Capítulo 3: A milhas de você.
01/01/2020, 02h59min.
☠{Narrador}☠
Uma hora e vinte e nove minutos se passaram desde a fuga e ainda não havia sinal dos primeiros raios solares iluminando o caminho deles. Aquela noite estava longe de acabar. Depois de um longo período sem dormir, Nibiru adormeceu sobre um macio colchão de pelos. No entanto, um salto brusco o fez acordar rapidamente e agarrar-se em "01" antes de cair de uma altura de quase cinco metros. O canino manteve suas garras fincadas no tronco sólido de uma árvore. Ao olhar com mais calma para baixo, avistou jipes passando pela estrada de barro, e neles havia soldados da Shaka altamente armados, que os caçavam como animais.
— Merda... — Cochichou arfante, após o susto anterior. Ao fazê-lo, “01” rosnou baixo, como se o estivesse repreendendo por xingar e fazer barulho. Não soube o que mais o assustou: a inteligência do ser recém-criado ou o som do tiro disparado.
Agora consciente, Billy não os deixaria escapar. Graças à adaptação progressiva do Mouzayshi, ele escapou do primeiro projétil, mas não do segundo. O disparo atingiu sua pata traseira antes que a fera verde pudesse aterrissar no chão, causando um rugido doloroso. O humano caiu do lombo da criatura, raspando o rosto na terra úmida, e pés calçados com botas pararam diante dele.
— Achou mesmo que iria escapar, traidor? — Billy rosnou as palavras subjugando Nibiru com sua presença proeminente. — Tem sorte dela o querer vivo. Não hesitaria em meter uma bala na sua cabeça. — Mais pessoas chegaram ao encontro deles, encurralando-os. No momento em que iria nocauteá-lo com o revólver, "01" puxou-o pela perna até si.
A fera rugiu, mostrando pela primeira vez dentes salientes e agudos, mas, contrariamente à reação de medo dos demais, o único lúpus presente gargalhou alto. Quando Nibiru quis se levantar, sua criação não permitiu, prendendo suas pernas com a cauda.
— Olhe para você, nem consegue se defender sem essa coisa. Alfas de merda como você dão boa fama a nós Lúpus. Você é apenas uma putinha submissa. — Desmoralizou o antigo subordinado da Shaka enquanto pedia tranquilizantes para derrubar a criatura.
Ele queria socar a cara do miserável! Com o rosto abaixado, franziu a expressão em ódio, cerrou os punhos trêmulos pela raiva e deu um rosnado grave. Aquele filho da puta chamou "01" de "coisa". Ele vai mostrar quem é a coisa após desfigurar o corpo dele. Lentamente, largou a bolsa junto ao canídeo e se soltou dele.
Um som ensurdecedor rompeu no lugar, a forma humana de Nibiru tornou-se massiva e alongada. Antes que pudesse terminar a transformação, Billy pulou sobre si na velocidade de um raio, terminando a mudança em conjunto. Agora, dois cães raivosos lutavam entre mordidas e escoriações.
Os subordinados apontaram seus revólveres para o canino marrom, esperando o momento certo para atirar. Assim, diante daquele alvoroço, esqueceram-se de "01", que derrubou metade dos envolvidos. A outra parte abriu fogo contra os dois fugitivos no momento em que houve oportunidade, acertando nove disparos no Mouzayshi e cinco em Nibiru.
Ao ver seu inventor ser gravemente ferido, "01" não pensou duas vezes antes de avançar no agressor.
— Senhor, por favor, tenha cuidado! — Alertou a mulher de cabelos castanhos claros. Embora Billy tenha ouvido, ele continuou a morder o pescoço do cachorro mais fraco, rasgando a pele de pelagem branca e manchando-a com sangue em uma tentativa de soltar-se.
Ele somente soltou Nibiru de seu aperto firme quando chifres largos perfuraram suas costelas. As aves próximas, que não fugiram com os tiros, voaram grasnando assustadas pelo urro lancinante ouvido a metros de distância; o tronco ficou manchado de sangue onde era apertado, enquanto tentava se livrar da dor causada por "01", emitindo rosnados e grunhidos.
— Corra. — Trata-se de um fenômeno surpreendente. Como poderia um ser humano transmorfado falar sem possuir a formação vocal adequada? No entanto, Nibiru não atendeu ao pedido que lhe foi feito. Embora estivesse ferido, ainda podia correr. Mas como poderia ele dormir sabendo que havia fugido e abandonado outro ser para morrer?
