A Espada Nebulosa
Dorg achou estranho que uma senhora tenha o fitado desde o momento em que ele saiu de sua casa. Olhou para trás para se certificar de que sua irmã não se assustaria com essa pessoa, mas por sorte ela nem estava perto da janela. Talvez fosse fazer uma limpeza na casa ou estivesse esperando pelo médico que Geth tinha mencionado.
— Olá, meu jovem, como você está? — Indaga a anciã, que tinha dado um pouco de medo em Dorg. — Por favor, não se assuste. Apenas quero conversar com você sobre uma coisa.
— Sobre… Uma coisa? — Dorg ainda apresentava uma expressão de estar assustado.
— Isso. Venha, por favor. — A anciã sinaliza para ele se aproximar dela.
Dorg decide obedecer para saber o que ela queria. Tinha um pouco de curiosidade a respeito do que aquela anciã queria com ele.
— Meu nome é Oolavyre Milner e eu sou do Reino dos Meio Humanos.
— Os meio humanos? Mas eles foram extintos há…
— Eu sei. Faz cinquenta anos que eles foram extintos e desde então, eu sou uma das últimas meia humanas que restou.
Dorg fica surpreso com a descoberta. Não sabia que haviam outras espécies de seres mágicos ou humanóides em Tarayth. Ele vê a anciã tirando de sua bolsa uma espada que estava coberta por uma pele de animal.
— Filho, quero que fique com esta espada. O motivo é para destronar o Rei Raigaford, que vem trazendo a este reino apenas desgraça e um grande acúmulo de impostos. É horrível, as pessoas não podem ser contra o reinado, não podem ter armas, muito menos negar impostos que são cobrados todos os dias. Há também o toque de recolher que ocorre às oito horas da noite. Ninguém mais pode estar fora de casa nesse horário. Os cavaleiros ficam circulando no reino para saber se tem alguém fora de casa e matam. Não querem saber se é uma criança ou um velho como eu, eles matam a sangue frio. São treinados para isso. A entrada de estrangeiros só é permitida por autorização e você e sua irmã deram sorte em terem Le para lhes liberarem.
— Conhece Le? — Indaga Dorg.
— Sim. Dentre os cavaleiros, ele é o mais gentil e sempre me ajudou quando estava com problemas. Eu não consigo pagar mais os impostos que o rei cobra, mas ele sempre dá um jeito de perdoar a falta de pagamento. — Oolvayre nota algo em Dorg. — E como você e sua irmã vão ficar aqui, precisa de um emprego. Pode trabalhar na minha loja de brinquedos se quiser. Fica na minha casa.
Dorg achou estranho e assustador o alto nível de intuição de Oolvayre. Ela soube de tudo que aconteceu e ainda mais da necessidade de Dorg de querer trabalhar para cuidar de sua irmã. Mas usando a lógica, qualquer um pode passar por essa situação.
— Sim, eu preciso de um trabalho agora. — Ele recebe a espada de Oolvayre. — E essa espada?
— É a Espada Nebulosa.
— Não pode ser. — Dorg ri. — É só uma lenda.
— Mesmo? Pois me diga de onde veio essa lenda.
— Dos meio humanos…
— Exato. Nós forjamos essa espada porque estávamos guerreando contra os semideuses, que têm o seu próprio reino. O motivo era porque um dos semideuses matou a princesa dos meio humanos e logo, veio a estourar a guerra. A causa disso acontecer ninguém sabia até hoje. Como os semideuses eram mais poderosos que os meio humanos, acabaram ganhando vantagem. Os meio humanos restantes forjaram uma espada com o poder que tinham para poder colocar um deles dentro da espada. Depois que conseguiram, entregaram a espada para uma meia humana que jurou lealdade. Desde então…
— A meia humana é a senhora?
— Isso mesmo. Meu parceiro, Galord, está dentro desta espada, mas não é ele exatamente e sim o seu espírito. Sempre quando estiver em perigo, ele irá sair da espada e assumir o seu corpo. Você ficará na mesma enquanto ele estiver fora e só poderá sair quando ele quiser entrar.
Dorg ficou assustado com aquilo. Iria compartilhar seu corpo com outra pessoa? Mas como isso seria possível?
— Mas não se preocupe. Somente se estiver em perigo ou diante de uma pessoa de má índole é que ele sairá da espada. Caso contrário, isso nunca irá acontecer. — Oolvayre tosse. — Agora preciso ir. Se precisar de mim, minha casa fica ao lado da casa de Geth. Somos vizinhos. — A anciã sorri e olha para a espada. Tira a pele de animal e tinha até a bainha junto. — Fique com ela e não deixe que ninguém olhe para a sua cintura.
