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08

AVA THOMPSON

Eu fiquei gélida, incrédula e petrificada. Sentia como se o sangue do meu rosto tivesse se esvaído ao ver que justamente aquele que por anos vem ocupando os meus pensamentos, o qual sonhava tanto em conhecer, estava ali parado feito uma estátua à minha frente. Uma sensação de alívio pairou sobre mim por alguns instantes.

Encaramo-nos por alguns segundos e o silêncio entre nós cresce ainda mais. Diante da calmaria que tomava conta do lugar, de repente, senti como se tivesse levado um tapa no rosto, me fazendo sair daquele estado de devaneio e aceitar a realidade à minha frente, fazendo um misto de sensações tomar conta de todo o meu ser. O alívio deu lugar à decepção, senti um bolo se formar em minha garganta e meu coração apertado dentro do peito Vincenzo Romano, o homem que até então era objeto de minha admiração e que poderia trazer conforto diante de tudo o que estou vivendo, estava ali para usufruir do meu corpo, já que pagou uma alta quantia como se eu fosse um objeto o qual ele usaria ao seu bel prazer.

Abri e fechei a boca, sem que saísse palavra alguma. Meu pânico era palpável, pois estava incrédula e me negava a acreditar que o homem íntegro, um protetor, capaz de fazer tudo para ajudar o próximo, na verdade, era alguém que compactuava de algo tão monstruoso em privar alguém de sua liberdade e usá-la como se fosse uma mercadoria. Sinto a raiva explodir dentro do meu peito ao lembrar de cada palavra dita por ele segundos atrás. Pude sentir novamente a minha saliva descendo garganta abaixo assim que o nó que estava preso nela se desfez, e não pude controlar as palavras que saíram de supetão.

- Você ainda tem coragem de me julgar? - digo furiosa, enquanto meus olhos ardiam com lágrimas não derramadas. E então prossigo - Não posso dizer que gostava de passar a tarde toda enfrentando um sol escaldante, que deixava minha pele sempre ardida, já que meu sonho era poder focar nos meus estudos. Mas, sabia que precisava fazer aquilo para que eu e minha irmã tivéssemos o que comer. Sempre amei o mundo da gastronomia e toda vez que você saía em alguma página da internet ou aparecia na TV, sentia uma sensação de paz a cada relato que lia de pessoas que foram ajudadas pelo grupo Romano. Eu sempre o via como alguém honesto, que nunca iria fazer parte de algo ilícito. Todavia, não é diferente daquele ser asqueroso e repugnante do Bernardo Carter, que me mantém aqui como se eu fosse sua propriedade.

Minha respiração estava alterada e as lágrimas contidas surgiram com força em meu rosto, molhando copiosamente minha face e fazendo-me soluçar involuntariamente. As feições dele mudaram e ele, que antes estava estático, deu alguns passos para trás, balançou a cabeça, descrente, e então se manifestou. Engulo em seco quando o som de sua voz reverbera no espaço, me deixando atordoada com sua pergunta.

- Te coagiram a vir para este lugar?

VINCENZO ROMANO

Quando entrei no quarto, fiquei olhando para a mais bela imagem à minha frente. Além de um corpo magnífico, seu rosto era a pura perfeição. Seus lábios eram rosados, bem moldados e estavam ligeiramente entreabertos. Seu rosto era de uma boneca de porcelana, exibindo olhos azuis brilhantes. E a maneira com que o cabelo negro como o ébano seguia o formato do seu rosto era o encaixe perfeito. Eu me vi observando-a em sua totalidade, e ao contrário do que senti no passado ao vê-la ainda adolescente, meus sentimentos estavam conturbados, eram muito mais intensos do que estão diante de alguém dona de uma beleza exuberante. Seu magnetismo me atraía de tal forma que, ao lembrar que em breve outro estaria no meu lugar, senti meus pulmões queimando como se estivessem em chamas e, movido pela raiva, as palavras escaparam como lâminas afiadas entre meus lábios. Porém, assim que livrei o meu rosto de sua prisão e ouvi as palavras que reverberaram no espaço, fiquei estupefato.

Pude ver seus olhos brilharem ao pronunciar o meu nome. Em meio ao silêncio, quando ela parecia estar travando um duelo interno, voltou a se manifestar e fiquei ainda mais desnorteado. Imediatamente, senti uma corrente de eletricidade percorrendo meu corpo, um ardor em minha pele, como se estivesse me queimando aos poucos. Minha respiração ficou acelerada, meu coração batia tão descompassado e, quando ouvi as palavras que não achei que fossem ditas por ela, fui tirado do estado catatônico em que me encontrava.

- Te coagiram a vir para este lugar? - indago, embora as evidências estivessem à minha frente, pois as suas lágrimas eram a confirmação.

- Sim, ou minha irmã sofreria as consequências.

Incrédulo, era dessa forma que estava me sentindo. Eu estava a julgando como se fosse dono da verdade. Seu corpo começou a tremer e o medo era evidente. Me aproximo, encurtando qualquer distância que nos separava, e levo uma de minhas mãos até o seu rosto, enxugando as suas lágrimas.

- Sente-se aqui e quero que me conte tudo que aconteceu. Saiba que eu jamais seria conivente com essa situação.

Ela se sentou na cama, acabei fazendo o mesmo, e nos minutos seguintes começou a contar tudo o que tinha acontecido até vir para este lugar. A cada palavra dita, um misto de sensações apoderou-se de todo o meu ser. Estava estarrecido com tamanha crueldade e, quando ela terminou de relatar tudo o que tinha acontecido, era como se as palavras do meu pai agora fizessem sentido. Algo dentro de mim mudou, um sentimento desconhecido e avassalador apoderou-se de todo o meu ser, e a única certeza que tinha era que a protegeria de qualquer forma.

Seguro firmemente uma de suas mãos e olho nos fundos dos seus olhos. Ganhando sua total atenção e sabendo que precisava agir, cravo meu olhar no seu e o som da minha voz reverbera no ar.

__ Você não precisa mais sentir medo, pois sairá comigo deste lugar assim como chegou. Chegou o momento de acabar com todo o esquema do crápula do Bernardo Carter.

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