Capítulo 07
Robert
Era dia do aniversário de Cristian, um evento criado por minha mãe em cima da hora. Cristian nunca foi de comemorar o próprio aniversário, todavia, como ele andava muito baixo astral, a ideia de uma festa pareceu ser positiva. E meu irmão caçula não poderia recusar já que, nossos pais estavam muito animados, como se a festa fosse deles. Depois de uma semana cansativa na empresa, repleta de reuniões inadiáveis, tudo o que eu mais queria era um final de semana tranquilo.
Ainda assim, fiquei incumbido de buscar Betina e depois o bolo e doces e ambas as tarefas me pareciam morosas. Betina demorou demais para se arrumar e o bolo foi encomendado em um lugar bem longe. Quando chegamos à casa do meu pai, confesso que já estava cansado.
Todo mundo parecia já ter chegado e poucos notaram nossa entrada. Betina logo se desvencilhou na minha mão e correu para meus pais, cobrindo—os de abraços enquanto eu tentava achar algum funcionário que poderia ir comigo ao carro buscar o tal bolo antes que ele se desfizesse no calor que fazia naquele dia.
— Não se preocupe, menino Rob, vou colocar o bolo na mesa do salão de festas. Foi feita uma linda decoração lá. Sabe como sua mãe gosta dessas coisas.
— Eu agradeço, Dona Marta.
— Você está de jeans ainda! Menino, vista uma bermuda e aproveite a festa. Ouvi seu pai falando que você anda trabalhando demais — Dona Marta me falou, eu não consegui contrariar aquela mulher tão querida. Ela era mais que uma funcionária, era especial para mim.
— Vou sim. E pegue uma bebida para você também, sei que adora a batida de frutas.
— Assim que possível eu dou uma fugida e pego uma bebida para mim. Não se preocupe comigo, menino. Agora vai que por aqui está tudo sob controle.
Estava andando para a área da piscina já trajando roupa de banho quando dei de encontro com um corpo magro e esguio. Num impulso segurei a mulher que ia cair no chão. De repente a vi: A kriptonita — Theodora.
— Perdão! Eu não o vi — ela disse, me olhando com aqueles olhos que pareciam sugar a minha alma.
— Você está bem? Se machucou? — perguntei e logo percebi que continuava segurando-a.
— Eu estava distraída. Me desculpe. Acho que dei uma cabeçada em você. — Pareceu que ela ia passar a mão no meu peito para saber se estava tudo bem, mas recuou — Ainda bem que não se feriu.
— Minha mãe sempre diz que sou feito de ferro. Vivia me batendo nos móveis da casa e não me machucava — eu ri. — Mas estou surpreso em vê-la aqui.
— Sim, seu pai nos convidou.
Tentei correr os olhos disfarçadamente sobre ela: estava incrível com um biquíni amarelo que realçava maravilhosamente a pele negra. Os cabelos estavam diferentes com aquela trança, davam ainda mais personalidade a ela. Se eu achei que nunca mais a veria, o destino havia criado planos diferentes. Então eu esqueci completamente que estava ali acompanhado de Betina e me concentrei somente na belezinha que esbarrou em mim.
— Estou feliz que tenha vindo. Com certeza a festa do Cristian ficou mais interessante.
— A casa de vocês é maravilhosa, nunca estive num lugar assim. Você também mora aqui?
— Não, já estou meio velhinho para morar com os pais. Tenho meu próprio flat perto do Ibirapuera.
— Ai caramba, então você vai me julgar mal quando eu falar que ainda moro com meus pais...
— Cada um vive uma realidade diferente, não dá para comparar — eu disse e ela pareceu gostar da minha resposta. — Então você mora com seus pais?
— E minha irmã mais velha. Aquela ali. — Apontou para a mulher que ria ao lado do Cristian. Meu irmão parecia animado na companhia da irmã de Theodora — Se chama Lisa.
— Bem, parece que ela conseguiu arrancar um sorriso do meu irmão. Ele anda muito sério, então se sua irmã consegue fazer ele rir, ela é bem vinda também.
— Que bom.
— Se ainda não mora com seu namorado, isso significa que seu relacionamento com Kaique não é tão sério?
— Cla-claro que é... — Ela pareceu engasgar — Nos conhecemos há muito tempo, mas como casal...nosso relacionamento é recente.
— Ele disse para o meu pai que vocês estão juntos há anos.
— Disse? Com certeza ele deve estar contando todo o tempo que nos conhecemos e tal. — Ela não me passou muita firmeza — E você? A moça loira...é sua namorada?
— Sim, estamos namorando e provavelmente nos casaremos.
— Oh...
A decepção era evidente no olhar dela. Ela pareceu inquieta depois dessa informação e eu me senti subitamente feliz por tirar uma reação daquela beleza na minha frente. Queria muito puxá-la para um canto qualquer da casa e beijá-la até tirar o fôlego. O biquíni parecia ser fácil de arrancar...
