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04

Me levantei depois de comer o suficiente para passar a manhã, fui ao banheiro do meu quarto para escovar os dentes, prender o meu cabelo num coque bem arrumado, colocar os meus tênis confortáveis, e depois de arrumar as coisas na bike, saí para os lugares que sempre encomendavam de mim...

Entrei na clínica de fisioterapia e disse:

__ Bom dia Rita e Fátima, hoje tem Bauru, pastel e bolo prestígio... Querem ficar com alguma coisa?

__ Oi Clara, bom dia... Eu quero provar esse bauru aí, a Fabiana comprou semana passada e disse que era delicioso, quanto é?

__ O pedaço é sete..

__ Vou querer então, espera que vou chamar as meninas...

__ Tudo bem. – entro na clínica e coloco a caixa térmica em cima da mesa. Tiro os recipientes e abro as tampas. O cheiro fica no ar e as meninas falam quando entram...

__ Que cheiro gostoso Clara, uau... Rebecca diz ao chegar mais perto, e pega um de cada. Todas as meninas da recepção compram hoje, e os doutores também, e só desse escritório eu saí com setenta reais.

Comecei bem o dia.

Até às dez e trinta, eu já tinha vendido tudo e consegui o valor de setecentos reais. Desse valor eu tiro cento e cinquenta para comprar as coisas pra fazer amanhã. E cento e cinquenta, é meu lucro e o resto vai para o Vitor. Já fiz um pix para a minha poupança e apaguei o histórico de transferência.

Como ainda está cedo pra ir para casa terminar as marmitas, então passei na oficina do Vitor para deixar o dinheiro com ele.

__ Vitor? – chamo na porta e ele vem me receber com um sorriso lindo, o mesmo pelo qual me apaixonei e o mesmo que ele usa quando quer algo de mim. Infelizmente aqui, eu ainda não sabia disso e sempre caía nas ladainhas dele.

__ Oi Clara. Entra... Quer ver as reformas?

__ Pode ser, eu tenho um tempinho...

Ele beija a minha boca de leve e logo se afasta. Infelizmente o meu coração é otário. Adora as migalhas que ele me oferece. Idiota!

__ Esse é o Caio, lembra dele?

__ Oi Caio, sim eu lembro é seu sócio né?

__ Sim, ele é...

__ Oi Clara, como você está?

__ Bem e você?

__ Estou ótimo... O Vitor disse que estamos comprando um elevador para os carros?

__ Ele disse sim, que bom que estão conseguindo manter a oficina... Tem bastante movimento aqui?

__ Ultimamente estava meio parado, mas agora que está mais novo por aqui, os clientes estão gostando do ambiente.

__ Que bom, fico feliz por vocês.

__ Graças as suas quentinhas Clara! – Vitor diz na frente do sócio e isso me surpreende, porque ele não me elogia na frente dos outros.

__ Nem é pra tanto. – digo um pouco tímida e com um sorriso estranho.

__ Capaz que não Clara, só o elevador vai custar pra nós dezesseis mil reais. E o Vitor deu quase todo o valor. Ele estava juntando para comprar à vista, mas aí a outra máquina estragou antes do tempo. E precisamos financiar o restante. Mas aí é por minha conta, as reformas, como pode ver, o Vitor que pagou tudo aqui, e ele me disse que era graças ao seu trabalho árduo. Então Obrigado... – e de novo isso me surpreende. Pra mim o Vitor não fala nada. Nunca me agradece e nem reconhece o meu esforço, mas parece que para os outros eu sou grande coisa. Não sei se fico triste ou feliz com isso. Afinal eu queria que ele me desse mais valor. Que ele me ajudasse em casa com as coisas. Que ele reconhecesse todo o meu trabalho entre nós dois e me elogiasse mais, fosse grato e quisesse pelo menos dividir a carga dos afazeres de casa e as crianças. Eu não peço muito, só queria isso!

Não quero ser elogiada pelos outros. Eu só queria reconhecimento dele.

Ele é o meu marido!

Como eu já disse antes, uma pessoa com dependência emocional de outra pessoa, vive de migalhas, e quando recebe acha que é muito... Ou o que merece!

No momento ainda sou dependente do Vitor. Mas queria do fundo do meu coração conseguir me libertar disso.

Quem sabe um dia!

