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Capítulo 6 - Segredo

¤ Por Ashley Cooper | Miami, Flórida 08:10 AM ¤

A nossa mente é a nossa casa, e a nossa casa reflete o que há em nossa mente. As pessoas tem o costume de julgar a aparência, e muitos criticam esse hábito, mas você já parou para pensar que de fato a aparência das coisas ditam um pouco sobre o que elas realmente são? Os nossos gestos e atitudes dizem quem somos até mais do que apenas as palavras seriam capazes de mostrar.

A família O'Brien chegou na vizinhança quando eu tinha sete anos de idade. A minha mãe fez questão de cozinhar uma torta e os presentear com ela como um desejo de boas-vindas. Eu fui com ela entregar o presente, e foi nesse dia a primeira vez que vi o Dylan. Os O'Brien eram uma família de quatro pessoas, Elizabeth e James O'Brien eram os pais, e Steve e Dylan os filhos.

Eu não me encantei de cara pelo o Dylan, ele era meio chato e ficava assustando um gato de estimação que eu tinha. O Steve eu lembro que era um bom garoto, sempre nos cumprimentava de sua varanda. O sr. O'Brien quando adoeceu passou a ficar mais tempo dentro de casa, e nós paramos de vê-lo, mas sempre tínhamos notícias dele pela a sua esposa.

Meu pai gostava de sua amizade com os O'Brien, eram uma família boa e honesta, qualidades raras de se encontrar nesses novos tempos. Então, um ano após a chegada deles, o Sr. O'Brien viera a falecer, eu não lembro de sua doença, mas eu lembro do choro inconsolável da Sra. O'Brien. Era de partir o coração. Lembro da minha mãe ampará-la, enquanto os seus filhos não sabiam o que fazer. Spencer tentava ser forte e abraçava o Dylan que parecia assustado.

Quando a minha mãe foi embora, eu lembro que o meu pai não manteve muito contato com a Sra. O'Brien, mas eu também lembro que quando eu me sentia sozinha a Sra. O'Brien fazia questão de me chamar para conversar em sua varanda, assim como o Steve que também me fazia companhia quando eu estava no jardim. O único que não falava quase nada comigo era o Dylan.

Porém, aconteceu de Steve, o seu irmão mais velho ir embora da cidade, assim que conseguiu uma bolsa de estudos para a Columbia em Nova Iorque. Ele pretendia virar advogado. Então, Dylan consequentemente acabou ficando sozinho, assim como eu. Sua mãe trabalhava como corretora de imóveis, e com isso muitas vezes ele estava na mesma situação que eu, sozinho e sem ter ninguém para conversar quase o dia todo. Mas, nem se encontrando nas mesmas situações semelhantes, fomos capazes de criar uma amizade.

Nas vezes que tentei me aproximar dele, quando mais jovens, ele agia de forma ríspida, como se quisesse transparecer que não precisava de ninguém e que não se sentia sozinho. Ser rejeitada por ele me aborrecera tanto que eu desenvolvi uma personalidade inflexível naquela época. Foi a minha era roqueira, onde eu estava revoltada com a vida e com todos, e andava de bota conturno preto pela cidade, me sentindo um ícone fashion.

Nessa mesma época, eu soube através do meu pai que a mãe do Dylan, a Sra. Elizabeth O'Brien, estava tendo problemas emocionais, e que isso estava a impedindo de conseguir ir trabalhar, e com isso ela deixou a sua profissão, e passou a ficar em casa com o filho. Ela havia sido diagnosticada com depressão, o meu pai me contou. Outro baque para Dylan.

Contudo, ele sempre agiu como se o luto, a saudade do irmão, e a depressão de sua mãe não fossem nada. Era como se ele tivesse aprendido a compartimentalizar tudo o que sentia e guardar dentro do seu bolso. E isso era muito perigoso. Sempre achei que em algum momento ele fosse surtar e externalizar os seus sentimentos retidos no peito por anos, mas isso nunca aconteceu até hoje.