— Está bem. Obrigado… — Dorg vê a anciã saindo e acenando para ele. Achou aquilo tudo muito estranho. Um espírito que tomava conta de seu corpo quando estivesse em perigo ou diante de uma pessoa de má índole? O que significava isso?
Decidiu esquecer os pensamentos e foi dar uma volta. Tinha que tomar cuidado para ninguém notar sua espada, mas acreditava que não. A Espada Nebulosa tinha o cabo dourado com algumas pedras preciosas sendo diamantes que enfeitavam o redor do cabo. A lâmina era de metal, mas parecia ser de cristal, por conta do alto brilho que tinha. Parecia ser uma espada dos deuses, talvez, mas independentemente se for isso ou não, Dorg gostou da espada, mesmo que ela fosse chamativa. Mesmo que ele tentasse escondê-la, não daria certo. Por que Oolvayre tirou a pele de animal?
Enquanto caminhava ainda perdido em seus pensamentos, Dorg vê um monte de pessoas que estavam olhando para algo. Dorg não podia deduzir o que era porque haviam várias pessoas que lhe cobriam a vista. Estava curioso. As pessoas mostravam expressões de estarem estupefatas com o que estavam vendo. Dorg queria saber o que era, foi quando ele pediu licença para as pessoas, porque ele queria passar para ver o que era.
Viu três homens. Um deles tinha os cabelos curtos e negros, assim como os seus olhos. Visava óculos e tinha cavanhaque. Usava um sobretudo azul e botas pretas. Os outros dois pareciam ser gêmeos e tinham feitio de lenhador. Usavam uma camisa social, sendo uma era amarela e a outra vermelha. Ambos tinham olhos verdes e pele branca, mas os cabelos eram distintos. Um era loiro e o outro era ruivo.
— Saudações, senhoras e senhores. — Disse o homem de óculos. Meu nome é Seatlin Goldrudder e estes são meus auxiliares. O loiro é Elhand Fiedlerson e o ruivo é Watay Duus. Vim do Reino dos Magos para lhes mostrar as maravilhas que são os outros reinos. Aqueles dois são trouxas mesmo.
As pessoas começaram a rir.
Dorg olhava para o que tinha atrás deles, que era uma jaula que continha uma mulher centauro. Ela era muito bonita e parecia triste. Sua pele era branca, seus olhos eram castanhos, assim como o seu cabelo, que tinha um rabo de cavalo bagunçado e algumas mechas estavam soltas, usava uma espécie de armadura, mas lhe cobria apenas dos seios para baixo. Tinha uma única ombreira no ombro direito e estava pendurada na jaula um kit de arco e flecha. Ambos eram dourados e a mochila era feita de pele de animal.
— Quem quiser comprar a centauro, fique à vontade, terá benefícios e muitos.
Um dos homens pega um chicote que tinha e batia na jaula. A centauro ficava assustada e se debatia na jaula. As pessoas estavam rindo, mas ninguém queria comprar a centauro. Isso deixou Seatlin irritado, até que ele vê Dorg se aproximando.
— Você quer comprar essa pangaré, rapaz? — Indaga o mago.
— Não. Eu só quero que solte essa centauro. Por que está fazendo isso? Não vê que a está assustando? — Dorg falava com firmeza na voz, mas Seatlin não estava nem aí pelo que ele dizia.
— Olha, meu amigo. — O mago pousa a mão em seu ombro. — Se não quer comprar, apenas saia, o que acha?
Os auxiliares de Seatlin chegam perto dele e, em seguida, empurram Dorg, onde o mesmo cai no chão.
Seatlin lança um raio de magia para o alto e grita:
— Saiam daqui ou todos irão virar sapo! Saiam!
As pessoas se assustavam e saíam de perto. Corriam desesperadas, mas Dorg era o único que ficava. Estava sentado no chão e ele olha para a centauro, que apresentava uma expressão de tristeza. Isso cortou o coração dele e de repente, sua espada começa a brilhar. Os três percebem isso e ficam sem entender o motivo.
— Mas o que significa isso? — Indaga Seatlin.
Os três saem de perto e aparece um Dorg totalmente diferente. Ele usava uma armadura de um guerreiro, tinha o porte físico com mais músculos e usava uma capa vermelha. Estava com uma expressão zangada, algo que não era habitual em Dorg.
— Quem é você? — Indaga Seatlin, um pouco assustado.
Dorg sorri e responde:
— Eu sou Galord, o Cavaleiro da Justiça!
