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Kaila Evans
Fomos até o escritório de seu apartamento porque ele disse que é o lugar em que ele mais se senti a vontade, ao entrar percebi porque.
O escritório é cheio de livros e tem um espaço para pintura, li em seu ficheiro que ele gosta muito de pintar, ele se senta na sua cadeira de pintura um pouco longe de mim como deve ser e eu sento no sofá de frente para ele, pego o meu bloco de notas e a caneta e o encaro.
__ Kane, tens irmãos?- pergunto começando a escrever no meu caderno a data de hoje.
__ Sim tenho, dois- responde e concordo.
__ Como eles se chamam e como eles são?- pergunto e o vejo sorrir perdido em sua mente.
__ Fanel e Klaus, Klaus é o meu irmão gêmeo e sempre tivemos uma ligação especial, ele é muito estourado, sincero demais e leal. Fanel é luz, alegria e perversão, no bom e no mau sentido, ela é determinada e muito linda, ela é muito linda mesmo.
__ E como é a sua relação com eles?- pergunto e ele começa a batucar seus dedos em sua perna começando a ficar nervoso__ Eles te apoiaram quando vieste parar aqui.
__ Os outros especialistas nunca quiseram saber disso, porquê isso te interessa?- pergunta me encarando e quase desabo com o seu olhar intenso.
Kane é lindo demais e eu terei de ser bem forte todos os dias.
__ Porque sim, agora me responde- o respondo afrontosa e ele se cala.
__ Sempre tivemos uma boa relação, eu cuidava dos dois. Eles sempre iam atrás de problemas e papai sempre me dava a tarefa de cuidar deles e eu o fazia da melhor forma.
__ Então eras o irmão responsável?- pergunto e ele concorda__ Eu ainda sou a irmã que vai atrás de problemas, tens de ver minha irmã com raiva, ela fica tão vermelha.
__ Que tipo de problemas?- pergunta curioso e sorrio.
__ Do tipo de sempre escolher o homem errado e outras coisas- digo e ele sorri__ Mas não estamos aqui para falar sobre mim.
__ E quando podemos falar sobre ti?- pergunta me surpreendendo com sua pergunta e curiosidade.
Coitado, deve cansar ficar cinquenta anos falando só de ti e nunca saber como é a vida dos outros seres.
__ Quando terminarmos a nossa sessão- digo e ele consenti sem tirar os olhos de mim__ Agora me responde, seus irmãos te apoiaram quando te mandaram pra aqui?
__ Sim, os dois me apoiaram. Eles me conhecem como ninguém então não ficaram surpresos- responde me deixando em choque.
__ Não ficaram surpresos em qual dos acontecimentos?- pergunto tentando entender e ele me encara.
__ Nos dois, mas principalmente por ter matado as duas. Klaus sabia que eu podia o fazer assim que me viu indo embora cheio de ódio sem ainda ter me recuperado dos ferimentos, Fanel assim que viu como tratava elas, soube.
__ E como você as tratava?- pergunto e ele baixa a cabeça.
__ Eu respeitava as mulheres, venerava elas, mulheres para mim eram os seres mais lindos e puros que existem, tudo que acontecia nunca era culpa delas. Eu cuidava principalmente das mulheres da minha família, talvez pelo facto da minha mãe ser um anjo, um ser perfeito demais que eu cresci com esse pensamento de que todas as mulheres o eram. Mas aquelas duas, as minhas metade não passavam de réplicas de mulheres mal feitas, elas eram uma fraude e sujaram a visão que eu tinha sobre as mulheres- diz e paro de escrever sentindo seu olhar em mim, ele me olha e sorri__ E eu limpei essa sujidade.
__ Continue me falando de seus irmãos, como é o relacionamento de vocês agora?- pergunto e ele suspira.
__ Com Klaus é a mesma, não mudou em nada. Com Fanel não sei como estamos agora- responde e peço para ele explicar__ Ela desapareceu a um ano atrás e meu pai me deixou sair daqui para ir ajudar com as buscas, o facto é que praticamente não ajudei em nada, os remédios estavam fortes, eles me doparam demais para eu não causar problemas por lá, o facto é que não servia para nada, muito menos para a defender.
__ Soube dessa saída no ficheiro, me diga Kane, achas que ela zangou por não teres a protegido?- pergunto e ele nega baixando a cabeça.
__ Fanel nunca precisou de ninguém para a defender, eu sei que ela não me culpa. Ela não é assim- responde, voltando a ficar em silêncio por alguns minutos.__ Eu me culpo, meu dever como
um Vodmont é proteger minha família e eu não pude fazer isso com a minha própria irmã, eu me senti indigno de carregar o nome Vodmont.
__ Por isso que tiveste a crise e seu pai te mandou de volta?, foi ele que te encontrou?- pergunto apontando algumas coisas no meu caderno e ele não me responde__ Kane se não quiseres me responder está tudo bem, não és obrigado.
__ Não foi ele que me encontrou- sussurra e vejo uma lágrima escorrer pelo seu rosto quebrando meu coração__ Foi minha avó.
__ Kane- o chamo me sentindo extremante triste vendo a dor em seu rosto, ele parece estar revivendo o momento e outras lágrimas descem pelo seu rosto__ O olhar dela foi de uma dor extrema como se cada machucado que me causei eu tivesse feito nela, ela chorou como nunca a vi chorando, mas
mesmo assim foi forte e cuidou dos meus ferimentos em silêncio, eu só ouvia o barulho de suas lágrimas caindo e de seus soluços.
__ Kane- o chamo vendo ele perdido nas lembranças. Deixo meu caderno de notas e me aproximo dele.
Não penso em nenhum perigo, não penso em nada somente em parar com sua dor, em tirar ele daquela lembrança em sua mente que está acabando com ele.
