Resumo
Zair é um príncipe do seu Clã, em Catar. Homem prático, frio, tão frio que chega a ser glacial. Desde muito novo assumiu os negócios da família. Viúvo, pai de uma garotinha, é pressionado pela família que se case. É haran (pecado) ficar contristado por tanto tempo pela mulher morta. Aysha fora preparada desde o nascimento para sua união com Zair. Ela não espera ser feliz nessa união, mas entende que precisa se adaptar a essa situação e o casamento acontece. Aysha aos poucos se vê apaixonada pelo seu esposo e de repente conquistar o coração do frio e autoritário príncipe passa a ser seu objetivo. Ela não sabe, Zair é assim pois esconde um segredo. Só que o homem é uma mula. Insiste no relacionamento frio, só a base de s**o e Aysha quer muito mais que isso. Só que as coisas mudam de figura, quando ela o rejeita. E de conquistado ele precisa conquistar. Será Aysha capaz de fazer arder esse coração, trazendo-o a luz e o tirando da escuridão que o rodeia? Não perca essa linda história sobre a descoberta do amor.
1- Aysha Bar Jair
Em dezembro de 1990, Anne, minha mãe, viajou para o Catar com a ideia de viver e trabalhar durante algum tempo. Ela trabalhava no Hospital Rei Mustafá na área de pesquisas. Mas durante esse período que esteve no país, ela acabou conhecendo um homem, meu pai, Muhamed Bar Jair. Ele trabalhava para a monarquia saudita no ramo petrolífero. Com a idade de vinte cinco anos, ela se apaixonou perdidamente pelo homem moreno de olhos cor de mel.
Fortemente atraídos um pelo outro, em pouco tempo, se casaram e logo foram abençoados com meu nascimento. Os primeiros anos de casamento, lhe trouxeram a felicidade que ela tanto desejava. Além de meu pai, ser um homem amoroso e dedicado a família, a família real cedeu um palácio para que eles morassem.
Como engenheiro petrolífero, sempre fora dedicado ao seu trabalho. Praticamente viveu em função dele. A família real sempre gostou muito dele. Quando eles davam festas, éramos sempre convidados para participar. Eu não me lembro disso, pois eu era muito pequena na época.
Meu pai sempre teve muita facilidade com o inglês, e com o casamento, o inglês dele melhorou muito. O sheik estava com problemas de negociação de máquinas para a captação do petróleo que ele comprava dos EUA, meu pai então foi enviado para cá. Papai se mostrou muito competente e obteve sucesso na viagem. Isso foi como se ele assinasse o passaporte de permanência nos EUA. O que era para ser uma viagem de poucos dias, se tornou algo definitivo. Eu tinha cinco anos quando isso aconteceu.
Ouço uma batida na porta interrompendo meus pensamentos.
—Aysha, está pronta? —É meu pai novamente me chamando.
—Já vou. —Digo, mas não me movo do meu lugar.
Desde que me conheço por gente meu pai me fala desse dia, uma data especial para eles, mas para mim o medo do desconhecido.
Logo que viemos para cá, fui preparada para esse dia, o dia que eu conheceria o homem ao qual fui prometida, o príncipe Zair Salim El Mustafá, o filho mais velho da família real.
Para os padrões nortes americanos um absurdo tal coisa, mas isso é muito comum no rico país chamado Catar.
Isso é muito comum lá fora. Mas aqui?
Não sei por que meu pai concordou em manter esse acordo mesmo sabendo que irei morar tão longe deles.
Bem, na verdade sei. Meu pai é muito amado pela família real, e acho que foi uma maneira de recompensa-los por todos os benefícios que ele teve desde que eles investiram nele. Meu pai foi apadrinhado por essa família. Estudou com os recursos da família real e tão logo conquistou seu diploma, começou a trabalhar para eles.
Minha mãe tem mais sangue árabe do que Norte-Americano. Então a promessa que meu pai fez a eles, não lhe causou impacto. Ao contrário, ela ficou deslumbrada por eu me casar com o príncipe de Doha, um homem de sangue azul.
Já faz quinze minutos que estou ouvindo meu pai chamar meu nome e não consigo me mover. Passo a mão nos olhos e aliso meus cabelos castanho com reflexos dourados, nervosamente. Eu sei que estou encrencada. Não há nada que eu possa fazer a não ser ir até a sala.
Minha irmãzinha entra saltitante.
—Aysha! Aysha! O que há com você? O príncipe está aí. Baba está te chamando! Vamos!
Sinto novamente aquele aperto no coração e uno minhas mãos, aperto uma na outra na tentativa de fazê-las parar de tremer.
Minha irmã é muito nova para entender o que a presença dele significa realmente. Ela vê tudo como num conto de fadas. Como eu, quando era pequena. Quando meu pai me falava sobre esse dia o impacto não era tão grande.
Como minha mãe pode concordar com meu pai quando aceitou que eu fosse prometida em casamento? Pergunto-me, mal-humorada.
—Vamos Aysha!
—Diga que já vou! —Eu digo, quase à beira das lágrimas.
Layla cala-se imediatamente quando vê as lágrimas descerem dos meus olhos.
— Você está chorando?
Tadinha...Eu não quero assustá-la.
—Não, caiu um cisco. Vai lá e diz para o papai que eu estou indo.
— Papai está nervoso com sua demora.
—Eu já vou. Só preciso de um minuto para tirar esse cisco dos olhos, entende?
— Zair é lindo...—Ela diz sonhadora.
Eu respiro fundo. Meu baba(pai) entra.
