6
— Não. — ela finalmente ocupa o espaço vazio ao lado de Alec, no banco de pedra. — Desculpe. Eu só... desculpe.
— Você ainda não me disse o seu nome.
— Evangeline. Evie.
Ele não fala, mas acha que aquele nome combina perfeitamente com Evie. O cabelo ruivo volumoso, a pele branca e os olhos levemente esverdeados, deixava aquela menina incrivelmente linda, aos olhos de Alec.
— Por que veio trabalhar aqui? — ele continua com seu interrogatório. Havia tanto que Alec queria saber. — Você parece ser muito mais do que uma simples empregada.
— Não sou tudo isso também. Eu só precisava do dinheiro. Preciso, na verdade.
Evie olha na direção da mansão, onde a festa continuava sem nenhum empecilho. Ela então pensa em sua mãe, no motivo que a fez estar ali naquela noite e novamente sente vontade de chorar.
— Eu odeio a minha mãe. — Evie sussurra, com os olhos queimando.
— Olha, nós temos algo em comum. Mas primeiro você. O que aconteceu?
Ela olha para Alec e o inspeciona. Além da beleza impecável; do rosto recentemente barbeado; os olhos azuis e serenos; o cabelo liso e penteado para trás, Alec aparentava ser um bom ouvinte. E só por esse motivo, ela resolveu abrir seu coração.
— Eu vou violinista e o maior sonho da minha vida, é viver disso. Onde eu estudo, terá um recital e vale uma boa quantia em dinheiro. Mas apesar de eu ter uma bolsa, o recital é pago. Se não fosse pela mãe ferrada que eu tenho, não precisaria estar aqui essa noite.
— Deixe-me adivinhar. Ela pegou o seu dinheiro? — Evangeline apenas confirma com a cabeça. — Quanto era?
— Tinha um pouco mais de duzentos dólares. E se eu não tivesse sido intrujona e invadido aquela sala, ganharia uns trezentos por trabalhar essa noite.
Aquele valor não era nada para Alec. Com duas notas de cem dólares, ele limparia coco de cachorro de seus sapatos. Enquanto Evangeline se ocupava em limpar embaixo dos olhos, Alec retirou sua carteira do bolso e dali sacou cinco notas de cem dólares. Ele esticou aquelas notas na direção de Evangeline, que piscou algumas vezes.
— O que...
— Seu pagamento pelos serviços dessa noite.
— Mas tem bem mais aí. Eu não posso...
— Pode. — Alec segura na mão de Evie e coloca as notas ali. — É para o seu sonho.
Por um impulso, Evangeline atacou Alec em um abraço. Ele ficou tão surpreso por aquilo, que levou alguns segundos para retribuir.
— Não sei como agradecer por isso. — ela murmura, se afastando dele e encarando as notas.
— Você não precisa me agradecer. Trabalhou para isso.
— Eu xeretei mais do que trabalhei... — Evie sussurra, encarando seus pés.
— O que?
— Oh... nada... acho que eu vou embora. Eu só preciso ir pegar minhas roupas.
— E como vai para casa?
— Dois ônibus e um metrô. — ela ri e Alec não o acompanha. Ele torce o nariz e faz uma careta.
— Uma hora dessa?
— Já estou acostumada. Bem... vou me trocar para ir embora. Obrigada pela ajuda que me deu. Você é um bom homem, Alec.
Evie deposita um beijo rápido no rosto de Alec e anda apressadamente para dentro da casa. Enquanto ela se ocupava em procurar suas roupas para sair dali, Alec pensava no que tinha acabado de lhe acontecer. O singelo toque dos lábios de Evangeline, em suas bochechas frias, fez com que um calor extremamente único percorresse por seu corpo. Ele não entendeu aquela sensação, já que era a primeira vez que aquilo o ocorria.
Alec se levantou e foi até Howard, seu motorista particular. Ele estava prestes a falar, quando Evangeline surgiu como um furacão, ainda vestindo a roupa de empregada.
— Ei, tudo bem? — ele questiona, antes que ela pudesse sair do seu território.
— Eu já disse que odeio a minha mãe? Arg!
— O que aconteceu?
Evangeline hesitou. Ela não tinha certeza se contar que viu sua mãe fazendo sexo oral em um dos convidados no banheiro, era exatamente o que Alec esperava ouvir.
— Nada. — ela fala, com um suspiro em seguida. — Vou para casa.
— Espera... Howard irá levar você.
— Não... — Evie intercala seu olhar entre Alec e o motorista calado. — Não precisa.
— Claro que precisa. Não vou deixar você sair daqui essa hora da noite e sozinha. Howard!
O motorista sem dizer nenhuma palavra, abre a porta traseira do carro e espera que Evangeline suba. Ela ainda estava hesitante, sem saber se deveria entrar no carro de um desconhecido.
Por fim, depois de pensar bastante, ela entrou. Evie deu um último sorriso grato para Alec, antes que o motorista pudesse fechar a porta e a levar para casa.
Alec por sua vez, esperou o carro sair da propriedade para então voltar para sua casa. A festa continuava sem ter noção das novas sensações que ele havia experimentado. Ele sobe as escadas e volta para a sala de reuniões, encontrando seu pai apertando a mão de um dos convidados.
— Alec! Que bom que resolveu se juntar a nós de novo. Nós acabamos de finalizar nossa união. — Blake sorri, para o homem alto e mal-encarado que estava ali. — Todas as boates de Staten Island e Queens, agora respondem a família Castello. Ou melhor dizendo, a você.
— Ótimo. E as armas?
Blake ri para o homem ao seu lado e lhe da um tapinha no braço. Aquele cara não gostou disso e Blake não se importou.
— Olha para esse garoto! Até ontem não queria ser vinculado a máfia e agora quer mais informações. Ah, Alec! Uma coisa de cada vez.
Alec reprime sua vontade de revirar os olhos e espera que aqueles homens estranhos finalmente saiam da sala. Antes que ele pudesse fazer o mesmo, seu pai o chama.
— E a garota?
— O que tem?
— O que fez com ela?
— Já resolvi. A mandei para casa. — Blake ergue uma sobrancelha. — O que foi?
— Ela viu o que não devia, Alec. E você a manda para casa? Qual seu problema?
Blake estava sentado na cabeceira da mesa e acendia um charuto, enquanto esperava a resposta do filho. Alec respira fundo e coloca as duas mãos nos bolsos da calça.
— Você disse que eu tinha que criar mais responsabilidades e que por isso, eu teria que comandar a máfia daqui. Então quando eu digo, que a mandei para casa e resolvi tudo, é o que importa.