Capítulo 1
Dante Pussent...
— Realmente não acredito que você me convenceu a vir parar nesse fim de mundo — disse Lorenzo exaltando seu desdém, enquanto sorvia um gole de vinho em uma pequena bodega à beira da estrada — ao menos o vinho deste lugar é delicioso.
— Dúvido que você vai reclamar tanto quando começar a foder as provincianas — proferi, virando minha caneca em um só gole — vamos embora, ainda temos 80 km de estrada à frente.
Conforme dirigia pela estrada de pedra, na minha esquerda eu via o mar e sentia a sua brisa bater em minha face. A direita, o perfume cítrico da plantação de videira exalava seu frescor em minhas narinas.
Eu nasci aqui.
Todas essas sensações deveriam ser recordações para mim, porém não são. Fui escorraçado desse lugar quando ainda era um bebê. Renegado, deixado de lado pela pessoa que mais deveria me amar, me proteger.
Estou voltando para acabar com um passado que não vivi, mas que me atormenta a cada dia. A única coisa que a Sandra minha madrasta me ensinou, é que podemos aliviar nossas frustrações nas outras pessoas. A diferença de mim para ela. É que irei descontar na pessoa certa, na que merece e não em um inocente, como aquele poço de vadia maldita, fez comigo ao longo dos anos.
Sentando ao meu lado, Lorenzo só fazia reclamar. O mandei várias vezes para o inferno, ou de volta para casa, sabendo que ele jamais iria, esse filho da puta só abre a boca para encher a porra do meu saco.
Mas é muito, muito amigo.
Em parte o entendo. O cara é baladeiro de noitada, e aqui nesta província sua vida social será arruinada. Lorenzo é o irmão que não tive, um amigo em que posso confiar minha vida.
Não que essa vida valha muito.
— Chegamos. — O aviso, para que ele saia da maneira despojada que se encontrava.
Lorenzo tira o assento da posição deitado e desce suas pernas do painel do carro. Ao abrir o vidro, escaneia o lugar com uma expressão séria.
— Chegamos?! — Lorenzo franze o cenho — Ou é feriado ou estamos em uma cidade fantasma. Cadê a população? Está de sacanagem com a minha cara não é meu irmão? Que porra de lugar é esse?
— Tem razão. Está tudo fechado e tão deserto para uma sexta feira. Que estranho!
Estacionei o veículo e desci do mesmo observando o local a minha volta. Uma praça com brinquedos e jardim bem cuidados. Algumas mesas feitas de alvenaria pintadas para jogos como xadrez e damas, típico lugar para velharada encostar a bunda. Em torno da praça, lojas comerciais todas fechadas, até mesmo uma padaria. Não havia merda alguma funcionando.
Ao fitar na direção do veículo, vejo Lorenzo do lado de fora do carro rodando com seu smartphone para o alto.
— O que houve?! — pergunto curioso.
— Sei lá. Algo estranho. Tenho sinal e consigo fazer ligação, mas não consigo acessar a internet. Queria pesquisar para saber se é feriado aqui — não aguentei e comecei a ri, fazendo Lorenzo emburrar sua feição — está rindo de que seu palhaço?
— Cara! Você está no cú do mundo e quer que sua internet funcione? — continuo a achar graça — Agradeça por ainda conseguir fazer um telefonema. Entra no carro ainda faltam 3 km para pousada, a sorte é que salvei as coordenadas, pois não teria ninguém para nos dar informações.
— Estou vendo que terei de ficar bêbado na porra desse lugar todos os dias. Sem farra, sem internet, — resmunga bravo — se duvidar sem xana.
— Deixa de ser escroto! É claro que tem mulher nesse lugar.
— Já estou até imaginando os "javalis do mato."
Lorenzo sempre foi o meu lado divertido. Ao lado desse meu irmão de alma, esquecia as surras que levei sem merecer, as ofensas que ouvi e os castigos que me assombram até hoje.
Não tem nada aberto nesta pocilga, volto para o veículo sob os resmungos de Lorenzo, buscando a paciência que não tenho para ouvi-lo reclamar, mas que valia a pena por tê-lo ao meu lado.