Diante da teimosia momentânea do indivíduo, que assumiu uma aparência bestial, Mouzayshi desvencilhou-se de Billy, lançando-o sobre os soldados que já haviam terminado de recarregar suas armas e estavam se levantando. Antes que mais projéteis pudessem atingi-los, '01' jogou seu parceiro de fuga sobre os ombros e pulou do barranco próximo à estrada de terra, agarrando a bolsa com o soro a tempo com sua cauda.
Embora abatido em razão das graves lesões fechando-se devagar, Billy se posicionou no limite da ribanceira, emitindo um rosnado ressonante que se assemelhava a uma promessa não verbal de capturá-los em breve.
Lá embaixo, Mouzayshi continuou a correr com o cachorro nas costas, enquanto o animal latia pedindo para que a corrida parasse. Repentinamente, Mouzayshi parou e o cachorro, chamado Nibiru, voou do seu lombo e caiu no chão, aparentemente ferido pelos inúmeros cortes e arranhões. Percebendo que havia causado dano ao animal, o personagem "01" caminhou em sua direção e o confortou acariciando sua cabeça com a pata.
— Acalme-se, humano. — Disse ele novamente, enquanto em forma animal. Nibiru baixou as orelhas, confuso e dolorido. Não bastasse o uso excessivo de força, que quase massacrou Billy, um alfa lúpus, agora ele também podia falar enquanto transformado. Observando agora, percebeu que o tamanho de "01" era ainda maior, provavelmente entre 3 e 4 metros.
O humano voltou a ser homem aos poucos, porém manteve-se caído no chão terroso enquanto as dores se intensificavam. Nessa situação, senão recebesse logo os devidos cuidados médicos, morreria antes de alcançarem a civilização. Ele esforçou-se para o menos sentar com a mão no pescoço, no qual havia um corte medianamente profundo graças a "01", todavia não poderia ser ignorado.
O ser humano readquiriu a postura gradualmente, porém permaneceu prostrado no solo terroso enquanto as dores aumentavam em intensidade. Caso não recebesse prontamente os cuidados médicos necessários, corria o risco de falecer antes de chegar à civilização. Esforçou-se para sentar-se, com a mão no pescoço, onde havia um corte de profundidade moderada — que não foi pior graças a "01" —, contudo, tal lesão não podia ser desconsiderada.
Após observar com mais atenção, percebeu onde as dores eram mais intensas: apresentava perfurações na coxa, uma bala havia rasgado a lateral esquerda do abdômen, outra permanecia alojada no ombro direito, além de sentir uma ardência pungente de ulceração nas costas e no braço.
— “01”... tu precisas de continuar sem mim. Leva o soro contigo e destrói-o. — À medida que falava, mais sangue escorria de sua garganta, e a cada segundo sentia seu corpo debilitar-se.
— Não. — Ele respondeu simplesmente, ao sentar-se diante dele e colocar sua bolsa à sua frente. Seus olhos escuros de turquesa vagaram sobre as feridas abertas e, por fim, concluiu que Nibiru estava à beira da morte.
O Mouzayshi se aproximou tanto que suas faces quase se tocaram, permitindo sentir a respiração ofegante do humano. Nesse momento, sua língua verde deslizou pela ferida aberta no pescoço de Nibiru, que lutou para não gemer de dor, já que sua parte mais vulnerável estava exposta ao predador, capaz de matá-lo com uma única mordida.
— Droga, por que é que tu só não vais sem mim? Tens a tua liberdade: vai e desfruta-a. — Nibiru gostaria de ir com ele e viver confortavelmente uma vida juntos, mas acredito que sua condição física só atrapalharia ambos. Além disso, os capangas de Nastácia continuariam a caçá-los até estaren fora de alcance.
— Não te deixarei morrer, porque quero viver para sempre com você. — “01” disse. Nibiru ficou maravilhado com essas palavras tão francas e gentis. O seu único olho natural encheu-se de lágrimas, emocionado, mas também de dor.
Ele acariciou o rosto grotesco de "01", sentindo a suavidade de sua pelagem. Enquanto fechava os olhos, Nibiru pensou: "Quero dormir abraçado a esse pelo macio". Gradualmente, ele perdeu a consciência.
...
5h45min.
Após acordar devido a um pesadelo ao amanhecer, não conseguiu mais dormir. Dores incômodas surgiram em seu corpo e quando foi se despir para tomar banho, notou manchas suavemente vermelhas em sua pele leitosa, como pequenos inchaços doloridos. Elas estavam presentes em regiões da coxa e do pescoço, sendo esta última a maior delas.