—Aysha, habibi(querida). Estamos te esperando. Seu noivo está aí.
Meu pai se senta na minha cama ao meu lado.
—Baba... —Eu começo.
Layla me interrompe.
—Baba, quando eu crescer vou me casar com um príncipe também?
—Sim. Ficou combinado que se sua irmã for uma boa esposa, você será prometida também. —Papai fala com ela e me encara sério.
—Subahanallah. (Deus seja louvado!) —Ela diz com olhos sonhadores.
—Agora seja uma mocinha e se comporte lá. Assim eles verão que você será uma boa esposa.
—Aywa.(sim) —Ela diz obediente, com uma leve mesura.
Quando ela sai, eu aperto meus lábios e começo a chorar.
—Pai, eu não quero esse casamento.
Meu pai fica pálido. Respira fundo, é nítido seu nervosismo.
—Habibi, sempre conversamos sobre isso. Seu baba explicou a chegada desse dia. Não era para você estar assim. Ele é uma ótima pessoa.
—Como sabe? Eu era um bebê quando o senhor me prometeu?
—Ebna(filha). Pare com isso!
— Baba, eu ainda não consigo acreditar no que está acontecendo. Quando o senhor falava, achei que ele se esqueceria da promessa, que ele não viesse.
—É, mas o destino planejou que ficassem juntos e a palavra de um árabe é como por escrito. Nem eu e nem ele, podemos voltar atrás. Maktub, estava escrito!
—Destino? O senhor ditou meu destino!
— Não é bem assim, mas falaremos disso mais tarde.
Eu pego as mãos do meu pai.
—Pai, o senhor poderia pedir um tempo. Dizer que não estou preparada para o casamento. Allah! Ahsaor bel taab! (Deus! Estou me sentindo doente)
Meu pai vociferou:
—Pare com isso! Para sala, já! Trata-se de uma questão de honra. Não me envergonhe, Aysha. O sheik desejar você como esposa para o seu filho é a máxima honraria que um rei pode oferecer. —Ele se levanta. — E olhe ao seu redor. Tudo que você tem. Essa mansão linda e confortável, suas joias, seus vestidos. Tudo isso é fruto dessa família que me deu a mão e que você está menosprezando agora. Se não fosse por eles, eu estaria ainda perambulando na Medina passando fome ou fazendo sei lá o quê para sobreviver! — Eu ouvi o relato como se aquilo não fosse comigo, enquanto o meu pai dramatizava, entrando lentamente ao clímax, mas quando meu pai termina suas falas com lágrimas nos olhos, eu fico tocada, embora eu tenha ouvido essa história diversas vezes.
Sim, meu pai está movido por um real sentimento de pura gratidão e estima pelo Sheik Ali Salim El Mustafá. Envergonhada por meu comportamento, eu tento me recompor.
Afasto meus cabelos do rosto e os coloco atrás da orelha. Respiro fundo e enxugo meus olhos.
— Assef. (Perdoe-me) —Digo, abaixando minha cabeça num tom serviçal, mas meu interior agitado em revolta.
—Agora lave esse rosto e encare sua realidade de frente, com cabeça erguida. Por Allah! Você não está indo para um matadouro. Você irá se casar com um príncipe do nosso povo.
—Aywa! (Tudo bem!) E se eu não for uma boa esposa? —Pergunto, ousadamente.
—Claro que será uma boa esposa. Você terá servas, será servida, não servirá. A única coisa que precisa fazer é procriar. —Eu fecho os punhos com as palavras dele. A minha tristeza deu lugar à resignação e a rebeldia. —Espero você na sala.
Assinto com um leve aceno de cabeça. Ele me olha por um tempo e sai do meu quarto.
A verdade é que meus pais apreciam demais as coisas boas da vida, então para eles, eu me casando com um homem arquimilionário, amando ou não meu marido, estou indo para o paraíso.
Eu me levanto. Vou até o banheiro. Olho meu vestido negro de enterro, pronta para o sacrifício. Caminho em direção a sala de cabeça baixa, pensativa.
Papai nunca me falou direito sobre suas atribuições físicas, se era alto, baixo, magro, gordo. O homem árabe não valoriza a beleza masculina, só a mulher é valorizada nesse aspecto. Ele precisa só ser bem-sucedido no trabalho ou em seus negócios.
Eu sei que ele tem 28 anos, portanto dez anos mais velho que eu e que moraremos em Doha, um estado riquíssimo de Catar.
Sei também que Zair comanda o império da família. São riquíssimos, graças ao fraturamento hidráulico, que é um método que possibilita a extração de combustíveis líquidos e gasosos do subsolo.
Allah! Se eu estivesse sacrificando um futuro casamento por amor, seria diferente! Mas não estou. Tenho medo de não gostar dele.
E ele? Como encara esse casamento?
Um prazer sexual fixo e seguro?
Apenas uma progenitora?
Allah! Farei de tudo para ele se decepcionar comigo. Preciso livrar minha irmã dessa situação. O futuro dela depende de mim!
Amanhã mesmo comprarei anticoncepcional, se eles estão pensando que eu vou engravidar fácil, estão muito enganados. E se eu engravidar, ficarei na mão dele. Se eu for fria, uma múmia, ele irá reclamar de mim para a família e minha irmã terá a chance de amar e ser amada.
Entro na enorme sala, arejada, cheia de antiguidades, quadros, revestido de tapetes persas. Sim, o luxo que me cerca e explica o porquê estou sendo vendida.
Mamãe se levanta do sofá sorrindo quando me vê. Ela sempre deu claros sinais que é a favor dessa união.