
Resumo
Olivia Lawson nunca imaginou que um clique de sua câmera pudesse selar seu destino. Após fotografar um crime que expõe Castellani, um temido mafioso, ela se torna alvo de um violento acerto de contas. Sequestrada à mando do mafioso e jogada no caminho de Evan Blake, um homem tão sedutor quanto perigoso, Olivia descobre que a única maneira de sobreviver é aceitar um jogo insano: fingir ser a esposa de seu sequestrador e assumir uma nova identidade. Mas a ameaça de Castellani cresce a cada dia, e Olivia precisará decidir até onde está disposta a ir para permanecer viva e se deve entregar seu coração à Evan.
Prólogo
Era um casamento.
Mas não era meu.
Não deveria ser.
Deveria ser da minha irmã, a noiva verdadeira.
Mas ela fugiu, e eu... bem, estava aqui no lugar dela, sem poder questionar, sem palavras para recusar.
Tudo que me restava era a presença de meu corpo, que parecia estar se movendo sem minha permissão.
O vestido branco parecia pesar mais a cada passo que eu dava. A longa cauda arrastava-se atrás de mim pelo piso polido da igreja, como uma sombra que eu não podia evitar. Meus sapatos novos faziam ecoar um som baixo, quase ritmado, no ambiente silencioso.
Tudo ali exalava uma solenidade que eu não sentia.
As velas, os vitrais coloridos refletindo luz suave, e o cheiro levemente adocicado de incenso se misturavam numa cena que parecia saída de um sonho, ou talvez de um pesadelo.
No final do corredor, ele estava me esperando. Alto, de ombros largos e porte impecável, seu terno preto ajustava-se perfeitamente, como se tivesse sido feito para moldar sua figura esculpida. Os cabelos escuros estavam cuidadosamente penteados, mas havia uma mecha rebelde que caía sobre sua testa, suavizando ligeiramente sua expressão. Seus olhos, de um tom profundo de azul, mantinham-se fixos em algum ponto indeterminado, longe de mim. Seus traços eram perfeitos, como se tivessem sido desenhados a mão, mas sua seriedade dava a ele uma aura quase intimidante. Não havia sorriso, nem qualquer traço de emoção. Apenas um olhar frio, distante, como se estivesse ali por obrigação.
O padre estava ao lado dele, uma figura de vestes simples, segurando o missal com as duas mãos. Atrás de mim, o vazio absoluto. Nenhuma amiga ou parente para me acompanhar, nenhuma música para marcar o momento. Do lado direito, nos bancos mais próximos ao altar, estava minha mãe. Ela não parecia feliz ou emocionada; apenas cansada, talvez resignada. Do lado esquerdo, os pais dele. A mãe mantinha as mãos cruzadas no colo, os dedos tamborilando no tecido do vestido elegante, enquanto o pai observava a cena com uma neutralidade calculada.
Respirei fundo, tentando manter a calma. Meu silêncio era minha realidade, mas naquele momento ele parecia mais ensurdecedor do que nunca.
Quando finalmente cheguei ao altar, o padre olhou para nós dois, sorrindo de leve.
— Estamos aqui reunidos para celebrar a união deste homem e desta mulher no sagrado matrimônio. Antes de prosseguirmos, é importante perguntar: vocês desejam realmente se casar?— ele perguntou, sua voz ecoando na igreja quase vazia.
Meu noivo não hesitou.
— Sim — respondeu com firmeza, sem sequer desviar o olhar do padre. Sua voz era grave, controlada, sem traço de hesitação.
Todos os olhos se voltaram para mim.
Meu coração batia rápido, mas eu mantive minha expressão neutra. Ergui ligeiramente o queixo e assenti. O gesto foi suficiente para o padre continuar, como se minha mudez não fosse um obstáculo. A cerimônia foi breve, quase mecânica. Palavras de união, votos que ele pronunciou com precisão e que eu apenas confirmei com novos acenos.
Quando finalmente ele disse “pode beijar a noiva”, meu noivo inclinou-se apenas o suficiente para roçar os lábios nos meus. Foi um toque rápido, sem calor ou intenção, como quem cumpre uma formalidade. Não esperei mais do que isso.
Assim que saímos da igreja, ele virou-se para o motorista que esperava próximo ao carro preto lustroso.
— Leve-a para casa — ordenou, a voz seca, sem sequer olhar para mim.
Não houve explicação, nem pedido de desculpas.
Ele apenas entrou em outro carro, que partiu rápido enquanto eu era ajudada a entrar no veículo destinado a mim. O motorista, um homem de cabelos grisalhos e semblante amigável, tentou iniciar uma conversa, mas desistiu ao perceber que eu não responderia.
Durante o trajeto, olhei pela janela, observando as ruas desconhecidas enquanto o sol começava a se pôr no horizonte. Minha nova vida começava assim: em silêncio e solidão.
A casa era imensa.
Portões altos se abriram para revelar um jardim bem cuidado, com fontes e arbustos perfeitamente podados. O motorista me ajudou a sair do carro e abriu a porta principal, entregando-me a chave antes de se despedir com um leve aceno. Assim que entrei, a grandiosidade do lugar me envolveu. O hall principal tinha um lustre de cristal que brilhava suavemente sob a luz das lâmpadas, e o chão de mármore fazia ecoar o som dos meus passos. O ar era levemente frio, carregado com o cheiro de madeira polida e flores frescas.
Deixei a chave sobre uma mesa lateral e comecei a explorar. Cada cômodo parecia mais luxuoso que o anterior. A sala de estar tinha sofás macios, uma lareira imponente e prateleiras cheias de livros que eu queria examinar mais tarde. A cozinha era moderna, espaçosa, mas impessoal, como se nunca tivesse sido usada. Subi a escada principal, os degraus acarpetados amortecendo meus passos. No andar de cima, encontrei o que deveria ser nosso quarto. A cama era enorme, com lençóis brancos impecáveis, e as janelas ofereciam uma vista deslumbrante do jardim iluminado pela lua.
Deixei-me cair na cama, ainda vestida de noiva. O corpete apertado começava a incomodar, mas eu não tinha forças para tirá-lo. Passei as mãos pelo tecido do vestido, agora amassado, e fechei os olhos por um momento, tentando processar tudo o que havia acontecido.
Olhei ao redor, procurando algo familiar, algo que me fizesse sentir em casa. Mas não havia nada. Tudo estava impecável, sem um único objeto pessoal. O silêncio era absoluto. Apenas o som do vento nas árvores do lado de fora me fazia sentir que, de alguma forma, ainda havia vida lá fora. Mas aqui dentro, tudo parecia morto.
Esperei por ele.
Esperei que a porta se abrisse, que seus passos ecoassem pelo corredor.
Mas a casa permaneceu em silêncio.
As horas passaram, e o cansaço finalmente me venceu.
Adormeci assim, sozinha, ainda vestida de noiva, enquanto a lua seguia seu curso pelo céu. Meu primeiro dia como esposa terminou em silêncio e expectativa, em um lar que ainda não parecia meu, esperando por algo que eu não sabia se algum dia viria.