Vi toda a oficina e realmente parece que o meu dinheiro está todo investido aqui, a reforma foi bem grande. Me lembro que quando o Vitor comprou o ponto aqui, era um lugar sujo e fedido. Máquinas velhas e era muito feio. Mas agora, consigo ver as máquinas novas, o chão tem um piso queimado até que bem limpo para uma oficina, a porta que antes era de ferro, agora é de alumínio e abre automático. Ficou bem legal o ponto. Até o banheiro está reformado.

__ Que legal, fico feliz que conseguiu arrumar aqui Vitor.

__ Que bom... Estava ansioso para que você viesse aqui conhecer a oficina nova. – ele diz sorrindo.

__ Sério?

__ Sim, Clara, porque está tão surpresa com o meu jeito? – ele pergunta me olhando atentamente, e vejo um olhar de reprovação, então cuido nas próximas palavras.

__ Não é nada, só que achei que foi repentino, eu não esperava isso de você! – ele pareceu surpreso com a minha resposta mas então falou:

__ Eu já te falei que nosso casamento só vai melhorar querida, você é a melhor esposa... – ele diz e aperta a minha mão com mais força do que realmente precisaria usar.

__ Obrigada! – digo e abaixo a minha cabeça, ele nunca falou assim comigo. E então sei que é apenas encenação na frente do sócio. E o aperto na minha mão, é para ficar alerta e cuidar no que dizer.

__ Agora que já viu tudo, o que veio fazer aqui Clara?

__ Ahhh, só trazer o dinheiro de hoje de manhã!

__ E cadê?

Peguei no meu bolso e ele tirou da minha mão com grosseria. Como sempre ele faz! Cuidem nesses detalhes, um simples detalhe faz a diferença em um relacionamento.

__ Só isso? – ele diz ao contar os quatrocentos.

__ Eu já tirei cento e cinquenta para comprar as coisas pra amanhã.

__ Só fez quinhentos e cinquenta hoje?

__ Sim, algumas pessoas pegaram pra pagar no final da semana. – minto na cara dura, porque sei que ele vai esquecer.

__ Cuida no fiado, depois eles não pagam.

__ Eles são certinhos. Fica tranquilo.

__ Tá bom, se já viu e me deu o dinheiro, então já pode ir fazer as marmitas. – esse é o verdadeiro Vitor que já estou acostumada... Grosseiro e sem nenhum carinho na voz ao falar comigo.

__ Tudo bem. Tchau!

__ Vai com cuidado Clara. – ele diz quando o sócio se aproxima. Fingido! Como consegue ser tão cínico?

Pego a minha bicicleta e volto embora...

Quando chego em casa, abro a panela de pressão e tempero o feijão vermelho com cebola, alho, pimentão, tomate, bacon e calabresa. Fritei tudo e coloquei ali dentro pra engrossar o caldo.

Coloquei o arroz cozinhar, o brócolis, a beterraba. E na chaleira elétrica coloco a água ferver pra fazer o macarrão.

Eu tenho dois fornos, duas chaleiras elétricas, duas panelas de pressão de seis litros, panelas grandes, tudo em dobro. Além de me ajudar muito, posso fazer mais coisas ao mesmo tempo.

Coloquei o feijão das panelas de pressão, na panela gigante que cabe a quantidade que tem nas duas. Deixei engrossando o caldo em fogo baixo.

Peguei a carne temperada e coloquei nas panelas de pressão pra fritar um pouco.

Já estava a cebola, alho pimentão tudo picado, tomate e temperos. Inclusive a carne estava marinando nesse molho.

Fui adicionando aos poucos os temperos. E depois de fritar um pouco, coloquei orégano, cominho, pimenta do reino, páprica picante, e cebolinha verde, coloquei o tomate, água e fechei com a tampa...

Coloquei tudo isso cozinhar, e comecei a cortar o tomate e lavar os alfaces que estavam de molho no vinagre. Como já falei antes, eu sou rápida e ágil. Tudo que faço fica na quantidade exata. Não provo os alimentos mas sei que fica tudo na proporção certa de sal e tempero. Acho que deve ser o tempo que já trabalho com isso.

Desde os meus dezenove que faço as quentinhas e os doces e salgados. Mas antes disso eu ajudava a minha mãe, ela que me ensinou a cozinhar e ser prendada na cozinha. Sei fazer de tudo um pouco.

