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04

AVA THOMPSON

As lágrimas grossas transbordam pelo meu rosto e um peso esmagador tomou conta do meu coração ao pensar que Clara ainda está sob os domínios daqueles dois infelizes.

Minha cabeça continuava latejando e as palavras que ouvi de Amélia se reproduziam em minha mente como um mantra. Sempre busquei dar o meu melhor, até porque acreditava que eles só me tratavam daquela forma porque não era fácil cuidar de duas pessoas que nem eram suas filhas. Embora cansada por passar a tarde toda sob o sol escaldante, eu acordava cedo para preparar o café da manhã, arrumar a Clara para que juntas pudéssemos ir para a escola e sempre me esforcei para ter as melhores notas. Quando chegava o final de semana, acreditava que poderia descansar, no entanto, eles sempre diziam que precisávamos do dinheiro, então em vez de ir só na parte da tarde, eu trabalhava os dois turnos.

Acabei perdendo a noção do tempo que passou. Meus olhos já estavam ardendo de tanto chorar, o barulho de uma melodia ressoava no ambiente e, pelo visto, a pessoa a quem aquela mulher se referiu deve ter se convencido de que não poderia me obrigar a nada. Deixei as lamentações de lado e, que até então estava com a cabeça abaixada, assim que um estrondo se fez presente, levantei a minha cabeça para verificar o motivo de tal barulho. Meu coração parou de bater por alguns segundos, um desconforto subiu pela minha garganta e ela se fechou imediatamente, assim que meus olhos encararam o homem que estava com uma expressão aterrorizante no rosto. O maxilar estava rígido, suas pupilas dilatadas, as veias do pescoço estavam saltando e seus olhos avermelhados de ódio.

Alguns minutos antes...

BERNARDO CARTER

Meu carro percorre as ruas de Manhattan. Olho através do vidro da janela do carro e, assim como todos os dias, tenho a constatação de que as pessoas deste lugar parecem ter um formigueiro em casa, pois as ruas estão sempre com um enorme fluxo tanto de pedestres como de veículos. Há quase trinta anos, acabei abrindo as portas da Luxúria. No entanto, apesar de andar conforme as leis, isso de nada me serviu, já que não tive o retorno que esperava. Foi quando dei um novo rumo aos meus negócios. Além do tráfico de drogas, boa parte das mulheres que hoje contribuem para que esta seja a maior casa de luxo do país são maiores de idade. Algumas vieram pelo pagamento de alguma dívida, já que os malditos que tinham por pai ou responsáveis, com medo da morte, entregavam a própria filha ou sobrinha como forma de pagamento. Outras vieram pela ganância, por querer faturar uma boa quantia em um lugar onde o poder e a luxúria são predominantes.

- Chegamos, chefe!

O som da voz do meu motorista me arrancou dos meus devaneios. Instantes depois, saí do veículo e, pela quantidade de carros, a casa estava lotada. Em passos precisos, andei em direção à porta principal e já dava para ouvir o som vindo do ambiente, assim como alguns sussurros. Depois que passei pelas portas duplas, observei o cenário adiante.

O lugar parecia uma daquelas festas de carnaval que existem no Brasil. Os homens, por sua vez, estavam muito diferentes do habitual e totalmente entregues à luxúria, se esbaldando de bebidas e rodeados por mulheres. No entanto, mantinham a regra da casa, onde todos eles usavam uma máscara e só a retiravam quando se dirigiam aos quartos, assim mantendo suas identidades, já que somente eu sabia de fato quem eram. Meu olhar foi em direção a um grupinho em particular e logo avistei o milionário Alonso Miller, já que ele estava na mesa que sempre lhe foi destinada. Assim que estava indo ao seu encontro, a voz da mulher que surgiu em minha frente se fez presente.

- Boa noite, chefe. Temos um problema. A garota que trouxeram, a qual será leiloada, é bem diferente das outras. Linda, como já lhe foi informado, porém muito insolente. Acredito que desta vez teremos um grande problema...

Eu nem deixei que a mulher terminasse de concluir suas palavras. O sangue em minhas veias estava borbulhando, tamanho era a fúria que tomou conta do meu corpo. Passos rápidos foram dados e, como num piscar de olhos, parei em frente à porta. Com um movimento brusco, escancarei-a e, ao ver a imagem à minha frente, o calor intenso me envolveu por completo. Eu podia sentir que todo o meu rosto estava se contorcendo, meus olhos estavam queimando, flamejantes. Mas antes que eu tentasse fazer qualquer movimento, a infeliz que estava encolhida no chão levantou a cabeça e o que vi diante de mim me fez vibrar por dentro. E assim como falaram, a atrevida me renderia uma boa fortuna. Sua beleza era assombrosa, além de ter um corpo cheio de belas curvas.

Meus olhos escuros encontraram aquelas órbitas azul-brilhantes. O medo estava transparente em seu olhar, porém, assim que dei um passo à frente, a mulher de corpo frágil ficou de pé.

- Eu quero sair desse lugar - esbravejou a infeliz.

Avancei em sua direção como se fosse algo sobrenatural, meu punho encontrou sua barriga e ela cambaleou para trás enquanto gemia de dor.

- Agradeça por ter outros planos para você, ou faria um belo estrago nesse seu rosto. Daqui alguns dias, a sua virgindade será LEILOADA e você fará tudo que eu mandar.

Em meio à dor, a desgraçada se manteve firme e logo voltou a me encarar. Tossi algumas vezes devido ao golpe que levou, mas não se manteve quieta.

- Você pode me bater o quanto quiser ou me mate logo, nunca irei aceitar que meu corpo sirva de mercadoria.

No instante em que o som de sua voz repercutiu no espaço, um ódio descomunal me envolveu por completo. E, sem dar tempo de defesa, segurei firme seu pescoço.

- Fará tudo que eu lhe ordenar ou será a sua irmã que vai sofrer as consequências. Você não vai querer que aquela fedelha conheça o inferno em vida.

Aquele olhar desafiador desapareceu imediatamente, a mulher empalideceu e seus olhos se encheram de lágrimas. Num movimento brusco, a soltei e ela caiu feito um saco de batatas no chão. Enquanto as lágrimas rolavam pela face da maldita, meu corpo inteiro vibrava ao ver todo o seu sofrimento. Fracos como ela deixam que os inimigos vejam o seu medo, e isso se torna uma arma letal. Antes de deixar o ambiente, digo:

- Acho que já nos entendemos. Desta forma, não terá motivo para ficar presa.

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