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Chain Archambault Chalamet

— Talvez... — pisquei.

— Vamos ligar, hein?

— Vou esperar — ou não. Afinal, mulheres como elas encontrava todos os dias, só interessadas numa boa noite de sexo num lugar agradável e caro, e se dessem sorte, eu me apaixonar, casar e elas ficarem ricas.

Virei as costas. Eu conhecia todos os tipos de mulheres e delas só queria uma coisa: a boceta.

Parei na frente de Tiago, que ainda alisava a gostosa no colo dele.

— O que foi?

— Meu pai morreu. Acabei de receber a notícia.

Ele levantou, quase derrubando a mulher de cima dele.

— Devo dar os pêsames?

— Se quiser, pode me felicitar também.

Meu amigo arqueou a sobrancelha:

— Quanto ressentimento.

— Ressentimento? Imagina! — debochei. — Vou para Noriah Norte. Preciso participar do funeral.

— Eu vou com você.

— Eu volto até o final do dia.

— E vou perder a oportunidade de conhecer a sua madrasta gostosa? Nem morto!

Tiago deu um beijo na testa da garota e saiu comigo da casa.

— Beijo na testa? — comecei a rir.

— Ela tem que ficar feliz que ainda me despedi.

— Você é um crápula.

— Eu? — ele gargalhou. — Ou seríamos nós?

Começamos a rir enquanto embarcamos nos nossos carros. Em menos de uma hora estávamos num aeroporto, embarcando num jato particular em direção à Noriah Norte.

Tomei um remédio para dor de cabeça. Estava péssimo. Tiago ainda teve tempo e disposição para comer a aeromoça no banheiro do avião.

Ele ainda estava ajeitando a calça quando sentou de frente para mim.

— Ela é boa... Se você quiser, está disponível.

Eu ri, balançando a cabeça.

— Não estou brincando. Ela que mandou avisar.

Olhei para a mulher, uniformizada, que piscou na minha direção. Só estávamos nós três ali.

— Vagabunda! — falei, enquanto descansava a cabeça na poltrona, reclinando-a.

— Este mau humor todo é porque vai revê-la?

— Eu não sinto mais nada por ela, Tiago.

— Tem certeza? Nunca mais a viu. E se chegar lá e descobrir que o sentimento nunca se acabou?

— Para mim Tessália é só a viúva do meu pai agora. Nada mais... — fechei os olhos, tentando descansar.

— Acha que ela continua gostosa, como você descreveu? Ou será que envelheceu?

— Tiago, eu não sei... E nem quero saber — não abri os olhos.

Não conversamos o restante do trajeto. Eu acabei dormindo e quando acordei já estávamos aterrissando.

Noriah Norte não me trazia boas lembranças. Mas eu acreditava que as coisas realmente tivessem mudado e que definitivamente houvesse esquecido Tessália, hoje Tessália Archambault Chamalet, a mulher que me deixou para casar com meu pai.

Entre ir para a mansão da família ou ficar num Hotel, preferi um Hotel na área central da cidade. Cinco estrelas, óbvio.

Apesar de ser herdeiro da maior Construtora do país, eu não trabalhava nem com e nem para meu pai. Eu era empregado na empresa de meu melhor amigo, Tiago Williams, uma produtora e distribuidora de perfumes conhecidos em todo o mundo, da qual ele era o CEO, que levava o sobrenome dele e sua família como nome da marca.

Ele me pagava muito mais do que deveria, simplesmente porque éramos muito parceiros de festas e bebedeiras. Acabemos virando quase irmãos, já que não só trabalhávamos juntos, mas também morávamos no mesmo condomínio.

Chegamos no lugar onde seria o funeral quando já estavam em processo de enterrar o “velho”. Tinha até um padre falando, creio que para que todos pensassem que o Robson Archambault Chamalet era um bom homem em vida.

Creio que todos os presentes soubessem que ele era o diabo em pessoa. Ao menos quem havia convivido com Robson, por menos tempo que fosse.

Avistei meu irmão e fui diretamente até ele, levando Tiago comigo. Milano não havia mudado nada nos últimos quatro anos. Assim que nos vimos, abraçamo-nos com força. Se dissesse que não senti saudade daquele crápula com cara de anjo estaria mentindo.

