05
AVA THOMPSON
Nunca em toda a minha vida havia sentido tanto medo. Quando aquele homem avançou em minha direção, eu pensei que seria o meu fim e, muito maior do que a dor que senti pelo golpe desferido em minha barriga, foi o pânico que me envolveu por completo.
Meu coração estava acelerado, meus lábios tremiam. Olhei aterrorizada quando ele citou o que faria com a minha irmã. As lágrimas sumiram sem a minha permissão e o medo cru e agudo me dominou.
Sempre fui uma sonhadora. Pensei que algum dia me casaria e me entregaria ao meu esposo por livre e espontânea vontade, e não que teria o meu corpo violado.
Quando ouvi novamente sua voz, minha respiração falhou. Porém, após proferir suas palavras ameaçadoras, ele caminhou em direção à porta, enquanto as lágrimas escorriam pela minha face e meu estômago espancado doía intensamente.
Meu corpo ficou imóvel e acabei perdendo a noção de tudo ao meu redor. Segundos que logo foram substituídos por minutos e minutos que pareceram uma eternidade. Não demorou muito e um de seus capangas retirou o objeto ao qual minha perna estava presa. Quando finalmente consegui me levantar, dei passos lentos em direção ao banheiro. Temendo que aquele monstro pudesse voltar, liguei o chuveiro e deixei que a água morna caísse sobre a minha pele. Assim que terminei, fui em busca de uma toalha. Com o banho já tomado e o tecido enrolado em volta do meu corpo, deixei o enorme cômodo que, por sinal, era muito luxuoso e bem maior do que o quarto onde dormia com Clara.
Assim que entrei no ambiente, havia roupas limpas em cima da cama. Aumentei o ritmo dos meus passos e, com os objetos em mãos, voltei para o banheiro e tratei de fechar a porta com a chave. Quando já estava arrumada e retornei para o quarto, a mulher que tinha visto mais cedo - aquela que não mentiu ao dizer que eu iria enfrentar o meu pior pesadelo - surgiu no ambiente.
- Trouxe sua comida, eu bem que te avisei.
Depois de colocar a bandeja em cima de uma das camas e dizer que aquela seria a minha, ela se moveu em direção à porta e a fechou, sumindo do meu campo de visão. Trancada como um animal. Olhei para a comida em cima da bandeja e deixei as lamentações de lado assim que meu estômago começou a se manifestar. Segui até a cama e comecei a comer.
Depois que terminei, fui até o banheiro e encontrei várias escovas de dentes e creme dental, ambos lacrados. Quando retornei, meus olhos passearam pelo ambiente ao meu redor. O quarto era gigantesco, com várias beliches. No entanto, por mais que aquele homem tenha me intimidado, eu não posso perder as esperanças. Aqueles dois se livraram de mim na primeira oportunidade e, depois de saber o quanto Amélia odiava a minha mãe, não posso deixar que minha irmã permaneça junto dela.
VINCENZO ROMANO
Depois de um dia cheio de reuniões, tudo o que eu queria era chegar em casa. Mas mudei de planos assim que recebi a ligação da minha mãe, informando que meu pai não havia passado bem esta tarde.
Para um homem que, desde a sua adolescência, sempre foi muito ativo e conquistou um grande império através do seu trabalho, isso acabou por deixá-lo em um estado depressivo quando sofreu um ataque cardíaco. Meses depois, quando já estava se recuperando, foi diagnosticado com uma infecção pulmonar. Foram dias tratando uma pneumonia que o deixou bastante debilitado e, mesmo com todo o tratamento, ele passou a fazer uso frequente de aparelhos respiratórios. Deixo os pensamentos de lado quando entro no quarto e ouço a voz da minha mãe se dirigindo a mim.
- Seu pai perguntou por você hoje cedo.
Olho para ele por alguns segundos e então pergunto.
- Há quanto tempo ele está dormindo?
- Há alguns minutos. Ele não irá acordar agora, acabou de tomar aquele medicamento que sempre o deixa sonolento.
Me aproximo da cama onde meu pai está, o mesmo dorme profundamente. Com os olhos fixos no homem à minha frente, as imagens da minha infância passam como flashes na minha mente. Embora vivesse cercado pelo trabalho, ele sempre reservava um tempo em seu dia para estar comigo. Seu maior sonho era ter seu primogênito, o sucessor que pudesse dar continuidade ao seu legado. Assim que minha mãe me relata como ele passou o dia, me despeço dela e, embora tenha uma bela cobertura em um dos prédios mais luxuosos de Nova York, decido que hoje ficarei aqui, assim estarei por perto quando ele acordar.
