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CIÚMES? SERÁ?

Karen

Igor nos deu uma carona, contra minha vontade é claro, mas no fundo até que foi muito útil e tranquilo. Pois, se fossemos aguardar a condução demorariamos muitíssimo e ainda teríamos grandes aborrecimentos nos nossos compromissos.

A lanchonete onde a Mi trabalhava era muito mais próximo do que o colégio onde eu estudava. Então como podem imaginar fui "obrigada" a ficar um pouco mais de tempo com a companhia do Igor. Mas, até que não foi ruim, relembramos nossa infância juntos na comunidade, nossas brincadeiras na rua, bons tempos que infelizmente não voltam mais.

Mas, como sempre ouço a Mi dizer que não devemos dizer que os tempos que passamos foram os melhores, pois ainda não sabemos tudo o que o destino e Deus tem preparado para nós.

Conversamos tanto que nem sequer percebi que tínhamos chegado e estávamos bem em frente ao colégio. Depois de longos quatro anos estudando aqui, essa era a primeira vez que chegava por outro meio de transporte que não fosse a lata velha, toda surrada, enferrujada, cheia de goteiras e insetos do ônibus municipal.

Não é porque gosto de reclamar viu, mas todos os transportes públicos do nosso estado eram uma verdadeira vergonha e calamidade.

Ônibus, trens, BRT, metrô... Nada funcionava perfeitamente. E os governantes achavam que nos faziam um favor quando tentavam consertar alguns desses lixos.

Os ônibus quando dávamos sorte deles passarem, sempre estavam com pneus carecas, bancos soltos, ferragem totalmente desgastada ou enferrujada, e sem falar das goteiras e também dos insetos que muitas vezes insistiam em nos fazer companhia, entre elas estavam as blattodeas, as famosas baratas.

Mas, isso não era o pior de todos os problemas que nós cariocas passávamos todos os dias. Tinham os trêns que do nada paravam de funcionar pelo constante roubo de cabos e outras vezes os vagões eram depredados, ou as linhas férreas eram roubadas durante a madrugada. Fora os furtos né? Nem aliança ou crucifixo os filhos da mãe estavam aliviando.

Esse planeta estava de pernas para o ar. O bagulho desse mundo estava tão louco que amor ou respeito pelo próximo não existiam. A lei era outra, vivíamos numa verdadeira selva onde só os fortes venciam. O lema desse mundo era simples, quem não sabia dançar conforme a música nem deveria descer para o play.

Mas, graças ao meu Deus hoje era o meu último dia nesse lugar e com fé a partir de agora daria passos rumo a realizar o meu maior sonho que era entrar para universidade.

Me despedi do Igor e como sempre ele teve que mandar uma letra né? Se não fosse assim não seria o Igor velho de guerra.

- Entregue Karen! - disse parando o carro e descendo para abrir a minha porta

- Hum... gostei. Está educado agora hein!?

- Para de deboche que sempre te tratei na maior consideração, ao contrário de uns e outros que conheço por aí.

- AFF... Lá vem você novamente com esse papinho de quebra ossos pô?! Fui e obrigada pela força Igor! Te devo uma viu?!

Me despedia do Igor com um beijo no rosto e ouço uma voz repugnante que reconheceria até debaixo da terra.

- Hum Karen... Quem é esse gatinho? Não apresenta pras amigas não é?

A ridícula da Tessa se aproxima com suas marionetes e dá um sorrisinho ridículo pra cima do Igor. Não que aquilo me causasse nenhum sentimento de ciúmes ou algo parecido, porém conhecia muito bem essa garota e tudo o que era capaz de fazer para prejudicar alguém. Sempre gostei muito da amizade do Igor e por esse motivo não gostaria de vê-lo ao lado de um lixo como a Tessa.

- Viu só? Tu não me quer Karen, mas tem quem queira. Satisfação princesa. - disse beijando sua mão

- Prazer Tessa! - respondeu com um sorrisinho de lado

- Prazer só na cama delícia. Satisfação, Igor a seu dispôr.

- Já está na tua hora Igor, não acha não? - dizia nervosa

- Calma Karen! Agora que o negócio tá ficando bom pô. E aí mina tem namorado ou tá facinha pra um rolê? - Igor perguntava olhando pra mim na tentativa de me afrontar

- Estou solteira e você? - a safada respondia toda se querendo pra ele

- Tô na pista gata, o que passar pra mim é lucro.

- Agora preciso entrar mas, toma aqui o meu cartão e me liga pra gente sair um dia desses por aí para dar um "rolê".

- Suave princesa, pode ter certeza que vou te chamar pra um papinho no privado. Agora chega aqui e se despede direitinho pô!

O desgraçado do Igor puxou a nojenta da Tessa pela cintura e tascou um beijo naquela escrota bem na minha frente e de todo o colégio. Sem pensar duas vezes dei as costas e sinto ele me segurar pelo braço. Tentei soltar a mão, porém ele era muito mais forte e não pude evitar de ouvir suas asneiras.

- Tá assim porquê? Ciúmes? Fica assim não tu sabe que posso ser exclusivo teu só basta tu querer. E aí?

- Você é um escroto mesmo Igor. Foi só por esse motivo que insistiu tanto para me trazer aqui? Para terminar de estragar o meu dia nesse maldito lugar?

- Karen não é nada disso que você tá pensando. Está entendendo tudo errado como sempre pô.

- O que eu deveria entender? Que você me trouxe aqui somente pra se exibir pra essas patricinhas nojentas? Toma cuidado viu, porquê aquela dali só tem beleza por fora, porquê por dentro é mais negra do que aquele valão que tem próximo a entrada da comunidade. - dizia apontando com a cabeça pra safada da Tessa que ia caminhando toda sorridente

- Para de onda Karen. Te trouxe na maior boa vontade e sem nenhuma segunda intenção, só quis ajudar mesmo pô. Essa mina que ficou loucona quando viu o trafica aqui. Tu sabe bem como elas gostam de pagar de emocionadas pra nós. Não sabe?

Karen, Karen... - a inspetora chamava pelo meu nome

- Já estou indo. - disse dando passos em direção as escadas e sinto Igor segurar novamente o meu braço

- Que horas tu sai daqui?

- Hoje é o último dia e saiu umas duas da tarde. Mas, porquê tu quer saber?

- Vou passar aqui pra te buscar. Me espera heim.

- Sonha mais Igor! Tchau que já estou atrasada por sua culpa e de sua ideia de mostrar que é o garanhão da Kelson's.

- Pode dizer o que tu quiser, mas te espero aqui no horário da saída pra nós bater um lero responsa e definitivo. Ouviu Karen?

Sai caminhando até a entrada do colégio quando sou surpreendida por um puxão no meu braço e logo de imediato sinto minha mão arder depois de dar um tapa no rosto do Igor quando ele me roubou um beijo.

Sem dizer mais nada sai correndo entrando de uma só vez no colégio, ainda ofegante e surpresa pelo que havia acontecido entro na sala de aula e sento no meu lugar de sempre, a última carteira da coluna do lado direito da sala.

A maldita e safada da Tessa estava lá com seu grupo ridículo toda contente pagando de apaixonada por ter sido o café da manhã do safado do Igor.

O professor entrou e iniciou a última aula, além de fazer nossas inscrições para o ENEM, conversar sobre a formatura e por fim as considerações finais.

Confesso que estava atenta a tudo, porém não conseguia tirar da minha cabeça o beijo que o Igor me deu. Não é que àquele desgraçado beija bem?

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