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Ao chegar na pousada estacionei o veículo na entrada. Não havia ninguém para abrir a garagem, já começa a foder por aí. Então sai do carro deixando Lorenzo para trás e entrei na pequena recepção em estilo colonial, a encontrando vazia.
— Mas que merda... o povo não trabalha neste lugar? — resmungo.
Observei em cima do balcão de madeira uma campainha, apertei e o som era estridente. Logo ouvi um barulho de descarga e me sai um homem todo apressado de dentro do banheiro recompondo a roupa.
— Graças a Deus! — junta as mãos como em uma reza — Lorenzo Baldorini?
— Não. O Lorenzo está dentro do carro. Eu sou Dante. Dante Pu..."cidade pequena, se digo meu nome em um rastro de pólvora saberão que sou o dono da maior vinícola do estado" Dante Baldorini. Sou primo do Lorenzo.
— Tudo bem senhor! Vou lhe dar o controle da garagem enquanto preparo as fichas de vocês. E já vou lá pegar as bagagens. — O homem falava com certa ansiedade.
— Só tem você trabalhando aqui?! — Pergunto querendo saber o motivo da cidade vazia.
— Hoje só senhor.
— Porque agradeceu quando cheguei?
— Pois só estava aguardando os senhores chegarem para sair.
Isso estava evidente.
— Sua saída tem a ver com a cidade toda deserta?
— Sim — o homem eriça as sobrancelhas — Vocês não vieram por causa da festa da uva?
— Festa da uva?! — ao menos uma boa notícia, pelo menos assim Lorenzo me enche menos o saco. — Não. Definitivamente não. Nem sabemos do que se trata.
— Agora está explicado porque chegaram tão tarde.
— Como assim tarde! Faltam 20 minutos para as 4 horas da tarde. A festa já vai acabar? — Esse lugar é a definição de decadente.
— Não. Essa festa dura a noite toda.
Certo. A cidade não é bem a definição de decadente, porém o coroa poderia ser mais direto e falar do que se trata.
— Então...? — abri os braços não entendendo a lógica do roceiro à minha frente.
— É que em 20 minutos as moças da cidade irão fazer o mosto. — o olhei com estranheza — É...Mosto, a base de preparo para o vinho.
— Eu sei o que é mosto — proferi de forma sarcástica — o que não sei é o que tem de especial mulheres jogando uvas em maquinário.
— Não. Não. Não. A tradição da festa é no modo antigo, que esmaguem as uvas com os pés! — o roceiro tem uma grande empolgação na voz, mas juro que não consigo entender a graça dessa merda.
[...]
Logo após pôr nossas bagagens nos quartos, o homem saiu em disparada para a tal festa da uva. Nada muito longe, o local ficava a dez minutos de caminhada dali. Lorenzo e eu estávamos famintos, já que não temos serviço de quarto, teríamos que ir até a tal festa para arranjar o que comer. Então resolvemos ir até lá.
— Agora tenho certeza que estou no cú do mundo, como você disse — relatou Lorenzo balançando a cabeça. — A cidade fica deserta para assistir um bando de mulheres com uma puta falta de higiene, encher de chulé e bactéria, a única porra que presta neste lugar. O vinho.
— Mas que merda! Quando é que você vai parar de reclamar?! — O Pergunto rindo. Ele apenas revirou os olhos, bufando sua impaciência.
As ruas da província são todas de paralelepípedo. Para andar de carro é uma merda, mas quando se faz uma caminhada é possível observar a paisagem bonita junto às casas coloniais. O lugar arborizado ajuda a harmonizar ainda mais a beleza do caminho. Mostrando que, apesar de ser no cú no mundo, a cidadezinha tem lá os seus encantos.
É. Eu gostaria de ter vivido aqui, esse lugar de tão lindo parece o pedaço do paraíso. Entretanto, fui condenado ao inferno.
O fado em nível alto, denúncia que estamos chegando na festa. Por mais que a celebração seja um aglomerado de italianos, a tradição das mulheres de produzir o mosto com os pés veio de Portugal. Por tanto, o som alto que atinge os nossos ouvidos e nos dá boas vindas ao local, é de origem portuguesa.