Ele ergue a espada que brilha.
Seatlin achou aquilo brega e começou a rir.
— Vai querer dar uma de herói e salvar a donzela cheia de pulgas? Vá em frente.
Galord, sorrindo, responde:
— Eu tenho uma ideia melhor para resolvermos isso. Seus homens contra mim, na queda de braço.
— Ao mesmo tempo?
— Sim.
— Acha que pode vencê-los?
— Claro.
— Está blefando.
— Que tal apostar? Se eu vencer, a centauro é minha.
Esta cora.
— Mas se você vencer, poderá ficar com a minha espada. — Galord mostra a Nebulosa para Seatlin. Este pareceu interessado na aposta, ainda mais que nunca viu uma espada como aquela. — E então? O que me diz?
— Podem detonar esse metido a macho. — Seatlin fala para os seus auxiliares.
Eles tinham que obedecer e Galord foi com eles até onde tinha uma pedra. Ele coloca os dois braços apoiados na mesma e os homens seguram cada um as mãos de Galord. Estavam prontos para fazerem a queda de braço.
— Isso vai ser mais fácil do que esmagar limões. — Murmura Seatlin.
— Comecem! — Disse Galord.
Os homens empurram com tudo, mas havia algo de errado. Os braços de Galord nem se mexiam. Era como se estivessem empurrando uma parede. Eles usaram toda a força que tinham em seus braços, mas nem sinal de se mexer.
Seatlin, ao ver a cena, ficou impressionado. Como isso era possível? Galord era tão forte assim?
O cavaleiro apenas observava os dois se esforçando em tentar nocauteá-lo, mas nada funcionou, até que Galord fala:
— Minha vez.
Ele consegue nocauteá-los com facilidade e ainda quebrar a pedra, onde se ouviu dois estalos dos braços dos dois que gritaram de dor.
Seatlin ficou impressionado com aquilo. Como foi que aconteceu assim tão de repente?
Galord se vira para o mago e fala:
— Aposta é aposta. Entregue a centauro.
O mago ficou irritado. Nunca iria contar em perder o seu estoque para alguém como Galord. Logo, ele acabou cedendo.
Galord estava caminhando com a centauro por aí. Depois que foi libertada, ela parecia estar mais alegre, não estava mais um poço de tristeza como estava antes. Ficou grata depois que Galord a libertou. Pensava que ele não conseguiria dar conta de dois ao mesmo tempo, mas se equivocou.
— Qual seu nome? — Indaga Galord.
— Winsome Varick. — Responde a centauro, que mesmo que estivesse alegre, ainda mostrava estar preocupada com algo.
Galord percebe isso de primeira.
— Aconteceu algo? — Indaga o cavaleiro.
— Bem, Galord, eu queria lhe pedir um favor.
— Está com saudade de sua casa?
— Não. Na verdade, eu tenho um amigo que está sendo mantido preso por aquele mago.
— Mesmo? Quem é?
— Bem, o nome dele é Vults e ele é um goblin. Eu queria lhe pedir ajuda para resgatá-lo, não somente ele, mas outros seres mágicos também.
— O que aqueles três são?
— Contrabandistas. Eles sequestram seres mágicos para fazerem dinheiro em cima deles. Antes era um circo, mas agora, eles começaram a vendê-los. Eles escolheram Tarayth porque há boatos de que é um reino rico, mas se equivocaram. Foi uma briga para entrarem.
— Não sei como conseguiram.
— Subornaram os cavaleiros.
Galord ri.
Winsome conclui:
— Galord, por favor, ajude-me a resgatar meu amigo. Ele é tudo para mim, é o único que tenho no mundo.
Galord percebe a expressão de desespero de Winsome. Notou que ela gosta muito de seu amigo e por que não ajudá-la? Claro que faria isso.
— Tudo bem. Irei com você para resgatar o goblin. — Galord diz, com um sorriso no rosto. Gostava de fazer o bem para os outros e para provar isso, iria ajudar Winsome, que se mostra mais aliviada e tranquila.
— Obrigada, Galord. — A centauro sorri.
Depois de um tempo, Dorg acabou voltando. Levou Winsome para casa e Molly se surpreendeu com a nova amizade dele. Durante o dia, eles combinaram quando iriam resgatar o goblin. Segundo Winsome, teria que ser hoje à noite, pois eles iriam sair de Tarayth amanhã, pelo que ela podia ouvir no tocante a isso.
Logo, os dois estavam começando a elaborar um plano para resgatar, não somente o goblin, mas todos os seres mágicos.