02
Reino de Wisdy
A neve caía fazendo os montes em cima das plantas e arbustos, a paisagem vista pela janela era a mesma de quando Cateline havia chegado ali, ela ainda se lembrava com detalhes, a mulher, agora estava mais madura, ela olhava pensativa para fora da sala vendo o sol nascer vagarosamente, toda sua família tomava café da manhã juntos, na mesa havia Felix, Diego e Crystal, que já era uma moça crescida.
— Mãe? Eu estou falando com você.
Crystal chamava a sua mãe a um tempo, a mulher estava imersa em seus pensamentos, ela se virou assustada para sua filha, tentando se recordar sobre o que conversavam.
— Desculpe… você disse algo?
Cateline perguntava voltando a olhar para carta em sua mão, Sandy o havia enviado dizendo que iria visitá-la, algumas coisas pareciam estar acontecendo e ela queria conversar pessoalmente.
— Sim mãe... eu perguntei se Jade e Saulo virão também.
Jade, a filha de Lucinda, era uma grande amiga de Crystal, elas conversavam sobre tudo, compartilhavam suas dúvidas e experiências, mesmo Crystal sendo mestiça, metade humana e metade lobisomem, ela ainda era uma garota acima de tudo. Como não havia mais garotas jovens como elas, as duas tinham apenas uma à outra para conversar.
Saulo, mesmo sendo um garoto, era muito sentimental, talvez por conta do grande número de mulheres à sua volta, ele se preocupava muito com sua mãe e sua tia Lucinda, era assim que ele chamava Lucinda e Cateline, de tias. Lucinda para Saulo era como mãe, e Milenna como sua avó, como o garoto não tinha pai, Joaquim se dispôs a cuidar do jovem como um, ele ajudava nas tarefas e o ensinava tudo sobre os reinos, ele seria um grande líder um dia.
— Sandy não me informou na carta…, mas acredito que eles virão sim.
Cateline dizia distraída, a mulher havia mudado muitos nos últimos 15 anos, ela parecia sempre séria, aquele brilho que tinham em seus olhos havia se ido, suas vestimentas eram escuras e sem vida, como se estivesse em um luto eterno.
Diego olhava para Cate cabisbaixo, ele se via ali, quando perdeu a sua esposa, Freya Fire, Félix tinha apenas 14 anos, e ele o tratava da mesma forma rígida e séria, agora vendo sua nora repetir seu erro, ele via como era doloroso, sua neta Crystal havia crescido muito sozinha e triste por conta disso, assim como Félix.
Cateline amava a filha com todas suas forças, mas de alguma maneira a mulher não conseguia demonstrar, muitas coisas tinham mudado depois de tudo que ela havia passado, seu coração havia se fechado, e tudo que restava ali era raiva e tristeza.
— Bem… então precisamos preparar as coisas para a chegada dos jovens … não é mesmo, Crystal?
O Alfa Diego, assim como Cateline havia mudado bastante, mas para melhor, depois que sua neta chegou ao mundo, o homem deixou de ser tão sério e amargurado, ele brincava com a jovem, ensinava os costumes e histórias dos reinos, até mesmo a levava nas caçadas. Eles eram grandes amigos acima de tudo, a jovem Crystal amava muito o seu avô, eram quase inseparáveis.
— Sim! Você tem razão… podíamos fazer alguns lanches e passear na floresta, a Jade morre de medo de andar sozinha por lá. Queria pregar algumas peças nela.
Crystal dizia sorridente, ela gostava de provocar a prima, mesmo se desentendendo às vezes, elas eram grandes amigas.
Félix olhava para Cateline meio tristonho, ele queria encontrar o seu filho mais que tudo, ele não aguentava ver a sua amada daquela forma, mesmo após tantos anos ela permanecia presa aquele acontecimento, uma parte sua havia sido arrancada, ele via isso.
