Capítulo 5. Sequestro
Eudora tomou a frente de Nicole e respondeu ao Alfa impetuoso.
— Alfa Darion, tenha paciência, nossa amada Nicole nem entende o que significa ser companheira. Esse nome era o que lhe dariamos quando ela nasceu, mas infelizmente não pudemos fazê-lo. O nome que lhe deram trás muitas lembranças ruins, então a partir de agora seu nome será Nicole, a que leva o povo a vencer.
— Ok, entendi. Mas vou levá-la para minha casa!
Nicole não entendia bem o porque da insistência dele em estar com ela o tempo todo, mas dentro de si, surgia um sentimento por ele, que não sabia explicar. Será que ele sentia o mesmo?
A refeição ordenada pelo médico, chegou. Um purê de batatas com caldo de feijão, morno quase frio e sorvete.
Como estava se tornando rotineiro, o Alfa Darion não concordou com aquela escolha de comida, mas enquanto ele reclamava, Nicole comeu sua refeição. Ela estava tão concentrada naqueles sabores que eram tão preciosos para ela, que nem percebeu que todos se calaram para vê-la saborear a comida. Quando chegou a hora da sobremesa, pegou a colher, mexeu aquele creme estranho, levou a colher a boca e deu um gritinho e depois sorriu.
— Está gelado! O que é isso? — Perguntou surpresa e deliciada com o sabor.
Todos a olhavam estarrecidos, uma jovem que não sabia o que é um sorvete, nos dias de hoje, é algo que não se pode entender.
— É sorvete, querida, você não conhece? — Perguntou Eudora.
— Não, nunca experimentei. — respondeu, ainda saboreando.
Passado o dia, todos se foram, Betânia, agora Nicole, estava tão cansada, principalmente por causa da guerra travada entre os Alfas, que dormiu quase imediatamente após saírem. Nem se apercebeu, quando um pano embebido em clorofórmio, foi posto sobre sua boca e nariz. Já estava dormindo, agora apagou. Dessa forma o homem forte a pegou nos braços e a levou para uma maca no corredor. Ele trajava roupas de maqueiro e seguiu empurrando a maca, até sair pela porta dos fundos do hospital.
— Está tudo pronto? — o maqueiro perguntou.
— Sim chefe. — respondeu o motorista do carro estacionado, que já estava com a porta traseira aberta.
O maqueiro pegou ela no colo e entrou no carro, mantendo ela em seu colo.
— Vamos logo, não podemos ser vistos aqui. Não quero que me reconheçam e achem-na rapidamente.
O carro saiu e logo chegou aos fundos da casa. Ainda carregando o corpo desfalecido de Nicole, entrou pela porta dos fundos no exato momento que um grito macabro de um corvo, se fazia ouvir próximo dali. Entrou em uma porta na lateral direita da área dos fundos e desceu as escadas, seu cúmplice acendeu as luzes. Seguiu até o final do corredor e entrou por outra porta, essa de grade, e depositou o corpo de Nicole sobre uma cama de casal, no centro do aposento.
Na verdade parecia, mas não era um aposento e sim, a maior cela do calabouço do Alfa Darion. Ele incumbiu seu beta de arrumar o lugar, incluindo cortinas cobrindo as grades e porta, para parecer um quarto e não uma cela. Tudo foi realizado enquanto ele ainda estava no hospital, para não levantar suspeitas.
Há séculos esperava por sua alma gêmea e não seria um Alfa amargurado que levaria ela para longe dele e para prevenir, achou melhor trancá-la numa cela, escondida de todos. A lua cheia seria no dia seguinte e ficariam ali, até que a lua passasse e ela estivesse marcada como sua. Nenhum macho, sendo pai, irmão ou qualquer outro, tiraria ela dele.
Depois de acomodá-la, subiu até o seu quarto para tomar um banho. Esse era o único inconveniente da cela, não tinha um quarto de banho. Mandara colocar uma banheira, mas naquela hora, não iria fazer barulho, nem se esforçar enchendo a banheira com baldes d'água.
