Capítulo 6
No dia seguinte, Domênica levou o colar para que o trabalho fosse feito e todas as suas esperanças de acabar com o que Benício estava começando a sentir por Valentina poderia ser desfeitos.
– Tenho uma foto de Valentina junto com minha filha Sara (suspiro), apenas terei o trabalho de corta-la. – Josélia diz segurando aquela peça perto dos seios.
– Certo, eu quero muito que dê certo, minha família já passou por muitas coisas por causa dessas malditas mulheres!
– É o dia perfeito Domênica, sexta-feira. Pode confiar em mim, meus feitiços nunca falham. Farei com que ele a odeie com todas as forças, quem faz meus trabalhos jamais descansa. – Ela sorria.
Domênica sai satisfeita de lá, bastaria esperar que desse certo. Ela nunca teve medo de nada e não seria desta vez, invocaria o diabo ou quem fosse para separar seu filho dessa mulher e nada a iria impedir.
Valentina havia falado a dias com Sofia sobre um trabalho na cidade, mas até agora nada havia surgido então ela teve a ideia de fazer alguns doces para vender. Saiu bem cedo levando-os e conseguiu algumas vendas naquele dia. Chegou quase ao meio dia.
– Oi minha linda o almoço já está pronto, sei que tem que correr para pegar seu ônibus e mal vai dar tempo engolir! – Carmem diz mexendo ainda nas panelas.
– Não, hoje não terei aula a tarde. O professor Fernando está viajando e nos liberou! – Valentina diz colocando os doces que sobraram na mesa.
– Ainda bem querida. E as vendas?
– Foram boas acredito, que amanhã serão ainda melhores.
– Só fico triste de te ver nessa correria. Está ficando magra de tanto pular refeições.
– É só uma fase e logo eu consigo um trabalho! – Ela diz abraçando Carmem.
– Como estão? – Salazar entra na cozinha, sempre teve liberdade de ir e vir naquela casa.
– Estamos bem. – Valentina responde.
– Eu te vi indo vender na cidade, estão precisando de alguma coisa? – Ele pergunta atencioso e sabendo que um provedor fazia falta ali.
– Felizmente não, isso é temporário pretendo encontra um emprego na cidade.
– Mas você estuda Valentina, como vai conseguir dividir nas duas tarefas?
– Para tudo nessa vida dá-se um jeito Salazar. – Carmem responde.
– Se não fosse tão orgulhosa como sei que é Valentina, eu poderia ajudar as duas e...
– De jeito nenhum Salazar! Meu sustento e de minha avó é responsabilidade minha. – Valentina o interrompe para dizer, ela sabia que dar a ele a oportunidade de mantê-las seria o primeiro passo para se achar dono dela.
– E de seu marido! – Carmem responde deixando a neta irritada.
– Pelo amor de Deus vó, não diga um absurdo desses. – Valentina se senta.
– A senhora seria capaz de aceitar algo desse crápula? – Salazar questiona.
– Não disse que aceitaria ou que é um desejo meu, mas essa é uma verdade, ele é seu marido.
– Não gosto nem ao menos de lembrar disso. – Valentina responde.
– De jeito nenhum, Valentina nunca vai recorrer a ele, jamais! – Salazar aumentou o tom de voz naquela conversa.
– Jamais mesmo!
– E precisa se recordar de uma coisa filha. Quanto de dote pagou a ele por seu casamento? – Carmem pergunta, aquela questão não havia lhe ocorrido ainda, mas naquele momento ela se lembrou.
– Dote? – Valentina nem sequer tinha cogitado.
– Sim dote, que toda esposa cigana precisa ter filha.
– Nada! nos casamos às pressas e nem sequer falamos nisso. – Responde ela.
– Se ele exigir teremos que pagar a ele.
– Isso seria demais...um verdadeiro absurdo Carmem. – Salazar cruza os braços.
– São nossas leis meus filhos.
– E se não pudermos pagar o que ele pode fazer? Me devolver? Isso seria mais do que perfeito para mim, assim me livraria para sempre dele. – Valentina tentava pensar nas possibilidades e quem sabe uma delas poderia ser sua libertação.
– Ele poderia exigir algum tipo de punição, eu nem saberia dizer quais consequências teria, pois isso nunca aconteceu antes aqui. – Carmem jamais havia presenciado algo do tipo.
– Se ele exigir dinheiro, me fale. Me diga e eu pagarei sua dívida. – Salazar não perdia a oportunidade de oferecer tudo o que podia a elas.