Sem excluir as regiões menores, tais como a escápula das costas e o antebraço. A presença de Hiama na reunião com o comitê da Sede do Governo Suãnino era indispensável, então, apesar de causar-lhe uma leve irritação decorrente de uma dor, não deixaria de comparecer. Os conselheiros da SGS possuíam um grau de importância maior que o dos ministros, uma vez que não eram responsáveis pela administração de áreas políticas específicas de um país, mas sim pelas decisões que determinavam o futuro do continente.
A imersão do corpo na água extremamente gélida diminuiu a sensação de ardor, contudo não a eliminou por completo. Após dois minutos, Hiama utilizou um sabonete neutro anti-feromônios em seu corpo. Embora esses feromônios não o incomodassem, os olhares de cobiça lhe causavam repugnância. O aroma de baunilha com um leve toque amadeirado, que o tornava atraente, seduzia pessoas indesejadas, com as quais ele não desejava se envolver, apesar da insistência insolente de terceiros.
Enquanto enxugava o sabão do corpo, imaginava alguma possibilidade de se libertar do possível casamento arranjado que lhe seria anunciado hoje. Talvez a viagem sobre o empréstimo para medidas socioeducativas, que adiou com o ministro da educação em Brazindu, pudesse ajudá-lo. E quando terminasse de resolver isso, passaria um breve período em Tumarim, apesar da alta criminalidade do país, somente para desfrutar das praias paradisíacas.
Após terminar seu banho relaxante, Hiama vestiu o roupão de veludo azul e parou em frente ao espelho amplo acoplado na parede. Ao desatar a bata, notou nitidamente as marcas na pele.
Hiama virou as costas para o seu reflexo e se dirigiu à pia. Ele abriu a boca para remover o protetor bucal, já que sofria de bruxismo e usava o protetor para evitar o desgaste dos seus dentes avantajados. Em seguida, aplicou uma pequena quantidade de creme dental na escova e dedicou cerca de três minutos para realizar a sua higiene matinal.
Ele vestiu o traje mais elegante encontrado no closet, que continha mais de 347 peças de grife avaliadas acima de 97.965 Ɀ$. Em seguida, pegou o celular carregado na cabeceira da cama e o colocou no bolso do sobretudo cinza. Buscou o coldre e a arma em um cofre oculto atrás de uma pintura arcaica, carregou a munição e deixou o quarto. Nos corredores abaixo, encontrou um segurança que o cumprimentou formalmente. Ele ignorou a saudação e foi direto ao ponto:
— Preparem um carro, sairei em breve. — Hiama não se importava com os subordinados do governo, pois não eram seus colegas e permaneciam ali apenas pelo salário e benefícios invejados por qualquer trabalhador. Além disso, já havia ouvido vários deles falando coisas desagradáveis a seu respeito.
Ele abriu a porta do salão de refeições, que era excessivamente grande para apenas duas pessoas na maioria das vezes, junto com seu irmão. Ele preferia sentar-se na extremidade da mesa que tinha capacidade para 50 pessoas. Observando através do vidro, ele notou que estava nevando intensamente do lado de fora. Ele amava tempestades de neve, pois sentia-se melhor em relação à sua temperatura corporal elevada quanto mais frio estivesse.
Logo, uma funcionária surgiu da porta no final do salão, visto que a cozinha estava localizada na divisão adjacente. Foram-lhe servidos três grandes omeletes e uma xícara de chá de erva-cidreira sem açúcar. Hiama então desfrutou de seu café da manhã sozinho, em paz, mas ainda assim solitário.
Algum tempo depois, Seber, seu irmão mais novo e líder honorário de Zerolar, chegou para tomar o café da manhã. Ele o cumprimentou e, embora sem muito ânimo, Hiama respondeu prontamente. Terminou de comer e se retirou do local, pronto para solucionar seus problemas - ou pelo menos adiá-los. Enquanto caminhava, pensava em como havia tratado seu irmão nos últimos tempos e desejava recuperar a união forte e terna que tinham quando eram crianças. A morte dos pais havia acabado com tudo o que era bom entre eles: brincadeiras, abraços e sorrisos.
Ele temia que Seber pudesse odiá-lo por ter matado o pai deles, mesmo que ele merecesse pelo que fez com sua mãe. Fez o que era necessário para mantê-lo seguro, defendendo-o com suas presas e garras. No entanto, após ser enviado para o reformatório, perdeu contato com ele. Suas cartas deixaram de ser respondidas, com aquela caligrafia infantil torta e garranchada, o que lhe fez definhar gradativamente naquele lugar insalubre.
Hiama não tem ideia de como sobreviveu àquele inferno, sendo espancado pelos delinquentes maiores e, naquela época, mais fortes do que ele. As contusões foram tantas ao ponto de as próximas não terem doído tanto devido ao inchaço das primeiras. Ele não consegue se recordar das vezes em que chorou aos soluços no banheiro, sempre na calada da noite, com saudades de Helena e Seber.