Depois de higienizado, desceu de volta à cela, trancou e deitou-se junto com sua amada, passou os braços à volta de sua cintura e puxou-a para si. Encostou suas costas ao seu peito, seus corpos ficando de conchinha e sentindo o cheiro feminino, que o agradava tanto, maçã com canela, adormeceu, como se nada de errado tivesse feito.
Quando finalmente passou o efeito do clorofórmio, Nicole despertou e não entendeu onde estava. Sentiu braços a enlaçando e uma parede quente às suas costas. Um perfume de almíscar e cebola caramelada, lembrava-lhe bife com batata frita. Fez um muxoxo ao identificar de quem era aquele perfume que a agradava tanto.
Olhou em volta, tentando identificar onde estava e não reconheceu. Quase não tinha luminosidade, não deixando perceber se era dia ou noite. Sentiu necessidade de aliviar-se, tirou um braço de sua cintura e escorregou sobre o outro. Olhou para trás e deu de cara com os olhos do Alfa a olhando. Com um sorriso, a cumprimentou.
— Bom dia minha Luna.
— Sua o quê? Não sou nada sua! Para onde você me trouxe e porque está deitado comigo?
— Você é minha Luna, minha companheira, alma gêmea, futura mãe de meus filhotes e que comandará minha casa e ajudará nosso povo. Por isso estamos aqui, pois seu lugar é ao meu lado.
— Belo discurso! — Falou ao mesmo tempo que se desvencilhou dele e levantou, procurando um banheiro. O problema é que nem porta havia ali.
Avistou um biombo no canto e seguiu até lá, achando uma privada, não tem como descrever aquilo de outra maneira. Pelo menos estava limpo e tinha um rolo de papel num suporte na parede. Nem na casa de seus raptores, era tão precário, mas a necessidade era urgente. Saiu daquele canto sentindo-se invadida em sua privacidade. Havia uma mesinha com uma bacia e um jarro de ágata contendo água, assim como gêneros de primeira necessidade. Utilizou tudo e secou-se com a toalha pendurada em um gancho.
O idiota continuava deitado, apoiado no braço dobrado, de lado, na cama, não perdia um movimento dela. Ela não percebeu que ainda vestia a camisola do hospital que é aberta nas costas e quando se curvava, aparecia seu lindo traseiro. Para o Alfa, estava um pouco magro, mas logo logo estaria no ponto. Um pensamento bem machista, que caso sua Luna ouvisse, o fuzilaria só com o olhar e não sei mais o que poderia fazer, já que ainda não sabemos seu potencial de resposta a essas situações.
Quando ela voltou a cama, ele levantou, estava nu e ela ficou furiosa pela falta de pudor e respeito para com ela. Virou-se de costas para ele, que seguiu para o canto da higiene. Mais um inconveniente. Ela passou as mãos pelo cabelo num gesto de desespero. Precisava se acalmar e pensar no que fazer. Enquanto ele estava lá, olhou tudo e percebeu, ao puxar a cortina, que estava trancada em uma cela com aquele animal. Por isso o lugar era tão precário. Percebeu que ele terminava e voltou rapidamente à cama.
— Está com fome, meu amor?
— Não sou seu amor e sim estou.
— Pra quem não estava conseguindo falar, agora não tem papas na língua.
— Você nem faz ideia das coisas que gostaria de te falar.
— Tá bom meu amor, fica tranquila. Vou buscar nossa comida e já volto.
— Que horas devem ser?
— Creio que já passou do meio dia.
Ela fez uma careta, mas ficou calada e prestou atenção no que ele fazia para sair dali. Esperou ele se afastar e foi até as grades, puxou a cortina e tentou as grades e a porta, ele havia trancado. Olhou a distância entre as barras e percebeu que não estavam tão juntas. Fechou a cortina e começou a traçar um plano em sua mente.