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Capítulo 3.3

— Doug, peça que arrume a minha mala — peço ao garoto quando o encontro do lado de fora da casa.

— Vai viajar, senhor Fassini? — indaga com uma curiosidade quase infantil.

— Julgo que isso não lhe diz respeito! — O repreendo fazendo-o engolir o seu sorriso. — Viu o meu pai? — questiono ríspido.

— No escritório, senhor. — O garoto me responde com seriedade e eu assinto entrando na casa. Entro no escritório calado, com as mãos no bolso e um olhar altivo. Encontro Enrico sentado em sua cadeira e a sua frente há um copo cheio de uísque. Uma dose tripla, pura e sem gelo. Seu olhar está perdido, desfocado. Ele parece abalado. Finalmente o vejo vulnerável, confirmando que ele é um ser humano e não uma máquina, como sempre se mostrou ser.

— Veio aqui dar o tiro de misericórdia? — inquire bebendo uma quantidade generosa da sua bebida. Calado, eu acendo um cigarro e dou uma boa tragada, soltando uma fumaça espeça que se espalha pelo ambiente. — Está fumando agora? Apague, não admito que faça isso aqui dentro — ordena. Filho da puta! Nem em uma hora dessas ele desce do seu pedestal. Dou outra tragada forte e o encaro, soltando a fumaça lentamente, ignorando o seu comentário e após dar mais duas tragadas, eu caminho para perto da mesa. Ao contrário da última vez, eu me sento de frente para ele. Faço tudo sem desviar o meu olhar de cima dele.

— Você pediu para ela abortar — cuspo com um tom seco e volto a tragar o cigarro, soltando a fumaça em seguida. Ele me lança um olhar surpreso. Provavelmente incrédulo com a minha audácia.

— Quem te contou?

— Não importa, o fato é que a Rose teve a nossa filha — falo entre dentes e ganho mais um €olhar surpresa.

— Uma bastarda, tão suja quanto a mãe! — rosna. Não espero que ele termine o insulto e o seguro pelo colarinho, o puxando por cima da mesa. Alguns objetos e papéis que estão sobre ela, vão ao chão.

— Sabe a ratinha de esgoto? — rebato, entre dentes. — É tão limpa e tão humana, do que qualquer pessoa que já conheci na vida. Você, Enrico Fassini é a escória do mundo. Tão podre que não há nada que se possa comparar e quer saber mais? — Eu o solto e com a minha mão fechada em punho dou-lhe um soco. Enrico Fassini cai no chão sem nenhuma chance de apelo. — Vou encontrá-las, nós vamos nos casar e ela voltará a ser minha! E você, não poderá fazer nada quanto a isso. Estou tendo uma segunda chance e não permitirei que você não e nem ninguém destrua isso. Você não é nada, Enrico Fassini! Do que adianta todo esse império, todas as suas conquistas e todo esse dinheiro, se estará sozinho? Vai para o inferno, Enrico Fassini! — brado e saio do seu escritório com passos largos. Na sala, encontro Doug de prontidão.

— Suas malas já estão no carro, senhor Fassini. — Assinto dando uma última olhada na casa. Não sentirei falta desse lugar. Não há nada aqui que me segure e pensando assim, seguro a minha mala que está próximo à porta de saída e dou as costas, saindo em busca da tão distante felicidade. No carro, pego o meu celular e ligo para Vivian.

— Senhor Fassini, em que posso ajudá-lo?

— Prepare o jatinho, Vivian, estou indo para o Rio de Janeiro. — Pela primeira vez faço um pedido baixo e calmo.

— Sim, senhor — diz e a ligação termina.

Durante a viagem faço algumas ligações importantes e descubro que Rose não mora mais no endereço que recebi de Mariana, que a Ana Júlia mora em uma casa próximo ao Leblon e que ela tem três filhos. Um casal de gêmeos e mais um garoto. Meu Deus, eu tenho netos! Sorrio amplamente olhando o relatório em meu e-mail. Não encontro nada sobre Rose Falcão nele. Sei apenas que trabalhou como doméstica em duas casas de família e fazia consertos para uma grife. Além disso, parece que apagaram todos os seus rastros. Estou muito ansioso. Não sei como ela irá reagir a minha presença depois de tantos anos e não faço ideia do que falaram de mim para ela depois que sai da casa dos meus pais, mas o que me aflige mesmo é não saber se me verá com outros olhos. Droga! E se ela se casou, se tiver esquecido de mim? A final já faz muitos anos. Puxo a respiração e tiro um cigarro do bolso lateral do meu terno. Preciso de um, ou explodirei de ansiedade. Olho o meu relógio de pulso. Falta pouco menos de uma hora para a aterrissagem e cacete, as minhas mãos já começam a ficar trêmulas e gélidas!

— Precisa de algo, senhor Fassini? — Vivian surge ao lado da minha poltrona e pergunta solicita.

— Uma dose generosa de uísque, Vivian, por favor! — peço e ala assente abrindo um sorriso profissional e sai, entrando em um pequeno corredor branco. Acendo o cigarro e já na primeira tragada sinto a nicotina aliviar o meu estresse. Desde que saí de casa a alguns anos atrás, procurei algo que me mantivesse com os pés no chão. Tentei várias drogas na minha mocidade. A maconha foi uma delas e depois apostei na bebida, mas o cigarro foi o único que me manteve sóbrio para alcançar o que eu precisava realmente. Após a faculdade, apostei todas as minhas fichas na indústria de laticínios e construí o meu próprio império. A minha satisfação, é que eu não precisei das mãos sujas do meu pai para fazer isso.

— Seu uísque, senhor, mais alguma coisa? — pergunta, segurando uma pequena bandeja de inox com um copo sobre ela. Eu pego o copo da bandeja e tomo um pequeno gole da bebida.

— Não, Vivian, obrigado! — Ela faz um gesto de cabeça.

— Certo, vamos aterrissar em alguns minutos. Com o tempo bom não tivemos imprevistos — avisa.

— Ok. — A garota sai me deixando sozinho com os meus pensamentos. Concentro-me na minha bebida e olho pela pequena janela redonda. Minutos depois estamos aterrissando em solo carioca. Minutos depois, sou abraçado pelo calor da cidade, por um céu límpido e azul, e o doce sabor da liberdade. Sorrio. Vida nova. Penso. No carro observo atentamente as pessoas indo e vindo no calçadão da praia. — Para o hotel Copacabana, Charles — ordeno, sem tirar os meus olhos da belíssima paisagem. Olho as praias, as pessoas felizes… São outros ares e confesso que era disso que eu precisava. Quando chego ao hotel, tenho toda uma equipe pronta para me servir. Para isso conto com a minha assessora, Agnes Solano. Seu segundo nome? Eficiência. Ela sabe como gosto das coisas e faz tudo sem eu precisar lhe pedir. No quarto de hotel tomo um banho relaxante e demorado e quando termino, faço o pedido de almoço e sigo para um dos sofás da sala luxuosa. Abro o meu MacBook e de cara já percebo um e-mail da Agnes. Clico no arquivo e mergulho de cabeça nas mais novas e intensas sensações. São fotos, muitas delas. As imagens fazem os meus olhos queimarem em lágrimas quando vejo a sua imagem no meio de tantas outras. Baixo uma pesquisa completa com nomes, endereços. Está tudo aqui, mas, mais uma vez não encontro nada sobre a minha pérola negra. Nada sobre Rose Falcão. Suspiro quando o meu celular tocar ao meu lado.

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