Apresentei-o a Tiago e depois fiquei calado, fingindo prestar atenção ao que o padre dizia, mesmo sabendo que todos os olhares estavam sobre mim e meu irmão.

Tentei não olhar para nenhum lugar a não ser o caixão. Mas não consegui por muito tempo. Eu tinha que ver como ela estava... E meu coração já batia forte antes mesmo de encontrá-la.

Nossos olhos se encontraram. Tessália estava de frente para mim. Magra, esguia, alta, corpo completamente em forma, olhos castanhos escuros, cabelos negros e lisos e a pele clara feito folha de papel.

Ela usava um conjunto de saia bem comportada e blazer pretos, certamente da Chanel, sua marca favorita. Percebi um leve sorriso nos lábios vermelhos e perfeitos. Não retribui.

Eu não sabia o que senti. Meu coração bateu forte, mas me pareceu que o sentimento de raiva não existia mais... Talvez o de amor também não. Tessália era linda e isso me desestabilizava. Era boa de cama... E uma exímia caçadora de homens ricos. Por este motivo, não quis o herdeiro e sim o dono de tudo.

Assim que o caixão desceu, pus meus óculos escuros e fiquei ali, fingindo sentir algo com a morte de meu pai, assim como Milano.

Com a cerimônia encerrada, fomos nos dirigindo para a saída. Em vez de nós irmos cumprimentar a viúva, ela veio até nos.

— Olá, meninos.

Cumprimentamos a viúva cordialmente.

— Como aconteceu? — Milano perguntou.

— Foi um infarto fulminante. Não teve como socorrê-lo.

— Que pena! — meu irmão conseguiu falar sem tom de deboche.

— Precisamos todos nos encontrarmos as 19 horas na sede da empresa. Os advogados estarão lá para ler o testamento — Tessália avisou.

Eu ri de forma debochada. Claro que a viúva estava preocupada com o testamento. Milano e Tiago foram saindo e infelizmente nos deixaram sozinhos.

— Como você está, Chain? — ela me perguntou, enquanto andávamos logo atrás dos dois.

— Bem... Muito bem.

— Eu era feliz com seu pai... Mas jamais o esqueci.

Eu ri:

— Boa conversa para termos neste momento. Primeiro casa com meu pai... Agora que ele morreu você não me esqueceu e quer voltar lá atrás, quando me deixou para ficar com ele. Acha mesmo que eu sou idiota, Tessália?

— Não... Acho que você é e sempre será o amor da minha vida.

Em outros tempos eu admito que teria me derretido com a frase dela. Mas naquele momento senti que ela estava menosprezando minha inteligência.

— Isso passou, Tessália. Eu tenho a minha vida e estou muito bem longe daqui. Assim que esta porra de testamento for lido, eu vou voltar para Alpemburg e nunca mais nós vamos nos ver novamente.

— Eu acho que você ainda me ama também Chain.

Eu parei de caminhar e a encarei. Os olhos escuros eram firmes. E a mulher falava com a certeza de que eu ainda vivia por ela.

— Você é muito pretensiosa, Tessália.

— Eu soube que você não se envolveu seriamente com ninguém enquanto esteve fora. Quatro anos andando de cama em cama, sem alguém para fazer-lhe carinho, perguntar como foi seu dia... Deve ser horrível, Chain. Mas podemos voltar a ter toda cumplicidade que tínhamos. Você sabe que eu casei com ele por dinheiro... Eu precisava.

— Eu gostava de você, Tessália. Mas acabou.

— Então por que não se envolveu com ninguém enquanto este longe de mim? — ela tocou minha mão, de forma discreta e levantou o olhar na minha direção. — Admita que o que temos é forte demais para acabar... Que isso vai existir para sempre. Nenhuma mulher vai ser melhor do que eu na sua cama... E você sabe disto.

— Tessália, sinto muito lhe dizer... Mas estou namorando. E pensando seriamente em pedir a mão dela em casamento. Assim que voltar para Alpemburg, oficializarei minha união com a mulher por quem me apaixonei... De verdade — menti descaradamente, furioso com a forma dela de pensar, achando que eu ainda a amava.

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