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CAPÍTULO 2

|KAYRA|

-Bom dia, minha querida flor Andy. Quais são as novidades para hoje?

Eu pergunto assim que encontro Andy, minha melhor amiga que também trabalha como enfermeira chefe no mesmo hospital que eu, rumo as portas de entrada que estão a apenas alguns metros de distância a nossa frente.

-Bom dia para você também, minha motoqueira fantasma favorita. Juro que você ainda vai chegar um dia de ambulância com a cara e o corpo todos esfolados do jeito que você anda naquela coisa.

Ela faz piada e nós rimos como duas malucas. Por mais que eu seja uma grande aventureira e adore a sensação de desafio que existe dentro de mim, contudo, no fundo não sou imprudente ou irresponsável para colocar a minha vida e a de outras pessoas no trânsito em perigo. Não é para mentir ou me gabar de nada que não seja real, mas sou uma ótima motorista que cumpre as leis de trânsito como qualquer motorista prudente é, ou que pelo menos deveria ser, é claro.

-Nós duas sabemos que a senhorita ama exagerar, dona Andy. Eu nem estava correndo tanto assim.

Me justifico com um rolar de olhos entediado e passo meu braço pelo seu para seguirmos juntas o restante do caminho que falta ser percorrido.

-É uma cara de pau mesmo, né doutora Pextton? Eu vi o exato momento em você entrou no estacionamento feito um foguete!

Ela dramatiza com os olhos arregalados fingindo pânico ao que eu ignoro sua bronca diária a qual já estou habituada, mas que ainda ouço sempre, em respeito ao longo tempo de amizade que temos, e por saber que sua crítica está baseada não como forma de opressão, mas sim de cuidado e carinho, como uma forma de proteção a melhor a amiga. Se fosse de outra forma, eu jamais perderia meu tempo de estar em sua presença, mas Andy Collins é um achado! Uma mulher sábia e sensível, muito preciosa para mim, que veio para colorir minha vida com sua amizade leal e sincera. Andy é como a irmã mais nova que perdi, mas que o destino me presenteou de novo.

-Além do mais, mesmo se eu não tivesse a visto montada naquela coisa, de longe eu saberia que você estava chegando porque o barulho do monstrinho é perceptível há quarteirões de distância por qualquer pessoa que tenha um bom par de ouvidos em perfeito funcionamento.

Ela brinca e eu estou prestes a retrucá-la com argumentos bem convincentes enquanto passamos pelo sensor de presença na entrada, porém um tumulto de pessoas e um grande barulho em plena a recepção, chama a atenção de nós duas para o movimento estranho, fora do que normalmente acontece em dias normais, e nós duas desviamos nossa trajetória rumo ao centro da confusão para saber o que está se passando ali.

Onde estão os seguranças desse hospital? Essa é uma instituição privada, a mais cara e renomada do país e sequer tem a droga de um segurança para apaziguar um simples tumulto? Era só o que me faltava! Ótima maneira de se começar o dia, penso comigo mesma.

-O que está havendo aqui?

Eu já chego perguntando e empurro algumas pessoas para trás do tumulto para poder ver a origem de tamanha desorganização e burburinho.

-Kay, deixa isso quieto. Esse não é o seu trabalho, por favor, vamos embora!

Preocupada, Andy segura meu braço quando também assim como eu se dá conta do motivo que está causando o problema. Ela sabe que não conseguirei ficar de braços cruzados vendo um homem rude e mal educado destratar uma funcionária bem diante do meu nariz. Collins conhece a amiga que tem e já imagina a confusão que irei aprontar se não me tirar daqui em segundos.Eu quero quebrar todos os dentes branquinhos da boca do idiota que grita e gesticula efusivamente com a recepcionista que está atrás do balcão, apenas realizando seu serviço como todos.

Mas... o cavalão acha que é exclusivo, o escolhido dos céus ou rei de Bullut para fazer exigências para cima da pobre mulher que nada pode fazer para resolver seu problema. Se ele tinha pressa que chegasse com maior antecedência, mas agora que está aqui, que aguarde como qualquer outro paciente a sua vez de ser atendido.

Independentemente do dinheiro que ele paga para o hospital, ele não é a bosta do rei do país para ser atendido imediatamente! Algumas pessoas realmente não sabem se colocar em seus devidos lugares, é o que penso ao assistir a cena a minha frente com sangue nos olhos e os punhos fechados de raiva. Então é preciso que alguém as ensine a se portarem como devem, é o que concluo seguindo na direção do homem que continua brigando com a mulher, e quando ele ergue a mão para o alto na intenção de agredi-la eu perco todo o restante de paciência que ainda possuo.

Agarro seu braço num movimento rápido e o puxo para trás, impedindo-o de executar a ação pretendida. Em seguida dou um chute na dobra de seus joelhos fazendo-o cair no chão. Ele vira o rosto transtornado ao ser pego de surpresa, e eu aproveito a oportunidade pra lhe desferir um soco no rosto com força. Ele grita de dor e eu o empurro para frente, permitindo-o se livrar das minhas mãos que estão sedentas para arrebentarem sua cara de fuinha prepotente e ensiná-lo uma boa lição.

-Nunca mais trate alguém dessa forma na minha frente ou da próxima vez quando vier a esse hospital, terá que marcar um horário com o cirurgião plástico, estamos entendidos?

Eu pergunto ameaçando-o lhe dar um chute e ele se encolhe ainda mais na tentativa de fugir do meu alcance. Idiota! Medo tem, mas vergonha na cara de ser agressivo com uma pessoa indefesa ele não parece ter.

Babaca.

-Tudo bem, tudo bem. Eu sinto muito...

-Tem que sentir mesmo, idiota! Você não é diferente de ninguém aqui, então faça o favor de pedir perdão para a pessoa que realmente merece, antes que eu lhe dê uma ajudinha do meu jeito favorito.

Eu o incentivo com uma sobrancelha arqueada em direção a moça, não aceitando qualquer desculpa esfarrapada que possa sair de sua boca.

-Me perdoe por ter gritado com a senhorita.

Ele diz com os olhos temerosos voltados para a recepcionista, que meneia a cabeça para cima e para baixo timidamente.

-Você aceita as desculpas desse idiota?

-Aceito, está tudo bem agora.

Ela responde a minha pergunta com um pequeno sorriso de gratidão no rosto o qual não é necessário. Não fiz mais do que minha obrigação como ser humano. Ela e nenhum outro funcionário desse hospital tem que passar por isso.

-Agora vai dar uma volta e depois de umas duas horas você retorna para resolver seja lá qual for o seu problema. Ande! Ande logo! Vamos, desapareça da minha frente porque você já conseguiu estragar meu humor cedo!

Eu rosno com o punho fechado em sua direção, e morrendo de medo, o homem some da minha vista tão rápido quanto um estalar de dedos.

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