Uma hora depois...
Já havia tomado banho e minha mãe trouxe algo para eu comer antes de dormir. Agora me encontro deitado em cima da cama com a mente divagando. Os anos se passaram e, depois de tudo o que aconteceu, me tornei o CEO do grupo Romano antes do tempo que esperava. Meu pai ainda tem esperança de que eu me case logo, tanto que ele me entregou o anel que pertenceu à minha avó, a quem eu amava profundamente. Segundo ele, chegará o dia em que eu não conseguirei lutar contra um sentimento tão grandioso quanto o amor, e que, no momento em que encontrar a pessoa certa, algo dentro de mim mudará para sempre e farei de tudo para proteger aquela que se tornará a dona do meu coração.
Sorrio ao lembrar de suas palavras, pois isso é algo que jamais acontecerá. Desta forma, o anel que me foi entregue jamais sairá do lugar onde está guardado há anos.
Dias depois...
AVA THOMPSON
A angústia consumia meu corpo e minha mente. Minha cabeça estava pesada, pois seis dias se passaram e não consigo parar de pensar na minha irmã. A vida aqui não está sendo fácil, o que traz à minha mente lembranças do segundo dia aqui neste cativeiro.
Assim como aquele homem de coração gelado falou, me foi permitido sair do quarto durante o dia, para, assim como as outras, ajudar na limpeza do lugar. Quando segui pelo corredor ao lado da senhora Fiona, que é a responsável por todas as mulheres do lugar e se certificar de que a casa esteja em ordem, fiquei olhando para tudo ao meu redor, procurando alguma brecha para que eu pudesse escapar. No entanto, engoli em seco quando ela, que parecia ler meus pensamentos, disse que era bom eu esquecer o que estava pensando, pois o tal Bernardo nunca perdoa aqueles que o devem e, de alguma forma, se eu viesse a escapar, seus homens iriam atrás da minha irmã.
Depois de sentir o pânico novamente se espalhar pelo meu corpo, ultrapassamos a porta dupla de entrada, que era vermelha e tinha detalhes que pareciam ser banhados em ouro puro, dando um aspecto colossal e pomposo ao salão. Fiquei com os olhos arregalados e fixos no ambiente; aquilo era luxuoso demais para mim. Olhei para um lustre gigante, repleto de cristais coloridos, que iluminava o recinto. As paredes eram enfeitadas com pinturas que representavam a luxúria do lugar. Até o cheiro do ambiente exalava luxo.
Dezenas de mulheres circulavam em volta do hall e Abigail, que estava em cima de um palco, me lançou um olhar que dava a impressão de que não gostou nada da minha presença. Tudo ao meu redor era excessivamente luxuoso. Saí do estado estático em que me encontrava quando ela mandou que continuasse a andar. Assim que ela passou as instruções, comecei a ajudar as outras nos afazeres. Acabei fazendo amizade com Gina, que foi quem falou comigo logo quando acordei do que achava ser um pesadelo. Ela me contou um pouco da sua história, onde seu pai devia uma alta quantia ao senhor Carter e o mesmo havia falecido semanas atrás. Embora sua mãe tenha lutado com todas as suas forças e suplicado, ela acabou aceitando vir para que nada acontecesse à sua mãe. As lágrimas desciam pelo seu rosto e ela também disse que nem todas estavam aqui à força, porque foram coagidas. Abigail e seu grupinho vieram por livre e espontânea vontade, e por isso pareciam tão felizes ao viver neste lugar.
Minha rotina acabou se resumindo ao salão, onde tínhamos que deixar tudo brilhando, ir para o quarto e suportar as provocações de Abigail. Ontem acabei perdendo a paciência e acabamos nos atracando no meio do salão, foi quando Bernardo Carter chegou e, segundo ele, tínhamos contas a acertar assim que passasse o leilão.
Afasto as lembranças e meu olhar fica fixo no meu reflexo no espelho. Amanhã será o grande dia do meu maior tormento e, embora tenha jurado que sempre iria proteger a Clara, não irei suportar que um estranho venha a tomar posse do meu corpo sem a minha permissão.