Isso ocorreu até que ele se cansou de ser espancado e aprendeu a se defender contra os socos e insultos. Ele ainda estava se recuperando de ferimentos da última agressão quando um dos garotos que sempre o atormentava derrubou seu prato de sopa rala no chão da cantina. Todos os presentes pararam para ver o jovem fraco e branco sendo maltratado. Entre risos e sussurros debochados, o espetáculo começou: o garoto lhe deu uma forte bofetada na orelha, que ficou zumbindo por um tempo.
"Levanta pra chupar meu pau, seu merdinha!"
Ele ficou em silêncio observando a mesa vazia. Embora a refeição pudesse estar desagradável, sua fome era intensa demais para ter sido desperdiçada. De repente, como um vulcão em erupção, Hiama avançou em direção ao delinquente, segurando seu rosto com garras recém-descobertas, ainda médias e frágeis, mas afiadas como agulhas.
O lúpus abocanhou uma das orelhas do garoto, cravando seus pequenos caninos pontiagudos nela, enquanto o jovem tentava desvencilhar-se da fera, apesar dos arranhões. Era surpreendente a força bruta demonstrada por um rapaz de apenas 15 anos.
Um grito ecoou no ambiente, enquanto sangue manchava o piso branco após Hiama arrancar um pedaço da orelha do agressor, forçando-o a soltá-lo e se arrastar em direção oposta, com a mão sobre o ferimento. Os olhos descomedidamente vermelhos do agressor fixaram-se no garoto, enquanto ele mostrava as presas tingidas de vermelho. Foi nesse momento que o lúpus de Hiama despertou.
O veículo já se encontrava pronto na garagem. Assim que chegou, embarcou no automóvel obrigatoriamente blindado e forneceu o endereço ao motorista. Atrás do carro, três veículos escoltavam-no, com soldados devidamente armados e treinados para protegê-lo caso fosse necessário.
A nevasca dificultava a visão dos condutores. No entanto, habituados ao clima extremo do país, eles tomavam os cuidados adequados. Qualquer deslize na estrada coberta com a fina camada cristalina de gelo e neve era fatal.
De repente, o inchaço avermelhado no ombro começou a coçar intensamente sob a roupa, levando-o a ceder ao desejo de coçar a pele, mesmo por cima das vestes. Depois, a coceira se espalhou por todo o corpo e, mesmo coçando sobre as roupas, não conseguia aliviar a sensação, sendo a pior delas na coxa coberta pela calça. Impaciente com a situação, ele tirou o sobretudo e o colocou no banco ao mesmo tempo em que esfregou o pescoço com a palma da mão.
No retrovisor, o motorista percebeu a incomum inquietação do primeiro-ministro. Sentindo-se um pouco incerto, decidiu perguntar o que tanto o incomodava.
— Algo errado, senhor? — Perguntou o motorista. Ele esperou por uma resposta, mas recebeu apenas um rosnado irritado em troca. Hiama parecia extremamente desconfortável com a situação embaraçosa, parecendo um cachorro com sarna coçando-se.
O homem lobo abriu a janela do carro na esperança de amenizar a queimação causada pelo frio, mas quanto mais arranhava, mais ardia e doía. Esses sintomas não eram normais para um portador de lúpus, uma vez que sua regeneração acelerada deveria fazê-los desaparecer ou, no mínimo, diminuir em alguns minutos.
"Desculpe-me, mas esta dor não é nossa." — Pela primeira vez no dia, o lúpus dentro dele falou consigo. Ao contrário das outras vezes, ele gemeu chorosamente e indisposto, por motivos desconhecidos.
Perturbado por tais palavras, Hiama aproximou-se da janela para sentir com mais clareza a brisa.
Após algumas horas de viagem, chegaram à cidade de Khitlazi. O veículo estacionou em frente a um arranha-céu. Hiama pegou seu sobretudo do banco e saiu escoltado por dez homens. O edifício era utilizado para reuniões governamentais de caráter continental, nas quais os quatro ministros — Ministro da Economia Continental (EC), Ministro da Classificação Alfa, Beta e Ômega (CABO), Ministro da Defensoria de Espécimes (DE) e Ministra da União Federativa (UF) — se reuniam, incluindo-se a si próprio.
E lá os encontrou: todos sentados à sua espera. Não era como se tivesse atrasado. Talvez eles apenas mantivessem em segredo o desprazer de tê-lo em tal cargo. Às vezes, pensava ser uma questão mais pessoal do que profissional.
