Capítulo 08
Theodora
Quando o sol começou a baixar, os convidados foram se retirando da área da piscina. Kaique tinha voltado para o meu lado há pouco tempo e eu não escondi minha chateação por ter sido abandonada.
— Melhore essa carinha, meu amor — ele disse, me fisgando pela cintura. — Você se saiu muito bem.
— Por onde andou? Achei que seu objetivo era conquistar o Sr. Servantes e tentar fechar o negócio com a empresa deles para ajudar seu pai.
— Sim, o objetivo era esse até eu colocar os olhos no Alejandro...
— Alejandro?
— Sim, o segurança bonitão deles. — Kaique deu uma desmunhecada, contudo logo se recompôs — Só de lembrar daqueles braços enormes empurrando contra a parede da garagem, me arrepio todinho.
— Me poupe dos detalhes! — arfei. — O seu problema, meu amigo, é que mesmo sendo gay você age igualzinho a todos os homens: pensam mais com a cabeça de baixo do que a de cima!
— E você precisa de uma boa foda — ele disse, me encarando daquele jeito cheio de desdém. — Deve estar juntando teia de aranha aí embaixo, Tessy.
— Fala baixo, sua louca — eu pedi, constrangida. — Você sabe que não é tão simples para mim…
— Olha amiga, você deu o azar de parar nas mãos de um homem muito incompetente na cama. E eu te entendo, seu ex era tão sem sal, arg!
— Ector era um rapaz decente.
— Decência não dá tesão, querida. Onde já se viu, continuar virgem depois de dois anos de namoro! Nem se você fosse feia eu entenderia. Gata, você pode ter quantos homens quiser!
— Eu não sou assim, Kaique.
— Se você falar que precisa sentir amor para trepar, vou dar na sua cara. — Revirou os olhos — Sexo sempre funcionou muito bem sem amor.
— Ah tá. — Eu não sabia o que responder então decidi fugir daquela conversa irritante — Vou me trocar. A minha irmã já entrou ali no vestiário e minha roupa está na mochila dela.
— Vai lá. Eu também vou tirar essa bermuda... outra vez... — A fala do meu amigo era cheia de malícia, me fazendo imaginar o segurança abaixando o short dele...credo, não queria pensar nisso.
Deixei ele sozinho, rindo da minha cara e entrei no vestiário ao lado da piscina. Era um cômodo grande com duas pias, banheiro e um chuveiro.
Escorada na pia estava Betina, se olhando no espelho enquanto aguardava o banheiro desocupar.
— Oi, você sabe se minha irmã é quem está no banheiro?
— Sim — ela respondeu. – Como ela chama mesmo? Tina?
— Lisa.
— Verdade. — Ela sorriu para mim — Muito lindo seu biquíni e você fica muito bem nele. O da sua irmã é também bastante...eu diria que bastante ousado.
— Ah, Lisa é muito despachada — eu ri, lembrando de como ela havia se enturmado rapidamente com a maioria das pessoas.
— Parece que a Dona Ofélia gostou bastante dela e o Cristian também.
— Sim, eu percebi. Aliás, seu biquíni é muito bonito também, de muito bom gosto. — Elogiei.
— Você gostou? — ela me perguntou, parecendo aliviada. — As garotas estavam todas tão sexy e eu percebi que estava muito recatada...
— Imagina! Eu queria ter vindo com algo assim, mas o Kaique insistiu... — Me calei subitamente, ao perceber que estava começando a falar demais.
— Vocês parecem ser um casal muito quente — ela disse, aproveitando o gancho. — Sempre que estão juntos ele está abraçando você, dando beijinhos...
— Bem...
Naquele momento, Lisa saiu do banheiro usando o vestido mais indecente que eu já tinha visto nela.
— Ah Bete, eles são dois tarados — Lisa foi dizendo, indo em direção ao espelho para passar o batom.
— Betina — a jovem loira corrigiu.