Eu sou uma excelente observadora, e por isso eu sei tanto sobre o Dylan, mesmo não tendo criado nenhum laço de amizade com o ele. E por causa de seu jeito de viver a vida e de encarar os seus desafios, eu acabei criando uma admiração por ele, e passei a observar ele ainda mais.

Eu o assistia na escola, e tentava observar o seu dia a dia em seu quarto, espreitando da minha janela de frente para a sua. Eu o vi crescer e criar músculos, e se tornar um excelente jogador de futebol e um dos melhores alunos da escola. Eu também o vi aprender a tocar guitarra e bateria. Ele foi uma inspiração para mim.

Eu me apaixonei por ele sem perceber. Eu estava obcecada por assistí-lo e acompanhar a sua vida, e quando a minha adolescência chegou, eu quis chamar a sua atenção, já que estava interessada nele. Me tornei mais vaidosa, mudei o meu visual, passei a me vestir melhor, melhorei as minhas notas, desenvolvi as minhas habilidades na ginástica e na dança, me tornei uma das garotas mais cobiçadas da cidade, mas mesmo assim nunca pareci ser boa o suficiente para Dylan O'Brien.

Eu acompanhei a sua vida, eu cresci junto com ele, eu assisti a sua família se desfazer e se separar assim como a minha, e nós dividimos quase que as mesmas dores. Eu o conhecia, mesmo que ele não quisesse.

Imagine o que foi para mim, encontrar a sua mãe ensaguentada na cozinha de sua casa, segurando uma faca em uma das mãos enquanto o outro braço sangrava por um corte profundo.

Fiquei em choque e sem ação. Tive tanto medo que quando tentei correr as minhas pernas travaram e eu quase cai em cima da poça vermelha. Eu sai daquela casa batendo pela as paredes, tentando ser o mais rápida que conseguia. Assim que cheguei em frente a minha casa, eu avistei quem eu procurava, o meu pai dava a volta para entrar em seu carro e nesse segundo eu puxei todo o meu fôlego no pulmão e gritei por ele na rua.

— Pai! Ajuda! – ele se virou assustado para mim, e após olhar o meu estado, ele veio até mim com pressa, jogando sua pasta no chão. Eu o puxei comigo de volta pra casa de Dylan, a fim de lhe mostrar a cena. — É a sra. O'Brien, a mãe do Dylan... – eu chorava nervosa, mal tinha voz para falar com clareza.

— Onde ela está? – ele perguntou, já pegando o seu celular e discando para a ambulância.

Assim que chegamos até ela na cozinha, ele foi até o lado do corpo dela, enquanto eu escolhi ficar assistindo do batente, sem ter coragem para chegar tão perto. Eu chorava feito criança, enquanto ele explicava a situação para com quem falava no celular. Ele dizia que ela estava "inconsciente", mas estava "viva". E que tinha "perdido muito sangue" e que foi a sua filha quem a encontrou. Foi tudo o que consegui entender naquele momento.

Eu confirmei que Dylan não estava em casa, pois eu o procurei pela casa e em seu quarto. Ele devia já ter ido para a escola para o seu treino de futebol, e provavelmente foi à pé, já que o seu carro estava na garagem. Fiquei pensando em como iríamos contar à ele o que aconteceu. Mas nem sabíamos o que aconteceu de fato.

A ambulância levou a sra. O'Brien, e eu e o meu pai seguimos ela até o hospital de carro. Lá, depois do que parecia ser uma eternidade, o médico finalmente veio conversar com o meu pai, explicando a situação, e eu consegui ouvir quase toda a conversa.

Foi uma tentativa de suicídio, e que graças à Deus, foi reversível, e agora Elizabeth descansava enquanto estava sedada, após levar alguns pontos no braço. O meu pai não falou muita coisa para mim, mas eu acho que ele percebeu que eu ouvi grande parte da conversa, já que a voz do médico ecoava pelo o corredor.

