Capítulo III - A Nova Professora
Ainda um pouco distante do seu objetivo, já ouvia os gritos e gargalhadas das crianças, seus futuros alunos. Bárbara adorava a sua profissão, cursar o magistério foi a realização de um sonho, sonho que compartilhava com a sua mãe:
“Se mamãe fosse viva, sentiria orgulho de mim.”
Entrou e cumprimentou o porteiro:
– Bom dia! Sou a nova professora do segundo ano fundamental, poderia me indicar a direção da sala dos professores?
— Bom dia, senhorita! — Respondeu o porteiro, olhando de cima a baixo a atraente mulher parada na frente dele. — Está um pouco atrasada, as crianças já estão nas salas. Siga pelo pátio até o fim, a sala dos professores é a primeira à direita. — Falava enquanto fechava o portão.
— Muito obrigada! — Respondeu se dirigindo para dentro do prédio.
Entrou na sala dos professores onde uma mulher idosa, aparentando uns oitenta anos, trajando um vestido cafona florido e óculos de grau a esperava:
– Deve ser a senhorita Bárbara, sou a diretora, pode chamar-me de Clarisse… Sim, sim, estava te esperando, não precisa se desculpar…
A diretora falava aos turbilhões.
– Não se preocupe com o atraso, sei que é nova na cidade, não deve estar acostumada com o trânsito local. Vou levá-la até sua sala, vai ter que se acostumar com as escadas… as crianças estão empolgadas esperando a nova professora. Devo lembrá-la que gostavam muito da antiga, senhora Lourdes… As crianças se apegam aos antigos professores e recebem os novos professores com desconfiança no início, mas tudo se ajeita… Uma pena se aposentar tão cedo, mas somos dinossauros, precisamos abrir caminho para sangue novo. Sim, a educação precisa de sangue novo e motivador! Em um ano também pretendo me aposentar. Venha, é por aqui
Entrou numa sala pequena, toda enfeitada com temas infantis e figuras folclóricas. Na sala de aula, umas trinta crianças tagarelavam, riam e ignoravam a presença da inspetora, que tentava de maneira enérgica, mas pouco eficiente, manter a sala em ordem enquanto a nova professora não chegava…
— Bom dia, crianças!
Essa é a nova professora, senhorita Bárbara, veio muito bem recomendada e tenho certeza que fará um excelente trabalho com vocês…
— Bom dia, tia Bárbara! — As crianças gritaram num coro um tanto desafinado, mas bastante empolgado.
— Bom dia, crianças! — Respondeu, sentindo-se mais uma vez em casa, como professores geralmente se sentem numa sala de aula.
Aparentemente o dia não seria tão ruim, o seu humor tinha se restabelecido ao avistar aqueles rostinhos curiosos diante da novidade do momento, cochichando uns com os outros:
“A tia nova é bonita, né? Parece até uma princesa.”
Depois de muito exercício de paciência, conhecendo e ouvindo algumas mães de alunos, Bárbara pensava em voltar logo para casa, relaxar e tomar uma xícara de café, “decente dessa vez”. Na saída da escola, recebeu um telefonema de Lívia. Depois dos cumprimentos de praxe, a insistência prevaleceu:
— Amiga, chega de ficar em casa, desde que você chegou ao Rio não fez nada. Hoje vamos nos divertir e você precisa conhecer gente nova… Nem vem, não adianta dizer que está cansada, estou aqui… Venha logo!
Desligou o celular. Bárbara conhecia bem a sua amiga, não adianta tentar argumentar, pensando bem até que seria bom se divertir um pouco, mudar de ares…
Lívia recebeu Bárbara com uma dose de Gabriela. A bebida doce e quente desceu por sua garganta como um tônico, deixando-a mais animada e alegre:
— E, aí, como foi o primeiro dia da professorinha?
— Ótimo, as crianças me receberam muito bem e…
Bárbara foi interrompida por sua amiga, que já havia bebido mais do que uma dose, quando se aproximaram de uma mesa onde dois rapazes estavam sentados.
— Que bom, que bom… agora esqueça o trabalho! — Lívia sorriu para os rapazes que se levantaram para cumprimentar Bárbara. — Deixe-me te apresentar a uns amigos. Esse é Alex, trabalha comigo na gráfica e esse aqui… Bem… (Deixando bem claro para a amiga, com o olhar, que estava interessada nele) esse é Mauro, mora no nosso prédio, acredita? Finalmente um vizinho interessante, não acha?
Sem esperar resposta, Lívia voltou a sua atenção para Mauro, que havia educadamente se levantado para cumprimentar a recém-chegada.
Depois dos devidos cumprimentos, a conversa fluía, o bar estava cheio e várias vezes vozes se alteravam para se fazerem entender. Bárbara fingia interesse e, vez por outra, fazia algum comentário divertido…No entanto sua mente não estava exatamente naquela mesa, mas sim no balcão à esquerda, onde um homem sentado sozinho, bebendo cerveja, parecia-lhe bem mais interessante.
Era um homem alto, moreno, de ombros largos, braços definidos, porte militar e rosto sério, como aqueles homens misteriosos dos livros de romance que costumava ler. Parecia preocupado com algo e olhava repetidamente para a porta de saída e para o relógio, como se tivesse que ir embora, mas por alguma razão, relutava em ir. Ele não a viu, parecia estar distante em pensamentos. Bárbara olhou em volta, Lívia e os rapazes alegremente conversando, então voltou os olhos para o homem desconhecido...
Decidiu ir até ele…
Pediu licença à Lívia e aos novos amigos, dizendo que ia ao banheiro. Lívia ofereceu
companhia, mas ela rejeitou veementemente:
— Não precisa, volto rapidinho!
Bárbara caminhou lentamente em direção ao homem, que agiu colmo se não percebesse. Parou atrás dele e sussurrou algo no seu ouvido. O homem pareceu surpreso com o que ouviu, olhou-a de cima a baixo, sem disfarçar, e sorriu. Levantou-se, tirou da carteira umas notas que jogou sobre o balcão, passou o braço pela delicada cintura da belíssima mulher e os dois saíram juntos do bar em direção ao estacionamento...