— Então Betina, eu não sei como o Kaique não a engravidou ainda de tanto que ele não se aguenta perto com ela. Quando dormem lá em casa é muito barulho no quarto da minha irmã. Parecem coelhos — Lisa disse, como se fosse algo corriqueiro e Betina ficou vermelha de vergonha.
— Lisa, para!
— Eu… eu acho que tem outro banheiro ali do lado. Assim você fica mais à vontade com a sua irmã, Theodora.
E saiu apressada antes que eu tivesse chance de dizer qualquer coisa.
Lisa caiu na gargalhada.
— Há! Você viu a cara dela? — E voltou a rir.
Eu olhei para minha irmã, furiosa.
— Caralho Lisa, porque você disse isso?
— Oras, o objetivo dessa história toda não é fazer o Kaique parecer um hétero top? Pelo menos agora a nora dos Servantes sabe que ele é realmente o Pica das Galáxias.
— Mas não precisava de tudo isso. Ela com certeza vai falar com o Robert... — De repente me lembrei de algo que chamou minha atenção — Você disse que ela é nora dos Servantes?
— Sim, é namorada ou noiva do irmão mais velho.
Eu sabia que eles tinham alguma relação, mas não imaginei algo tão sério. Não sei por que, mas fiquei muito decepcionada com aquela notícia, algo quebrou dentro de mim, eu sabia que na situação que eu fui apresentada para ele não poderia alimentar a ideia de tê-lo, todavia a imaginação tinha me levado para muitos lugares. Passei a última semana lembrando dele sempre antes de dormir deitada sozinha em minha cama, enquanto passava a mão levemente por meus seios, ficava imaginando como seria ter as mãos dele em mim..
Então me parecia errado fantasiar com um homem comprometido. Sei que não era casado, mas ainda assim não estava livre. Agora bastava saber se meu cérebro ia parar de criar histórias românticas com aquele homem.
Distraída com meus próprios pensamentos acabei não prestando atenção no que Lisa me falava.
— O quê? Desculpe, não ouvi.
— Eu disse que essa Betina não gosta de mim.
— Ah, qualé!
— É sério! Ela sempre erra meu nome de propósito, eu já percebi e por isso vou chamá-la de Bete toda vez que ela errar!
— Você é doida. A Betina foi gentil comigo desde o momento que a conheci naquela festa.
— Ah tá, ela é um amorzinho até se tocar que o homem dela não consegue parar de olhar pra sua bunda.
— Lisa!
— É verdade. E o Cristian também percebeu. Mais gente deve ter percebido que ele não para de te devorar com os olhos. Só a sonsa da Betina, que vive com a cabeça, não sei onde, é que parece alheia.
— Sério isso? O Cristian realmente pensou isso? – pergunto, preocupada.
— Não se preocupe irmãzinha, porque não notaram que você também parece bem atraída. Você disfarçou muito bem, mas eu sou sua irmã e sei que você também está caidinha por aquele gostosão.
— Que absurdo! É claro que não. Tá louca! — Neguei veementemente — Quanto você bebeu?
— Olha, maninha. — Lisa terminou de se maquiar e me olhou no fundo dos olhos — Em outra ocasião eu te aconselharia a cair de boca... literalmente! Esse Robert é um tremendo gostoso, te entendo! Mas ele está noivo... namorando… sei lá. Então não é certo.
— Vou me trocar. Você e o Kaique devem ter fumado maconha juntos, é a única explicação.
Lisa gargalhou novamente enquanto eu ia para o banheiro me trocar.
Algum tempo depois nos reunimos todos no belo salão de festas da mansão. Era um cômodo muito elegante, com algumas pinturas da própria Ofélia penduradas nas paredes, todas em tons ocre e marrom que combinavam entre si. Uma mesa de pedra próxima a um espelho gigante fora enfeitada com flores, docinhos e um bolo de tamanho singular. Confesso que achei o bolo meio pequeno pela quantidade de pessoas presentes, mesmo que uma parte tenha ido embora antes do entardecer, ainda éramos cerca de vinte cinco pessoas. Bem, gente chique deve só beliscar mesmo, pensei.