Esfomeado, Lorenzo já partiu para as barracas, que são muitas por sinal.
Filho da mãe esganado!
Foram só algumas horas sem comer! Porém ele parecia crianças vindo da Etiópia.
Por conta do meu pai, aprendi a amar a produção de vinhos. Nunca havia visto o mosto ser preparado com os pés, nós usamos os maquinários. Foi movido pela curiosidade que esqueci a fome e resolvi assistir pela primeira vez a cena.
O lugar estava cheio. Acompanhando a batida da música o público batia palmas e gritavam para incentivar as mulheres. Mais adiante, no centro do povo, um conjunto de tinas abrigava saltitantes as provincianas do local. Lorenzo vai descobrir que as "javalis do mato" são gostosas, maravilhosas e são capazes de deixar um homem fodidamente duro de imediato.
Olho ao meu redor, notando a quantidade de homens felizes batendo palmas. Bando de filhos da puta. Festa da uva é o caralho. A maioria dos homens no aglomerado de gente estão apenas observando as saias das mulheres pular, mostrar as coxas, a beirada gostosa da bunda e os seios quase saltar do decote. Elas no entanto pulam sorridentes, avermelhadas pelo sol e esquecendo o cansaço, graças ao incentivo da dedicada platéia masculina.
É um puta show de exibicionismo gratuito, isso sim.
Mesmo assim, resolvo observar, admirar o processo e as visões. Até focar em uma em específico. No meio de tanta beldade a Deusa delas.
Segurando as barras da saia curta, ela se chacoalha conforme os incentivos que recebia. O branco do vestido rodado recebia gotas de escarlate enquanto pulava, os longos fios negros se esvoaçam acompanhando o movimento. O quase pôr do sol lhe dá um tom rosado nas bochechas, junto à um sorriso de satisfação.
Para essa até meu saco bate palmas.
Quando percebo, é exatamente isso o que estou fazendo, batendo palmas para gostosa das coxas bonitas, imaginando a visão perfeita que seria se os seios escaparem do decote.
Sou um pervertido, igual ou pior do que os roceiros da Província.
Realmente. As mulheres desse lugar, ela em específico, tem o dom de fazer o meu pau gritar e latejar dentro da calça.
Não precisa de muito esforço para ver o resultado da saia pulando. A curva intrigante da calcinha fica exposta, mostrando um pedaço da bunda. Ela some e aparece a cada salto. Isso me faz lembrar que tem outra coisa querendo sumir e surgir nessa maravilha.
Se eu segurar naquela cintura fina e usar a minha força para estocar a gostosa saltitante na minha frente, com a excitação que estou?
Mato a mulher de tanto trepar.
Vai subir porra para cabeça e nem todo o vinho do mundo seria capaz de fazê-la ficar tão inconsciente.
Quero foder essa mulher! Contudo, meus pensamentos obscenos são interrompidos, pelo jeito expansivo de Lorenzo.
— Caralho irmão! Eu te amo — falou com total empolgação — aqui só tem gostosa e tudo no brilho.
— Já percebi. — proferi apontando para as tinas, mas a Deusa não estava mais lá — Perdi ela de vista!
— Perdeu quem Dante? — Lorenzo pergunta sem entender.
— Uma Deusa, gostosa pra caralho que estava ali na tina esmagando uvas.
— Esquenta não. Deusas é o que mais tem aqui. — proferiu de forma maliciosa, trincando os dentes para uma gostosa que passava por nós — ela sorriu irmão! Me dei bem — ele bate em meu peito e solta uma piscadela — Vou nessa, enquanto tu fica aí chupando o dedo, procurando a Deusa perdida. — Depois de me dar um tapinha nas costas ele vai atrás do "rabo de saia."
Acredito que seremos a sensação dessa província. Cidade pequena, todo mundo se conhece. Provavelmente Lorenzo e eu seremos novidades. Mulheres se sentem atraídas só em saber que somos de fora.
Pau novo na área!
Passado alguns minutos, explorando um pouco mais da localidade, tentando achar algo do meu agrado para degustar, vejo o objeto do meu desejo em uma barraca de Drinks. Sem me conter, me aproximo vendo ela dar uma nota ao atendente e bebericar o Drink, aguardando o que devia ser o troco. Quando chego bem perto o homem lhe entrega umas poucas moedas, antes que ela saia e suma novamente da minha vista, eu pergunto:
— É gostosa? — me olhou em um movimento rápido.