– Eu te agradeço Salazar, mas acredito que mesmo sendo um monstro, ele não seria capaz disso. – Valentina se levanta e começa a guardar algumas louças.
– Você ainda consegue enxergar algo de humano nesse verme? – Pergunta Salazar.
– Chega desse assunto e vamos comer! – Carmem diz convidando Salazar para sentar e os servindo.
Na tenda de Benício Adriana e Domênica conversam no quarto.
– Em breve não vai mais se preocupar com Valentina. Ela diz segurando a mão de Adriana.
– E por que diz isso minha sogra?
– Por que encomendei algo para ela. – Ela sorria enigmática.
– Não me diga que mandou alguém mata-la Domênica?
– Não sou assassina, nossa família já tem sangue demais na conta.
– E então?
– Um feitiço...uma bruxaria como queria chamar.
– E a senhora acredita mesmo nessas coisas? – Adriana não era cigana e não tinha esse senso comum e crendices populares.
– Não só acredito como já vi muitas vezes funcionar. Benício vai odiar Valentina, acredite em mim Adriana.
– Tomara que funcione...a dias ele não me toca.
– Primeiro vamos afasta-los e depois veremos como trazer os olhos dele de volta a você querida!
Naquela tarde Domênica foi ao presídio em fim, ver Kayon. Quando foram mandados para longe as visitas eram raras por causa da distância, mas agora tinha possibilidade de vê-lo com muito mais frequência.
– Meu amor, trouxe para você. – Ela diz entregando um bolo, que havia passado por rigorosa inspeção.
– Obrigado, como estão todos? – Ele pergunta interessado.
– Agora muito melhor! – Domênica estava pronta para dar a ele a notícia que sempre esperou.
– Não me diga que finalmente voltaram?
– Sim, nosso Benício cumpriu sua promessa Kayon.
– Como ele conseguiu que os aceitassem?
– Ele se casou com Valentina...filha...da maldita da Eulália e Donato. – Domênica responde amaldiçoando essa parte da vingança.
– Eu me lembro dessa bastarda! – Ele se lembra da pequena nos braços de Carmem.
– Donato faleceu a uns meses e a liderança passou a essa garota. Bastou nosso filho a iludir e se casaram.
– Ele é como eu, jamais foge de um desafio. Diga que quero vê-lo e que ele fez muito bem em cumprir a promessa. – Kayon pede antes de se despedir dela.
– Sim eu direi. – Domênica o beija.
Depois de um tempo e da visita íntima. Kayon ficou em sua cela pensando em tudo o que poderia estar acontecendo naquele acampamento com a volta de sua família e em muitas outras coisas que pairavam sua mente a tantos anos limitada por aquelas grades.
"Valentina, filha de Eulália...deve ser bela como a mãe!"
Benício tinha voltado do trabalho e estava apenas encostado no carro junto com Henrico um dos velhos amigos do clã. Eles observavam Valentina sentada em uma roda de crianças, estava ensinando alguns números ela amava tanto lidar com os pequenos era nítida sua vocação para ensinar.
– Me perdoe pelo que vou dizer amigo, mas Valentina não merecia o que fez com ela. – Henrico era amigo de ambos, mas não teve receio de dizer o que pensava.
– Eu sei que não, mas não posso mudar o passado. – Benício lamenta.
– Não a ama nem sequer um pouco?
– Pelo contrário Henrico, sinto que vou morrer de amor por ela e esse é meu castigo.
– Por que não tenta? Já que estão casados e não existe divórcio.
– Ela não quer me ver nem pintado de ouro e eu a compreendo.
– Sua situação é muito difícil mesmo Benício.
– Amor posso te roubar um instante? – Adriana o convida, havia percebido pela direção e os olhares que falavam de Valentina e tratou de levar seu homem dali, dando um olhar matador de ódio para Henrico que parecia estar favorecendo o lado da outra.
Valentina vê Benício e ela entrarem, sentiu ciúmes e ao mesmo tempo sabia o quanto era humilhante ter que ver o marido e amante juntos.
– Pode dizer Adriana...– Benício pediu.
– Como assim dizer? Eu só queria ficar contigo a sua companhia, seus beijos. – Ela responde o abraçando e tentando o seduzir.
– Eu estava conversando com Henrico. – Ele responde se afastando dela.
– Como está difícil lidar contigo, certo então volte para lá. Finja que está falando com ele para ficar babando por aquela desgraçada! – Ela gritou aos prantos saindo da frente dele.