— Presumo que já saiba do que se trata esta reunião, senhor Leblancovitch. — O Ministro de "DE", Gniewomir Mozgov Akimovevitch, foi o primeiro a reagir à sua presença. Hiama, no momento, não se mostrou incomodado, apesar dos inchaços na pele que ele contia para não coçar, que eram piores do que a situação atual.
— Certamente, senhor Mozgov. —Hiama respondeu prontamente, cruzando as mãos sobre a mesa circular. Sua postura confiante emanava poder, no entanto, Gniewomir não se sentiu minimamente intimidado.
— Espero que já tenha um plano em mente. — Nastya Gorbacheva Palatnikovna, Ministra da "UF", tinha um tom de voz incerto e parecia mais preocupada. Sendo a mais jovem entre os quatro, a beta teve a honra ilustre de conquistar uma das tão cobiçadas cadeiras. Ela era a única pessoa suportável naquele ambiente hostil.
— Com grande pesar, informo que infelizmente a resposta é não. — Mesmo sem demonstrar qualquer reação adversa, a expressão dos presentes não pode ser de felicidade. — Terei que resolver algumas pendências em Brazindu e partirei ainda hoje. — A notícia foi anunciada e as queixas começaram de forma explosiva.
— Isso pode esperar, senhor Leblancovitch. Seu casamento é de extrema importância. — Afirmou o ministro da "EC", Agafonik Dyomin Mikhalyovitch, que exaltou-se diante de tal irresponsabilidade. Como o integrante mais velho, ele era o mais severo entre os quatro.
— Desde quando minha vida pessoal se tornou um assunto para discussão? — Hiama franziu as sobrancelhas orbiculares, cansado de tantas pessoas intrometidas se intrometendo em sua vida. Ele mal podia agir sem que alguém desse palpite.
— O senhor tinha conhecimento dos deveres que assumiria ao se tornar o primeiro-ministro-moderador. É necessário manter uma reputação adequada, uma vez que uma má imagem sua refletirá negativamente em nossa imagem. Além disso, é importante lembrar que se perder o cargo pode resultar em afastamento do seu irmão. — O ministro da "CABO", Vitomir Potanin Akatyevevitch, relembrou os motivos pelos quais ainda tolera tudo isso em silêncio.
Ele apertou os dedos das mãos para evitar rosnar, pois essa atitude seria considerada deselegante e desrespeitosa no momento atual, visto que é um comportamento primitivo. Em vez disso, ele fez com que seus dedos estralassem baixo. Embora tenha procurado cuidadosamente as palavras certas para se expressar, sua vontade era, na verdade, xingar os outros e sair imediatamente do local.
— Sim, eu estou ciente disso. Não demorarei em minha viagem. Agora, com sua licença. — Ele necessitava sair urgentemente. Pela graça divina, nenhum dos ministros contestou sua partida.
Os seguranças em espera o acompanharam novamente. Ao desembarcar do elevador, Hiama foi bombardeado por flashes de câmeras na recepção. Os repórteres vieram assim que souberam da reunião envolvendo o primeiro-ministro. Como se odiar fotos não bastasse, o universo lhe deu a oportunidade de ser transmitido em rede nacional.
— Prezado Senhor Grishchenkov, poderia nos informar do que se tratou a presente reunião? — Foi mencionado por uma repórter a dúvida de vários telespectadores.
— Assuntos confidenciais. — Disse ele, enquanto caminhava pela multidão afastada pelos guarda-costas. Não estava bem, e falar abertamente sobre esses assuntos poderia lhe causar mais dor de cabeça. A "querida mídia" adorava distorcer sua reputação.
...
07h32min.
Além disso, no aeroporto, ele embarca em seu jato particular com apenas alguns homens e, principalmente, com o chefe da segurança e general do exército prussiano: Ruslan Berkovits Freudenstein, responsável por treinar e comandar o pessoal de segurança. É interessante notar que ele é um lobo bizibel, visto que suas orelhas aparecem para fora da máscara que todos usam para proteger suas identidades.
Sim, Hiama convivia harmoniosamente com os bizibels e não os discriminava. Ela adotava a postura de "façam o seu trabalho, não importando quem vocês sejam". Entretanto, foi comunicado a todos, inclusive àqueles que trabalham para o líder, que quaisquer atos indevidos serão severamente punidos ou até mesmo resultar em morte, dependendo da gravidade da situação.
A aeronave decolou. Hiama encarou a janela próxima ao assento e, acima das nuvens, pôde contemplar a beleza radiante do sol azul que não era possível ver de baixo; em seguida, fechou as pálpebras e permitiu-se relaxar o máximo possível durante a viagem que duraria algumas horas.
Continua...