Merliah Smith
NORIAH NORTE, TEMPOS ATUAIS
Assim que chegamos, Cristiano me olhou demoradamente antes de desligar o carro.
Senti um arrepio percorrendo minha espinha, sabendo tudo que aconteceria.
- Preparada? – Ele perguntou.
- Sim... Nasci preparada.
Cristiano riu, me fazendo rir também. Meu namorado era um homem maravilhoso. Antes que eu abrisse a porta do automóvel, ele já estava fazendo isso, me auxiliando a descer.
- Espere. Fique aqui e feche os olhos... Por favor. – Pediu, com um sorriso encantador e nervoso nos lábios.
- Ok... Eu... Acho que consigo. – Pronunciei o “acho” de forma sincera.
Achei que não conseguiria, mas no fim, tive a capacidade de fechar os olhos e não abrí-los, como ele pediu. Porque na verdade, eu já imaginava que ele criaria um ambiente bem romântico para aquele momento.
Escorei-me no capô do carro, me sentindo tão leve a ponto de deitar-me sobre ele. Abri os olhos, visualizando o céu completamente limpo e estrelado. Aquele era um dia especial para mim. O dia que eu perderia a virgindade com meu namorado, o homem que escolhi para ser o primeiro.
Minha avó sempre questionava o fato de eu ser virgem aos 21 anos. A resposta era simples: nasci num bordel, vivendo num lugar onde o sexo era tão comum e banal como beijo na boca. Ou melhor, para mim beijo na boca também não era tão banal, já que eu fazia isso com qualquer um.
Cristiano não foi meu primeiro beijo, mas quem escolhi para ser o primeiro a me tocar de forma tão íntima e pessoal.
Nos conhecíamos há exatos dez anos, quando a mãe dele chegou no Hotel Califórnia. Desde então passamos a ser melhores amigos. E vivemos juntos muitas experiências, tanto boas quanto ruins. Começamos a nos envolver há cerca de três anos atrás, quando eu tinha 18 anos e ele 16. Mas o relacionamento passou a ficar mais sério quando ele completou 18.
Cristiano também era virgem e a opção de fazermos isso juntos surgiu logo depois que trocamos as primeiras carícias mais intensas. Juramos que este momento especial compartilharíamos entre nós e não com outras pessoas.
Nunca me senti tão à vontade com outro homem a não ser ele. Cris sabia tudo sobre mim.
- Não vale. Você está com os olhos abertos! – Ele reclamou.
- Mas eu juro que não estou vendo nada... Só as estrelas.
- Está trapaceando.
- Eu? Trapaceando?
- Você sempre foi trapaceira.
- Não acredito que esteja dizendo isso de mim, sua namorada perfeita.
Ouvi a risada dele. Não tenho certeza quanto tempo ele demorou, mas não foi mais de dez minutos.
Senti a mão de Cristiano na minha, puxando meu corpo de encontro ao dele. Nossos olhos se encontraram e ele me enlaçou pela cintura:
- Pode ver agora... – Sorriu, esperando pela minha reação.
Olhei a cama preparada sobre a grama macia. Um colchão inflável confortável, envolto num lençol amarelo e várias almofadas vermelhas e verdes que adornavam o espaço que ele montou especialmente para nós. Alguns girassóis soltos estavam ao lado da cama, junto de um balde com gelo e espumante.
Não tenho certeza se romântico era a palavra para aquele momento. Mas uma eu tinha certeza que o definia: fofo.
- Gostou? – A pergunta veio cheia de carinho.
Olhei para meu namorado lindo, cabelos castanhos, nariz fino, assim como os lábios. Nada atlético, embora acostumado a fazer exercícios regularmente. Os olhos castanhos eram sempre cheios de amor e carinho. Tínhamos exatamente a mesma altura.
- Eu adorei, Cris. Ficou lindo.
- Você merece, minha flor.
- Amo quando você me chama assim.
- A mais bela flor do meu jardim... – Envolveu-me em seus braços.
O beijei com amor, capturando sua língua. Ele pegou-me no colo e quando percebi já estava na cama macia. Sobre nós, nada além da noite estrelada e perfeita. O carro à esquerda, um peral à direita e árvores à frente e atrás.
Aquele era um local comum entre os jovens de Azah, área suburbana, mas em grande crescimento comercial no país de Noriah Norte, inclusive atraindo muitos investidores.
Azah era composta por várias pequenas cidades, que compunham a área que abrigava grande parte da classe C e D do país. Atualmente, uma promissora população que consumia avidamente tudo que aparecia.
Eu nunca saí dali. Aos dezoito anos fui para uma faculdade de Moda, mas os negócios da família começaram a não ir bem e tive que voltar, para não fazer minha mãe gastar o que não tinha comigo. Eu poderia ter mil e um defeitos, mas era compreensiva. Sim, eu via isto como uma qualidade... Talvez uma das únicas que eu tinha.
Cris e eu estávamos num local no alto do morro, de onde podia ser avistar toda a cidade. Certamente meu namorado havia avisado aos amigos que estaríamos ali e por isso ninguém apareceu e nem corria risco de aparecer no meio da noite.
Deitamos um ao lado do outro e ele tocou meu rosto de forma carinhosa:
- Nossas mães vão saber que passamos a noite juntos. Seria muita coincidência pedirmos folga juntos.
Suspirei:
- Acho que está na hora de contarmos a verdade.
- Eu não acho que elas vão ficar bravas, Liah.
- Não é o caso de ficarem bravas, Cris... Eu fico um pouco sem jeito. Fomos criados como irmãos.
- Adotivos... Pense desta forma. Elas nunca nos consideraram irmãos de sangue e você sabe disto.
- Minha mãe ama você como um filho.
- E a minha ama você como uma filha. Mas não ficaria chateada se casássemos.
- Casar? – o olhei, confusa – Não tocamos nesta palavra ainda. É muito cedo, não acha?
Ele riu:
- É modo de falar, flor. Tem tanto medo assim de casar comigo?
- Não... Não tenho medo de casar com você. Só não sei o que penso sobre isto.
- Não quero força-la a nada e sabe disto. Eu amo você, Liah.
- Cris... Eu concordo em falarmos para nossas mães.
- Me sinto mais tranquilo com sua aceitação. Odeio mentir para minha mãe.
- Não estamos mentindo. Só ocultando.
Começamos a rir. Cris levantou e começou a sacudir o espumante, que estourou a rolha plástica na minha cabeça enquanto o líquido jorrava sobre o lençol limpo.
Toquei a cabeça, que ficou latejando.
- Machuquei você, meu amor? – Preocupou-se.