Já estava tirando o arroz do fogo, e coloquei o macarrão fazer. Hoje vai ser alho e óleo, mas não tenho espaguete, então vai ser penne. Vou colocar uma calabresa picadinha também... Como eu comprei no atacado, e só tinha aqueles pacotes gigantes de calabresa. Aproveitei que estava na promoção e comprei dois.

Estava tudo pronto depois de uma hora...

Comecei a montar as marmitas. Deu pra fazer 70 marmitas com as porções bem generosas.

Terminei de arrumar e fui colocando na bolsa térmica, igual aquelas de entregador de pizza.

Eu faço as camadas e coloco um papelão pra separar eles, para não acontecer de abrir os Marmitex...

Depois de tudo pronto, tomo um banho pra tirar o cheiro de alho e cebola das mãos e do cabelo. Coloco uma roupa limpa e cheirosa, deixo o prato do Vitor pronto no micro-ondas, porque ele vem em casa às 12:30 pra almoçar e dormir até às 14:00.

Peguei a mochila, coloquei nas costas e fui fazer as minhas entregas.

Todos os dias, eu passo pelas construtoras e todos os peões, pegam uma marmita e acerto depois com os donos da construtora.

Em cada uma que passei, ficou com 20 marmitas. Passei em quatro que já são meus clientes assíduos. Sobrou somente dez na bolsa então fui vender na fábrica de calçados que tem aqui perto.

Vendi todas e ainda não é nem 12:30. Não almocei antes, porque estava sem fome. Mas com todo esse trabalho eu fiquei com muita fome.

Mas primeiro preciso ir cobrar nos escritórios.

Fui em cada um e todos eles me pagaram o valor de 360,00... Mais a fábrica de calçado, foi 180,00. No total hoje consegui 1260,00 e desse valor, 210,00 é meu lucro que já vai pra minha conta. Esse é o aumento de 3,00 que fiz nas marmitas. E hoje ainda levei um pudim de leite e dei pra todos que compraram a marmita. Eu sempre faço um agrado. Às vezes é pudim, outras vezes coloco sagu, ou um creme belga, ou aqueles pudim de morango ou abacaxi, leite condensado e cocô que vem nas caixinhas, ou um mousse... Isso fideliza os clientes e recebo muitos elogios. Outro dia fiz um arroz de leite tão gostoso e coloquei no copinho... É perfeito. Eu amo agradar. Por isso eles pagam o aumento sem nem se queixar.

Cheguei em casa cheia de fome. Ainda bem que escondi a minha marmita no forno do fogão. Porque senão o Vitor come tudo. Ele é uma draga, e só pensa na barriga dele.

Cheguei e percebi que o Vitor já comeu, e como sempre, não é capaz de tirar o próprio prato da mesa. Acho que na cabeça dele, ele pensa que sou a mãe dele. Outro detalhe importante de se notar quando está namorando, se quer tudo nas mãos, ou se compara a mulher com a mãe. Desses corre, porque é golpe!

Tirei a mochila das costas e fui esquentar a minha comida no micro-ondas.

Lavei as mãos e o rosto que estavam pingando suor.

Me sentei depois de pegar o meu prato no micro-ondas e comecei a comer. E uau! Hoje estava divino... Não é porque foi eu quem fez, mas realmente estava delicioso. A carne estava desmanchando, o macarrão alho e óleo no ponto certo, o feijão delicioso, caldo grosso e bem temperado. O arroz soltinho e as saladas na medida certa. Mas o chan, está na farofa. Que delícia!! Hoje fiz uma farofa de bacon com banana branca. Ficou divina. Comi bem e fiquei muito satisfeita...

Espremi quatro laranjas e tomei um suco bem geladinho depois de comer....

Ahh e não posso esquecer do pudim, comi também.

Tudo estava muito saboroso.

Mas logo eu preciso ir trabalhar novamente, então começo a organização.

Limpo a cozinha rápido, normalmente eu já vou cozinhando e limpando pra não acumular serviço. E hoje não foi diferente, a cozinha não está tão suja, só as louças de agora e as panelas das marmitas que fiz antes.

Logo tudo já estava limpo.

Fui até a lavanderia e coloquei as roupas das crianças de molho.

Varri o chão e passei a bruxa onde estava mais sujo.

A casa é nova e os móveis são planejados, então tudo fica bonito e limpo quando termino.

Quando estou acabando de limpar a cozinha já é 13:00 e vejo o Vitor descendo às escadas...

__ Já acordou?

__ Sim, eu tinha algo pra acertar com você!

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