O médico pediu para que avisássemos aos filhos dela, Dylan e Spencer, mas que não devíamos falar que se tratava de uma tentativa de suicídio. Felizmente, o meu pai pegou para si essa tarefa, ele deve ter percebido que eu não estava em condições de explicar nada a ninguém. Após ligar e conversar com Dylan e Spencer, ele precisou ir atender uma de suas clientes, alegando que estava atrasado para as suas consultas, e eu tive que ficar ali sozinha, esperando Dylan chegar para acompanhar a sua mãe.

Após alguns minutos da ida do meu pai, eu fui chamada no quarto da sra. O'Brien, o que me deixou nervosa e curiosa. E ao chegar lá, constatei que era a mesma que pedia pela a minha presença. Ela estava com um braço enfaixado e o outro com um acesso ligado num soro. Sua expressão estava meio caída, estava grogue, parecia se esforçar para manter seus olhos abertos. Eu me aproximei de sua cama e ela me notou ali, e sorriu.

— Ashley, querida – eu respirei fundo e sorri de volta para ela, mas não consegui segurar as minhas lágrimas. — Eu... queria lhe agradecer... – ela disse, meio fraca.

— Não tem que agradecer, eu não fiz nada demais, foi o meu pai quem ligou para a ambulância... – funguei, e ela apertou o seu olhar para mim.

— Coitadinha... deve ter ficado assustada... – e eu ainda estava, me tremia por completo, minhas pernas estavam bambas.

— Você se sente melhor? – perguntei, meio sem jeito, já que ela praticamente tentou se matar. Será que era uma pergunta idiota? Eu não sabia como devia agir e nem o que devia falar.

— Sim... era sobre isso que eu queria falar com você... – ela disse, e eu me aproximei para prestar atenção. — Gostaria de esclarecer as coisas, até porque foi um mal entendido...

— Como assim? – perguntei, me sentindo um pouco confusa.

— Foi um acidente, pelo menos é isso o que quero que diga para o meu filho... – ela contou, me deixando sem ter o que lhe responder. — Eu já falei com os médicos, e eles entenderam e entraram em um acordo comigo. Eu farei terapia, e com essa condição, eu manterei em segredo o motivo pelo qual eu estou aqui nesse hospital. Entendeu, minha querida? – ela parecia meio desesperada, eu vi isso em seus olhos, o que me deixou ainda mais mal do que eu já estava. — Por favor, querida, o meu filho... Dylan, ele já passou por tanta coisa, eu não pensei direito, foi um mal entendido como eu disse...

— Se acalme, por favor, sra. O'Brien... – eu pedi, vendo que os seus sinais vitais se alteraram no monitor.

— Você promete que não contará à ele? – ela perguntou outra vez. Eu respirei fundo, e para acalmá-la eu resolvi aceitar a sua condição.

— Tudo bem, tudo bem – acenei positivo, e ela foi se acalmando.

— Você é uma boa menina, eu sempre disse isso à sua mãe... – ela contou, relaxando a sua expressão. — Eu gosto de você...

— Eu também gosto da senhora... – e eu voltei a chorar. Droga! Eu era mais mole do que eu pensei que era.

— Eu também sei que você gosta do meu filho... – ela riu, ainda grogue.

— Como sabe disso? – perguntei, rindo um pouco com ela.

Eu tentava ignorar todo aquele ambiente hospitalar, me deixava ainda mais nervosa, mesmo que ela já estivesse bem e fosse se recuperar. Foi uma cena muito assustadora e que com certeza eu não irei esquecer nunca. Ainda mais agora, após seu pedido, terei que esconder os verdadeiros fatos do ocorrido.

— Eu simplesmente sei... – eu queria deixar o quarto para que ela pudesse descansar, mas eu estava com a língua coçando para tirar uma dúvida.

— Mas a senhora pretende contar ao Dylan, não é? – perguntei com a voz trêmula, e nesse mesmo segundo, a porta se abriu com um baque, e quando bati os olhos naquela direção, reconheci imediatamente a imagem de Dylan suado e com o seu uniforme do treino.

— Me contar o quê?

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