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Por dentro, nem tão vazio

Giácomo

O cansaço não sai das minhas costas, a viagem cansativa ainda pesa junto com a expectativa de almoçar com Bella, sento na cama com esforço buscando um pouco de paciência para lidar com os negócios da empresa e o inventário dos Riina.

A visão do central park com o sol despontando pelo horizonte transformando as sombras em claridade, uso isso para incorporar o papel do dia, Chefe da Familia Costello com sangue nos olhos pela falta de respostas sobre o assassinato da irmã mais nova com o cunhado.

Imprescindível a revolta se misturar com a raiva, tento apoiar os pés no chão erguendo o corpo para puxar o ar com força querendo acordar todos os músculos adormecidos, caminho para o closet parando na frente do espelho.

Com os olhos marcados pelo sono perdido, o cabelo precisando de um corte junto com uma barba rala que não pretendo tirar agora. Tento analisar o que falta, sim, falta expressar a raiva.

Trinta dias sem respostas da morte de Beatrice, Salvatore Riina junto de seu primo estavam traindo a família, Bianca morreu como uma queima de arquivo. Então, falta raiva contra os mexicanos, raiva contra a falta de informações.

Pouco tempo para apagar o luto, pouco tempo para apagar a raiva… abrindo brechas no personagem, tiro a cueca jogando pelo canto indo para o banheiro ligo a torneira da banheira, jogando umas bolinhas que ganhei de Bianca no natal passado.

Quando a água quente enche pela metade fecho a torneira afundando na sensação real, nos poucos minutos de realidade do dia.

Deveria ter demorado mais para falar sobre casamento com Enrico, isso manteria a fachada de luto intacta, a lembrança da voz calma e da pele macia preenche minha mente, não iria suportar esperar mais.. Giulia vai ser minha esposa.

Já a raiva contra os mexicanos pode ser reavaliada, aproveitada dependendo do que Beatrice fez e como fez. Aquela bambina tem um time perfeito para executar as coisas, o problema é comigo, em como deixei o desejo se sobrepor ao personagem, em como deixei que ela visse a verdade se refletindo pelos meus olhos.

Agora as coisas estão complicadas com Enrico Sartori, aquela raposa velha não engoliu a desculpa esfarrapada muito menos o desejo de montar uma família, não, ele apenas vê um executor de família menor subindo na hierarquia com um casamento oportuno direto com a próxima família na linha de sucessão.

Ele não está de todo errado, só que ao contrário de unir minha família aos De Angelis, pretendo destruir, aniquilar seus nomes. Nem mesmo o sentimento que venho nutrindo nesses anos pela minha pequena Bella, é capaz de apagar o animal que deseja o sangue de seus irmãos. Não espero perdão de Deus, apenas que Giulia perdoe meus pecados.

Afundo dentro da banheira fechando os olhos, sentindo a água lavando minhas preocupações, coloco as mãos nas laterais e levantando, pronto para organizar e consertar meus erros.

Passando as mãos pelos cabelos molhados puxei a toalha do suporte enrolando em torno do quadril para poder escovar os dentes, tento afastar a sensação de estranheza.

Caminho ao closet pegando um terno cinza para vestir, montando o personagem do dia, fechando a face junto com as sensações estranhas despertadas por Giulia.

Fecho os olhos escutando a voz de Antonio.

Mantenha o controle filho, por fora seja uma rocha e por dentro uma tempestade.

Guarde a realidade para quando estiver dentro do banheiro, fora dele demonstre apenas força e poder mesmo que não seja real.

Saio de dentro do cômodo com o semblante fechado, avistando Giuseppe saindo da cozinha.

Se essa empregada pedir demissão porque não consegue segurar seu pau, você que vai limpar o apartamento velhote. - Falo ríspido percebendo que ainda está ajeitando o terno.

Vai ser uma honra e prazer, Senhor. - Filho da puta responde.

O elevador privativo chega ao hall caminho apressado para o Escalade estacionado fora do prédio buscando formular alguma forma que possa justificar a morte de Stefano, sendo tirado dos meus devaneios pelo soldado atrevido dirigindo.

Como posso ajudar, Giacomo? - A voz dele transmite uma preocupação sincera pelos longos anos de serviço dentro da minha família.

O Don desconfia que posso ter matado minha própria irmã, apenas porque fiz a idiotice de não esperar para solicitar o casamento com Giulia. - Bufo passando as mãos pelos cabelos.

É uma acusação séria. - Fala fechando o semblante.

Que ele não fez questão de esconder ao me passar as posses dos Riina aprovando o casamento. - Respondi firmando um silêncio dentro do automóvel.

As ruas engarrafadas próximas ao Central Park aumentam o tempo de trânsito até a sede da empresa, só de pensar em todas as documentações para assinar junto do quebra-cabeça fantasma para montar.

Sabe.. - Quebra o silêncio.

Hm..

