Capítulo IV - Detetive Oliveira Entra em Cena.
Bárbara acordou se sentindo preguiçosa, mas com um sorriso no rosto. Que loucura havia sido aquela noite, dois dias antes… Mas que loucura gostosa! Saiu sem dizer nem ao menos o seu nome. Sem se despedir, simplesmente deixou para trás aquele homem que permanecia um estranho… Um estranho com quem havia passado a noite e que não queria esquecer, no entanto, não sabia nada a respeito…
“Que bobagem! Essas coisas só acontecem em livros, ainda assim, por que não consigo parar de pensar nele?”
Pensava consigo mesma, enquanto preparava o seu café da manhã. Nada de café amargo naquela manhã, apenas um copo de suco de laranja cairia muito bem e uma fatia de bolo. Cumprimentou a amiga, que já estava terminando uma caneca de café com leite e torradas, e pôs-se a folhear o jornal. Sempre as mesmas coisas: escândalos de corrupção nunca resolvidos, o que aconteceria na novela das… Nunca assistia novelas, odiava ser obrigada a acompanhar qualquer coisa diariamente. Preferia filmes, não só assistia, como colecionava filmes dos mais diversos estilos e gêneros… Virou a página: atropelamentos, manifestações, assassinatos…
De repente, uma notícia chamou a sua atenção:
“CORPO DE HOMEM IDENTIFICADO COMO ROBERTO GUIMARÃES FILHO FOI ENCONTRADO ONTEM À NOITE EM TERRENO BALDIO NAS PROXIMIDADES DO ENGENHO NOVO. POLICIAL ENCARREGADO AFIRMA SUSPEITA DE LATROCÍNIO, MAS NÃO DESCARTA OUTRAS POSSIBILIDADES. NENHUM SUSPEITO…”
A fotografia exposta pelo jornal era do documento de identidade e, apesar da má qualidade da impressão, ela reconheceu o homem. Sim, com certeza era aquele mesmo homem que a havia ajudado a alcançar o ônibus a tempo… O seu olhar se perdeu nas lembranças daquele dia e ficou sem ar. Mostrou a fotografia para a amiga, era ele mesmo, e ela o havia tratado tão mal…
— Nossa, amiga, podia ter sido você!
— Também não é para tanto, Lívia. Só porque eu estive no mesmo ônibus que um homem que foi morto, não significa que eu poderia ser o alvo. Moramos no Rio de Janeiro e, ao que me parece, todo dia alguém é assassinado nesta cidade. Creio até que você mesma já deve ter se sentado ao lado de várias pessoas que acabaram mortas, apenas não ficou sabendo disso…
— Sim, concordo… — Disse Lívia finalmente, em tom de dúvida e então explodiu — No entanto, amiga, pelo menos você tem que admitir que teve uma espécie de premonição com aquele pesadelo que me contou, tipo Moisés na bíblia, não é?
— José! – Corrigiu Bárbara.
— Quem é José? — Perguntou Lívia, distraída com os seus próprios pensamentos.
— O decifrador de sonhos da bíblia, você citou Moisés, mas foi José… — Completava Bárbara pacientemente sua correção a Lívia, mas esta interrompeu a amiga, abanando as mãos:
— Tanto faz Moisés ou José… Escute, amiga, conte-me novamente o pesadelo que teve naquele dia, quero avaliar o mistério agora com esses novos dados.
— Hum, quer dizer agora que o meu pesadelo virou um mistério no mundo de Lívia? — Brincou Bárbara se sentindo divertida.
— Ai, Bárbara… Não seja assim! Conta, vai… Tintim por tintim!
— Ok, ok. Prepare-se! tan nan nan nan.
Deu uma risadinha antes de começar e teve como recompensa um muxoxo aborrecido de Lívia. Fechou os olhos para se concentrar na lembrança e começou:
— Eu estava caminhando por uma estrada escura e deserta, sentindo-me muito sozinha e apavorada, quando avistei uma belíssima casa. As luzes estavam acesas, então, bati, mas não ouvi nenhum ruído do lado de dentro. Aí, espiei pela janela. A sala estava vazia e parecia ser uma sala de jantar. A mesa estava posta como para um banquete, voltei para frente da casa e quando ia bater novamente a porta se abriu lentamente e uma mulher de costas para a porta mandou-me entrar:
“ Entre, Bárbara, essa será sua nova casa.”
Entrei e ela se virou para mim. O rosto dela era, na verdade, meu reflexo num espelho pendurado na parede. A casa era o portão de um cemitério, o espelho partiu-se e eu acordei. Pronto, acabou! Satisfeita?
— Sim, ou melhor, mais ou menos… Amiga, sei que você odeia esse assunto, mas, você não acha que esse pesadelo pode ter alguma coisa a ver com a Beatriz? — Perguntou Lívia observando a reação de Bárbara com cautela.
— Não! Agora tenho que ir, tchauzinho! — Levantou-se e saiu batendo a porta atrás de si.