Toco seu rosto e logo sua mão segura a minha me impedindo de continuar, seus olhos se focam nos meus e nos encaramos paralisados em observar o rosto um do outro, não estamos tão perto mais posso sentir sua respiração em minha face.
Seu toque em minha mão é firme mas não é forte, seu toque é quente e sua palma engole minha mão por completo.
__ Só me deixe limpar suas lágrimas- peço e ele não solta minha mão__ Prometo não passar dos limites.
Ele solta minha mão e lentamente levo novamente ao seu rosto e limpo suas lágrimas delicadamente com medo que meu toque acabe activando um dos seus traumas.
__ Que tipo de problemas arrumavas?- pergunta me olhando curioso.
__ Eu nuca fui muito conhecida na escola, mas meu cabelo chamava muita atenção, e eu era gordinha antes, gostava de um garoto muito lindo e um dia tomei coragem e contei a ele, ele espalhou para toda a escola e disse publicamente que nuca namoraria uma menina gorda e feia como eu, então eu soquei ele a frente de todo mundo, Bati nele com tanta raiva que tive que voltar para casa correndo porque ele
E sua turma me seguiam, enfim minha irmã resolveu tudo na conversa, como sempre- término de contar e ele me encara bem sério__ O que foi?
__ Vocês humanos, são estranhos e complicados- diz e me afasto dele sem entender.
__ O que há de estranho nisso?, adolescentes são estranhos e complicados em todas as espécies- digo e ele nega.
__ Não por isso- responde e o encaro vendo ele se levantar a minha frente e toca meu rosto__ Nem em mil mundos te consideraría feia.
Se afasta e sai do escritório me deixando sozinha, toco o lugar em que ele tocou e sorrio completamente besta.
__ O que é isso Kaila?, ele é seu paciente- digo a mim mesmo me chamando de volta a vida__ Pa.ci.en.te Kaila, proibido.
Pego meu bloco de notas ainda mexida com a nossa conversa e saio do escritório, vejo a porta de seu quarto fechada e imagino que ele esteja lá.
Como ele lida com toda essa solidão?
Passo pela porta de seu quarto e caminho até a saída, quando estou para sair vejo o prato que ele preparou e lembro do que ele me contou.
Saio de seu apartamento e vou até a secretaria dele que sorri para mim assim que me olha.
__ Fico feliz que tenha voltado bem Doutora- diz ainda me analisando.
__ Me passe o número da irmã que eu mesma a respondo- digo e ela concorda__ Sempre ficas aqui?
__ Não Doutora, sempre trocamos- responde e concordo__ Aqui está.
Pego o papel e coloco no bolso, me despeço dela e caminho até o elevador pensando se realmente devo fazer isso ou não.
Mas para ter certeza de seu prognóstico preciso ter uma observação de campo, algo real para ver se consigo compreender melhor sua mente.
Ele é um psicopata consciente e isso é perigoso até um certo ponto, mas é muito bom também.
Passo do meu escritório rapidamente e vou para casa, chegando em casa tomo um banho relaxante e o olhar de Kane não sai da minha mente.
Em nenhum dos mundos ele me acharia feia, porque me sinto bastante mais segura depois de ouvir isso dele?, de um homem que já teve várias em sua cama, de várias espécies diferentes.
Kane era viciado em sexo antes de ser sequestrado e no mundo deles o sexo é uma actividade que eles fazem para gastar a energia extrema que eles tem pelo poder que carregam, outros conseguem se controlar mas outros não, e Kane era um deles.
Ele conseguia controlar tudo ao seu redor, menos o seu apetite pelo sexo, o que significava um grande poder descontrolado, uma grande onda de energía que ele precisava retirar.
__ Eu preciso saber mais sobre ele- sussurro para mim mesma e saio do banho.
Visto um robe bem felpudo e fico descalça, vou até minha cozinha e retiro algo congelado para comer. Preparo tudo e me sento para comer observando o papel com o número da Irmã dele.
Fanel Vodmont
Eles tem nomes tão dominantes que parece retratarem quem eles são, para dar medo só de ouvir o nome.
Kane Vodmont, o nome é simples mas enigmático como ele, misterioso e confiante.
Suspiro terminando de comer e organizando meus pensamentos.
Esta claro que Kane esconde muita coisa, mas será que é algo que justifica suas ações?
O que pode justificar a morte de suas metades ou de um familiar?
Kane fez isso e nunca se defendeu e mesmo assim seus irmãos o apoiaram.
O apoiaram por Kane ser o irmão deles ou por saberem o motivo dele ter feito o que fez?
Será que eles sabem algo que mais ninguém sabe?
Decidida pego o papel com o número e caminho para a sala, me sento e pego meu telefone discando o número que chama umas três vezes antes de atenderem.
__ Quem é?- pergunta assim que atende e posso ouvir choro de bebês no fundo__ Amor faça eles calarem por favor.
__ Boa tarde, esse é o número de Fanel Vodmont?- pergunto e a minha fica em silêncio por um tempo.
__ Agora é Fanel Mort, quem é?- pergunta com a voz firme.
__ Me chamo Kaila Evans, sou a nova especialista que foi designada a cuidar de seu irmão Kane Vodmont.
__ Ele está bem?- pergunta preocupada e já não ouço nenhum barulho.
__ Ele está bem, liguei por causa da sua solicitação para o visitar- digo e sinto o nervosismo me tomar.
__ Sim, posso vir hoje mesmo se possível. É o aniversário dele não quero que ele passe sozinho- diz com a voz preocupada__ Hoje ainda é possível?
__ Infelizmente não, mas amanhã sim- digo e ouço um grito de felicidade vindo dela__ Mas preciso que tragas algo para ele.
__ Qualquer coisa é só falar- diz e sorrio feliz.