Não somos capazes de amar, então, quando aparece alguém que nos faça questionar o próprio egoísmo e controlar a sede de sangue para lhe dar proteção é a pessoa certa. - Para o carro em frente a empresa, enquanto nós olhamos pelo retrovisor.

Desde quando você entende de sentimentos, velho? - Arqueio a sobrancelha.

Não entendo. - Responde descendo do carro.

Ao abrir a porta o fito curioso, andamos em direção às portas de vidro sendo abertas, caminhando pelo saguão, estou prestes a perguntar o que quis dizer.

Seu pai me disse isso. - Corta o silêncio ao ficarmos a sós no elevador privativo.

Quando casou com Donatella? - Pergunto curioso por nunca ter escutado isso dele.

Não. - O elevador apitou, com Giuseppe saindo na minha frente segurando as portas ao atravessarmos o andar presencial, abrindo a porta da presidência.- Ele disse isso, olhando para você no berçário assim que nasceu.

Paro um momento de costas absorvendo o que está dizendo, será que está mesmo insinuando isso?

Estava lá quando vi aquela menina pela primeira vez depois de tantos anos ainda estou aqui, aquela mulher é a certa, garoto. - Retorci a boca de costas para ele repudiando o apelido.

Continuo o caminho, colocando o blazer sobre a cadeira de couro olhando todos os documentos espalhados pela mesa desorganizada pela falta de uma secretária, tentando arrumar a máscara que escolhi essa manhã.

Preciso que me ajude a provar isso ao Don. - Aperto a gravata vendo o rosto do homem se tornar sério tratando de assuntos importantes, acenou em positivo. - Vamos achar quem matou Beatrice.

O apoio de um dos soldados mais respeitados do quartel é uma arma silenciosa, os poderosos nunca esperam a traição dos próprios servos. Entrei no radar daquela raposa velha por um movimento impensado, já as informações da sua casa podem valer algo no meio dessa dança e se alguém pode conseguir informações sem nenhuma desconfiança é Giuseppe que sai destinado em sua missão de apoio a um homem que aparentemente encontrou a mulher certa.

Bato os dedos contra a mesa de vidro colocando os pensamentos em ordem, olhando para os papéis espalhados, começo a organizar um por um, separando por prioridade, empresa versus organização fazendo algumas anotações em um bloco para resolver depois. Quando termino, ergo a cabeça para as portas se abrindo com Don Sartori usando um terno sob medida com os olhos azuis brilhando em uma ameaça silenciosa, Hunter entra logo depois fechando as portas.

Enquanto recostei contra a cadeira abrindo um sorriso de boas vindas para ele, que retribui com um aceno se sentando na frente da minha mesa analisando cada espaço do escritório, mesmo que já tenha vindo outras vezes.

A que devo a honra da sua visita, Don. - Digo com calma mantendo o sorriso no lugar atento aos movimentos dos seus dedos apertando o braço da cadeira.

Recebo um sorriso em retribuição salientando as rugas ao redor dos olhos enquanto leva a mão direita ao queixo exibindo a joia da família em seu dedo anelar.

Filho, acredito que cometi um erro da última vez que vim aqui. - Arqueio a sobrancelha querendo demonstrar surpresa pelas palavras.Hunter se levanta indo até o aparador servindo os copos com a melhor safra que a família Bernardi pode oferecer. Enquanto incito a análise do homem que tenta atiçar a minha curiosidade, recebo a bebida esperando que experimente o seu erguendo o copo para um brinde, decidindo adiantar a encenação patética.

Dúvido muito que já tenha cometido algum erro, Senhor. - Falo com confiança demonstrando a fé inexistente nesse homem que mancha o nome dos meus antepassados.

Não faço questão de quebrar o silêncio demonstrando calma, deixando que analise todo o escritório e os detalhes da decoração. Chega a ser engraçado como uma mulher teve a capacidade de enganar a raposa velha dessa forma, por mais que me orgulhe dela em algum momento farei questão de ter o prazer de arrancar algumas cabeças.

Beatrice sempre foi tão próxima de mim que chega a ser assustador o quanto consegue entender o que se passa pela minha mente mesmo que tenha feito de tudo para mantê-la longe de tudo isso. É como se o destino conspirasse para transformar a garota inteligente, amorosa e compreensiva naquela pequena fera pedindo um soco no rosto para reafirmar a porra de uma encenação.

A filho, já cometi muitos erros, um dia você também os comete. - Quebra a velocidade dos meus pensamentos, abrindo um sorriso de canto. - Veja só, imaginei que fosse dono apenas do andar e hoje descobri que é dono de todo o prédio.

Solto uma gargalhada atiçando a raiva do homem, que nos últimos dias vem buscando todas as oportunidades para cutucar e tentar diminuir os méritos da minha família. Não é como se precisasse de qualquer outra afirmação para ter certeza das suas desconfianças.

Tudo que tenho, seja legal como este prédio ou não. - Fiz uma pausa tomando o restante da bebida fixando nossos olhares. - É a serviço e disposição da organização, mas se na última vez tivesse perguntado teria esclarecido esse detalhe Don Sartori.

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