Benício saiu e foi dar uma volta nem que fosse para ouvir os pássaros cantando ou uma pedra caindo. Estava cansado daquela cobrança, aquele clima entre ele e a família...tudo parecia um castigo e um verdadeiro inferno. Se recostou em uma cerca, ali próximo haviam muitas fazendas e pasto, um tempo depois...
Ouviu gargalhadas femininas e deu uma olhada para sondar de quem se tratava, era Valentina e algumas das meninas do acampamento, ela segurava um cachorro no colo e sorria. Estavam indo colocar ele de volta nas dependências da fazenda próxima de lá.
– Você sempre volta, já te mandamos de volta mil vezes seu travesso. – Valentina diz fazendo um carinho antes de o soltar e ele sair em disparada de lá. Elas sorriem e enfim ela se dá conta da presença de Benício encostado naquela cerca, no mesmo instante seu sorriso se desfaz.
– Espere Valentina. – Ele diz correndo e se aproximando dela.
As outras meninas percebem que ali rolaria uma conversa de casal e partem em retirada.
– Por favor Benício. Já está escurecendo, vamos deixar esse assunto seja qual for para outro momento.
– Não, me escute agora. – Ele pede olhando dentro dos olhos dela.
– O que você quer? Mas pense bem no que vai dizer, ou eu saio agora mesmo daqui.
– Eu preciso que me assegure de uma coisa.
– Do que seria? – Ela questiona.
– De que nunca esteve com Salazar e de que nunca vai estar! – Já que ele não podia tê-la que pelo menos o assegurasse de que não seria de nenhum outro.
– Isso não te interessa. – Ela ia deixa-lo plantado, mas ele a agarra forte, ela luta para se desvencilhar dele e aos dois acabam caindo.
Valentina
Sentir o corpo dele sobre o meu dava medo e ao mesmo tempo uma vontade diferente de tudo o que eu já senti nessa vida, não sei por que quando estou com ele eu sinto dor e alegria, medo e desejo.
– Interessa por que sou seu marido e não aceito ser feito de otário.
– E eu posso ser? Por acaso não é você que se exibe com amante aqui? – Ela grita.
– Está com ciúmes de Adriana?
– Não meu caro marido, apenas quero te lembrar que a balança oscila para os dois lados. Já chega de me cercar e me pedir esses absurdos, pare com essa loucura antes que alguém saia ferido!
– Pois se atreva a me trair e de fato vai me conhecer. – Eles ainda estavam caídos naquela grama e ele não aguentou mais. A tomou forte e beijou, enfiando a língua com tudo dentro dela, que por um instante se deixou levar por ele, se beijaram com fogo e desejo. Benício se excitou, Valentina finalizou dando-lhe uma mordida forte no lábio inferior.
Sorriu e tratou de lhe dar um soco imenso no rosto deixando-o sem ação e caído naquele pasto, apenas olhando ela voltar correndo para casa.
Benício
Ah Valentina, eu não sei o que vou fazer contigo se te mato ou se te amo!
Valentina chegou e correu para o quarto nem queria que Carmem a visse alterada assim, pois saberia de fato que havia acontecido alguma coisa de errado.
– Agora com um olho roxo talvez aquele filho da mãe deixe de ser tão atrevido. – Ela ainda sorria muito da lição que tinha dado nele.
Benício chega em casa com um olho inchado, Valentina era uma mulher indefesa, mas tinha um belo cruzado de direita. Assim que ele entrou Karen viu aquele estrago.
– O que aconteceu com seu rosto?
– Nada e deixe de ser curiosa. – Ele murmurou.
– Seja quem for é bom de briga. – Ela diz sorrindo sem nem imaginar de quem falava.
Ele entra no quarto e fica pensando naquele beijo, valeria a pena ter levado mais trinta socos como aquele se ele pudesse de novo ter aquela boca colada a sua mais uma vez.
Benício
Não sei o que vou fazer para me livrar desse amor, nem sequer sei se quero me livrar dele ou mergulhar de corpo e alma até perder os sentidos.
...
A 00:00 se aproximava e Josélia estava pronta para realizar aquela amarração contra Valentina. Mesa posta, velas vermelhas e símbolos profanos. Ela sabia bem como fazer aquilo dar certo.
– Um sacrifício...te ofereço o sangue derramado deste ser vivo em troca de seus serviços. Poderoso mago, desfaça o amor que une esse casal Valentina e Benício e que as almas perturbem a mente dele para que a faça um mal sem precedentes. E que ele sinta ódio, raiva, aversão e deseje sua morte em dor e sofrimento. – Ela diz derramando sangue de um animal sobre o colar Benício e a foto de Valentina.