— Oi?! — exclamou sem entender.
— A bebida. É ou não é gostosa? — apontei para sua taça.
— Para mim uma delícia.— respondeu sorrindo.
"Ah! E que sorriso!"
— Vou querer uma igual a sua.
"Que porra que estou falando?!"
— É só pedir na barraca a sua direita — proferiu com um certo sarcasmo.
— Só que não sei o nome desse drink. Pode me ajudar? — Ela assente e sorri discreta.
— Juliano! — chamou a atenção do barman. — Faça um Bellini para o rapaz por favor. — ainda com o sorriso maroto no rosto — Bom. Acho que já posso ir. Espero que goste da bebida. Tchau! — acenou se virando.
— Espera! — A faço desistir de ir e ela se vira de maneira brusca fazendo seu cabelo e vestido sacolejar com o movimento. Isso foi lindamente sexy — Não agradeci, nem me apresentei.
— Tudo bem. — devo está agindo igual um idiota, pois ela continua a sorrir.
— Prazer, Dante Baldorini! — Me apresento esticando a mão em um cumprimento, mas antes que ela pudesse corresponder, o barman me entrega a bebida.
— Vou aguardar você provar o Bellini e depois irei.
— Não sem antes me dizer o seu nome. — falo enquanto provo um gole considerável da bebida doce e cítrica.
— Me chamo Luna — nome lindo igualmente a ela, além de ser gostosa ao extremo — Luna Taranto.
Engasgo com a bebida, ao ouvir o sobrenome da Deusa a minha frente.
Fodeu!
— Taranto?! É filha de Antonella Taranto? — pergunto surpreso.
— Não. Sou irmã dela — Respirei mais aliviado enquanto ela fazia um muxoxo.
— O que houve? — pergunto ao ver sumir de sua face o leve sorriso que mantinha em toda nossa conversa.
— É que já sei o que veio fazer aqui. Quando alguém de fora vem parar aqui neste fim de mundo e conhece a Antonella. É porque quer comprar a vinícola ou a fórmula do prosecco Gemelli. Não é isso?
— É, exatamente isso. — Ela mesmo está me dando a brecha para chegar até a vadia que me pariu. — Mas de antemão vou lhe avisar. Antonella não vende por preço algum nenhum dos dois.
A intenção era me aprofundar mais no papo, entretanto uma mulher um pouco mais velha que Luna e igualmente linda, chega de forma brusca, cochicha alguma coisa ao seu ouvido e a puxa pelo braço com ignorância, fazendo com que o drink derrame no vestido da moça.
A amiga dela o que tem de gostosa, tem de ignorante. A fim de saber quem é a outra mulher dirijo-me ao barman.
— Juliano é seu nome não é?
— Sim Senhor. Ao seu dispôr.
— Quem é aquela mulher que saiu arrastando a Luna?
— Ah sim! É a irmã dela Antonella Taranto.
— Não. Aquela não é Antonella Taranto — a mulher deve ser uns dez anos mais velha que eu. Aquela não é a puta que me pariu. Impossível. — existe outra Antonella Taranto na cidade?
— Não. Que eu saiba somente ela. — o homem ergue uma das sobrancelhas e põe na face uma expressão parecida como a de Luna — Veio a cidade atrás da fórmula do Gemelli?
— É o tal prosecco. Na verdade não. Eu vim atrás da vinícola Taranto inteira, mas adoraria experimentar o Gemelli, você tem aí?
— Tenho. Mas somente para fazer os drinks. Não o sirvo puro. Você pode experimentar na barraca dos Tarantos.
— Eles estão com uma barraca aqui. Que ótimo! Onde fica?
Muito prestativo, Juliano o barman me indicou a localidade, porém não poderia ir até lá tirar a limpo essa confusão. Tinha que encontrar o maníaco sexual do Lorenzo que parece uma cadela no cio. Ele é o cara certo para ir até a barraca dos Taranto investigar, minha cara já está queimada.