - Iron

— Não vai levar a criatura? — perguntei.

— Não. — respondeu seca, enquanto já pegava a pequena bolsa e pendurava o fio de ouro no ombro.

— E porque não vai fazer essa porra? — segurei em seu braço, sem deixar que Sore desse um passo.

— Quanto tempo deu Iron? — ela puxou o braço, me olhou duro e eu sabia que ela estava segurando as lágrimas. — Mais de um ano? Dois? Uma eternidade? E você só me procurou porque tem uma mulher no seu buraco e precisa de uma babá! — Eu mantive o silêncio, já que Sore tem uma grande parcela de razão. — Não é pra você me procurar só quando precisa seu grande filho da puta, eu sou a sua irmã!

Ela acendeu um cigarro depois de uma eternidade me olhando. Sore nem imagina, mas ela tem razão. Ela é minha irmã. Esse é o principal motivo de eu não ir vê-la. Eu vejo o maldito sentimento de falha a cada vez que olho pra ela.

— Virgem. — respondeu depois de soltar a fumaça e eu fazer uma puta de uma cara feia.

— Puta merda… — resmunguei.

— Exatamente. Se já é complicado quando não é, imagina quando é. Enfim, eu adorei a garota, mas eu não trabalho sozinha. Ron não gosta de introduzir virgens, elas dão dinheiro no começo, e geralmente se matam depois. Então sem chance, nada de virgens no meu inferno.

Olha só, quem diria. A cadela da boca bonita tem o cabaço intacto. A entrada da felicidade ainda não recebeu nenhum visitante, e essa merda só fode com a minha cabeça, porque agora temos mais um caralho de empecilho.

— Porque teve que fazer um limpa no prédio?— perguntou Sore, curiosa.

— Estávamos no prédio terminando o trabalho, o cara nos viu e tentou fugir.

— Tem certeza que ela viu vocês? Porque ela parece convicta de que só te viu no elevador.

— Exatamente. Digamos que a garota só estava no lugar errado e na hora errada.

— Tudo bem, eu vou falar com Ron e ver o que consigo fazer. Mas, e quanto a você? — eu a olhei, me perguntando que porra ela está pensando. — Tem certeza de que quer que eu a leve?

— Com tanto que a tire daqui, o resto eu estou pouco me fodendo.

— Então prepare os bolsos. Se tem um jeito de convencer Ron a qualquer coisa, é abrindo os bolsos. Aquilo não é uma igreja e se quiser manter ela lá, vai ter que pagar.

— Dinheiro não é problema.

— Tudo bem, eu mando um aviso. Se eu conseguir convencer Ron, o resto pode deixar comigo.

Sore não disse adeus, apenas vestiu os óculos escuros e saiu pela grande porta desviando das latas. Uma limusine preta estava em sua espera, na qual ela entrou e logo passou a sumir de minha vista.

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Digamos que eu sou um filho da puta de muita sorte. Sorte o caralho. Estar no time escuro das coisas não é muito saudável, e acredite, tem concorrência. Uma dessas concorrências, às vezes, bate na porta de casa só pra me dar um “oi”. Foi o que aconteceu quando uma pilha de motos entrou no galpão, onde cada um sacou suas armas e atirou contra mim. Eu só tive tempo de me abaixar atrás do metal frio, me armar com o básico e esperar a chuva de chumbo diminuir.

Eles tinham que recarregar.

— Merda….

Me levantei do balcão, não errei um tiro dado por nenhuma das minhas mãos, mas o fiz até as balas acabar. Derrubei um filho da puta de uma moto, usei seu corpo como escudo e apaguei alguns outros enquanto caíam ao chão. Dom chegou no momento da festa, então limpar o resto foi fácil. No momento seguinte, o chão era um tapete negro de homens de uma outra irmandade. As malditas poças de sangue começaram a se formar, e já soltavam respingos a cada passo com as botas.

— Iron, sua irmã... — Dom iniciou, mas eu não esperei para ouvir o resto. Kane não estava com ele, então já imagino onde ela estava.

Nunca saí do ferro velho tão rápido. Sore não conseguiu ir tão longe, estava à beira da pista e no meio do nada. O corpo dela estava machucado, batido e o motorista morto. Ao menos ela ainda tinha vida.

— Ela ainda está viva. — informou Kane — Preciso que me ajude a colocar o corpo no banco de trás. Eu atei o que pude.

— Filho da puta! — gritei com raiva chutando a merda do carro, como se esse caralho fosse ajudar de alguma maneira.

— São os caras do Ethan? — perguntou Dom — Pareciam ser os fodidos dele.

Não muito longe, debaixo do sol quente, ainda foi possível ouvir mais gritos. Érina. Descobriram a garota nos fundos do galpão, só pra me deixar mais puto.

— Pode ir, ou vão dar fim na garota também. — Dom me deu um tapa no ombro, assim que conseguiram colocar Sore no banco de trás.

Eu olhei preocupado pra Sore, e, fodidamente irritado com a situação. Aquilo me fez sair com o carro tão rápido quanto eu pude e o instinto sanguinário subindo em minhas veias. Sejá lá quem for o caralho fodido que está fazendo essa merda, vai pagar com a porra da vida inútil. Uma pena eu não ter chegado mais rápido, pois a mulher não estava no sótão. Marcas de sangue à beira da escada mostravam que alguém já tinha se machucado, então ouvi o grito de novo.

O ferro velho é extenso, dependendo de onde estiver as coisas podem até fazer eco. Eu estava armado, procurando e com uma puta vontade fodida de puxar a porra do gatilho. Por sorte, não demorou muito pra eu encontrar o verme.