Tentei tirar esses pensamentos da mente, pois estava na casa dos meus pais e agora eu tinha um compromisso a zelar.
— Ela é uma moça muito bonita — ela disse, tentando ser gentil.
— Sim, Betina não é só bonita como de excelente família.
— Certo.
— Aceita um drink? Estou vendo daqui que estão fazendo caipirinha.
— Eu não bebo muito. Vou devagar, mas agradeço a gentileza.
— Não sou gentil sempre, mas gosto de ver você sorrindo. — Eu não resisti à tentação de dizer — Você tem lábios carnudos que devem ser uma delícia de beijar...
— Robert...
— Não vou fazer nada, não se preocupe, mas é difícil esconder a admiração.
— Você é bastante atrevido.
— Sou sincero, não vejo porque fazer segredo de algo que você claramente já sabe. — Ela voltou a fazer aquela expressão de inocência que não colava. Ela era uma perita em sedução, eu com certeza não tinha a menor chance com ela.
— O fato de que estou aqui na festa com meu namorado não é suficiente para você?
— O que acende a luz vermelha na minha cabeça não é seu namorado, e sim a minha. Tenho muito respeito pela Betina. Se eu não fosse comprometido, com certeza te arrastaria para um dos quartos e te deixaria muito satisfeita, Theodora.
— É muita presunção sua achar que eu iria assim, tão fácil...
— Está mais do que óbvio para mim que você me deseja.
— Ora essa!
— Acha que eu não percebi como você olha para mim com esses olhos brilhantes? É como se você estivesse diante de um brigadeiro.
— Meu Deus, você é tão convencido! — ela bufou. — Você é bonitinho e só.
— Você quer me dissuadir que é apaixonada por aquele rapaz que você chama de namorado, mas ele nunca está com você. Acho que você está sendo negligenciada, bebê.
— Você também não está com a loirinha, então estamos quites.
— Bem, eu não tô aqui fingindo uma paixão que não sinto, já você não pode dizer o mesmo.
— Olha, você está certo, eu deveria estar ao lado do Kaique… quando eu encontrá-lo... — ela sussurrou. — Obrigado pela atenção Robert, por enquanto vou voltar para a piscina.
Ela ia sair, porém eu a segurei pelo braço.
— Ei, cuidado com o velho Senador, ele não para de olhar para você.
— Você também não para de olhar para mim. Devo acreditar que você é melhor que ele?
Aquela indagação me enfureceu. O senador era um homem sem caráter e ser comparado com ele era um insulto.
— Ele é um tipo da pior espécie! Você não ia querer brincar com ele.
Os olhos verdes de Theodora se arregalaram e ela pareceu entender o recado. Nós nos afastamos em silêncio.
Depois que a mulher saiu de perto de mim eu voltei a respirar normalmente. Incrível como Theodora, uma pessoa que eu mal conhecia, podia me abalar tanto. Eu queria me sentir assim com Betina.
Procurei pela minha namorada e a encontrei conversando com Victor, um dos poucos amigos de Cristian. Ela usava um biquíni elegante porém nada sensual, a parte inferior parecia um shortinho e o look era todo rosa. Ainda não tinha conseguido sentir tesão por ela e isso era um grande problema pois tornava ainda mais difícil manter a fidelidade que eu tanto visava.
Me aproximei deles, abraçando Betina pelos ombros.
— E aí, vocês estão quietos — fui logo dizendo.
— Vim aqui para entreter o aniversariante, mas ele parece bem animado com aquela mulher esquisita — Victor disse.
— Verdade, geralmente ele é bem atencioso comigo, mas hoje praticamente me evitou — se queixou Betina. — Quem é essa mulher?
— É irmã da namorada do Kaique.
— Bem abusada, ela. Nem é amiga do Cristian e age como se fosse da casa. Ela chegou a falar que Patrícia era minha filha! — reclamou Victor.
Betina segurou o riso e eu também. Victor tinha trinta e cinco anos e veio para a festa com uma garota que, apesar de ser maior de idade, não parecia ter mais que quinze.
— Vocês riram! — ele protestou.
— Desculpe, quem sou eu para julgar? — disse Betina e rimos novamente.
Logo o cheiro do churrasco invadiu nossas narinas e todos saíram da piscina para saborear o almoço. Eu vi Theodora andando de braços dados com a irmã e nenhum sinal do Kaique. Como ele podia abandonar aquela belezinha sozinha por tanto tempo?
— Pessoal, um minuto da atenção de vocês! — Octávio Servantes pegou uma taça e começou a bater nela com um garfo, fazendo um alerta para que todos olhassem para ele — Minha querida Ofélia está muito feliz por tanta gente animada aqui e resolveu estender as comemorações até amanhã. Espero que durmam aqui. A casa é enorme e temos muitos quartos.
Um burburinho alegre tomou conta do lugar. Meu olhar cruzou com o de Theodora. Me senti ansioso para ficar sozinho com ela.