Cate estava paralisada olhando para o nada, seus pensamentos estavam distantes daquela mesa, ela nem mesmo conseguia sorrir para a sua família, ela se sentia vazia, uma tristeza imensa habitava seu coração e sua mente. Ela suspirava profundamente e escorava as suas costas na cadeira, pensativa.
O lobo havia caçado seu filho em vários reinos distantes, mesmo assim não encontrou nenhum sinal ou resquício de seu querido filhote, mesmo assim ele não ficava desanimado, ele sabia que o momento de o encontrar estava próximo.
— Martin mandou uma carta. Ele está bem longe daqui, no deserto de Egiths, ele mandou um abraço.
Félix falava olhando para Cateline, que lia as cartas de Sandy.
— Ele encontrou alguma pista? — Cateline perguntava diretamente, era a única coisa que ela queria saber.
Felix suspirava fundo, desviando o olhar.
— Não… ele não encontrou nada ainda…
O lobo respondia meio chateado, seu cunhado Martin havia crescido, estava com cerca de 25 anos agora, o jovem dedicava todo o seu tempo na busca de seu sobrinho, como o único homem da família Forth, ele se sentia responsável em ajudar. Félix era muito grato pelo jovem, e confiava plenamente nele.
Todas as manhãs eram assim, a família se reunia e eles conversavam pouco, o clima na maioria das vezes era sério.
Depois de todos comerem, Cristina limpava a mesa, ela havia ficado com algumas cicatrizes que não sumiram completamente de seu corpo, aquilo trazia raiva ao coração da loba que se lembrava do maldito dia todas as vezes que se olhava no espelho, sentia ódio de si mesma por ter sido fraca. Desde então ela havia começado a treinar, pois sabia que as guerras nunca iriam parar, ela pegou firme nos treinos após ver o rosto da pequena Crystal, ao chegar quase congelada e maltratada no dia do rapto do bebê Fenix. Aquilo fez a loba se tornar outra pessoa também, ela como uma Lobisomem, precisava ficar forte e defender a sua mestra e filha de qualquer perigo que aparecesse.
Cateline como sempre é a primeira a sair da mesa de refeição, ela carregava a carta consigo e se dirigia a sala de documentos, o lugar era confidencial, mas ela como esposa de Félix tinha total liberdade de ir e vir, a mulher não havia dito toda a verdade aos familiares, na carta continham mais informações de Sandy.
Depois de entrar na sala, Cateline a trancava, ela se sentava em uma poltrona que ficava perto das estantes de arquivos.
A mulher estava fixada na carta, ela havia ficado interessada no que Sandy havia escrito nela.
“Querida Cateline, acredito que meus sonhos não sejam apenas visões, o último foi muito lúcido, eu estava nele, podia sentir até mesmo a brisa, talvez eu tenha sido levada para tal momento, ainda não tenho certeza, mas se for verdade, Arlene me fez voltar até quando era viva para me mostrar algo.
Cateline lia o parágrafo diversas vezes pensativa, com os anos que se passaram. Sandy havia explicado alguns detalhes sobre seus antepassados, a mulher sabia sobre a magia que corria em seu sangue, e estudava bastante sobre tais coisas, junto a Sandy e Lucinda, que vinha ficando cada vez mais imersa dentro do assunto.
A mulher pensava na possibilidade de o que Sandy disse ser real, e imaginava se seria possível voltar no dia em que o seu filho foi sequestrado.
Cateline continuava ali durante o dia imaginando como aquilo seria bom, mesmo sem saber se era possível, ela torcia para Sandy chegar logo e conversar sobre os detalhes mais profundamente.
Cada dia era uma tortura para a mulher, ela se lembrava de cada detalhe de seu pequeno bebê, de seus pequenos dedos, seus olhos e fios de cabelo. Mesmo após tantos anos, Cateline ainda conseguia sentir a dor da perda, era algo que ela nunca iria esquecer, ela queria vingança, e estudava todos os dias para se tornar cada dia uma mulher mais forte para quando tal momento chegasse.