A mulher já estava com o corpo apoiado em uma merda de carro velho e enferrujado, já não tinha nada nas partes de baixo e o vagabundo fodido estava alisando as bolas, se preparando pra foder a mulher. Seus amigos seguravam seus braços e taparam sua boca. Agora, a garota não tinha mais como gritar.

— Se for boazinha, a gente te deixa viver.

E esse foi o primeiro que eu abri o peito e fiz o seu sangue jorrar pra frente em cima da mulher, antes dele enfiar qualquer merda nela. Com os outros dois, o embate foi fácil. No segundo eu também atirei, mas o terceiro. Eu precisava secar os punhos de tanto foder com a cara de um.

— Seus filhos da puta fodidos do caralho! — segurei o homem pelo pescoço e desci a mão com mais vontade do que gostaria de admitir.

Esmurrei, soquei e bati. O homem coseguiu me cortar de um jeito cego na tentativa de se proteger, eu me afastei, limpei o rosto e vi o homem quase agonizar no chão.

— A vagabunda era sua? Desculpa a gente não sabia… — murmurou quase morrendo. — Mentira. A gente sabia sim!

Peguei o fodido pelos ombros, gritei de raiva e bati o corpo contra o chão sujo, quebrando os ossos que não quebrei no murro. Eu só parei quando ouvi os gritos de horror saindo da garganta de Érina, encolhendo as pernas consigo e tapando a boca de medo.

— Ah meu Deus…! — chorou.

A camiseta estava inundada de sangue, as mãos e o rosto também. Eu respirava fundo tentando conter a raiva interna. A mulher se encolheu com a minha aproximação, e mesmo assim, enfiei os braços por baixo do corpo e peguei a criatura no colo.

Ela tremia, chorava e estava visivelmente em choque.

Eu tenho uma merda fodida de vida que não sei me dar com essas porras. Resolvo a coisa toda nos punhos e o que não dá pra resolver nisso, eu nem me envolvo. Esses caralhos psicológicos não é comigo. Então, é melhor eu não abrir a boca.

Ao invés de levá-la para os fundos do galpão, fui para trás da construção, abri a merda da porta e levei ela pra casa. Sim, casa. Porque cada um se enfia no buraco que quer. Só tem dois quartos simples, um banheiro decente, uma sala pequena, uma cozinha onde dá pra esquentar algo e uma porta com acesso ao galpão. Tem o que eu preciso ter.

Olhei pra moça encolhida no sofá, limpei o rosto com as costas da mão e me irritei ainda mais relembrando a cena onde eles quase conseguiram. Quase conseguiram foder com a mulher na força!

— Você gritou? — perguntei na raiva, mas ela não respondeu. — Eu perguntei se você gritou, porra!

Era automático, gritar e bater em alguma merda estourando o objeto no chão. Ela concordou. Balançou a cabeça incessantemente com o susto e aquilo me deixou ainda mais fodido.

— Que merda você tinha na porra da tua cabeça?

— Achei que eles eram policiais....

Encostei o rosto tão perto da mulher que quase me arrependi de ter feito essa merda. Fodido. Fodido de raiva.

— Brilhante dedução. Porque a porra da polícia não bate na porta, chega invadido um caralho de ferro velho no meio do nada pra brincar de tiro ao alvo comigo. Parabéns pela sua mente fodida.

Me afastei, vi a mulher ainda encolhida tampando as suas partes e lhe dei as costas.

— Eu… Eu… — murmurou soluçando.

— Tem roupa na porra do quarto. Me faz um puta favor e vai se tampar.

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— Dom? — perguntei ao telefone.

— Estou com Kane, no prédio. Por enquanto ela está bem. E a garota?

— Viva. —respondi.

Desliguei o telefone depois de puxar a terceira moto pra fora do galpão e liberar o espaço de trabalho. Trabalho temporário, uma espécie de se isolar fazendo alguma coisa enquanto “matamos” a merda tempo. Mas, mal cheguei em casa e já recebi visitas.

— O que vai fazer com os corpos? — olhei para trás e vi a mulher apoiada na beirada da porta.

As calças estavam visivelmente largas, mas aparentemente ela usou um cadarço para segurar a coisa na cintura. A camiseta também estava absurdamente grande, e, se olhasse um pouco mais, os seios estavam livres. Os pés, no chão. Os cabelos soltos, molhados e fodidamente cumpridos. É, a cadela é mais bonita ainda quando está limpa. Mesmo com essas tralhas de roupas.

— Queimar, limpar...

— Você faz isso sempre que mata alguém? — perguntou com cuidado.

— Não.

— Então porque…

— Diminui as perguntas. — resmunguei pegando a última moto e a jogando para fora. — Entra na porra no carro, vou levar a donzela pra passear.

Eu ainda estava com raiva, mas o motivo disso eu não faço ideia. A adrenalina já havia passado, os caras já estavam mortos, mas eu estava fodidamente impaciente. Tinha alguma merda dentro de mim querendo estourar a porra toda, principalmente quando olhava pra ela.

— Obrigada. — foi sua voz baixa, sem me olhar direito e pisando devagar até chegar no carro.

— Banco da frente. — resmunguei ao vê-la ir direto para as portas de trás.

E sem questionar ela soltou a maçaneta, deu meia volta e entrou no passageiro. Eu acionei a trava, o portão automático desceu escondendo o zoneamento de corpos e eu entrei no carro.

Eu ainda estava sujo, fodido e os caralho à quatro. Mas, eu precisava ver minha irmã. Já que matei todo mundo, vou ter que investigar a coisa do zero. O problema, é que o encolhimento amedrontado de Érina só estava pilhando a porra da minha cabeça.

Foda-se essa merda. Quando Sore melhorar, vai levar ela junto e o problema não vai mais ser meu.

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