— Belo vestido — disse Robert, se aproximando de mim.
Corri o olho pelo meu vestido branco de um ombro só e com barra de renda cinco dedos acima dos joelhos.
— Obrigado, eu gosto desse vestido — sorri. Meus Deus, por que eu estava sorrindo tanto?
— Parece uma deusa grega, esse vestido e essa trança com fitas brancas...
— Mas será que existiam deusas negras na mitologia grega?
— A princesa Andrômeda era negra, mas os artistas acabaram a retratando como branca.
— Fizeram o mesmo com Jesus, não foi? Todas aquelas pinturas dele loiro de olhos azuis — comentei. — Gosto da história de Andrômeda. Aliás, é uma das minhas favoritas.
— Pois se Andrômeda se parecesse com você, conseguiria entender perfeitamente porque Perseu enfrentou o monstro Cetus.
— Então você seria o Perseu.
— Se Andrômeda fosse como você, com certeza sim.
Eu sorri, pois aquela era a cantada mais inventiva que recebi. Meu Deus, eu estava sorrindo como uma retardada e mesmo ciente estava difícil suprimir aquilo. Robert estava maravilhoso, no entanto eu preferi guardar minha opinião para mim. A camisa polo e a calça jeans davam a ele um ar descontraído e cativante. Mesmo sob o tecido grosso da roupa eu conseguia perceber os músculos bem definidos do peitoral. E ele tinha ombros largos. Descobri naquele instante que me sentia atraída por homens de ombros largos.
— Está me olhando de uma forma um tanto suspeita, Theodora. Gosta do que vê?
— Apenas observando que sua roupa é bonita.
— A roupa ou quem a veste?
"Os dois" gritei para mim mesma, porém não fiz menção de responder, apenas sorri de canto e desviei meu olhar.
Nesse momento, Lisa e Ofélia se aproximaram de nós.
— E vocês, sobre o que estão conversando? — Ofélia quis saber.
— Sobre mitologia, minha mãe — Robert disse, abraçando a mulher baixinha pelos ombros.
— A Tessy adora esses assuntos. Na verdade, gosta de tudo relacionado à arte — Lisa contou, se colocando ao meu lado. — Ela dança, pinta…
— Você também pinta? — O rosto de Ofélia se iluminou.
— Ela pinta muito bem — Lisa falou, orgulhosa.
— Minha irmã exagera. Eu só pinto panos de prato. Nem se compara!
— São panos de prato maravilhosos e você vendia bastante, lembra?
Tudo que eu queria era que minha irmã calasse a boca, mas Lisa era tão espontânea que achava que estava me enaltecendo. Pintar panos de pratos me fazia parecer uma senhorinha e também nem se comparava aos quadros de Ofélia que eram vendidos por um preço altíssimo.
— Não seja tão humilde. — Ofélia me encorajou — Seja pintando em telas ou num guardanapo, o que importa é a arte. Já pintei alguns guardanapos também para amigas.
— Tenho certeza de que elas adoraram.
— E o que achou dos meus quadros?
— São lindos. Eu adoro paisagens. Nunca fui muito fã do abstrato.
— Sabe que eu também não? — Ofélia pareceu achar o assunto interessante, contudo pareceu lembrar de algo importante — Ia até me esquecendo, viemos aqui porque já vamos cantar parabéns para o Cris. Vamos tirar uma foto da família antes, então venha, Rob.
— Com licença, Theodora e Lisa. — Se desculpou.
— Theodora, depois vou te mostrar meu ateliê. Não me deixe esquecer — a mulher disse antes de sair arrastando o filho em direção a Cristian.
E eu não conseguia fazer outra coisa além de seguir Robert com o olhar. Eu realmente estava atraída por ele de um jeito que nunca estive por homem algum.